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OS VIOLONISTAS NAS EMISSORAS RADIOFÔNICAS EM FORTALEZA

4 A CONSTITUIÇÃO DO CAMPO VIOLONÍSTICO NO CEARA

4.1 OS VIOLONISTAS NAS EMISSORAS RADIOFÔNICAS EM FORTALEZA

Assim como em outros estados do País, muitos músicos iniciaram sua trajetória profissional nas emissoras radiofônicas. Esta instância proporciona relações e saberes musicais adquiridos sem a mediação de um educador musical. Isso decorre da “troca constante entre sujeitos e cultura ambiente [...] esse saber musical possível trata-se de um processo cuja ativação ocorre, de qualquer modo, de maneira implícita, automática e involuntária” (NANNI, apud, FIALHO, 2003, p.71). Diante disso é possível perceber que na sociedade todos os lugares podem proporcionar diversas aprendizagens (SOUZA, 2001).

No início da era do rádio essa instância passou a ser um importante instrumento facilitador de comunicação com o público, favorecendo relações sociais e divulgando as diversas manifestações artísticas. A citação a seguir ajuda a contextualizar esse momento:

No campo específico da produção cultural, o rádio inovou, ao mesmo tempo em que absorveu e adaptou outras formas de arte já existentes. Estavam presentes no rádio, por exemplo, a música em seus diversos gêneros e o teatro – drama e comédia. O rádio tornou-se um excelente meio de divulgação de outras manifestações artísticas (CALABRE, 2004, p. 10).

Na cidade de Fortaleza não aconteceu diferente do que vinha ocorrendo nos importantes centros do país. Durante o início da década de 30 houve a inauguração da Ceará Rádio Clube, a PRE-9, por João Dummar. Foram grandes os seus investimentos, o que

25 A pesquisa de Costa (2010) é a principal referência sobre o Violão Clube do Ceará.

26 Ainda não existe pesquisa publicada sobre essa sociedade artística que perdurou ao longo da década de 1970.

Adiante serão apresentadas fotografias e uma matéria publicada na revista violão e mestres que atesta essa atividade violonística na cidade de Fortaleza.

possibilitou a vinda de nomes famosos do rádio brasileiro ao Ceará, como por exemplo: Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas e Dorival Caymmi.

Figura 6 – João Dummar, fundador da Ceará Rádio Clube PRE-9

Disponível em:< http://www.google.com.br/imgres?q=foto+joao+dummar&hl=> Acesso em: 08/09/2012

Também foram lançados artistas locais como Humberto Teixeira e Lauro Maia. Esse último ingressa no Rádio em 1935 apresentando um programa de músicas regionais e nordestinas, “Lauro Maia e seu ritmo”.

Figura 7 – Lauro Maia

Disponível em:< http://www.google.com/imgres?q=lauro+maia&num=> Acesso em: 08 Set. 2012.

Diante do cenário que se configurava eram necessários músicos que pudessem atuar nas emissoras radiofônicas, acompanhando cantores ou contribuindo de outras maneiras com as atividades que envolvessem música dentro da programação. É na rádio que surgem os

primeiros violonistas profissionais do Estado, dando início assim a um campo violonístico no Ceará. Acredita-se nessa hipótese em virtude de que para suprir uma necessidade externa, no caso em questão a do rádio, surgiram profissionais aptos a atenderem essa demanda.

Dessa forma é possível constatar que a efervescência da era do rádio influi na constituição de um campo específico, já que “os agentes – por exemplo, as empresas no caso do campo econômico – criam o espaço, e o espaço só existe (de alguma maneira pelos agentes e pelas relações objetivas entre os agentes que aí se encontram)” (BOURDIEU, 2004, p.23). Nessa perspectiva o referido autor ensina que:

É a estrutura das relações objetivas entre os agentes que determina o que eles podem e não podem fazer. Ou, mais precisamente, é a posição que eles ocupam nessa estrutura que determina ou orienta, pelo menos negativamente, suas tomadas de posição. Isso significa que só compreendemos, verdadeiramente, o que diz ou faz um agente engajado num campo (um economista, um escritor, um artista etc.) se estamos em condições de nos referirmos à posição que ele ocupa nesse campo, se sabemos ‘de onde ele fala’ (BOURDIEU, 2004, p.23).

No momento em que os violonistas passaram a atuar profissionalmente, criou-se um novo espaço que foi capaz de proporcionar aqueles que o ocuparam viverem da sua arte. Dessa maneira surgiu uma divisão; de um lado os profissionais, de outro os amadores. O campo violonístico passa então a sofrer influência dessas duas categorias. Elas permanecerão ligadas e exercendo suas relativas importâncias já que entende-se que a atividade musical depende dos profissionais, amadores e apreciadores (CRUVINEL, 2005).

A partir do momento em que passa a existir um mercado de trabalho se estabelece uma relação entre competência e mercado. Nesse sentido Bourdieu (2003) ensina que o primado dessa relação é atribuído pela linguística ao filologismo27; o dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa diz ser [...]. A partir da existência dessa relação foram necessários criar espaços capazes de atestar essas competências. Desse modo, o fato do agente passar por uma instituição e dela obter o seu diploma, permite-lhe não apenas tomar posse de um capital institucionalizado, mas atestar sua competência perante o campo, os agentes e o mercado de trabalho.

Considerando o que acabamos de expor, falaremos um pouco dos violonistas cearenses que iniciaram sua trajetória profissional no rádio. Isso ocorrerá por entendermos

27

O estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, em especial a pesquisa de sua história morfológica e fonológica baseada em documentos escritos e na crítica dos textos redigidos nessas línguas (p.ex., filologia latina, filologia germânica etc.); gramática histórica. Etimologia: lat. philologìa,ae 'amor às letras, instrução, erudição, literatura, palavrório', do gr. philología,as 'necessidade de falar, conversação', talvez pelo fr. philologie (sXIV) 'id.'; ver 1fil(o) -e -logia; f.hist. 1597 philologia.

que esse espaço contribuiu para agregar os sujeitos, dando início dessa forma a constituição do campo violonístico no Ceará.

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