• Nenhum resultado encontrado

2.   O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A CONSTRUÇÃO CIVIL

2.2.   A construção civil 15

2.2.3.   Os trabalhadores da construção civil 21

O trabalho na construção civil, ainda que tenha sofrido modernizações e melhorias, tradicionalmente é caracterizado por: necessidade de esforço físico, trabalho insalubre e em ambiente adverso, instabilidade no emprego, rotatividade, mobilidade física, baixa qualificação, necessidade de pouca habilitação específica, baixo prestígio social, altos índices de acidentes de trabalho, etc. (CATTANI, 2001). O autor também cita características comumente encontradas nos operários da construção civil nos grandes centros urbanos: grande mobilidade (tanto laboral quanto domiciliar), origem predominantemente interiorana, baixa escolaridade formal, longa jornada de trabalho, pouco tempo destinado ao lazer, baixos rendimentos, etc.

SESI (2005) apresenta informações que auxiliam na caracterização do trabalhador da construção civil no Brasil. Apesar desses dados apenas contemplarem os trabalhadores em situação formal, o estudo é válido na medida em que é possível delinear um perfil da mão-de-obra.

A distribuição setorial dos trabalhadores formais, segundo SESI (2005), indica que apenas 3,5% atua na construção civil (Gráfico 2.5). No entanto, DIEESE (2001) afirma que 20,1% são empregados com carteira profissional assinada, 30,8% são empregados sem carteira assinada, 41% são trabalhadores por conta própria, 3,7% do total são trabalhadores ocupados na construção de suas próprias casas ou trabalhadores sem remuneração, e 4,3% ocupadas como empregadores (Gráfico 2.6). Aponta-se, então, a informalidade como característica do setor.

SESI (2005) ainda traz a distribuição setorial dos trabalhadores formais segundo o gênero, indicando a maioria de trabalhadores do sexo masculino - 92,9% (Gráfico 2.7).

Gráfico 2.6 - Distribuição dos trabalhadores da construção civil, segundo o vínculo empregatício. Fonte: DIEESE (2001).

Gráfico 2.7 - Distribuição dos trabalhadores formais por setores econômicos, segundo o gênero. Fonte: SESI (2005).

SESI (2005) também apresenta a distribuição dos trabalhadores formais por setores econômicos, segundo a faixa de remuneração média mensal em intervalos de salários mínimos (Gráfico 2.8). Os dados indicam a baixa remuneração como característica do setor da construção civil.

trabalhadores com carteira assinada; 20,10% trabalhadores sem carteira assinada; 30,80% trabalham por conta

própria; 41%

trabalhadores ocupados na construção de suas próprias casas ou sem

remuneração; 3,70%

Gráfico 2.8 - Distribuição dos trabalhadores formais por setores econômicos, segundo faixa de remuneração média mensal em intervalos de salários mínimos, Brasil - 2003 (%).

Fonte: SESI (2005).

O Gráfico 2.9 mostra a distribuição dos trabalhadores formais por setores econômicos, segundo grau de instrução, indicando a baixa escolaridade da mão-de- obra, inclusive em relação aos outros setores da economia.

Gráfico 2.9 - Distribuição dos trabalhadores formais por setores econômicos, segundo grau de instrução, Brasil - 2003 (%). Fonte: SESI (2005).

FLORES (2008) apresenta uma pesquisa que traçou o perfil do trabalhador de uma empresa construtora. Esse estudo indicou a baixa qualificação e instrução, alto índice de analfabetismo, altos níveis de desnutrição, alto risco e índice de acidentes, desperdício de material, péssima qualidade dos produtos e alta rotatividade.

HERNANDES et. al. (2002) apresentam um estudo revelando a motivação dos trabalhadores da construção civil, utilizando a teoria de Maslow. Este propôs a existência de necessidades básicas, dispostas em hierarquia de importância e prioridade: necessidades fisiológicas, de segurança, de afiliação ou sociabilidade, de estima, e de auto-realização. Tais necessidades, entendidas como “iniciativas motivadoras da ação de suprir estados de privações humanas” são representadas em uma pirâmide (Figura 2.3).

Figura 2.3 - Hierarquia das necessidades segundo Maslow. Fonte: Hernandes et al. (2002).

Segundo a teoria de Maslow, “[...] as primeiras necessidades (fisiológicas) dominam o comportamento da pessoa até que sejam satisfeitas [...]”, em seguida, a segunda (segurança) “[...] torna-se preponderante até que seja satisfeita, e nesta ordem até a última, apesar de que não seja necessário que uma necessidade esteja 100% satisfeita para surgir a seguinte” (HERNANDES et. al., 2002).

Hernandes et. al. (2002) apresentam os resultados de uma pesquisa investigativa em relação às necessidades dos operários. Essa pesquisa observou que aproximadamente 43% dos trabalhadores que responderam à pesquisa se sentem

Auto‐ Realização Estima Social Segurança Fisiológicas

desmotivados em relação à segurança na obra, pois, segundo a visão deles, a empresa obriga o uso dos equipamentos de proteção.

Como resultado da análise, os autores constataram, entre outros, que os trabalhadores estão inseridos nos degraus mais baixos da pirâmide.

Oliveira (1997) identificou em empresas de construção civil a falta de qualificação dos operários, medida por meio da participação de cursos em especialização. A pesquisa detectou que 68% dos trabalhadores nunca fizeram um curso de especialização, no entanto, 62% o fariam, mesmo que fosse fora do horário de trabalho, enquanto 20% não o fariam (Quadro 2.4). A pesquisa diz que apenas 8% aprenderam a profissão por meio de cursos, enquanto 32% adquiriram o conhecimento na prática e 60% nunca recebeu treinamento específico (Quadro 2.5). Outro fato importante abordado pela autora é de que apenas 30% dos trabalhadores atuam na construção civil por opção, outros 30% apenas estão na profissão por se considerarem com baixa qualificação para outras, enquanto 40% dizem que é a melhor opção atual (Quadro 2.6).

Se lhe fossem oferecidos cursos de

treinamento/especialização, você: Quantidade (%) de trabalhadores

Não faria o curso 20%

Faria se o curso fosse oferecido durante o horário de trabalho 18% Faria mesmo se fosse oferecido fora do horário de trabalho 62%

Quadro 2.4 - Aspiração dos trabalhadores da construção civil quanto à realização de cursos de treinamento e especialização. Fonte: Oliveira (1997).

Como aprendeu a profissão? Quantidade (%) de trabalhadores

Através de cursos 8%

Aprendeu na prática 32%

Não recebeu treinamento específico 60%

Quadro 2.5 - Maneira como os trabalhadores da construção civil aprenderam a profissão. Fonte: Oliveira (1997).

Por que trabalha na construção civil Quantidade (%) de trabalhadores Porque gosta e escolheu a profissão 30%

Porque não estudou o suficiente para

desenvolver outra atividade 30% Porque é a melhor opção atualmente 40%

Quadro 2.6 - Motivos pelos quais trabalhadores da construção civil escolheram a profissão. Fonte: Oliveira (1997).

De acordo com Cattani (2001), a oferta de cursos de formação para trabalhadores da construção civil “[...] não tem tradição no Brasil, não sendo, inclusive, pré- requisito para a contratação de trabalhadores.” O autor explica a irregularidade da oferta pela “[...] mobilidade característica do setor, falta de tradição em formação profissional, irregularidade da demanda (fruto da instabilidade do mercado imobiliário), caráter manufatureiro do ofício, etc.”. O autor afirma que a formação dos trabalhadores acontece no próprio canteiro de obras, com a orientação de companheiros e os técnicos responsáveis, que orientam na execução das tarefas.

Com relação à saúde dos trabalhadores, Borges e Martins (2004) citaram como doenças mais frequentes o alcoolismo, as doenças mentais e as doenças psicossomáticas; ressaltando os acidentes de trabalho.

Silveira et. al. (2005) apresentam um estudo listando as principais causas de acidentes de trabalho entre os operários da construção civil, considerando os casos atendidos no hospital em estudo. A causa de maior ocorrência foi “queda”, em 37,3% dos casos. Os resultados são apresentados no Quadro 2.7.

Diesel et. al. (s.d.) estudaram os tipos de lesões que acometem os trabalhadores da construção, identificados no Gráfico 2.10.

Causa/Objeto causador de acidente de trabalho Quantidade (%) de trabalhadores

Quedas 37,3% Contato com ferramentas, máquinas e aparelhos 16%

Acidente de trajeto 12,7%

Impacto por objeto 11,3%

Corpo estranho 8%

Agressão 4%

Contato com vidro 2,7%

Exposição à corrente elétrica 2,7%

Contato com fontes de calor 1,3%

Outros 4% Quadro 2.7 - Distribuição de trabalhadores da construção civil acidentados, atendidos no

hospital onde ocorreu o estudo, no período de dois anos, em relação à causa. Fonte: Silveira et al. (2005).

Gráfico 2.10 - Tipos de lesões apresentadas por trabalhadores da construção civil nos anos de 1998 e 1999. Fonte: Diesel et. al. (s.d.).

Os dados apresentados neste item reforçam a necessidade de incluir ações mais sustentáveis voltadas aos trabalhadores.

Documentos relacionados