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Foto 17 Fachada da Escola Municipal Professora Francisca Ferreira da Silva

4 OS SABERES DOCENTES NA FORMAÇÃO EM MÚSICA

5.3 Os saberes docentes em Música

5.3.2 Os Saberes Disciplinares

De acordo, ainda, com Tardif (2013), os Saberes Disciplinares são aqueles que correspondem aos diversos campos do conhecimento, ou seja, são os saberes específicos de cada área transmitidos pelos cursos de Licenciatura, independentemente da formação de

professores. Trazendo essa concepção para o nosso trabalho, os bolsistas entrevistados foram questionados a respeito dos saberes musicais que um educador musical necessita ter para o desenvolvimento da sua prática profissional.

Os Saberes Disciplinares em Música identificados por eles foram: tocar um instrumento, percepção rítmica, teoria musical, práticas musicais, composição de arranjos, coordenação motora, afinação, percepção, didática musical, organologia, prática de conjunto, história da Música, processo criativo, Música Popular Brasileira, harmonia e bandinha rítmica. Todavia, esta análise discorrerá acerca dos saberes da didática musical e das práticas musicais por compreendermos que estas envolvem todos os outros Saberes Disciplinares em Música mencionados anteriormente. É importante dizer que todos os bolsistas entrevistados apontaram e categorizaram esses saberes como disciplinares em Música.

Quando pensamos em uma aula de Música, imediatamente pensamos em determinados saberes específicos que o educador musical necessita dominar. De acordo com Poliana: “Se a aula é de Música, ele [o professor] tem que saber dar aula de Música, né? Não é enrolar. Tem que saber de Música. Música, eu acho assim, é uma coisa bem diferente, principalmente no ensino básico, você precisa saber o que e como abordar” (informação verbal)74. Corroborando

essa perspectiva, Jonas nos diz que:

A didática musical é importante porque não adianta saber tudo sobre Música e não saber ensinar. O professor de Música precisa saber como aplicar a Música na Educação Básica. [...] Esses saberes didático-musicais são importantes para se ter excelência no que se propõe a fazer. (informação verbal)75.

Nesses discursos, é possível visualizarmos que as práticas musicais estão relacionadas diretamente com as metodologias do ensino de Música, ou seja, as atividades musicais desenvolvidas caracterizam a metodologia do ensino musical escolhida. Libâneo (2009, p. 15) nos diz: “Em outras palavras, para ensinar [...] [Música] não basta saber [...] [Música], é preciso utilizar a didática e a metodologia específica do ensino de [...] [Música] para compreender o ensino na sua totalidade”.

É perceptível também uma preocupação, por parte dos bolsistas, com o contexto de ensino de Música: Educação Básica. Os pibidianos reconhecem que a Educação Musical nessa conjuntura de ensino possui suas especificidades e que, diante disso, o educador musical

74Informação fornecida pela bolsista Poliana, na EMUFRN, em Natal (RN), em junho de 2014. 75Informação fornecida pelo bolsista Jonas, na EMUFRN, em Natal (RN), em junho de 2014.

necessita conhecer não somente os conteúdos musicais, mas também a diversidade de possibilidades metodológicas possíveis nesse cenário para que a sua práxis educativa seja significativa para os indivíduos envolvidos. Diante disso, Queiroz (2014)76 destaca que:

A diversidade de práticas significativas para o ensino de música na escola é tão ampla quanto as músicas do mundo. Tal aspecto faz com que os professores que trabalham com a educação musical escolar disponham de uma multiplicidade de conteúdos e de possibilidades metodológicas para desenvolvimento de sua ação pedagógica.

Os bolsistas apontam ainda que a didática musical é pensada e escolhida a partir da seleção dos conteúdos musicais, pois estas metodologias de ensino possuem uma relação dialógica com esses saberes. Ou seja, a escolha dos métodos de ensino musical é essencial para a aquisição e compreensão dos assuntos musicais, entretanto, essa eleição de metodologias de ensino deve considerar os indivíduos e o contexto.

Buscando ilustrar essa percepção apresentada, descrevo a seguir uma situação relevante percebida durante o período das observações participantes, onde foi possível identificar a articulação dos saberes docentes em Música mencionados anteriormente de maneira livre por parte dos pibidianos. Ou seja, essa mobilização de saberes docentes em Música ocorre de forma espontânea no qual, muitas vezes, não é nem notada pelos bolsistas.

Durante a realização de uma reunião de planejamento, o conteúdo musical que seria abordado nas próximas aulas no campo empírico desta pesquisa foi exposto pela supervisora aos bolsistas: os sons do cotidiano. Para isto, foi solicitado aos pibidianos que eles realizassem uma atividade cujo objetivo era desenvolver a percepção auditiva para a identificação desses sons. A partir do exposto, Gabriel - um dos pibidianos - sugeriu a utilização da Paisagem Sonora apresentada por Schafer (1991). Segundo o bolsista: “A proposta de Schafer vem ao encontro dessa percepção dos sons do cotidiano e os alunos conseguirão se sentir inseridos nos cenários apresentados na atividade” (informação verbal)77.

Em seguida, todos os outros bolsistas concordaram com a sugestão e a partir daí outras ideias foram sendo discutidas e planejadas.

Como resultado no campo empírico, o objetivo pedagógico-musical foi alcançado de forma significativa em relação à aprendizagem musical dos alunos, bem como a formação docente em Música dos pibidianos foi resignificada por meio de práticas musicais que

76Documento online não paginado.

77Informação fornecida pela bolsista Gabriel, na EMUFRN, em Natal (RN), em junho de 2014.

oportunizam a construção e a articulação de diversos saberes docentes. De acordo com Rausch e Frantz (2013), o contato com novas metodologias de ensino e específicas em sua área de formação através do PIBID faz com que o tradicionalismo pedagógico seja rompido, novos materiais ludo-pedagógicos sejam produzidos e que novos Saberes Curriculares, Disciplinares e Pedagógicos sejam inseridos no contexto da Educação Básica.

Com isso, podemos visualizar que o bolsista do subprojeto de Música do PIBID / UFRN conseguiu mobilizar de maneira eficiente e pertinente os Saberes Disciplinares em Música, bem como estabelecer relações com outros grupos de saberes docentes, tais como os Curriculares, os Pedagógicos e os Experienciais.

Portanto, de acordo com Queiroz (2014)78:

O professor de música na contemporaneidade, diante das muitas possibilidades que dispõe para atuar no processo de formação do indivíduo, precisa trabalhar com conteúdos e atividades que sejam significativos para os sujeitos contemplados pela ação pedagógica e para o contexto cultural em que desenvolve suas práticas.

Quando questionados sobre de que maneira o PIBID atua na construção e/ou na articulação desse saber em sua formação docente, destaco duas respostas bastante relevantes para a nossa discussão. Poliana nos diz que:

No PIBID eu aprendo bastante. Eu aprendo como ser professora, como lidar com os alunos... estar lá é bem legal. E também, para mim, está sendo importante porque eu vejo como você faz... até a questão de fazer a chamada e logo depois contar para conferir o número de presentes com os registros, eu já me liguei, escrevo tudo no caderno. Uma atividade que você passa e eu acho legal, eu escrevo a atividade como é no caderno, e se eu tenho alguma ideia diferente, eu escrevo como é que eu faria. E a questão de eu estar aprendendo a teoria também, eu gosto bastante. Aprender mais... Pronto! Por exemplo, eu acho que em didática musical [disciplina da licenciatura em Música da UFRN] a gente aprende as metodologias de ensinar Música, e como eu não paguei ainda, eu já estou aprendendo lá na escola através do PIBID. Então, eu vou ter uma formação no PIBID e vou ter a formação daqui [UFRN]. Então, quando juntar vai ser bem melhor para mim. E está sendo ótimo! (informação verbal)79.

As palavras de Iuri corroboram essa concepção:

Eu vou para as aulas [da UFRN] e vou assistir as aulas do PIBID [na Escola]. Eu fico observando os alunos, a professora, as ações, as aulas e eu

78Documento online não paginado.

aprendo muito. Ao fazer as minhas anotações, eu já faço pensando: ah, um dia quando eu for professor, eu vou fazer essa atividade porque ela é muito legal! Aí eu vou aprendendo já na prática no primeiro semestre. Se não fosse o PIBID agora, eu teria a base teórica, mas não teria uma vivência... (informação verbal)80.

Nestes casos, podemos visualizar o PIBID como um instrumento formador de novos saberes a partir da observação do licenciando em Música em seu campo de atuação. Dessa maneira, observar a prática pedagógico-musical de um profissional em Música “[...] significa que, exercitando a observação sobre condições concretas do processo de ensinar, podemos aprender com eles a ser professor” (MORATO; GONÇALVES, 2009, p. 116).

Então, é possível afirmar que a didática musical com suas práticas pedagógico- musicais é um dos saberes disciplinares em Música mais significativos na formação do educador musical, pois é por meio dela que o professor de Música media a construção dos conhecimentos musicais necessários para o desenvolvimento do ser humano. É através da didática musical também que outros saberes (Disciplinares ou não) são articulados para o desenvolvimento da prática pedagógico-musical, tais como: conhecimentos prévios acerca do contexto de ensino e do público-alvo, conteúdos musicais e recursos disponíveis, entre outros.

Stentzler (2012, p. 5-6) compreende que:

A prática educativa é mobilizadora de diversos saberes na formação docente, sendo possível ao licenciando construir e reconhecer formas próprias de lidar com os saberes pedagógicos, pois, se posiciona como agente de transformação tecendo ações em contextos diferenciados de aprendizagem. Para tal, faz-se necessário conhecer o real funcionamento de uma escola, para além dos saberes disciplinares, mas como campo permanente de construção de conhecimento, onde é possível experimentar, compartilhar saberes sociais e construir identidade.

Com isso, podemos perceber uma articulação entre os Saberes Curriculares (analisados e discutidos anteriormente) e os Saberes Disciplinares em Música sob o olhar dos bolsistas do PIBID Música / UFRN. Fica evidente que o pibidiano utiliza diversos saberes para construir outros conhecimentos musicais a partir desse diálogo entre esses grupos de saberes resultando em uma formação inicial em Música consistente.