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Secção II – Investigação

2. Revisão de literatura

2.3. Outra literatura relacionada

No processo de pesquisa de literatura sobre a problemática do sucesso e impacto na motivação de Suzuki Organ School a alunos com pouca ou nenhuma prática de teclado e conhecimento musical, muito pouca informação foi encontrada sobre a área especificamente,

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talvez devido ao facto de ser um método recente, no caso da aplicação ao órgão, e de não haver ainda tempo para a estabilização do método no seio do ensino. Contudo, uma referência de carácter relevante para o investigador foi encontrada. Trata-se de uma tese de doutoramento de Adriaan Hermanus Steyn pela Universidade de Pretória em 200918

. O facto de ser redigida exclusivamente em afrikaans, língua oficial de Pretória, constitui um entrave linguístico muito dificilmente ultrapassável. Contudo, pelo Abstract, depreende-se que são abordadas algumas ideias úteis para o desenvolvimento da presente investigação. Em primeiro lugar, Steyn começa por identificar a problemática da alteração do público de órgão, que se tornou cada vez mais jovem recentemente, e nas demandas que outrora seriam exigidas, como a prática de teclado sólida e o desenvolvimento físico para controlar a consola de um órgão. Aparentemente, trata-se de uma situação muito semelhante à vivida em Portugal. O autor da tese avança com a identificação da necessidade de procurar métodos e manuais alternativos à tradição do ensino de órgão para cativar estudantes de órgão, cada vez mais jovens, uma vez que se notou um declínio do número de discentes ultimamente. Tendo identificado estratégias de ensino que evitam o pré-requisito de prática de teclado sólida em Inglaterra, Estados Unidos da América, Holanda e Suécia desde 1990, Steyn salienta a importância do método

Suzuki para órgão, pelo facto de ser o único, até à data, que introduz técnica manual e pedal

apropriadas para alunos jovens que não desenvolveram ainda as capacidades de leitura. Através de uma avaliação crítica do método Suzuki para órgão, o autor apresenta como principal produto da sua tese o desenvolvimento de linhas estratégicas orientadas para jovens estudantes. Desta forma, adquirir as competências específicas de tocar órgão torna-se muito mais acessível para os jovens aprendizes e permite-lhes desenvolver uma paixão pelo instrumento com o seu som único. Sendo a coordenação uma ferramenta essencial para tocar órgão, o estudo conclui também que é mais fácil desenvolver esta capacidade numa idade jovem. Steyn determina que é possível conter o declínio dos estudantes de órgão (na República da África do Sul) tendo em conta uma série de factores, como o reconhecimento do estádio de desenvolvimento do aluno, a adequação de estratégias de ensino, modificações físicas ao instrumento (para se tornar ergonómico para o aluno que ainda não chega a todos os recursos da consola) e a escolha de material de ensino. Considerando estes factores, o método

Suzuki pode permitir a evolução do ensino de órgão. Por fim, o autor reconhece as limitações

da sua investigação ao salientar que uma pesquisa empírica é necessária para avaliar a

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TEYN, A. H. (2009). Suzuki-gebaseerde riglyne vir orrelonderrig: ‘n kritiese ontleding (tese de doutoramento em Música). Universidade de Pretória, Pretória.

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aplicação prática das linhas orientadoras (defendidas na sua tese) no contexto da República da África do Sul.

Outra referência encontrada foi um artigo sobre a aplicação do método Suzuki Organ

School na Austrália e o seu sucesso, desenvolvido por David Clark, professor de órgão

naquele país19

. O autor começa por apresentar sucintamente a filosofia de Shinichi Suzuki, apresentando de seguida a variante para órgão, contextualizando-a e realçando a principal vantagem de tornar acessível o estudo de órgão a todas as idades, desde crianças a partir dos três anos, contra a desvantagem do sistema de ensino tradicional na Austrália, que implica vários anos de treino de piano para aceder à carreira formativa de órgão. Prolonga a apresentação do método com a nomeação de recursos que foram criados por Rönnberg para adaptar o acesso aos recursos do instrumento, através de bancos ajustáveis e de consolas de órgão que podem ser rebaixadas para serem confortáveis para uma criança pequena. Especifica ainda importantes vantagens do método, como a observação de quão as crianças gostam de explorar a larga variedade de timbres do órgão, desde os sons muito agudos da flauta piccolo até aos sons tonitruantes da tuba, ou mesmo o brilho e carácter penetrante do trompete. As crianças ficam altamente motivadas pela variedade e diversão em explorar os sons dos teclados e da pedaleira. O autor defende que o facto de o manual explorar a técnica de pedal desde o início, permite o desenvolvimento de coordenação e autonomia adequada à idade da criança. Após a apresentação do método, Clark menciona a creditação de professores pelas associações Suzuki, que oferecem anualmente cursos para manter a creditação, importantes para a actualização dos professores sobre o ensino e a filosofia Suzuki. Outro facto importante para o autor é o uso da tecnologia para o ensino, que considera ser uma ferramenta poderosa e positiva para a aprendizagem, treino e performance. Segundo a sua experiência, o estado actual da tecnologia permite aos alunos enviarem gravações áudio do seu trabalho individual entre as aulas presenciais semanais, por forma a obterem conselhos para uma melhor preparação para a próxima aula. Na segunda parte do artigo, Clark apresenta a sua vasta experiência e apresentação de resultados com a aplicação do método. Com uma prática de mais de seis anos a ensinar órgão através de Suzuki Organ School, defende que o projecto superou largamente todas as expectativas. Prossegue apresentando um historial de actividades realizadas com os seus alunos, desde a participação em várias escolas de verão (com várias especialidades, como masterclasses, acompanhamento de hinos, improvisação,

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LARK, D. (2014). Suzuki Organ in Australia: A Musical Revelation in Organ Pedagogy. TEACH Journal of

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entre outras) e viagens de estudo pela Europa. Salienta que a abordagem Suzuki implica uma aprendizagem com base em experiências em vez de exames e testes típicos do ensino regular. Para tal, promove actividades semanais para os seus alunos tocando em igrejas locais, catedrais, câmaras municipais e salas de concerto, como a Sydney Opera House. Termina o artigo afirmando que o método veio para ficar na Austrália, constituindo uma revelação para o ensino de órgão a crianças e uma revolução global que aparenta não ter limites.

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