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Ana Olívia Fernandes Marcelo A. Boechat Morandi Elen Ribeiro dos Santos Elias Gomes de Almeida

Introdução

O mofo-branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, é a doença mais destrutiva do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.), notadamente nos plantios de outono-inverno, quando os dias são mais curtos e as temperaturas mais amenas (15-25oC). Esses fatores, aliados à irrigação, favorecem o

desenvolvimento da doença (NAPOLEÃO et al., 2001). Métodos alternativos de controle vêm sendo desenvolvidos com objetivo de reduzir o uso de fungicidas. Assim, o controle biológico se constitui em grande importância para viabilizar a substituição dos agroquímicos. O uso de Trichoderma spp. no controle do mofo-branco do feijoeiro tem obtido sucesso, especialmente em regiões onde as temperaturas no outono-inverno são maiores. Clonostachys

rosea é um excelente competidor por substrato no solo e se desenvolve bem

em temperaturas amenas (20ºC) (MORANDI et al., 2001). Objetivou-se nes- te trabalho selecionar isolados dos antagonistas eficientes no controle de S.

sclerotiorum e adaptados às temperaturas amenas (18 a 25ºC) do cultivo de

feijão de outono-inverno.

Material e Métodos

Realizou-se a seleção de isolados de Trichoderma spp. e C. rosea em laborató- rio. Foram utilizados 34 isolados procedentes das coleções de culturas da

Embrapa Meio Ambiente e isolados de áreas de cultivo de feijão irrigado. Os isolados dos fungos foram selecionados in vitro e em solo. Discos de micélio do patógeno foram transferidos à 1cm da borda em placas contendo BDA e mantidas no escuro por 24h, quando, então, discos de micélio dos antagonistas foram transferidos para as placas em oposição ao patógeno. Após 120h a 25±2oC, avaliou-se a interação dos fungos com uma escala de

notas de 1 (antagonista invadiu completamente o patógeno) a 5 (patógeno invadiu completamente o antagonista).

Para avaliar o parasitismo de escleródios no solo, estes foram enterrados a 1,5 cm de profundidade em vasos de 200ml de capacidade e aplicaram-se os tratamentos: Trichoderma spp., C. rosea; Cerconil (dose recomendada) e testemunha. Após cinco dias a 22±2ºC os escleródios foram recuperados e transferidos para discos de cenoura sobre ágar-água. Avaliou-se o número de escleródios germinados e o número de escleródios parasitados após 10 dias. Cada tratamento consistiu de sete repetições.

Para avaliar a influência dos isolados de Trichoderma spp. e C.rosea na produção e parasitismo de de estipes e/ou apotécios do patógeno, foram utilizadas caixas plásticas tipo gerbox (11 x 11 x 3,5 cm) contendo solo de cultivo termicamente tratado. Escleródios foram enterrados a 0,5cm em solo tratado com os antagonistas. As caixas foram tampadas e mantidas a 18 ±2oC por 45 dias. A avaliação se deu pela contagem de estipes e/ou

apotécios formados por escleródio e o número de estreturas parasitadas. Cada tratamento consistiu de quatro repetições com 12 escleródios cada. Os ensaios foram conduzidos em delineamento inteiramente ao acaso e repe- tidos.

Resultados e Discussão

No teste de confrontação direta, S. sclerotiorum cresceu em toda a placa (nota 5), na ausência de antagonista, em todas as repetições. Nos outros tratamentos (patógeno + antagonista) a média das notas variou de 1,0 a 3,6. Alguns escleródios apresentaram–se parasitados por Trichoderma spp. To- dos os isolados proporcionaram significativa redução do crescimento de S.

5%). Os isolados LQC 324 e 112 proporcionaram maiores inibições no cres- cimento micelial (nota 1,0 em todas as repetições) e formação de escleródios do patógeno. Em relação aos isolados de C. rosea a média das notas variou de 3,0 a 4,4. Nenhum escleródio apresentou–se parasitado por isolados de

C.rosea. O isolado LQC Cr 115 foi o mais consistente em reduzir o cresci-

mento de S. sclerotiorum, com formação de halo de inibição, diferindo signifi- cativamente da testemunha (Tukey, 5%).

O número médio de estipes e/ou apotécios de S. sclerotiorum na testemunha foi de 25,0 em 43 dias e de 19,3 em 63 dias. Nos outros tratamentos as médias variaram de 13,8 a 43,5 em 43 dias e 12,0 a 28,5 em 63 dias. Na avaliação aos 43 dias houve diferença significativa entre alguns isolados de

Trichoderma spp.e entre os isolados e o tratamento com fungicida, mas a

testemunha não diferiu estatisticamente dos antagonistas (Tukey, 5%). O tratamento com fungicida foi o que proporcionou a maior redução do número de estipes e/ou apotécios formados em 43 dias (média 13,8). Entretanto, aos 63 dias não houve diferença significativa entre os tratamentos. O isolado LQC 409 foi o único que apresentou sintomas de parasitismo após 43 dias. Enquanto que, após 63 dias, todos os isolados testados parasitaram apotécios de S. sclerotiorum. Já na avaliação feita com os isolados de C. rosea a média do número de estipes e/ou apotécios formados na testemunha foi de 13,5 em 45 dias e de 17,3 em 55 dias. Nos outros tratamentos as médias variaram de 11,5 a 16,0 (45 dias) e 11,3 a 19,3 (55 dias). Não houve diferença estatísti- ca entre os isolados e a testemunha nas duas avaliações. O tratamento com fungicida foi superior na primeira avaliação. Entretanto, seu efeito não foi duradouro, fato observado neste teste, onde o número de estipes e/ou apotécios aumentou na segunda avaliação. Foi observado que os isolados de

Trichoderma spp. exibiram atividade hiperparasítica e assim reduziram a

agresividade do patógeno. Constatou-se nesse estudo que a atividade hiperparasítica sobre escleródios não foi equivalente quanto à redução da produção de estipes e/ou apotécios por S. sclerotirum em solo.

Na avaliação da atividade hiperparasítica de Trichoderma spp. sobre escleródios de S. sclerotiorum, os isolados LQC111 e 409 foram consistente- mente superiores à testemunha e ao tratamento com fungicida em todas as avaliações (Fig. 1).

O gênero Trichoderma apresenta grande variabilidade genética, sendo possí- vel encontrar isolados com características morfológicas e fisiológicas bastan- te distintas (KLEIN & EVERLEIGH, 1998; ETHUR et al., 2005). Esta variabili- dade permite selecionar isolados com características específicas para uma condição desejada. Neste trabalho, constatou-se diferença significativa entre eles em relação à capacidade de inibir a germinação e parasitar escleródios de S. sclerotiorum em condições de temperatura amena.

Referências

ETHUR, L.Z.; BLUME, E.; MUNIZ, M.; SILVA, A.C.F. da; STEFANELO, D.R.; ROCHA, E. K. da.

Fungos antagonistas a Sclerotinia sclerotiorum em pepineiro cultivado em estufa. Fitopatologia Brasileira, v.30, n.2, p.127-133, 2005.

Fig. 1. Germinação de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum enterrados (0,5cm) em

solo tratado com os antagonistas, transferidos para discos de cenoura após cinco dias e mantidos por mais 12 dias. As barras são médias seguidas por erro padrão. Barras marcadas com asteriscos diferem significativamente da testemunha pelo teste pLSD (p=0,05)

KLEIN, D.; EVERLEIGH, D. E. Ecology of Trichoderma. In: KUBICEK, C. P.; HARMAN, G. E. (Ed.). Trichoderma & Gliocladium: enzimes, biological control and commercial applications. London: Taylor & Francis, 1998. v.1, p. 57-74.

MORANDI, M.A.B.; MAFFIA, L. A.; SUTTON, J. C. Development of

Clonostachys rosea and interactions with Botrytis cinerea in rose leaves and

residues. Phytoparasitica, Bet Dagan, v.29, p.103-113, 2001.

NAPOLEÃO, R.; CAFÉ FILHO, A.C.; LOPES, C.A.; NASSER, L.C.B. Mofo- branco do feijoeiro irrigado no cerrado. In: ZAMBOLIM, L. Manejo integrado

fitossanidade – Cultivo protegido, pivô central e plantio direto. Viçosa: UFV,

Potencial de Trichoderma sp.