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4.3. O Sistema de Normalização Contabilística (SNC)

4.3.3. Os Técnicos Oficiais de Contas e a Harmonização Contabilística

“As instituições sem fins lucrativos vão, assim, sendo empurradas ou mesmo já obrigatoriamente sujeitas a dispor de uma contabilidade adequada para correcta representação das variações de valor que ocorrem, quer nos seus elementos patrimoniais quer nas despesas e receitas que processam”

Ferreira ( Fevereiro 2006)

Como sabemos, os TOC’s fazem a ligação entre as entidades (sejam estas com finalidade lucrativa ou sem finalidade lucrativa) e o Estado, nomeadamente, no cumprimento das obrigações contabilísticas e fiscais.

Por um lado, os TOC’s respeitam um conjunto de normas éticas e deontológicas previstas no Estatuto dos Técnicos Oficiais de Contas e, por outro lado, um conjunto normas fiscais, das quais se destacam a responsabilidade, a competência, a confidencialidade, lealdadeM zelando, em conformidade, pelos princípios deontológicos. “Sobre os TOC’s recaem diversos tipos de responsabilidade: civil, fiscal, penal e disciplinar” Cunha (2009).

Através do artigo 6.º do Estatuto dos TOC’s, podemos ver as funções atribuídas funções, tais como:

a) Planificar, organizar e coordenar a execução da contabilidade das entidades sujeitas aos impostos sobre o rendimento que possuam ou devam possuir contabilidade regularmente organizada, segundo os planos de contas oficialmente aplicáveis, respeitando as normas legais e os princípios contabilísticos vigentes, bem como das demais entidades obrigadas, mediante portaria do Ministro das Finanças, a dispor de técnicos oficiais de contas; b) Assumir a responsabilidade pela regularidade técnica, nas áreas contabilística e fiscal, das entidades referidas na alínea anterior;”

O artigo 24.º da LGT (Lei Geral Tributária) define a responsabilidade dos TOC ’s quanto à violação, por dolo ou negligência dos deveres de assunção da regularização técnica nas áreas contabilística e fiscal ou de assinatura de declarações fiscais, demonstrações financeiras e seus anexos.

Daqui podemos retirar algumas ilações, da acrescida responsabilidade dos TOC’ s. Neste contexto concluímos que os TOC’ s desempenham um papel técnico e profissional imprescindível ao serviço das entidades pagadoras e contratadoras,

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assumindo uma responsabilidade “fiscalizadora”, substituindo o Estado. Com a introdução do SNC, a responsabilidade dos TOC aumentou significativamente. Segundo Cunha (2009), “a implementação de um TOC não deve ser vista apenas numa óptica de conhecimento, mas também numa óptica de gestão, permitindo uma maior transparência e segurança na gestão do interesse público”. Ao longo deste trabalho esta opinião foi compartilhada por diversas vezes de forma fiel.

Ferreira (2006:34), partilha da opinião de que “cada vez mais, as preocupações com oferta de serviços de qualidade e a correcta utilização dos recursos recebidos, tais como, doações, donativos e quotizações, levam à necessidade de aplicação de princípios de gestão, de normas e de um modelo contabilístico apropriado”.

Consideramos que deveria ser criado ou reformulado um novo conceito de enquadramento e co-responsabilização dos TOC’s: estes deveriam ser encarados como parceiros leais, detentores da responsabilidade técnica e fiscal, sendo eles o elo de ligação com a administração fiscal, cabendo a esta última reformular um novo modelo de responsabilização dos TOC’s.

Depois de termos efectuado um estudo das ESNL, procederemos a uma análise da informação financeira da S. C. M. de Vila Flor, a forma de colocar em prática as novas técnicas contabilísticas de acordo com o novo normativo, tendo sempre por base a importância o relato financeiro, em termos nacionais e internacionais. Tal como referenciado por vários autores, a ligação do poder local a outras organizações locais permite que o desenvolvimento dos sistemas de contabilidade e de relato financeiro (accountability), reforçasse aqui o papel da contabilidade, não apenas como uma mera pratica contabilística, mas também como uma componente que influencia e é influenciado pelo contexto onde opera. Sobre este assunto ver estudos de (Carnegie, 1996; Hopwood, 1983; Mann, 1985; Sargiacom, 2010) .

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V – A importância do Relato Financeiro: Caso “Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor”

Para um melhor enquadramento e entendimento deste trabalho, cujo tema são as IPSS, julgamos ser importante conhecer uma instituição, em todos os seus quesitos: formal; económico e social; contabilístico; relato financeiro.

Para a realização deste estudo, mercê do apoio concedido, escolhemos a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor.

Esta misericórdia foi fundada em meados do século XVI, como consta do compromisso da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor, elaborado de acordo com o Decreto-Lei n.º 119/83, de 25 de Fevereiro. É uma associação de fiéis constituída na Ordem Jurídica Canónica, com o objectivo de assistência social e prática de actos de culto católico, em harmonia com o seu espírito tradicional, segundo os princípios da doutrina moral cristã. A sua acção desenvolve-se através da prática das 14 obras de misericórdia na área religiosa, sob a inspiração da Nossa Senhora de Visitação, que é a sua padroeira. A instituição desenvolve actividades gerais de assistência médica, saúde e protecção, em benefício da terceira idade, da infância, dos carenciados, da irmandade (promovendo acções de culto sob orientação da igreja católica), etc.

As actividades desenvolvidas pela Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor são diversas, tal como podemos analisar, através do organigrama da instituição:

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Organigrama da Misericórdia de Vila Flor

A Misericórdia de Vila Flor tem como missão o desempenho de diversas obras sociais, que contribuem claramente e de forma expressiva para o bem-estar do concelho. Para melhor conhecermos todo o trabalho desenvolvido junto das populações carenciadas,

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podemos enumerar cronologicamente41 as principais obras desta instituição ao longo de várias décadas:

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