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3 A BATERIA

3.4 AS TÉCNICAS UTILIZADAS NO ESTUDO DA BATERIA

3.4.2 Os rudimentos

Tratar de assuntos como rudimentos, permite que se estabeleça uma conexão direta com o instrumento. Com a prática dos estudos dos rudimentos, o baterista obtém destreza, coordenação, sutileza e o refinamento necessário para execuções mais complexas. Segundo o dicionário Houaiss rudimento significa elemento básico de algo, consiste em estrutura inicial, primordial. No que se refere à bateria/ percussão, trata-se de um conjunto de toques e combinações existentes.

O registro formal dos rudimentos foi feito pelos norte americanos. Apesar de haver registros na Europa no Século XVI de catálogos utilizados em guerras, a formalização foi feita nos Estados Unidos aumentando a quantidade e o uso dos rudimentos. Foi a publicação do livro “The Moeller Book (Ludwig drum Company)” que deu maior dinâmica em sua divulgação.

Segundo Melo (2015), os rudimentos são similares a letras do alfabeto, as quais formam palavras quando estão ordenadas e associadas entre si. Inicialmente, abordaremos cinco principais: Single stroke, Double Stroke, Paradidlles, Flams, Drags.

O Single Stroke ou toque simples designa um conjunto de forma alternada. O termo “simples” diz respeito a um movimento causando um som, não quer dizer que em todos os momentos esse rudimento é fácil de executar, quando se trata de toques seguidos acima de 120 bpm o executante precisa dispor de um bom condicionamento técnico.

Figura 5 - Single stroke

O Double Stroke ou toque duplo: São toques dados com repetição de mãos. Existem algumas técnicas diferentes para economia de energia, mas a forma que trataremos aqui é a forma mais comum no universo do estudo de bateria. Para execução do toque duplo o músico utiliza o rebote. Ele consiste na execução de um movimento e a produção de dois sons. Esse tipo de rudimento soa de uma forma quando executado lentamente e de outra se executado rapidamente. Com isso, se for mais lento, chama-se toque duplo aberto; mais rápido, toque duplo fechado.

Figura 7 - Single Paradiddle

Paradiddles: é uma sequência de dois toques simples e dois toques duplos.

Figura 8 - Flam

Flams: O flam possui uma característica em sua execução, ele acontece com um ornamento é dado um toque com uma breve antecipação da nota que se chama real .

Figura 9 - Drag

Drags: É similar ao toque anterior com a diferença na quantidade de notas no lugar de uma nota, acontece duas notas rápidas antes da nota chamada real.

Com o passar do tempo e do uso, os cinco rudimentos começaram a ser combinados chegando ao total de 40 que foram registrados na Percussive Artist Society. Para efeito de organização, foram divididos em quatro grupos: Roll rudments, Diddle rudiments, Flams Rudiments, Drag Rudiments.

Neste capítulo, a história da bateria ficou em evidência, os campos de atuação dos bateristas, a forma que se processou o ensino de bateria no Brasil, os aspectos técnicos tais como a forma de Grip e a origem dos rudimentos e sua categorização.

Os pontos tratados neste capítulo surgiram com o objetivo de dar um panorama para ajudar a compreender o universo profissional dos interlocutores da pesquisa, tanto os aspectos mais práticos da vivência quanto os mais técnicos, sem perder de vista que a união desses dois pontos atua diretamente na construção da carreira profissional dos envolvidos.

4 PROCESSOS METODOLÓGICOS

O universo da pesquisa contemplou a investigação dos processos de aprendizagem de quatro bateristas pernambucanos. Como esses músicos tornaram-se referências diante de seus pares. A análise de seus trabalhos começou quando foram adquiridos CD’s e DVD’s desses artistas, foram seguidos canais no Youtube dentre outras mídias, como instagram e facebook.

Como todos os interlocutores são bastante atuantes tanto no mercado de shows, gravações e aulas, fez-se necessário uma agenda prévia para que as ações da pesquisa fossem consistentes. O pesquisador se fez presente em ensaios, shows, workshop, gravações para conferir in loco as atividades e como os interlocutores trabalham em suas práticas na expectativa de extrair as características de suas execuções.

O trabalho tem natureza qualitativa (GIL, 2008) e com objetivo identificar o processo formativo e diferencial técnico dos bateristas pernambucanos que inovaram a execução e se tornaram referências para seus pares.

No que se refere ao êxito da pesquisa, faz-se necessário encontrar os principais representantes que se destacaram nacionalmente inovando na execução técnica do instrumento, para isso, foi elaborada uma pergunta de pesquisa norteadora que segundo Nahas (2012) é feita para servir de rumo.

A questão foi apresentada a um total de 130 bateristas e obteve-se uma taxa de resposta de 30%. Os participantes são músicos profissionais, músicos amadores, estudantes de bateria de nível superior, técnico e médio, com idade entre 18 e 50 anos.

A entrevista foi método utilizado para construir a narrativa sobre o processo de formação dos bateristas relacionados. Já que se trata de uma pesquisa qualitativa, segundo Rosa e Arnoldi (2006), a entrevista é uma excelente técnica de coleta de dados, que se mostra bem eficaz. Verena Alberti (2000) complementa que dentro dos processos metodológicos que opera a pesquisa qualitativa, encontra-se com bastante força é a história oral que segundo Galvão pode ser definida:

Como uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o estudo do contemporâneo que, em uma análise qualitativa, valoriza as experiências individuais como importantes para a compreensão do passado (GALVÃO, 2015, p.05).

O tipo de entrevista utilizada é a semiestruturada, que, segundo Lakatos (2003), chama-se também de despadronizada ou não-estruturada, com o objetivo de identificar a

percepção desses sujeitos quanto à sua colocação no universo de suas formações, permitindo ao pesquisador a possibilidade de intervir, reformular, ajustar e esclarecer com o intuito de ser compreendido e de que a pesquisa tenha êxito. Ainda nesse entendimento, cabe reforçar o conceito dado por Laville e Dionne (1999) que diz que esse tipo de coleta contém uma série de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar esclarecimentos.

No tocante à delimitação da pesquisa, a dissertação tem o grupo dos bateristas pernambucanos que adquiriram relevância nacional em seus trabalhos. Os bateristas envolvidos têm estilos e estéticas diferentes, unidos pela execução dos ritmos da música pernambucana: Frevo, Baião, Maracatu, Caboclinhos, Xote, Xaxado, Ciranda, Coco.

O critério para a escolha dos sujeitos se deu através da questão norteadora e os indivíduos escolhidos como grupo atuam em trabalhos de alcance nacional, são reconhecidos e patrocinados por marcas de materiais musicais e são alvos de planos de negócio e mídia dessas marcas.

A proposta inicial seria fazer dois encontros de 1h30min com cada interlocutor, os temas que serão abordados: 1) Os processos formativos; 2) O diferencial técnico no instrumento; 3) A forma inovadora na execução.

Mas, com o passar do tempo, a disponibilidade e vontade dos interlocutores de participar das entrevistas permitia uma contribuição maior tanto em horas quanto em encontros.

Com respeito ao local e horário das entrevistas, tudo foi de acordo com a conveniência do convidado. Vale salientar que o sucesso da entrevista está muito ligado ao tempo e o lugar, como afirmam Rosa e Arnoldi (2006). A expectativa é que os encontros fossem em estúdios de ensaio, pela privacidade que esse daria e pela disponibilidade de instrumento (bateria), caso houvesse necessidade de uso para exemplos. Isso acabou não acontecendo por que os interlocutores que moravam em Recife decidiram fazer os encontros em suas residências ou nos ambientes de trabalho em horários diversos que serão expostos adiante do texto.

A entrevista semi-estruturada com certeza foi um dos elementos mais importantes para essa pesquisa, um instrumento de grande valia. Utilizar a coleta de dados dessa forma trouxe

bastante conteúdo. Inicialmente, proporcionou um olhar mais apurado a respeito dos interlocutores.

O primeiro a ser entrevistado foi Tostão Queiroga baterista e produtor musical que acompanha umas das maiores referências da música popular brasileira, a paraibana Elba Ramalho. O segundo interlocutor foi o baterista e professor da classe de bateria do Conservatório Pernambucano de Música (CPM) Ebel Perrelli. As entrevistas seguiram tendo com próximo sujeito convidado o baterista e percussionista da Spok Frevo Orquestra- Augusto Silva, e por fim o baterista, professor e escritor Cássio Cunha, que há 18 anos acompanha o cantor Alceu Valença.

Segue abaixo o calendário dos encontros que foram em forma de entrevista, na observação de ensaios, passagens de som e shows.

Augusto Cássio Ebel Tostão

Primeiro encontro Dia :15/04/2019 Hora: 20h Duração: 2h20min Primeiro encontro Dia: 26/04/2019 Hora: 17h 30min Duração: 2h Primeiro encontro Dia: 05/04/2019 Hora: 15h Duração: 1h 30min Primeiro encontro Dia: 30/11/2018 Hora: 14h 20min Duração: 2h Segundo encontro Dia: 19/04/2019 Hora: 19h Duração: 40 min Segundo encontro Dia: 28/04/2019 Hora: 20h Duração:1h10min Segundo encontro Dia: 12/04/2019 Hora: 19h Duração: 30 min Segundo encontro Dia: 27/04/2019 Hora: 20h30min Duração: 40min

Augusto Cássio Ebel Tostão

Terceiro encontro Dia: 06/05/2019 Hora: 19h Duração: 30min Terceiro encontro Dia: 29/04/2019 Hora: 13h Duração: 40min Terceiro encontro Dia: 08/05/2019 Hora: 19h Duração: 30min Terceiro encontro Dia: 09/05/2019 Hora: 20h Duração: 40min 4.1 SUJEITOS

As entrevistas foram realizadas com quatro bateristas pernambucanos atuantes no cenário da música nacional. Reconhecidos por seus pares, pelos meios de comunicação especializados.

Os quatro músicos que foram mencionados como referenciais na questão norteadora feita por ocasião do projeto, possuem elementos bastante peculiares no que diz respeito à formação e condução da carreira profissional. Augusto Silva, Cássio Cunha, Ebel Perrelli e Tostão Queiroga são os músicos que serviram de base para nossa pesquisa. Suas trajetórias musicais, a forma especial pela qual pensam o instrumento bateria e a identidade que dão às suas carreiras através da inovação e o novo olhar dado ao instrumento.

4.2 TRANSCRIÇÕES

Transcrever os dados coletados sem excluir nada, é um importante apontamento dado por Rosa e Arnoldi (2006) segundo os quais, tudo merece ser catalogado. Para fortalecer o entendimento, é importante a repetição na escuta das respostas. Eles incentivam que se faça o trabalho até a exaustão.

“O processo de análise qualitativa está baseada numa impregnação de dados pelo pesquisador [...] o que se enfatiza é a necessidade da leitura das transcrições repetidas vezes, ou melhor, até a exaustão”. (ROSA e ARNOLDI, 2006, p.61).

As transcrições dos 12 encontros feitos com os interlocutores compreendem entrevistas, ensaios, passagem de som e shows, perfazendo um total registrado em quatro cadernos de entrevista, um para cada interlocutor. Estes cadernos não fazem parte do material final da pesquisa ficando como volume extra ou partes complementar a pesquisa.

Transcrições de relatos orais foram obtidas através das entrevistas e com isso pôde-se ter uma compreensão mais ampla da vida e obra dos interlocutores. Foram feitos recortes das transcrições, onde os critérios para esses recortes visam criar um dialogo entre os entrevistados, os autores e o pesquisador, proporcionando um debate entre as idéias de cada uma das partes envolvidas.

Nas transcrições das falas dos interlocutores o uso do recuo no texto para dar um destaque no intuito de dar mais clareza. Mesmo que o foco do trabalho não seja a análise do discurso a correção de determinados deslizes da norma culta serão ajustados para se dar mais clareza e coesão, para que não haja quebra no fluxo do discurso, fazendo o mínimo de interferência na leitura sem perder a originalidade.

4.3 ANÁLISE QUALITATIVA

No que diz respeito à fase posterior à coleta de dados, foi feita a análise dos dados de forma qualitativa, conforme aponta Gil (2008). Segundo o autor existem três etapas ao se analisar dados em pesquisa qualitativa: a redução, exibição ou apresentação e conclusão ou

verificação. A redução diz respeito à simplificação da etapa, focalizando, abstraindo, transformando os dados originais em sumários que serão organizados a partir dos seus temas. No tocante à exibição ou apresentação, a organização dos dados explora a análise sistemática das similaridades e diferenças e suas inter-relações. E por fim a conclusão, que aparece como uma revisão de todos os dados e seus significados, padrões e explicações.

4.4 CATEGORIZAÇÃO

A etapa seguinte à coleta de dados é a categorização. Nela, se faz um estudo de conteúdos, separando as semelhanças e diferenças entre as falas dos interlocutores relacionando-as com as temáticas que serão trabalhadas. Segundo Bardin (2009) esse tipo de operação classifica os elementos por unidade de significado.

Categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem grupo de elementos (unidade de registro, no caso da análise de conteúdo, sob um titulo genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns destes elementos. (BARDIN, 2009, p.145).

Segundo Gil (2008) para que exista uma categorização eficiente, o pesquisador deve trabalhar em duas frentes: o inventário e a classificação. O inventário é onde se isola os elementos e a classificação é onde se procura estabelecer a organização das mensagens.

O autor indica que as operações sejam de desmembramentos de unidades do texto, que se façam categorias, e a partir daí se reagrupe as idéias análogas. A expectativa é que dessa forma as análises temáticas sejam rápidas e eficazes, que projetem condição de se aplicar discurso direto e simples. O autor segue afirmando que para se ter êxito diante da variedade de respostas deve agrupar e organizar em categorias e diz que:

Três critérios devem ser observados: a) O conjunto de categorias deve ser derivado de um único principio de classificação; b) o conjunto de categorias deve ser exaustivo; e c) As categorias de do conjunto devem ser mutuamente exclusivas. (GIL, 2008, p.157).

É importante destacar que as temáticas vêem dos conteúdos e dos objetivos da pesquisa que temas e sub-temas são gerados a partir das análises e organização do produto extraído da pesquisa que será conferido no próximo capítulo.

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