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Os saltos verticais como discriminadores da performance de corredores

2.1 A manifestação da força explosiva e potência no esporte

2.1.3 Os saltos verticais como discriminadores da performance de corredores

A habilidade em utilizar o CAE e em gerar altos níveis de potência de modo eficiente é considerado um fator crítico em muitos esportes. Uma grande diversidade de investigações tem sido realizadas por cientistas do esporte para examinar os fatores relacionados à potência muscular e os efeitos do CAE na performance atlética de

corredores (HENNESSY; KILTY, 2001; HARRINSON et al., 2004; SLEIVERT; TAINGAHUE, 2004; MIGUEL; REIS, 2004; SMIRNIOTOU et al., 2008). Nesse sentido, o uso dos saltos verticais SJ e CMJ apresenta-se como um dos métodos mais utilizados para esse fim, sendo considerados válidos e de grande confiabilidade (MARKOVIC et al., 2004).

No SJ, a altura adquirida ou a potência produzida são atribuídas somente a ação muscular da fase concêntrica do movimento (BOSCO et al., 1999). Neste salto, a altura de elevação do centro de gravidade é consideravelmente inferior à obtida no CMJ. Uma das explicações para isso é a ocorrência do CAE neste último, potencializando a ação muscular por meio da energia elástica acumulada e aos reflexos de estiramento (BOSCO et al., 1981; KOMI, 2000).

Procurando responder especificamente a questão: “por que a altura de salto no CMJ é maior que no SJ?”, Bobbert e Casius (2005) propuseram um modelo mecânico para explicar tal fato. A explicação para o aumento da performance no CMJ em relação ao SJ parece ser que na primeira situação é permitido aos músculos construir um estado ativo de pré-contração na qual há uma alta fração de pontes cruzadas formadas e força gerada antes do encurtamento. Assim, os músculos ativos são capazes de produzir mais trabalho no início do movimento. Resultados do estudo de McBride et al. (2008) indicaram que a maior altura no salto CMJ em relação ao SJ está associado com o aumento nos níveis de pré-ativação e ativação muscular na fase excêntrica. Estas características específicas que diferenciam o SJ e CMJ estão relacionados com a performance de corredores, conforme citações a seguir.

O desempenho no SJ, que reflete basicamente a habilidade de recrutamento neural do atleta, possui boa correlação com o desempenho em sprints, tendo em vista que em ambas as situações a ação concêntrica dos músculos extensores do joelho é considerada determinante na geração de forças propulsivas (SLEIVERT; TAINGAHUE, 2004). Tais forças são de extrema importância na aceleração dos velocistas, principalmente na saída dos blocos de partida e nos trechos iniciais da corrida (MERO; KOMI, 1994).

A razão CMJ/SJ foi proposta como um indicador da utilização do CAE (McGUIGAN et al., 2006), porém, ela parece não discriminar diferentes grupos de

corredores, como evidenciado na investigação de Harrison et al. (2004). No referido estudo, corredores velocistas e fundistas foram avaliados realizando os saltos verticais SJ e CMJ, sendo a razão encontrada entre eles semelhante para os dois grupos, indicando que, tanto velocistas quanto fundistas, conseguem utilizar o CAE. No entanto, os valores de altura e potência obtidos no CMJ, salto que envolve o aproveitamento do ciclo alongamento-encurtamento, foram estatisticamente superiores no grupo de velocistas, sugerindo ser a melhor variável capaz de diferenciar atletas de endurance com os de potência.

A influência de diferentes variáveis neuromusculares nas corridas de velocidade foi investigada em estudo realizado por Miguel e Reis (2004), no qual relacionou-se o desempenho em saltos verticais com a performance na corrida. Participaram da pesquisa um grupo de 15 corredores, especialistas na prova de 400 m e considerados heterogêneos quanto a performance. Os atletas realizaram três diferentes tipos de saltos verticais: o CMJ, que representou a potência máxima, 15 saltos “reativos”, para estimar o stiffness muscular (resistência ou rigidez imposta pelo tendão a uma deformação causada por um alongamento rápido) e, por último, 30 saltos contínuos com contra-movimento (30CMJ), expressando a capacidade de resistir à produção de potência. Os resultados obtidos indicaram que o desempenho no CMJ foi uma variável que se relacionou significativamente com os 400 m (r=-0,68). A variável 30CMJ foi a mais fortemente correlacionada com esta prova (r=-0,75), sendo considerada pelos autores a manifestação de força mais importante para um quatrocentista. Quando estas variáveis foram incluídas juntas para identificar a associação com a performance nos 400 m, encontrou-se associação ainda mais significativa, com r = -0,76. De acordo com os autores, estas associações puderam ser diagnosticadas em função do grupo ser considerado heterogêneo quanto á performance.

Corroborando os relatos dos estudos supra-citados, Henessy e Kilty (2001) verificaram que a altura de salto no CMJ possui correlação significativa com a performance nas corridas de velocidade. No referido estudo, 17 velocistas do sexo feminino de nível competitivo foram submetidas a realizar o salto com contra-movimento (CMJ) e sprints máximos de 30 m, além das corridas para determinação da performance nas distâncias de 100 e 300 m. Os resultados obtidos indicaram haver

associação significativa do CMJ com os sprints ( r= -0,60) e com 100 m (r=-0,64) e 300 m rasos (r= -0,55). Tais resultados confirmam que a altura de salto no CMJ é um índice capaz de discriminar a performance de corredores velocistas.

Em recente estudo, Smirniotou et al. (2008) analisaram a relação conjunta de vários parâmetros de força-potência com a performance na corrida de 100 m rasos. Vinte e cinco jovens velocistas realizaram os saltos verticais SJ, CMJ, DP (Drop Jump), repetidos Jumps (RJ) e uma corrida de 100 m, à máxima intensidade. Além do desempenho nestes, foram calculados o tempo de reação nos blocos (RT), a razão entre SJ/CMJ e a velocidade média nos trechos de 0-10m, (V0 – V10), 10-30 m (V10 – V30), 30-60 m (V30 – V60) e dos 60-100m (V60 – V100). Uma análise de regressão múltipla stepwise mostrou que a V0 – V10 depende basicamente do SJ e DP; V10 – V30 depende somente do SJ e os trechos de V30 – V60 e V60 – V100 são dependentes basicamente do CMJ. A análise estatística revelou que 46,5% da variabilidade na performance nos 100 m pode ser explicada pelas variáveis de força e potência analisadas. A conclusão do estudo foi que a performance nesta prova é fortemente dependente de tais fatores neuromusculares, sendo o SJ ou CMJ os melhores preditores.