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OUÇA SEU "SENSO INTERIOR"

Havia um menino que sempre estava coçando a cabeça. Um dia, seu pai lhe olhou e lhe perguntou:

— Filho, por que você está sempre coçando a cabeça?

— Bom — respondeu o menino — suponho que seja porque sou o único que sabe que ela está coçando.

Isto é senso interior! Só você sabe. Ninguém mais pode saber. Não pode ser visto de fora. Quando você tem uma dor de cabeça, só você sabe — não pode demonstrá-la a ninguém. Quando está feliz, só você sabe — não pode prová-lo a ninguém. Não pode colocar sua felicidade em cima da mesa para que todo mundo a examine, disseque, analise.

Na verdade, o sentido interno é tão interno que você sequer pode demonstrar que ele existe. É por isso que a ciência segue negando-o, embora seja uma negação desumana. Até um cientista sabe que, quando se apaixona, tem uma sensação interna. Existe

98 algo ali! Não é uma coisa, e também não é um objeto, e não é possível colocá-lo diante dos outros, e entretanto, existe.

O sentido interno tem sua própria utilidade. Por culpa da educação científica as pessoas perderam a confiança no sentido interno. Elas passaram a depender dos outros. Dependem tanto de outras pessoas, que se alguém disser: «Você parece estar muito feliz», começam a se sentirem felizes. Se vinte pessoas decidirem fazer com você seja infeliz, podem fazer você infeliz. Só têm que repetir isso o dia todo — sempre que cruzarem com você, só têm que te dizer: «Nossa, você está com o aspecto muito triste, muito infeliz. O que foi que aconteceu? Alguém morreu ou algo assim?» E você começará a suspeitar: tantas pessoas dizendo que estou triste... então devo estar.

Você depende da opinião dos outros e depende há tanto tempo que perdeu o rastro de seu senso interior. Seu senso interior tem que ser redescoberto, porque tudo que é formoso, tudo o que é bom e tudo o que é divino só pode ser percebido pelo sentido interno.

Pare de ser influenciado pelas opiniões dos outros. Em vez disso, comece a olhar para dentro... permita que seu sentido interno te diga as coisas. Confie nele. Se confiar nele, ele crescerá. Se confiar nele você o estará alimentando, ele se fortalecerá.

Vivekananda foi ver Ramakrishna e lhe disse: — Deus não existe! Posso provar, Deus não existe.

Ele era um homem muito racional, muito cético, muito lógico, conhecedor do pensamento filosófico ocidental. Ramakrishna que era uma pessoa pouco instruída, iletrada disse-lhe então:

— Tudo bem, então prove!

Vivekananda falou muito, deu todas as provas que tinha. Ramakrishna lhe escutou e disse:

— Meu sentido interno me diz que Deus existe, e que é a autoridade suprema. Tudo o que está fazendo é argumentar. O que diz o seu sentido interno?

99 Vivekananda nem tinha pensado nisso. Encolheu os ombros. Tinha lido livros, recolhido argumentos, provas a favor e contra; e tentado decidir de acordo com estas provas, se Deus existia ou não. Mas não tinha se voltado para dentro de si mesmo. Não tinha perguntado a seu senso interior.

Isto é muito estúpido, mas a mente cética é estúpida, a mente racional é estúpida.

— Seus argumentos são preciosos, gostei deles! — disse Ramakrishna — Mas o que eu posso fazer? Eu sei! Meu senso interior diz que Deus existe. Do mesmo modo que me diz se estou contente, se estou doente, se estou triste, se a minha barriga dói, que hoje não estou me sentindo muito bem, meu sentido interno diz que Deus existe. Não há o que discutir.

— Não posso provar isso — continuou Ramakrishna — mas se quiser, eu posso mostrar a você.

Ninguém nunca dissera a Vivekananda que Deus podia ser mostrado. E, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Ramakrishna saltou — era um homem selvagem — saltou e pôs os pés sobre o peito de Vivekananda! Então, algo aconteceu, uma energia surgiu e Vivekananda caiu em um transe por três horas. Quando voltou a abrir os olhos era um homem completamente novo.

— O que diz agora? — Perguntou Ramakrishna — Deus existe ou não existe? O que lhe diz o seu sentido interno?

Vivekananda sentia uma tranqüilidade tão grande, uma quietude tão grande, como nunca havia sentido antes. Estava cheio de júbilo por dentro, sentia um grande bem-estar, estava transbordando bem-estar... Ele teve que se inclinar e tocar os pés de Ramakrishna dizendo:

— Sim, Deus existe.

Deus não é uma pessoa, mas uma sensação de bem-estar supremo, a sensação de estar em casa, a absoluta sensação de que «pertenço a este mundo e este mundo me pertence». Não sou um

100 extraterrestre, não sou um estranho. O sentimento absoluto — existencial — de que «a totalidade e eu não estamos separados». Esta experiência é Deus. Mas esta experiência só é possível se você permitir que o seu sentido interno funcione.

Comece a permiti-lo desde já! Dê a ele todas as oportunidades possíveis. Não procure autoridades exteriores, não procure a opinião dos outros. Seja um pouco mais independente. Sinta mais, pense menos.

Saia e olhe uma rosa, e não repita como um papagaio: «Que bonita!» Isso pode ser só uma opinião, algo que disseram a você; que esteve ouvindo desde a infância. «A rosa é bonita, é uma flor maravilhosa». Portanto, quando você vê uma rosa, simplesmente o repete como um computador: «Esta rosa é bonita». Mas você sente isso de verdade? É mesmo uma sensação interna? Se não o for, então pare de dizer isso.

Quando olhar a lua, não diga que ela é bela... a menos que isso esteja de acordo com o seu sentido interno. Você se surpreenderá ao perceber que noventa e nove por cento das coisas que tem em sua mente são emprestadas. E dentro desses noventa e nove por cento de lixo imprestável, o um por cento que corresponde ao seu sentido interno se perdeu, afogou-se. Abandone seus conhecimentos. Reconheça o valor do seu sentido interno. É por meio dele que se conhece Deus.

São seis os sentidos. Cinco são externos; eles lhe dão informações sobre o mundo. Os olhos lhe informam sobre a luz; sem olhos você não conheceria a luz. Os ouvidos lhe informam sobre o som; sem ouvidos você não saberia nada sobre o som. Há um sexto sentido, o sentido interno, que mostra e fornece dados sobre você mesmo e sobre a origem suprema de todas as coisas. Esse sentido tem de ser descoberto. A meditação nada mais é do que a descoberto do senso interior.

101 O MAIOR MEDO QUE EXISTE NESTE MUNDO É O MEDO DA OPINIÃO DOS OUTROS. Assim que deixa de temer o grupo a que pertence, você deixa de ser uma ovelha e se converte em um leão. Um grande rugido se avoluma no seu coração, o rugido da liberdade.

Buda de fato já o chamou de o rugido do leão. Quando um ser humano alcança um estado de absoluto silêncio interior, ele ruge como um leão. Pela primeira vez, ele sabe que a liberdade provém do fato de não ter mais medo da opinião dos outros. O que as pessoas dizem não importa. Se eles o consideram um santo ou um pecador é irrelevante, seu único juiz é Deus. E para Deus nenhuma pessoa é ruim. Deus é todo o universo.

Não se trata de ter que encarar uma pessoa; você tem que encarar as árvores, os rios, as montanhas, as estrelas... a todo o universo. É o nosso universo, fazemos parte dele. Não é preciso ter medo, não é necessário que se esconda. A totalidade já sabe de tudo, a totalidade sabe mais coisas de você do que você mesmo.

E a segunda questão é ainda mais importante: Deus já julgou você. Não é algo que vai acontecer no futuro, isso já aconteceu; ele já julgou você. Portanto, até o medo de ser julgado desaparece. Não há um dia do julgamento final. Você não precisa temer. O julgamento já aconteceu no primeiro dia, no momento em que ele criou você, já o julgou. Ele conhece você, você é criação dele. Se algo saiu errado, o responsável é ele, não você. Se você foi por um mau caminho, o responsável é ele, não você. Como você poderia ser o responsável? — você não é criação sua. Se você pinta um quadro e algo sai errado, não pode dizer que a pintura tenha culpa — a culpa é do pintor.

Não há necessidade de temer o seu grupo ou algum deus imaginário lhe perguntando, no final dos tempos, o que você fez ou deixou de fazer. Ele já o julgou — isto é muito importante — isso já aconteceu, portanto você está livre. E, assim que a pessoa percebe

102 que tem liberdade total para ser ela mesma, a vida começa a ter uma qualidade dinâmica.

O medo cria grilhões, a liberdade dá asas.