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Capítulo.1 Desenvolvimento Emocional

1.2 Processo relacional

1.5.2 Os sentimentos e as emoções

A sociedade antes do nascimento de uma criança começa a projetar-lhe o futuro, sucesso académico, ocupar cargos importantes, sucesso económico, realização pessoal. Podemos então considerar que a relação afetiva estabelecida entre Homem e sociedade se baseia fundamentalmente na supremacia, desvalorizando os sentimentos.

A harmonia emocional neste sentido fica comprometida nas suas várias dimensões cognitivas, cognitiva-afetiva e comportamental, refletindo-se negativamente no relacionamento social. A harmonia emocional, como refere Céspedes (2008), emerge de três sentimentos intrínsecos e inatos à criança: a alegria existencial (sentimento de prazer, estimula a fantasia, a imaginação e o lúdico, as competências comunicativas); a motivação (sentimento virado para o conhecimento, curiosidade, fascínio pelo desconhecido, abertura a novas aprendizagens e desafios); e a serenidade (sentimento da confiança, capacidade de se sentir feliz, aceite, protegido e amado). Os sentimentos são uma força interior que gera aptidão para a criatividade, comportamentos assertivos, resolução de problemas, enfrentar desafios. São também designados por “efeito apagador” de emoções negativas. A harmonia emocional ou resiliência é uma capacidade para enfrentar a diversidade social e é subjacente a fatores sociais e biológicos da criança.

As emoções e os sentimentos (imagens mentais) sociais são instrumentos culturais que intercedem no desenvolvimento de comportamentos éticos, na criação de leis, na justiça, entre outros. Os seres humanos são também dotados de desejos, de capacidade para conhecer e raciocinar, distinguir o bem e o mal de forma individual ou nas relações intersociais. É a região pré-frontal do cérebro que desencadeia os elementos necessários para estabelecer essas relações. Deste modo perante uma lesão nesta região, as emoções sociais inatas e os sentimentos nunca poderão ser exibidos de forma normal na relação com os outros – o indivíduo forma o seu próprio mundo. As emoções positivas e negativas, os sentimentos inerentes são elementos essenciais para o sujeito executar as suas experiências sociais, podendo mesmo interferir na previsão do futuro. Em concreto, a emoção isolada pouco pode contribuir para o futuro mas, concomitantemente com outras capacidades, é possível atingir o equilíbrio social e a transformação pessoal (Damásio, 2003a).

No cume da árvore anteriormente referida aparecem as emoções e os sentimentos (mais importantes hierarquicamente) como expressão mental de todos os outros níveis, considerados inferiores. O cérebro através das vias neurais e químicas (conatus como lhe chama Espinosa) comanda todas as operações mapeando todo o corpo e recolhendo o que está a funcionar bem ou mal na procura do estado de equilíbrio (Damásio, 2003b).

Os sentimentos, na perspetiva de Céspedes (2008), dependem de uma construção consciente composta por elementos psicofísicos e emocionais que culminam em representações mentais.

Para Damásio (2003a), o sentimento e a emoção aparecem associados. As emoções estão relacionadas com ações e com os movimentos do corpo, designados por comportamentos específicos, regulam a vida, alicerçam e precedem os sentimentos. Os sentimentos cingem-se a representações mentais do estado do corpo, pois “traduzem o estado de vida na linguagem do

espírito” (p. 103). O sentimento é norteado pelos mapas cerebrais do corpo, registam estímulos

respeitantes aos estados do corpo, nem sempre agradáveis. Os padrões químicos do meio interno, também mapeados pelo cérebro, são nomeados como sentimentos de fundo, relacionados com a fadiga, energia ou mal-estar.

Os sentimentos integrados encontram-se relacionados com os apetites e desejos, resultantes de distúrbios de processos internos, originando a fome ou a falta de energia, por exemplo. Surge, deste modo, um conceito de sentimento, como um estado corporal mapeado num sistema de regiões cerebrais que trabalham em conjunto, criando uma imagem mental do corpo. O sentimento é assim uma perceção de um certo estado do corpo, ou seja, uma reação a um objeto ou situação. A reação sentida transporta o sujeito para um sentimento positivo com a mente a representar bem-estar e bem-pensar ou para um sentimento negativo com a mente a representar mal-estar. A sociedade do conhecimento na procura de soluções para enfrentar a diversidade não se compadece com as emoções, sentimentos, pulsões ou motivações do sujeito. A preocupação direciona-se para a regulação dos sentimentos e emoções mas respeitando as regras sociais e éticas instituídas (Damásio, 2003a).

Neste sentido Goleman (2014) acrescenta que a sociedade atual avalia o homem por uma nova “bitola”, não com base nas habilitações académicas e conhecimentos técnicos como outrora, mas pelas qualidades pessoais como a iniciativa e a empatia, adaptabilidade e a capacidade de persuasão. O rendimento pessoal e o sucesso profissional encontram-se a par de talentos humanos, como possuir bom “carácter” e “personalidade”, “qualidades pessoais” e “competências” que numa só palavra significa ter inteligência emocional.

O estado de saúde biológico/psicológico do sujeito articulado a uma educação emocional adequada, geram sentimentos positivos, agregados a um bom suporte emocional, transportam o individuo para um grau elevado de otimismo, da generosidade, da empatia, da flexibilidade, do

humor e do saber perdoar. Por outro lado, o sofrimento e a desilusão empurram o homem para o polo mais negativo das emoções básicas (medo e raiva), emergindo do seu interior sentimentos negativos como ressentimento social (ódio, desejo de vingança, egoísmo etc.). Na passagem das emoções para o nível do consciente devido às vivências, surgem os esquemas emocionais duradouros que atuam sobre a personalidade, organizam os sentimentos dos mais básicos (carinho, otimismo, ternura, ciúmes, inveja) aos mais elaborados (o amor à pátria, o ódio às minorias, etc.). Os sentimentos elaborados estão relacionados com a espiritualidade humana como a fé, o altruísmo, a solidariedade, entre outros A convivência com emoções negativas desde tenra idade e de forma reiterada, “ (…) vão despertar nesta intensas emoções negativas, com base nas quais vai

construindo um guião existencial centrado na inveja, no receio e no ressentimento” (p:21).

Naturalmente a criança tende a manifestar sentimentos negativos na relação que estabelece com os outros. Pelo contrário, uma criança que se desenvolva em ambiente de proteção, de afeto, valorização e respeito, a sua balança emocional tende para os sentimentos positivos, como o otimismo, a empatia, a serenidade (Céspedes, 2008).

Em suma, os sentimentos fazem parte integrante da sobrevivência humana e assentam em desejos e paixões envolvidos pelo amor. A necessidade de enfrentar um desgosto, um perigo ou uma situação complexa, coloca o homem perante uma dicotomia emoção/razão que se pretende harmoniosa. A emoção sente, enquanto a parte racional pensa, reflete, pondera e busca a solução. Perante tarefas demasiado importantes, as emoções levam-nos a agir impulsivamente em sintonia com o intelecto.

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