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Os riscos no mundo do trabalho: características e especificidades

Nos sub-capítulos anteriores abordamos a definição do conceito de risco, bem como as principais correntes da teoria social que se dedicam a esta temática. Neste sub-capítulo e nos seguintes iremos estreitar a nossa problemática abordando os riscos referentes às situações de trabalho, as percepções de riscos dos trabalhadores e algumas das principais perspectivas sobre a avaliação e a gestão dos riscos. A noção de risco no trabalho assume uma definição naturalmente menos abrangente do que a noção de risco em geral; neste contexto, o conceito de riscos no trabalho é visto tendencialmente como um factor negativo e susceptível de causar dano(s) nos trabalhadores, nos seus equipamentos e/ou nos seus ambientes de trabalho.

De qualquer modo, antes de iniciarmos propriamente esta discussão em torno da problemática dos riscos no trabalho, parece-nos de toda a pertinência introduzir uma breve definição sobre o conceito de trabalho. Assim, por trabalho, entende-se todo o conjunto de acções humanas, que apresentem como finalidade última a produção de um bem ou serviço; a teleologia do trabalho é sempre definida com objectivos pré- determinados, tentando alcançar metas preestabelecidas. O trabalho pode ser considerado, metaforicamente, como um organismo vivo, onde cada indivíduo é um órgão que assume uma função específica. O trabalho caracteriza-se por poder ser dividido socialmente. Por este motivo é natural que a noção de trabalho esteja intimamente relacionada com a estrutura e com a dinâmica das diversas sociedades modernas; ao trabalho são atribuídas interpretações, valorizações e representações muito distintas, quer de sociedade para sociedade, quer mesmo entre os grupos ou classes sociais dentro da mesma sociedade. ―Pela variedade de formas que assume, pela

65 diversidade de entendimentos que suscita, pela maneira como se apresenta aos agentes consoante a localização destes na estrutura social, pelas evoluções que tem sofrido no tempo, o trabalho bem pode aparecer-nos como algo de abstracto, fugidio e ilusório que, não obstante, é impossível deixar de contemplar, tal a sua permanência e tal a magnitude da sua presença e da sua função na vida dos indivíduos e no funcionamento das sociedades. Imaginar um mundo sem trabalho soa a algo de absurdo e, no fundo, mais difícil de conceber racionalmente do que enfrentar os perigos - reais - de o tentar cingir num ensaio de definição‖ (Freire, 1997: 12).

Aos riscos no trabalho associam-se sempre as eventuais repercussões negativas sobre a segurança e saúde dos trabalhadores, isto é, encontramos uma interligação profunda com os potenciais efeitos adversos que o trabalho provoca no bem-estar das pessoas. É de toda a pertinência referir que estas possíveis características nocivas que referimos são, simultaneamente, portadoras de dimensões objectivas e subjectivas, passíveis de serem compreendidas e analisadas numa dimensão humana, social, política e temporal. Os riscos no trabalho nem sempre suscitaram as mesmas leituras, foram evoluindo e reconfigurando-se nas diversas sociedades, dependendo das práticas utilizadas e das novas formas de conhecimento sobre os seus efeitos nocivos, reais ou virtuais. Os diversos contextos laborais foram dando origem às múltiplas avaliações e percepções de riscos no trabalho e foram, simultaneamente, sendo adaptadas pelas diversas sociedades, quer em momentos mais próximos, quer em tempos diferenciados. Se considerarmos as dimensões espaço, tempo e actores sociais, os riscos no trabalho não têm o mesmo significado, nem o mesmo entendimento em todos os contextos laborais. Uma das formas de validação da afirmação anterior é verificar as diferenças na legislação entre os vários países europeus ou mesmo entre a Europa e os Estados Unidos, onde, por exemplo, as substâncias que são consideradas nocivas para a saúde dos trabalhadores diferem nos seus valores limite de exposição admissíveis.

Existem diversas definições sobre a noção de riscos no trabalho, embora, talvez possa ser útil que ela deva ser o mais abrangente possível; isto é, deveremos considerar tanto os riscos no trabalho mais simples (desconforto ou incomodidade ligeira), como os riscos no trabalho mais graves, que dão origem a incapacidades permanentes ou à própria morte. ―Entendemos então, por riscos no trabalho, qualquer ameaça para a integridade física ou psíquica do trabalhador resultante de um desvio, ainda que mínimo, daquilo que se considere como trabalho normal‖ (Meleiro, 1985: 13). Os riscos

66 do foro laboral podem ser compreendidos através de três indicadores distintos, a saber, os riscos em si, enquanto potenciais causas geradoras de eventuais danos; os riscos sobre os sujeitos, isto é, sobre quem é que podem incidir os riscos; e finalmente, os efeitos dos riscos sobre os sujeitos afectados, neste caso estamos a falar sobre as consequências da efectivação dos riscos ocupacionais. O mesmo tipo de risco pode ter efeitos e consequências muito diferenciadas para os sujeitos expostos. É incontestável que, por exemplo, os efeitos da exposição ao mesmo risco pode ser distinta para sujeitos saudáveis ou enfermos, para trabalhadores fatigados ou na plenitude das suas forças (Mela et al., 2001: 176).

Os riscos resultantes das diversas situações de trabalho são de tal forma numerosos que tentar quantificá-los e enumerá-los, em todas as suas vertentes, afigura-se-nos como um empreendimento quase inatingível. Na verdade, deve considerar-se que muitas situações de risco no trabalho são estritamente específicas para determinada actividade. Deste modo, seria uma tarefa quase inexequível tentar discriminar todas as possíveis formas de risco existentes nos locais de trabalho, quer por concepção teórica, quer por observação empírica, devido à volatilidade do próprio risco. Resta-nos, através da tabela seguinte, tentar apresentar um modelo de categorização geral das formas de risco mais comuns expressas no quotidiano laboral. Este modelo tenta abarcar as principais formas de risco no trabalho e está elaborado a partir de nove grandes dimensões de risco, a saber, os riscos físicos, os riscos químicos, os riscos biológicos, os riscos ergonómicos, os riscos resultantes do meio e da organização do trabalho, os riscos resultantes dos equipamentos de trabalho, os riscos sociais de origem natural, os riscos sociais de origem humana ou tecnológica e, finalmente, os factores individuais de propensão para o acidente.

67 Tabela 2 - Modelo de categorização de riscos no trabalho

Fonte: Adaptado de Areosa (2003: 40; 2005: 216). Riscos físicos Ruído

Vibrações Electricidade

Radiações ionizantes (RX)

Radiações não ionizantes (soldadura, fotocópias, écran de computador)

Riscos químicos Poeiras Fumos

Vapores tóxicos Gases tóxicos

Mistura de substâncias incompatíveis (explosão)

Riscos biológicos Vírus (sarampo, rubéola, hepatite) Bactérias (pneumonia)

Protozoários (malária, amebíase) Fungos (micoses)

Bacilos (carbúnculo, tétano, tuberculose)

Riscos ergonómicos Esforço físico

Levantamento e/ou transporte manual de cargas Postura inadequada para determinada actividade Ritmos elevados de trabalho

Trabalho nocturno e por turnos rotativos

Jornadas de trabalho longas (horas extraordinárias) ou fadiga industrial Monotonia e repetitividade de funções (fadiga e stress)

Riscos resultantes do meio e da organização do trabalho

Temperatura (frio /calor) – Nível de conforto térmico Humidade relativa (alta ou baixa)

Pressões anormais

Ventilação e/ou renovação do ar insuficiente Má qualidade do ar interior nas instalações Quedas / escorregadelas / tropeções / pancadas Afogamento

Iluminação deficiente

Armazenagem inadequada de produtos

Incêndio / queimaduras de diferentes graus e de origem diversa Colisão com materiais ou equipamentos

Queda de materiais

Formação insuficiente ou inadequada dos trabalhadores

Riscos resultantes dos equipamentos de trabalho

Máquinas sem protecção Ferramentas defeituosas

Equipamentos movidos por fontes de energia diversas

Intrusão de materiais estranhos ao corpo (projecção de limalhas para vista, etc.) Lesões corporais diversas provocadas por equipamentos e máquinas

Utilização inadequada de máquinas, ferramentas e equipamentos

Riscos sociais de origem natural (catástrofes naturais)

Sismos, terramotos ou maremotos Inundações

Erupções vulcânicas

Raios (resultante das diferentes cargas eléctricas das massas de ar) Ciclones ou tornados

Avalanches e desabamento de terras Alterações climatéricas

Riscos sociais de origem humana ou de tecnologia complexa

Atentados terroristas

Queda de aeronaves ou outros sinistros aéreos Afundamento de navios

Destruição da camada de ozono

Acidentes com viaturas automóveis ou acidentes ferroviários Explosão de centrais nucleares

Libertação de poluentes na atmosfera

Factores individuais de propensão para o acidente

Conflitos interpessoais nas relações de trabalho (maior propensão para o acidente) Cansaço físico e psicológico (derivado, por exemplo, de uma noite de insónias) Distracção momentânea e confiança na segurança dos métodos de trabalho

Mobbing (efeitos diversos de psicoterror laboral, assedio moral e/ou sexual)

Formas imprevisíveis de reacção pessoal face a situações adversas e perigosas Níveis reduzidos de percepção dos riscos

68 Conforme pudemos observar através dos exemplos de riscos laborais anteriores o mundo do trabalho está fortemente ―contaminado‖ por múltiplos factores de risco. Neste contexto, poderemos nós considerar alguns locais de trabalho como autênticas fábricas

de riscos? Se tivermos em conta o elevado número de riscos que algumas actividades

laborais oferecem a resposta é positiva. No entanto, aquilo que nos parece sociologicamente relevante é distribuição desigual dos riscos do trabalho pelas múltiplas actividades profissionais. Existem categorias profissionais bastante mais exposta aos riscos ocupacionais, no desempenho das suas tarefas, do que outras. Porém, os riscos laborais são omnipresentes, logo não existem trabalhadores expostos a risco zero ou nulo.19 Historicamente os riscos nos locais de trabalho começaram por ser observados a partir das situações que davam origem a acidentes ou a doenças, isto é, quando os efeitos eram visíveis e imediatos. Lembremos, por exemplo, o trabalho de Engels (1975) sobre a situação da classe trabalhadora em Inglaterra. Nos dias de hoje consideram-se também outras situações de risco menos ―objectivas‖, como os diversos tipos de assédio ou outros riscos que só produzem efeitos retardados (a médio ou longo prazo). Todavia, os riscos ocupacionais são a causa única dos acidentes de trabalho (Areosa, 2007a), pois são sempre eles que estão na sua origem; mas as causas dos acidentes laborais não podem ser vistos de forma estática, pelo contrário, são dinâmicos e estão em constante interacção com as dimensões sociais e técnicas. A título de exemplo, Theys (1987) refere que no passado os acidentes nas minas de carvão eram muito superiores aos que ocorrem nos dias de hoje. Actualmente, as estatísticas apontam para o aumento do número de acidentes de trabalho para as actividades ligadas à construção civil. Deste modo, parece que a maior incidência dos sinistros laborais circula entre diversas actividades ao longo dos tempos.

No mundo do trabalho não existem organizações ou empresas imunes aos riscos laborais. Em muitas situações os riscos organizacionais são quase inevitáveis. A modernidade trouxe aquilo que alguns autores já denunciaram como ―epidemia de riscos‖ (Skolbekken, 1995). Quando falamos em riscos laborais verificamos que o corpo do trabalhador (enquanto entidade física) é um dos principais ―alvos‖ deste grupo de

19 De certo modo os riscos no trabalho podem ser vistos como uma fatalidade suportada por todos os trabalhadores, embora o grau de risco seja variável de trabalhador para trabalhador. ―If some degree of risk is inevitable, suppressing it in one place often merely moves it to another. Shifting risks may be more dangerous than tolerating them, both because those who face new risks may be unaccustomed to them and because those who no longer face old ones may because more vulnerable when condition change‖ (Douglas e Wildavsky, 1982: 197).

69 riscos. Porém, os riscos resultantes da actividade laboral não ―atacam‖ apenas os corpos dos trabalhadores, eles podem exercer também os seus efeitos sobre a ―alma‖ (disposições e estados-de-espírito individuais ou colectivos). Segundo Motta (2002: 6) o risco é acima de tudo uma construção mental, susceptível de influência social. Na literatura, a maioria dos autores designam este tipo de riscos como riscos psicossociais. ―Los procesos de influencia social ocupan un lugar central en la psicosociología aplicada a los riesgos laborales ya que las creencias, actitudes, intenciones y conductas de salud dependen en buena medida (lo apuntamos anteriormente) de las relaciones que la persona mantenga con otros individuos, grupos o instituciones o de la presencia real, imaginada o implícita de otros‖ (Español, 2001: 172).

O actual mundo do trabalho visto como uma ―pandemia de riscos‖ traduz-se a partir da enorme diversidade de situações laborais (no sentido amplo do termo) que acarretam o aumento exponencial do número de riscos laborais. Num certo sentido, podemos considerar este aumento dos riscos laborais, não tanto em termos quantitativos, mas antes como um aumento da sua consciencialização. Segundo Roxo (2004: 23) existem

novos riscos e velhos riscos no trabalho. Porém, no quotidiano laboral actual surgem

três tipos de agressões à saúde dos trabalhadores:  Riscos de agressão directa à integridade física;  Riscos de hipersolicitação;

 Riscos de agressão à dignidade.

Segundo Lima et al. (2005: 122) a exposição continuada e prolongada a situações de risco laboral podem originar a que o sujeito exposto tenda a normalizar as ameaças e, por consequência, torne diminuto o seu empenhamento em comportamentos ou práticas de vigilância, de protecção e de segurança laboral. As estratégias de prevenção sobre os riscos laborais devem incorporar tanto os conhecimentos dos peritos, como os conhecimentos dos trabalhadores. Os primeiros dominam os riscos técnicos, normalmente pouco perceptíveis para a generalidade dos trabalhadores, enquanto que os segundos, devido a lidarem diariamente com as situações risco dos seus locais de trabalho estarão mais aptos a identificar as formas de risco mais comuns.

No campo dos riscos químicos Ahlborg e Haag Grönlund (1995) definem o risco como a probabilidade de um resultado adverso poder ocorrer, onde as pessoas ou os grupos

70 estão expostos a concentrações ou doses de substâncias específicas, durante um determinado período de tempo. Nesta perspectiva o risco é visto, basicamente, em função da exposição e da toxicidade, aplicando-se esta definição, por exemplo a trabalhos com agentes químicos perigosos. Ainda dentro do campo dos riscos químicos, os limites superiores e inferiores de explosividade ou inflamabilidade de determinada substância dá-nos alguma informação sobre a importância das condicionantes externas nas situações de risco.

Alguns estudos efectuados no período inicial da industrialização tendiam a apresentar os riscos laborais como algo natural, ou seja, defendiam a naturalização dos riscos laborais, como se eles não fossem gerados artificialmente (Milles, 1997 – citado em Menéndez, 2003: 162). Esta era a perspectiva dominante dos especialistas que preconizavam a individualização do risco (alegando predisposições pessoais) e defendiam a responsabilização dos trabalhadores pelos acidentes que sofriam (omitindo as questões organizacionais do risco). A diluição deste rótulo culpabilizante sobre o trabalhador foi um caminho muito longo. Iremos voltar à questão da culpabilização da vítima (trabalhador sinistrado) mais adiante quando abordarmos a temática dos acidentes de trabalho. No entanto, alguns riscos, onde estão incluídos os riscos laborais, assumem um carácter estigmatizante para quem os tem de suportar. Algumas classes sociais encontram-se mais vulneráveis a determinados tipos de riscos. ―They are more infectious in their bodies, more exposed to disease and mutilating accidents at work, with a shorter life expectancy. The stigma is not a false symbol of contamination: the sign is true and it is the condition of the stigmatized to be contaminating‖ (Douglas, 1992: 36).

Um dos problemas associado ao aumento dos riscos laborais deriva da forte pressão do campo económico e produtivo sobre o campo da prevenção e segurança. As hierarquias organizacionais20 tendem, por vezes, a pressionar ou incentivar a generalidade dos trabalhadores a privilegiarem a produção em detrimento da segurança.

20 Uma pesquisa realizada por Granjo observou as seguintes situações: ―Os engenheiros de processo trabalham sob fortes pressões para que os planos de produção sejam cumpridos, sabendo que essa capacidade de fazer produzir é particularmente valorizada na avaliação da sua competência profissional por parte de instâncias superiores. Quando confrontados com situações em que as regras ou a sensatez aconselhariam a parar a maquinaria, abrandá-la ou repô-la em funcionamento de forma progressiva e pausada, tendem frequentemente a pressionar os trabalhadores para que estes adoptem procedimentos irregulares que possam evitar paragens e atrasos, especialmente se esses «truques» foram inventados numa anterior situação de emergência e, na altura, se revelaram eficazes. Normalmente não conhecem

71 Os riscos existentes no trabalho podem também ser influenciados pelos diversos tipos de atitudes dos trabalhadores. Noutro contexto (Areosa, 2007b) já exploramos a relação entre as percepções de riscos dos trabalhadores, as suas atitudes e a ocorrência de acidentes de trabalho. Aqui, iremos também abordar esta temática. Se é verdade que os riscos aos quais nos encontramos expostos nos locais de trabalho podem influenciar as nossas atitudes e comportamentos, a situação inversa também pode ser verdadeira. Sabemos que os acidentes de trabalho ocorrem sempre através da efectivação de um determinado risco laboral. Assim, a articulação entre as percepções de riscos, as atitudes e os comportamentos dos trabalhadores parece decisiva para compreender e explicar como é que alguns tipos de riscos podem originar acidentes de trabalho.

Parece-nos pertinente iniciarmos esta discussão com a definição do conceito de atitudes. Dentro deste âmbito existe uma significativa produção científica ligada quer à sociologia, quer à psicologia social. Inicialmente pensava-se que as atitudes seriam um preditor do comportamento, contudo, após alguns estudos verificou-se que este pressuposto nem sempre era verdadeiro. Diversos autores entendem a noção de atitudes como uma estrutura tridimensional que integra as componentes: cognitiva (julgamentos e crenças), afectiva (sentimentos favoráveis ou desfavoráveis) e comportamental (tendência para determinada acção). Nesse sentido, podem-se considerar as atitudes como uma forma de motivação social que impulsiona e orienta certas acções, para tentar obter determinadas metas pré-definidas.

Quando utilizamos a noção de atitudes pretende-se caracterizar algumas intenções ou comportamentos dos múltiplos actores sociais em interacção. No entanto, as atitudes podem apresentar um carácter individual ou colectivo, mediante cada situação concreta. ―Assim, as atitudes estão relacionadas com os valores interiorizados pelos indivíduos e, necessariamente, com os processos de socialização a que o mesmo está sujeito. (...).

esses procedimentos de forma muito precisa; mas sabem que eles existem, que funcionaram e que os trabalhadores os conhecem.

De facto, os engenheiros estão a assumir riscos elevados quando procedem dessa forma. No entanto, o seu comportamento não é suscitado por irresponsabilidade ou incompetência. A sua atitude é facilitada pela relação abstracta, impessoal e remota que mantêm com os perigos existentes na fábrica; mas é a sua visão probabilística das ameaças que legitima racional e emocionalmente a opção que tomam, pois esta baseia- se na crença de que um procedimento que antes se revelou eficaz tem uma baixa probabilidade de, agora, causar um acidente.

Em ocasiões desse tipo, os chefes de turno ficam encurralados entre as suas funções de interface hierárquico (que requerem a sua lealdade para com os superiores) e de coordenadores da sua equipa, cuja segurança devem providenciar. Dependendo embora da personalidade de cada um e da sua avaliação casuística acerca dos perigos envolvidos, a maioria das vezes reproduzem as pressões superiores‖ (Granjo, 2006: 1173 e 1174).

72 Mas estariam igualmente ligados a processos cognitivos que se situam no plano da racionalidade e do conhecimento, sempre limitado e contingente, de que o indivíduo dispõe. E têm que ver com as intencionalidades dos sujeitos, no plano dos interesses, gerados pelas situações concretas de acção inter-individual em que os mesmos se acham inseridos. Tudo isto significa que as atitudes são, de facto, realidades complexas, embora susceptíveis de uma (lenta) evolução no tempo‖ (Freire, 2002: 331).

As atitudes não são imutáveis no tempo, nem se aplica na formulação do seu conceito as ideias de homogeneidade e de coerência. As atitudes variam através de aspectos individuais ou grupais, embora possam ser determinadas ou influenciadas por condições sociais, simbólicas e culturais. Numa pesquisa realizada em Portugal sobre a saúde e a doença verificou-se que as atitudes variam mediante o género, a idade, a escolaridade, o estatuto profissional e os rendimentos (Cabral et al., 2002). As atitudes são formas de responder a determinadas situações do mundo social e podem, por vezes, corresponder a um determinado tipo de comportamento. As atitudes dos trabalhadores desenvolvem-se de acordo com suas necessidades passadas, presentes ou futuras. Porém, as atitudes e os comportamentos nem sempre são absolutamente consensuais, porque variam mediante os padrões morais de cada grupo e das suas normas sociais específicas.

Segundo Renn (1992) as atitudes abrangem uma serie de crenças acerca das causas do risco que podem estar relacionadas com a natureza, com as consequências, com a história e com a justificabilidade do próprio cenário de risco. Três aspectos que parecem estar directamente relacionados com as atitudes e com os comportamentos dos trabalhadores perante os riscos existentes nos seus locais de trabalhos, são os diferentes

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