• Nenhum resultado encontrado

Oscar Newman (1996)

No documento O ESPAÇO URBANO E O CRIME: (páginas 32-35)

2.1 A Evolução do Pensamento Urbano

2.1.3 Oscar Newman (1996)

Diferentemente de Jacobs (2011), Newman foi um urbanista de formação, do meio acadêmico (era professor da Washington University – EUA), que em 1971 lançou o livro “Defensible Space”. Este livro também trouxe grande impacto para o pensamento urbanístico, mas, ao contrário de Jacobs (2011), que refutava tudo o que o movimento mais expressivo até então pregava, o CIAM (1933), ele pôde começar seus estudos a partir do que Jacobs (2011) desenvolveu. Apesar de também refutar o ideal modernista, ele apropriou-se de vários conceitos desenvolvidos por Jacobs (2011) para, a partir deles desenvolver a sua teoria. Newman desenvolveu seu trabalho focando em como tornar os espaços mais seguros, incorporando, sobretudo, o conceito de que cada cidadão é também um agente de fiscalização que deve contribuir para a segurança da cidade. A principal diferença entre os dois pensamentos, é que as calçadas deveriam ser ocupadas quase que exclusivamente pelos moradores locais, o estranho deveria ser inibido de usá-la ao máximo. Neste sentido Ferraz (2017, p. 47) salienta:

A ideia central de Newman era que em determinados pontos de um bairro residencial circulassem e permanecessem apenas os moradores do local. Estranhos se sentiriam desconfortáveis de tal modo que naturalmente iriam

embora. A vigilância por parte dos moradores seria essencial na estratégia, aliada a elementos físicos de restrição de passagem.

Newman, em 1996, a pedido do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos, escreve o livro, Creating Defensible Space. Nós usamos as definições desta edição do livro, por serem mais atuais, mas ainda com os fundamentos usados na edição de 1971. Acerca da importância da teoria desenvolvida por Newman e o último livro aqui mencionado, Michael Stegman (1996), secretário assistente de pesquisa e desenvolvimento urbano diz no prefácio do mesmo livro:

O surgimento do Espaço Defensável de Oscar Newman, em 1972, sinalizou o estabelecimento de uma nova subdisciplina criminológica que passou a ser chamada por muitos de "Crime Prevention Through Enviromental Design" ou CPTED. Ao longo dos anos, as ideias do Sr. Newman provaram ter um mérito tão significativo em ajudar os cidadãos da Nação a recuperar seus bairros urbanos que nós, no Escritório de Desenvolvimento de Políticas e Pesquisa do HUD (Home and Urban Development), pedimos que ele preparasse um livro de casos para ajudar organizações públicas e privadas na implementação de Teoria do Espaço Defensável.

Segundo Newman todas as teorias que tratam de Espaço e Segurança possuem um aspecto em comum, de que a mudança física das disposições de um bairro ou cidade permite que os habitantes tomem controle de sua vizinhança. Isto implica que a responsabilidade de um indivíduo não se limita à sua moradia, mas ao seu entorno. Apenas a apropriação do espaço público por parte dos moradores pode garantir a segurança local. Em nossa sociedade isto abre uma brecha para a reflexão acerca dos direitos e deveres, temos por costume cobrar das entidades públicas vários direitos, mas esquecemos dos nossos deveres perante a sociedade. Este entendimento é imprescindível para se conviver em harmonia em uma sociedade.

O maior agente de segurança de um bairro provém dos próprios moradores, e não do poder público. Assim Newman afirma (1996, p. 15):

A teoria do Defensible Space se baseia na autoajuda e não na intervenção do governo e, portanto, não é vulnerável à retirada do apoio do governo. Depende do envolvimento dos residentes para reduzir o crime e remover a presença de criminosos. Tem a capacidade de aproximar pessoas de diferentes rendas em um mesmo objetivo em uma união mutuamente benéfica. Para pessoas de baixa renda, o Defensible Space pode fornecer uma introdução aos benefícios de uma vida de uma classe privilegiada e uma oportunidade de ver como suas próprias ações podem melhorar o mundo ao seu redor e levar à melhoria de seu status.

Outro benefício apontado pelo autor é que, quando os moradores se apoderam do bairro, as obras de melhorias do bairro, muitas vezes, são realizadas pela própria comunidade. Além

de desonerar o Estado, isso produz outro fato interessante, a integração das pessoas, independentes das classes sociais ou etnias.

A pesquisa de Newman teve início ao comparar duas áreas residenciais com grupos semelhantes do ponto de vista socioeconômico, e perceber que um lugar se tornou inabitável devido à falta de segurança, e outro, praticamente não possuía índice de criminalidade. Qual seria o motivo de resultados tão antagônicos? Os estudos de Jacobs (2011) nos mostraram, que não era de impressionar, que houve total fracasso em um bairro construído à luz dos tópicos desenvolvidos no CIAM (1933), o bairro Pruitt-Igoe, em Saint Louis, Missouri, foco de estudo inicial de Newman. O bairro Pruitt-Igoe não teve outra saída a não ser a demolição. O caso de sucesso foi o Carr Square Village, na mesma cidade, uma vila tradicional que possuía baixa criminalidade. Assim como Jacobs (2011), Newman não desenvolveu sua teoria buscando mudar as pessoas (anseio dos modernistas), mas estudando porque alguns lugares possuíam excelente desempenho e outros são uma grande derrota para a sociedade. A conclusão que teve foi que o que diferia não era o interior das casas, mas como os moradores interagiam com seu entorno. Newman faz o seguinte comentário (1996, p. 18):

Onde apenas duas famílias compartilhavam um espaço, ele era limpo e bem mantido. Se alguém pudesse ser convidado a entrar em um apartamento, achava-o arrumado e bem conservado - talvez modestamente mobiliado, mas com muito orgulho. Por que essa diferença entre o interior do apartamento e os espaços públicos do lado de fora? Pode-se concluir apenas que os moradores mantinham e controlavam as áreas claramente definidas como próprias. Os espaços compartilhados por apenas duas famílias foram bem mantidos, enquanto os corredores compartilhados por 20 famílias, e os lobbies, elevadores e escadas compartilhados por 150 famílias foram um desastre - eles não provocaram sentimentos de identidade ou controle. [...] Era impossível sentir ou exercer sentimentos de propriedade, impossível distinguir o residente do intruso.

Baseado em suas observações, ele e Jacobs convergiam em muitos pontos, mas o estranho (aquele que não pertence ao bairro), para Newman, é o agente que irá praticar algo ilícito. A possibilidade de um crime ser cometido por um morador do bairro é praticamente descartada. Podemos resumir a teoria de Newman em quatro vetores principais, como mostrado por Cavalcanti (2013, p. 35): “se baseou em quatro conceitos chaves: a vigilância natural promovida pelos residentes locais, o controle de acessos, a manutenção e gestão dos espaços, e o reforço territorial visando fortalecer o sentimento de pertencimento dos residentes naquele espaço”. O fato de o convívio de um bairro com pessoas estranhas ser fortemente encorajado, faz com que este pensamento rejeite comércios ou núcleos atratores. O modelo fica limitado a bairros com qualidades predominantemente residenciais, com baixa integração da malha viária.

No documento O ESPAÇO URBANO E O CRIME: (páginas 32-35)