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1 PREPARAÇÃO PARA A VIAGEM

2.7 OS TRILHOS METODOLÓGICOS

Fotografia 11: Trilhos entrelaçados. Fonte: www.agenciat1.com.br, 2010

Brincar com crianças, não é perder tempo, é ganhá- lo; se é triste ver meninos sem escolas, mas triste ainda é vê-los sentados sem ar, com exercício s estéreis sem valor para a formação do homem.

Carlos Drummond de Andrade18

Esta pesquisa trata da formação humanescente de docentes. Essa formação tem a beleza da contação de histórias como referência provocadora que leva os docentes ao encantamento, estimulando-os a contar suas próprias histórias de vida.

Sempre estivemos viajando ao lado da arte, vendo ao nosso redor

18Poema de Carlos Drummont de Andrade, confrir em:

pormenores coloridos que tornam o mundo mais belo e humanescente. Essa visão de mundo nos provocava uma curiosidade que nos instigava buscar respostas para os porquês da vida. Assim, esta pesquisa viaja pelos caminhos da vida desta pesquisadora, que desde a infância ouve histórias e, a partir da juventude, passou a contá-las, compreendendo que contar histórias completa o seu ser, mas não compreende como isso se dá. Desse modo, a curiosidade alimenta o desejo de buscar na pesquisa respostas para suas indagações.

Para conduzirmos a locomotiva da pesquisa, fomos buscar uma metodologia que nos desse um aparato de cientificidade e ao mesmo tempo considerasse a subjetividade dos viajantes. Inspirados em Oliveira (2007), afirmamos que a metodologia é um conjunto de métodos e técnicas que nos embasa a vivenciar, analisar e conhecer a realidade presente na busca de produzir novos conhecimentos.

Através da observação participativa, colocamo-nos como pesquisadora, vivenciando as descobertas, junto aos viajantes deste trem. Para que esta viagem atendesse aos nossos anseios, planejamos, refletimos, observamos e agimos de maneira sistematizada. Como viajante e pesquisadora, fomos guiando as vivências do grupo, no entanto, como estamos desenvolvendo uma pesquisa-ação, a participação de todos os viajantes, foi de suma importância, para contribuir com o planejamento de um novo roteiro, conforme as transformações que os viajantes experienciavam através do fenômeno investigado. Ghedin e Franco (2008, p. 218) afirmam que:

Ao falar de pesquisa-ação, fala-se de uma pesquisa que não se sustenta na epistemologia positivista e pressupõe integração dialética entre o sujeito e sua existência, entre fatos e valores, entre pensamento e ação, entre pesquisador e pesquisado. Essa metodologia valoriza os princípios da participação, sendo que o pesquisador transita entre a subjetividade e a objetividade, estando à disposição dos pesquisados e sendo mediador do processo de participação coletiva e ressignificação da realidade que se apresenta.

A observação participativa considera a interação do pesquisador com o fenômeno pesquisado, com os demais participantes da pesquisa e o entorno em que o estudo está sendo desenvolvido, assim, os dados da pesquisa não

estão descontextualizados, mas envolvidos com a subjetividade dos participantes. Essa abordagem proporciona um movimento socioeducativo, pois se preocupa com a formação integral do ser, valorizando-o nas dimensões antropológica, psicológica, social, estética, didática, ética e afetiva. Põe o sujeito diante de sua identidade, conferindo-lhe a oportunidade de refletir sobre essa identidade. Segundo Josso (2004, p. 59):

[...] uma das dimensões da construção das histórias de vida na nossa abordagem reside na elaboração de um autorretrato dinâmico por meio de diferentes identidades que orienta as atividades do sujeito, as suas opções passivas deliberadas as suas representações e as suas projeções, tanto nos seus aspectos tangíveis como invisíveis para outrem, e talvez ainda ao explicitados ou surgidos na consciência do próprio sujeito. Essas histórias fundamentam a construção de um novo olhar que contribui para a autoformação de cada participante. A partir da escuta de cada participante acontece uma ressignificação da vida de cada um e, paralelamente, acontece uma ressignificação da postura de cada um dentro do grupo e com todo o grupo. O processo de contar as histórias de vida dentro do grupo proporciona uma autossensibilização do sujeito, um autorreconhecimento e uma autoformação, além de conduzir o grupo a um processo de valorização, respeito e solidariedade entre os sujeitos que o formam.

A narrativa proporciona ao sujeito uma reflexão sobre o passado, o presente e como ele deseja formatar o futuro. Ocorre, portanto, um chamado de cada um a si mesmo, para efetuar a transformação que a reflexão apontou como resolução de problemas que se mostravam sem solução.

Utilizamos, ainda, os fundamentos e princípios da etnometodologia, uma vez que analisamos as pessoas considerando a abstração da realidade vivida por elas, onde as crenças, sentimentos, desejos, anseios e transformações dos envolvidos são levados em consideração. Nesse sentido, entramos em contato com a dimensão da sensibilidade dos atores envolvidos. Concedemos às atividades do dia-a-dia dos professores envolvidos na pesquisa uma atenção especial. Cada detalhe foi um acontecimento relevante, pois esses detalhes fazem parte das histórias de vida de cada um. A etnometodologia traz cinco conceitos organizados e estruturados, quais sejam: prática, realização,

indicialidade; reflexividade e accountability – que descreveremos a seguir, ressaltando que não analisaremos todos os conceitos, mas, somente aqueles que se sobressaíram: indicialidade e reflexividade. Vejamos os conceito:

Prática, Realização:

Neste conceito, os estudos “abordam as atividades práticas, as circunstâncias práticas e o raciocínio sociológico prático como tema de estudo empírico. Concedendo às atividades corriqueiras da vida cotidiana a mesma atenção que habitualmente se presta aos acontecimentos extraordinários” (GARFINKEL apud COULON, 1995. p. 29).

Indicialidade

É um conceito que considera a linguagem através da qual os atores sociais se comunicam em sua rotina. “[...] embora uma palavra tenha uma significação trans-situacional, tem igualmente um significado distinto em toda situação particular em que é usada” (COULON, 1995, p. 33). Desse modo, as palavras vivem uma incompletude natural que ganha complementaridade no seu contexto de produção, considerando-se ainda a vida do locutor, a intenção imediata e a relação deste locutor com seu ouvinte.

Reflexividade

É um enunciado dito través do silêncio, pois este não pode ser pronunciado, no entanto, este enunciado é compreendido por sua interação com o meio. É uma linguagem silenciosa, sem palavras, mas que se faz compreender. “o código não é uma coisa exterior à situação. É algo de prático, com enunciados indiciais” (COULON, 1995, p. 40).

Accountability

É a maneira como os acontecimentos são relatados para que o outro possa ter acesso à sua história, não é a maneira como de fato os eventos

aconteceram, mas sim como se quer que estes sejam vistos. É o comprometimento de alguém consigo mesmo, reafirmando aquilo que deseja ser. É a exibição da personalidade nas atividades e comportamentos cotidianos. “A propriedade dessas descrições não é a de descrever o mundo, mas a de lhes mostrar sem cessar a constituição. Se eu escrevo uma cena da minha vida cotidiana, não o faço enquanto ela me ‘diria’ o mundo que minha descrição pode interessar a um etnólogo, mas enquanto essa descrição, em si realizando ‘fabrica’ o mundo, o constrói” (COULON, 1995, p. 46).

Noção de Membro – como cada um se reconhece.