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3. Otimização da Separação

3.4. Resultados e Discussão

4.4.4. Otimização da Hidrólise

Em razão do elevado custo dos padrões de antocianinas, é bastante comum quantificar seu conteúdo pela aglicona correspondente. Para isso, faz-se uma hidrólise ácida no extrato e obtêm-se a antocianidina [14,63].

Com o objetivo de estudar a hidrólise das antocianinas, presentes no morango, foram realizados experimentos baseados na metodologia descrita no item 4.3.2.3, em que os extratos otimizados (item 4.4.2) reagiram, na razão 1:1 (v/v), com quatro soluções de ácido clorídrico 37 % (1, 2, 3 e 4 mol L-1), em banho termostatizado à 100 ºC. Para monitoramento da velocidade de reação, foram retiradas alíquotas da mistura reacional de 1 em 1 minuto até cinco minutos, depois de 10 em 10 minutos até 100 minutos, colocadas em banho de gelo e medidas no cromatógrafo a líquido, de acordo com o método desenvolvido no Capítulo 3.

Essa metodologia foi utilizada para acompanhar o processo de formação da aglicona, utilizar os resultados em cálculos da velocidade de reação e entender o mecanismo da hidrólise das antocianinas e, assim, otimizar a hidrólise desses pigmentos no morango. Os cromatogramas obtidos em cada medida, para as diferentes concentrações de ácido, podem ser observados nas Figuras 4.14 a 4.17, onde os picos que aparecem (no decorrer do tempo de reação) no final do cromatograma são a cianidina e pelargonidina (agliconas), respectivamente.

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Figura 4.14. Cromatogramas de monitoramento da hidrólise das antocianinas presentes no morango, utilizando HCl 1 mol L-1 para reação. Condições cromatográficas descritas na seção 4.3.2.4.

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Figura 4.15. Cromatogramas de monitoramento da hidrólise das antocianinas presentes no morango, utilizando HCl 2 mol L-1 para reação. Condições cromatográficas descritas na seção 4.3.2.4.

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Figura 4.16. Cromatogramas de monitoramento da hidrólise das antocianinas presentes no morango, utilizando HCl 3 mol L-1 para reação. Condições cromatográficas descritas na seção 4.3.2.4.

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Figura 4.17. Cromatogramas de monitoramento da hidrólise das antocianinas presentes no morango, utilizando HCl 4 mol L-1 para reação. Condições cromatográficas descritas na seção 4.3.2.4.

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156 A ligação glicosídica (C-O-C) das antocianinas, marcada em vermelho na estrutura genérica da Figura 4.18, faz com que estas substâncias se comportem como acetais durante sua hidrólise, que ocorrerá se o pigmento reagir com altas concentrações de ácidos inorgânicos (sendo os mais comuns HCl e H2SO4) por um longo tempo e submetidos a altas temperaturas (acima de 90 e 95 ºC) [17,37]. O HO OH OH R1 R2 O O HO OH OH OH

Figura 4.18. Ligação glicosídica presente nas antocianinas.

O mecanismo da hidrólise de acetais prevê que a protonação ocorre antes da etapa lenta, que é o ataque nucleofílico da água. Os acetais são facilmente hidrolisados porque formam carbocátion estabilizado por ressonância. O mecanismo da hidrólise de acetais é oposto ao da formação destes (Figura 4.19) [78-80].

157 É bem conhecido que a razão de hidrólise de acetais é dependente do pH e ocorre via protonação do oxigênio por uma quebra da ligação C-O [81]. A hidrólise de acetais é catalisada especificamente por um íon hidrogênio [82]. Geralmente, a velocidade da reação é de primeira ordem, mas o que governa sua ocorrência é a presença de doadores de elétrons ou substituintes no anel fenil [81], como no caso das antocianinas.

Na estrutura das antocianinas, o ataque do ácido ao oxigênio do acetal é o mais favorável, pois como pode ser observado na Figura 4.20 para a pelargonidina-3-glicosídeo, pode-se inferir que em solução aquosa as antocianinas apresentam equilíbrios de desprotonação, favorecido pela possibilidade de estabilização da molécula por ressonância com os elétrons das duplas conjugadas com o oxigênio do anel heterocíclico.

Figura 4.20. Equilíbrios de desprotonação da pelargonidina-3-glicosídeo.

Os resultados obtidos nos cálculos da cinética da reação de hidrólise concordam com os equilíbrios das antocianinas: em função dos oxigênios das hidroxilas retirarem elétrons do anel para se estabilizarem (Figura 4.20), seus pares de elétrons não estão tão disponíveis quanto o par de elétrons do oxigênio da ligação glicosídica, e por isso o H+, proveniente do ácido clorídrico,

158 é atacado pelos pares de elétrons do oxigênio da ligação glicosídica, já que estes não entram em ressonância com a cadeia carbônica da antocianina, pois o substituinte OGlicose encontra-se em posição meta com relação ao oxigênio do anel heterocíclico, facilitando o ataque nucleofílico da água, efetuando-se a hidrólise [79,80].

A reação de protonação das antocianinas pode ser esquematizada como:

A + H+ AH+

H2O

Esquema 4.1.

Onde, (A) representa a antocianina. A velocidade dessa reação pode ser escrita como: ] ][ [ ' A H k V Equação 4.3. Em que, k’[H+] = k obs, ou seja: ] [ A k V obs Equação 4.4.

O kobs da Equação 4.4 pôde ser obtido experimentalmente através da inclinação da reta dos gráficos de logaritmo da concentração de aglicona formada (considerada até o ponto de concentração de estabilização do produto final), quando se utilizou concentrações de ácido clorídrico acima de 2 mol L-1, versus o tempo de reação. Os perfis dos resultados apresentaram concordância com a teoria, demonstrando que a reação de hidrólise das antocianinas, demonstrada na Figura 4.21, segue cinética de primeira ordem.

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Figura 4.21. Hidrólise das antocianinas.

Com os valores de kobs obtidos para as três maiores concentrações estudadas na reação, foi possível plotar um gráfico (Figura 4.22) de log kobs versus [HCl].

Figura 4.22. Gráfico de log kobs versus concentração de HCl em mol L-1.

A partir da equação da reta obtida do gráfico, demonstrado na Figura 4.22, e da Equação 4.2 (de tempo de meia-vida), é possível prever o tempo requerido para que ocorra a hidrólise, pré-determinando a concentração de ácido.

160 O resultado obtido demonstrou que utilizando HCl 8 mol L-1 na razão 1:1 (extrato/ácido, v/v), deixando a mistura reacional à 100 ºC em banho termostatizado, seria possível obter a hidrólise total das antocianinas (Figura 4.23) em aproximadamente 60 minutos.

Figura 4.23. Cromatograma do extrato de morango hidrolisado. Condições de hidrólise: extrato:HCl 8 mol L-1 (1:1, v/v), 45 minutos à 100 ºC. Condições cromatográficas: coluna C18 (250 x 4,6 mm; 0,40 m d.i.), FM: A – água com HCl 0,1 % (v/v) e B - MeOH com HCl 0,1 % (v/v), gradiente de eluição de 25 – 55 % B em 30 min, volume de injeção 20 L, vazão da FM 1,0 mL min-1, coluna mantida à 30 ºC, = 522 nm. (1) Cianidina e (2) Pelargonidina.

Para mudanças no método da hidrólise, poderia ser diminuído o tempo de reação, aumentando-se a concentração de ácido. Elevar a temperatura não é recomendado, pois a probabilidade de degradação das agliconas aumenta consideravelmente. Tempos de reação acima de 60 minutos podem ser utilizados; entretanto, a literatura afirma que a taxa de conversão em agliconas não aumenta significativamente. Ichiyagi et al. (2001), afirmaram em seu trabalho que 60 minutos de reação (aproximadamente) parece ser o tempo ideal para se obter o máximo de agliconas [55].

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