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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

5. Otimismo e Envelhecimento

Outro conceito que surgiu da necessidade da psicologia enfatizar o estudo científico e aplicado das qualidades humanas e do seu funcionamento positivo foi o otimismo.

No âmbito do estudo deste conceito é possível distinguir duas abordagens teóricas e de investigação empírica, nomeadamente a de Seligman (1992) que se baseia na forma como se explicam os eventos agradáveis e adversos que aconteceram no passado e a de Scheier e Carver (1990) que apresenta o otimismo a partir de uma dimensão disposicional. De salientar, que neste estudo a abordagem adotada será a de Scheier e Carver, uma vez que a escala utilizada no presente estudo foi construída, tendo como base teórica o otimismo disposicional. De acordo do Seligman (1992) podem identificar-se três dimensões que serão passíveis de utilização na explicação de um acontecimento agradável ou adverso. Estas são a permanência que é relativa ao tempo a que os efeitos permanecem; a difusão que diz respeito ao número de situações que são afetadas pelo efeito do acontecimento e a personalização que está relacionada com o peso que a pessoa atribui à causa, em termos de fatores internos ou externos. Assim, para os otimistas os eventos agradáveis são explanáveis com base em explicações permanentes, difundidas e internas, sendo que o contrário acontece com os pessimistas, ou seja, os eventos agradáveis são temporários, específicos e externos, pois a

pessoa nunca atribui a si própria o fato de um evento acontecer de forma agradável (Weber, Prado, Brandenburg, & Viezzer, 2003). De salientar que, de acordo com Seligman (1992) e Guillhan (2000), é possível ensinar competências de otimismo aos pessimistas, o que pode resultar numa menor predisposição para a depressão.

Carver e Scheier (1990) conceptualizam o otimismo como uma característica cognitiva que comporta componentes emocionais e motivacionais e definem-no como a expectativa de alcançar o fim ambicionado, ou seja, o otimismo disposicional deriva de um modelo comportamental de autorregulação, uma vez que as ações são influenciadas pelas expectativas relativamente às consequências dessas ações, sendo que estas expectativas influenciam a vida afetiva das pessoas. Além disso, distinguem entre otimismo disposicional e situacional, sendo que o otimismo pessoal ou disposicional corresponde à expectativa de obter resultados positivos no âmbito pessoal, comportamental e em termos da própria saúde e o otimismo social ou situacional, corresponde à expectativa positiva relacionada com questões do âmbito social ou ecológico (violência, migração, poluição, etc.).

Por outro lado, também se distingue entre pequeno e grande otimismo. O pequeno é relativo à obtenção de resultados positivos com uma importância relativa (i.e. ter esperança de encontrar um lugar para estacionar), enquanto o grande otimismo tem a ver com expectativas de maior amplitude e de menor especificidade (i.e., acreditar que deixará de existir fome em todo o mundo) (Peterson, 2000).

Muitos estudos têm sido efetuados sobre o otimismo, no sentido de conhecer se este é um traço estável da personalidade ou um estado mais volátil. Para Oliveira (2010a, p. 67), o otimismo é conceptualizado como “uma característica ou tendência mais ou menos estável da pessoa, em circunstâncias normais da vida, e que tende a prevalecer mesmo em circunstâncias adversas” (...) “uma característica cognitiva (um objectivo, uma crença ou uma atribuição causal) em relação ao futuro desejado e sentido como sucesso”. Ou seja, para este investigador o otimismo é uma característica da personalidade, mais especificamente um estilo cognitivo-afetivo sobre o modo como o indivíduo processa a informação relativa ao futuro (Oliveira,2010a).

Alguns investigadores consideram o otimismo como uma demostração de esperança. Todavia, Oliveira (2003) considera que a esperança é de cariz mais afetivo-motivacional e o otimismo apresenta mais uma dimensão cognitiva.

Distinguindo o otimismo do pessimismo, Oliveira (2010a) refere que o otimismo está relacionado com a esperança, a perseverança, a felicidade, a resiliência, a saúde física, etc.,

enquanto o pessimismo está relacionado com a depressão, a infelicidade, a falta de resiliência ou vulnerabilidade aos contratempos e a doença.

O otimismo constitui assim uma das reservas que permite às pessoas com mais efetividade enfrentar os eventos críticos da vida (Rabelo & Neri, 2005).

De um modo geral, pode dizer-se que o otimismo se correlaciona positivamente com a saúde mental, social e física das pessoas, desde que não seja excessivo, pois deste modo pode promover efeitos que não são desejáveis, “conduzindo as pessoas a adoptarem comportamentos de risco e a terem uma percepção errada acerca das probabilidades de contraírem doenças, onde os idosos são mais vulneráveis” (Vitorino, Morgado, & Sequeira, 2011, p.347).

Num estudo longitudinal Peterson, Seligman, e Vaillant (1988) verificaram que ao longo da vida, à medida que os indivíduos vão envelhecendo, a sua saúde vai-se agravando, sendo, todavia, evidente que os gerontes mais otimistas permanecem mais saudáveis.

Schweizer e Schneider (1997) verificaram que o grau de otimismo social varia conforme a idade, sendo que cresce até aos 40 anos, baixa entre os 40 e os 50 e, posteriormente, volta a aumentar. Por outro lado, constataram que os homens apresentam um maior grau de otimismo do que as mulheres.

Num estudo onde foram aplicadas quatro escalas para avaliar a esperança, o otimismo, a felicidade e o perdão a três grupos distintos de jovens, adultos e gerontes, os resultados revelaram que no grupo dos adultos são os homens que apresentam maior otimismo. Além disso verificaram-se correlações significativamente elevadas entre o otimismo e a esperança em todos os grupos distintos e no grupo amostral (Oliveira, 2010b).

Um outro estudo realizado por Aschat, Kawachi, e Spiro (2000) revelou que é essencial que os gerontes adotem um visão otimista perante a vida para manterem e preservarem um nível de saúde funcional.

O otimismo influencia o bem-estar, exercendo ainda algum efeito sobre o sistema imunológico, no âmbito da resistência à doença, e sobre os comportamentos que promovem a saúde e o bem-estar físico, sendo considerada um variável de extrema importância no funcionamento psicossocial da pessoa (Hermangóne, 2002).

De acordo com Charney (2004) um dos fatores que distingue as pessoas que são resilientes das que não são é o otimismo. Este investigador verificou este facto numa investigação de âmbito neurobiológico onde identificou uma associação positiva entre o mecanismo neuronal da motivação, do qual fazem parte o otimismo, o hedonismo e a prestabilidade, e a resiliência.

As investigações apontam para o facto de os gerontes apresentarem maior otimismo devido à sua sabedoria (Lennings, 2000). Para além disso, os gerontes otimistas apresentam melhores níveis de adaptação, quer psicológica, quer física (Monteiro, Tavares, & Pereira, 2008).

No entanto, Fitzpatrick (2013) afirma que para desenvolver o otimismo são necessários alguns anos de prática, mas que já existem algumas estratégias, nomeadamente a reaprendizagem de respostas chave a situações de stresse, tais como o incremento de competências, como por exemplo, o altruísmo, o que poderá ajudar as pessoas a relacionarem- se mais com os outros.

Face ao que se referenciou ao longo do presente enquadramento conceptual diversos são os factores que detêm um importante papel na adaptação ao envelhecimento, pelo que parece ser relevante analisar o suporte social, a esperança, o otimismo e a frequência da Universidade Sénior no âmbito da adaptação e resiliência dos gerontes.

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