• Nenhum resultado encontrado

3. AS MEDIDAS CAUTELARES PENAIS NO SISTEMA

4.1 A PRISÃO PREVENTIVA COMO REGULADOR

4.1.4 OS RESULTADOS

Em 2011, o Conselho Nacional de Justiça lançou um banco nacional de mandados de prisão, o BNMP, que servia para mera consulta sobre ordens de encarceramento. Tal medida, portanto, ainda se mostrava insuficiente para conter o avanço do desmedido aprisionamento, sob o pretexto de se garantir a segurança pública.

Assim, outras inovações foram se espalhando pelo país, no intuito de se buscar uma redução da população carcerária, em especial a provisória, considerando as razões de falência do sistema, de inadequação do instrumento penal, já estudados nesta obra.

Exemplos como o CNJ no Ar, que visou, em 2013, a realizar um mutirão de análise da situação prisional no Maranhão, levou a uma redução de 10% do número de internos sem condenação naquela unidade federativa340.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 2015, estimulou seus magistrados a optarem por penas e medidas cautelares alternativas à prisão, sendo seguido por Acre, Goiás,

340 Vide http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/59687-cnj-no-ar-destaca-meta-de-reducao-dos-presos-provisorios-do- tjma.

Mato Grosso do Sul, Piauí, dentre outros, e a iniciativa surtiu efeitos, com significativa minoração da superlotação dos presídios341.

Em verdade, alguns Estados da federação passaram a se esforçar em substituir a prisão por outros instrumentos de cautela, reduzindo a sua massa carcerária, e conseguiram êxito, como no caso de Sergipe que, em um ano, diminuiu os seus presos provisórios de 82,34% em 2017342 para 62,83% em 2018343.

Entretanto, esta era uma realidade ainda minoritária e pontual no país, uma vez que, apesar da Lei n.º 12.403/2011, de acordo com os dados disponibilizados pelo CNJ, o quantitativo de presos sem condenação subiu de 34% (221.054) em 2017344 para 40,14% (241.090) em 2018345, o que nos faz concluir que a aplicabilidade dos mecanismos alternativos à prisão ainda merecia ser unificada no território nacional.

Para tanto, o Departamento Penitenciário Nacional, ano a ano, realiza levantamentos das informações do sistema, inclusive fazendo associações com outros países346, já que as dificuldades se mostram globalizadas.

Por exemplo, entre os anos de 2015 e 2016, a massa carcerária europeia aumentou em cerca de 18 mil detentos, sendo Portugal um dos primeiros colocados347, ao passo em que, em 2018, o Conselho Europeu considerou, em relatório decorrente de visita feita em 2016 ao solo lusitano, as celas portuguesas inadequadas e desumanas348.

Neste estudo, após pesquisa, constatamos, como forma de parâmetro, que, em 2018, Portugal possuía 17,1% dos seus presos sem condenação, em um total de 12.961. Já a 341 Vide http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84293-juizes-de-10-estados-priorizam-penas-alternativas-em-relacao- a-prisao. 342 Informações obtidas em http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/02/b5718a7e7d6f2edee274f93861747304.pdf. 343 Informações obtidas em http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/08/57412abdb54eba909b3e1819fc4c3ef4.pdf. 344 Informações obtidas em http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/02/b5718a7e7d6f2edee274f93861747304.pdf. 345 Informações obtidas em http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/08/57412abdb54eba909b3e1819fc4c3ef4.pdf.

346 Conforme endereço http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorios-sinteticos/relatorios- sinteticos.

347 Dados em http://wp.unil.ch/space/files/2019/01/190126_Foreigners-in-Prison-and-Probation-in- Europe_Final-report.pdf.

348 Vide relatório em https://www.coe.int/en/web/cpt/-/anti-torture-committee-urges-portugal-to-tackle-police-ill- treatment-and-the-poor-treatment-of-prisoners.

Itália, tinha 32,8% (num total de 59.655), a Espanha 15,4% (num total de 59.187) e a Alemanha 21, 7% (num total de 62.902)349.

Voltando ao Brasil, a gravidade do problema por aqui não é novidade. Desde os idos de 2015, já se mostrava urgente a colocação de um ponto final no “estado

inconstitucional das coisas”, em específico no que se referia à sua situação carcerária, frente

a violações flagrantes dos direitos básicos dos detentos, tendo sido o Supremo Tribunal Federal provocado para tanto, por meio da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º 347, que tratava da precariedade da custódia, e do Recurso Extraordinário n.º 841.526, versando sobre a responsabilização pela morte de um detento. Os julgamentos se deram, por respectivo, em 09 setembro de 2015 e 30 março de 2016350, com a conclusão de que os Poderes Judiciário e Executivo deveriam assumir suas competências e atribuições para a solução do problema, inclusive com a criação de um cadastro nacional de todos as pessoas encarceradas no país.

No ano de 2018, enfim, a concretização dos julgados foi colocada em prática e o sistema do banco nacional de mandados de prisão foi ampliado, em 12/09/2018, transformando-se por definitivo em bnmp 2.0351, no qual, não apenas é aberta a consulta para mandados, mas também a situação de cada detento é ali exposta.

Isto se mostrou uma medida de grande resultado na salvaguarda das garantias fundamentais dos presos, posto que, desde a real e permanente constatação do quantitativo de pessoas internas, a localização delas, o motivo da restrição da liberdade, até a situação processual passaram a ser monitoradas em tempo real pelo Poder Judiciário, pela Defensoria Pública, pelo Ministério Público, pela Polícia e pelo cidadão.

Na mesma direção, o Executivo adotou projetos de ressocialização, como oficinas de trabalho para os internos, e de implementação de mecanismos de cautela diversos do cárcere, como as já referidas tornozeleiras eletrônicas, entendendo de fato que se tratam de saídas com resultados positivos, inclusive com economia de verbas públicas.

Neste sentido, com um novo e uníssono pensamento acerca da matéria, notamos que, havendo um melhor direcionamento de recursos e uma inovadora gestão, os gastos e as

349 Dados obtidos no endereço http://www.prisonstudies.org/map/europe.

350 Vide decisões, respectivamente, em

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10300665 e em

http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=310025651&tipoApp=.pdf.

351 Vide tutorial em http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/cadastro-nacional-de-presos- bnmp-2-0.

ações com o sistema prisional são potencializados, alcançando-se os fins propostos pelo processo penal sem a necessidade de se violar a liberdade do infrator, assegurando até mesmo que o dinheiro do povo possa ter outros destinos, sendo construídos hospitais, escolas, dispensando-se presídios, posto que se comprovou que eles não resolvem o avanço da criminalidade e nem ressocializam o delinquente.

Documentos relacionados