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CAPÍTULO II ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCETUAL – PERSPETIVAS DE REGULAÇÃO E

1. A REGULAÇÃO E A ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO

1.2. Os vários níveis de regulação

A regulação dos sistemas não se confina ao território nacional de um país, mas provém de regiões mais amplas, mais vastas, supranacionais, como a União Europeia. A integração europeia e a globalização político-económica têm acompanhado e muitas vezes encorajado o aparecimento de poderes infranacionais - ao ponto de produzirem uma espécie de governação multinível e policêntrica -, que contribuem para perturbar as rotinas mais sólidas das políticas públicas nacionais ao instalar formas de regulação

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liberais, ou seja, pelo mercado5. Daqui inferimos acerca da existência de vários níveis de regulação situados quer em posição transnacional, nacional, regional ou local. Barroso (2003, 2005) enquadra-se nesta perspetiva, na medida em que propõe diferentes níveis de regulação quanto à origem: transnacional, nacional, micro-regulação e quanto às modalidades: burocrática, pelo mercado e comunitária.

A regulação transnacional reporta-se às instâncias supranacionais e materializa-se fundamentalmente no corpus normativo aí concebido, destinado à transposição para os normativos internos dos Estados signatários.

A regulação nacional, também denominada de institucional (Barroso, 2005), consiste no conjunto de normativos emanados do Estado que visam, por intermédio da sua administração, coordenar, controlar e exercer influência sobre o comportamento dos diferentes agentes no interior do sistema educativo. Poderemos então depreender, que a regulação nacional se integra no grupo da regulação de controlo e, por conseguinte, afeta e inibe a ação dos indivíduos nas organizações educativas, introduzindo constrangimentos no seu impulso autonómico e reduzindo-os a meros executores do regime instituído. Dito de outro modo, “a regulação de controlo está associada aos

dirigentes. Desce do topo para a base. Exerce-se do exterior sobre os grupos” (Ramos,

2001:142). Inversamente, a regulação autónoma é produzida pelos grupos que operam nas organizações e gera-se nas relações funcionais existentes. Ambas convivem no sistema e posicionam-se uma em função da outra. Importa destacar que a regulação de controlo está alicerçada numa lógica externa e a autónoma atua numa lógica interna. Não obstante, segundo Ramos (2001), as duas apontam para uma coerência e um

resultado, não são forçosamente incompatíveis. Mais, reportando-se a Reynaud (1994) a

autora sugere que as regulações autónoma e de controlo são por si uma fonte de regras. Já Azevedo (2008) defende que a regulação autónoma e a regulação de controlo são

estratégias coletivas que se cruzam nos espaços territoriais, em cada comunidade local,

o que significa que estão sempre em contacto, manifestando uma certa relação de interdependência. O autor, citando Lima (2007), acrescenta que prevaleceu em Portugal,

5

Cf. Dutercq (2005:11) (…) L’ intégration européenne, en particulier, et le globalization politico- économique, en general, ont accompagné et souvent encourage la renaissance des pouvoirs infra- nationaux au point de produire une sorte de gouvernance “multi-niveaux”” et “polycentrique” (Marks et al., 1998) qui largement contribué à brouiller les routines les plus solides des politiques publiques nationales en installant des formes de régulation libérales, c’est-à-dire par le marché (Jobert, 1994) (…)

CAPÍTULO II 39 nos últimos trinta anos, um regime centralizado e estatista de administração da educação, coexistindo uma retórica política e uma orientação normativa que hipervalorizaram a autonomia.

Para além da regulação transnacional e nacional, ainda concorre para a regulação educacional a micro-regulação local que, do ponto de vista de Barroso (2005, p.71) pode ser entendida

“como o processo de coordenação da ação dos atores no terreno que

resulta do confronto, interação, negociação ou compromisso de diferentes interesses, lógicas, racionalidades e estratégias em presença quer, numa perspetiva vertical entre “administradores” e “administrados”, quer numa perspetiva horizontal, entre os diferentes ocupantes dum mesmo espaço de interdependência (intra e inter organizacional) – escolas, territórios educativos, municípios, etc.” (Barroso, 2005, p.71).

De facto, a subjetividade das políticas macro dão, por vezes, lugar à emergência de processos de micro-regulação local, perfilhados por agentes que interagem habilmente num espaço de tensões e incertezas e que não estão recetivos a absorver tudo o que vem de “fora”, mas intervêm ativamente na busca de soluções ajustadas para o contexto concreto em que se inserem.

Acresce que a criação dos Conselhos Municipais de Educação também pode ser equacionada como uma forma de micro-regulação local, na medida em que estes órgãos são responsabilizados pelo sucesso das políticas educativas e pelo alcance da eficiência e da eficácia do sistema educativo. Digamos que o Estado delega parte da sua responsabilidade a nível local, o que configura à partida a descentralização de competências, sobretudo a nível de retórica, mas em termos práticos, quer os órgãos municipais quer os próprios estabelecimentos escolares têm que observar as orientações provindas da tutela ou da administração desconcentrada (direções regionais de educação), apenas gozando de alguma margem relativa de autonomia na interpretação das indicações recebidas superiormente.

No caso concreto do nosso país, podemos também eleger a regulação de âmbito regional concedida às regiões autónomas da Madeira e dos Açores, uma vez que gozam de autonomia político-administrativa e, nesse sentido, concebem políticas educacionais à medida dos interesses manifestados pelas comunidades em que se encontram situados.

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Do ponto de visto daquele autor, o principal desafio não é eliminar ou restringir estes espaços de regulação autónoma, mas averiguar como dar uma coerência nacional e um sentido coletivo às decisões locais, isto é, incorporar as idiossincrasias dos contextos locais na definição das políticas públicas.