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2. CAPACIDADE DE ABSORÇÃO E A INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-

2.1. O conceito de capacidade de absorção, suas dimensões, determinantes e

2.1.4. Os resultados e a importância da Capacidade de Absorção

Nas subseções anteriores foram discutidos os conceitos, dimensões e determinantes da Capacidade de Absorção. Nessa subseção busca-se apresentar os resultados ou outputs do desenvolvimento da capacidade de absorção (CA) e também a importância desta, tanto nos aspectos macroeconômico, quanto microeconômico.

No aspecto macro, o desenvolvimento da CA é considerado essencial para que os países emergentes consigam explorar as tecnologias desenvolvidas nos países mais avançados, devido especialmente ao seu componente tácito (MOWERY; OXLEY, 1995). Além disso, Albuquerque (1999) considera que essas capacidades são cruciais para o desenvolvimento de países com Sistemas Nacionais de Inovação imaturos, mas não avança nessa questão.

Já no âmbito micro, é importante relembrar que a Capacidade de Absorção (CA) foi definida como uma capacidade dinâmica (ZAHRA; GEORGE, 2002) e portanto esta deve ser estratégica e alinhada com os objetivos da empresa (TEECE; PISANO; SHUEN, 1997). Dentre esses objetivos estão a criação e a sustentação de vantagens competitivas, geração de inovações, elevação da performance da empresa e geração de novos conhecimentos (VOLBERDA; FOSS; LYLES, 2010; ZAHRA; GEORGE, 2002).

Zahra e George (2002) argumentam que dependendo das características do mercado, a capacidade de absorção afetará a vantagem competitiva de maneira distinta. Segundo esses autores, o grau de apropriabilidade modera o efeito da capacidade de absorção realizada sobre a manutenção da vantagem competitiva. Em mercados com um regime de apropriabilidade forte, a capacidade de absorção realizada afeta positivamente a manutenção da vantagem competitiva, pois o custo de imitação nesse mercado é muito elevado e as empresas conseguem proteger seus conhecimentos e inovações. Essa relação positiva entre CA e vantagem competitiva se manterá também em regimes de baixa apropriabilidade, caso a empresa utilize mecanismos para se proteger, como segredos industriais (ZAHRA; GEORGE, 2002).

Além do grau de apropriabilidade, a importância da capacidade de absorção também varia de acordo com a turbulência do ambiente externo (ENGELEN et al., 2014; ESCRIBANO; FOSFURI; TRIBÓ, 2009; VAN DEN BOSCH; VOLBERDA; DE BOER, 1999). Nesses ambientes turbulentos a incerteza é mais elevada e as mudanças nos clientes e suas preferências são mais rápidas e frequentes (ENGELEN et al., 2014). Com isso, novas oportunidades e conhecimentos surgem com maior frequência nesse tipo de ambiente, exigindo da empresa maiores capacidades para identificá-los e explorá-los, ou seja, maior a Capacidade de Absorção necessária (ENGELEN et al., 2014; ESCRIBANO; FOSFURI; TRIBÓ, 2009). Porém, nesse tipo de mercado, considerado mais dinâmico, Jansen, Van den Bosch e Volberda (2005) mostram que a capacidade de absorção realizada não é relevante para a performance da empresa pois as inovações se tornam obsoletas muito rápidas, reduzindo as chances de manter a vantagem competitiva obtida por essas inovações. Por outro lado, a capacidade de absorção potencial foi relevante (JANSEN; VAN DEN BOSCH; VOLBERDA, 2005).

Essa importância da capacidade de absorção (CA) para os ambientes turbulentos, em especial a CA potencial, está relacionada com seu efeito sobre as expectativas e flexibilidade da empresa. Empresas com maiores capacidades de absorção tendem a avaliar melhor esses conhecimentos externos, reduzindo a incerteza e elevando as expectativas sobre os avanços externos (COHEN; LEVINTHAL, 1990). Com isso, essas empresas tendem a ser mais proativas, explorando as oportunidades presentes no ambiente externo primeiramente do que seus competidores, obtendo as vantagens de ser o first mover (VAN DEN BOSCH; VOLBERDA; DE BOER, 1999). Além disso, empresas com maiores capacidades de absorção são capazes de criar novos conhecimentos a partir dos conhecimentos externos (COHEN; LEVINTHAL, 1990), reduzindo os custos para desenvolver novas capacidades e proporcionando maior flexibilidade perante as mudanças no mercado. Essa maior flexibilidade é proporcionada pela CA potencial (ZAHRA; GEORGE, 2002). Ao permitir maior flexibilidade e tornar a empresa mais proativa, a capacidade de absorção é crucial para ambientes turbulentos, onde as mudanças são constantes e a incerteza é elevada (ENGELEN et al., 2014; ESCRIBANO; FOSFURI; TRIBÓ, 2009).

Além disso, nesses ambientes turbulentos a capacidade de absorção exerce um papel moderador quanto ao efeito do comportamento empreendedor da empresa sobre a performance inovativa desta. Entendendo esse comportamento empreendedor como a postura estratégica da empresa em buscar novos negócios29, Engelen et al. (2014) justificam isso pelo fato de que maiores capacidades de absorção facilitam a identificação de oportunidades externas e também favorecem a geração de conhecimento via processo de tentativa e erro. Essas ações são cruciais em mercados mais turbulentos. Nesse sentido, empresas com maiores capacidades de absorção são capazes de explorar o fluxo de conhecimento externo de maneira mais eficaz, elevando a performance inovativa da empresa (ESCRIBANO; FOSFURI; TRIBÓ, 2009).

Essa relação entre capacidade de absorção (CA) e performance inovativa já era identificada por Cohen e Levinthal (1990). Para esses autores, as habilidades das empresas para explorar o conhecimento externo é um componente da capacidade de inovação da empresa. Essas habilidades estão associadas com a capacidade de absorção realizada, a qual relaciona-se com as capacidades da empresa de ―aproveitar‖ o conhecimento absorvido, visando elevar a performance da empresa e criar vantagem competitiva. Umas das formas para isso é a geração de inovações (ZAHRA; GEORGE, 2002). Além disso, empresa com maior capacidade de absorção tende a avaliar melhor os conhecimentos externos e possuir uma propensão maior a inovar (COHEN; LEVINTHAL, 1990). Ebers e Maurer (2014) corroboram essa relação positiva entre CA e inovação, além de encontrarem que a CA potencial e a CA realizada possuem papéis distintos, mas complementares na geração de inovação, tanto de produto quanto de processo. Segundo esses autores, para uma dada CA potencial, quanto maior a CA realizada mais apta estará a empresa para transformar o conhecimento e aplica-lo no desenvolvimento de produtos. Já Murovec e Prodan (2009) não dividem a capacidade de absorção entre CA potencial e CA realizada, mas consideram que a capacidade é específica à fonte do conhecimento buscado. Esses autores

29 Esse comportamento empreendedor varia em termos da propensão da empresa em experimentar novas ideias visando inovar, da pró-atividade perante as necessidades dos clientes e da propensão ao risco. Quanto maiores esses valores, mais empreendedora é a empresa (ENGELEN et al., 2014)

encontram que empresas com maiores capacidades para absorver conhecimentos provenientes das universidades e/ou do mercado alcançam maiores resultados inovativos tanto de produto quanto de processo30. Ou seja, observa-se que empresa com maiores capacidades de absorção, independente do tipo de conhecimento buscado, tendem a ter uma performance inovativa mais elevada, seja inovações de produto ou de processo.

Além dessa relação positiva entre capacidade de absorção, ambiente turbulento e inovação, essa capacidade também afeta a relação das empresas com os demais agentes, em especial as universidades e institutos de pesquisas. O desenvolvimento de tal capacidade permite que as empresas acessem novos paradigmas, interajam com áreas mais distintas das suas (MEYER-KRAHMER; SCHMOCH, 1998), absorvam conhecimentos menos direcionados à sua área de atuação (COHEN; LEVINTHAL, 1990), e interajam com universidades mais distantes geograficamente (BEISE; STAHL, 1999; DE FUENTES; DUTRÉNIT, 2014; GARCIA et al., 2014). Além disso, empresas com maiores capacidades de absorção conseguem aprender mais em parcerias com outros agentes (LANE; LUBATKIN, 1998), obter melhores resultados na cooperação com estes (COHEN; LEVINTHAL, 1990) e, por fim, alcançar seus objetivos na relação com universidades e institutos de pesquisa (ROSA, 2013).

A relação mais profunda entre capacidade de absorção (CA) e interação universidade-empresa será apresentada na próxima seção. Será mostrado como a interação universidade-empresa favorece a capacidade de absorção e como essa capacidade também favorece a interação, em especial o sucesso desta. No decorrer da discussão serão construídas as hipóteses a serem testadas econometricamente através da base de dados intitulada como BR Survey. Essa base de dados não mensura diretamente os determinantes e dimensões da CA, mas permite a construção de proxies para estes. Detalhes sobre essa base de dados e a metodologia empregada são apresentados na seção 3.

30 Os resultados da inovação de produto são mensurados quanto ao grau de impacto de: aumento da variedade de bens e serviços; aumento da parcela de mercado. Já os resultados da inovação de processo, foram: aumento da flexibilidade; aumento da capacidade produtiva; redução dos custos do trabalho por unidade produzida; redução dos materiais (MUROVEC; PRODAN, 2009).

2.2. Capacidade de Absorção e a Interação Universidade-Empresa