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Ainda com base na interpretação dos dados da Tabela 2, conclui-se que há correlação entre a complexidade da ação e a concentração ou dispersão das conexões sobre os nós: quanto mais uma ação deman- da competências tecnológicas e organizacionais, mais as empresas se voltam para a diversidade de nós.

Há ações que são vistas e conduzidas recorrendo-se a competên- cias internas da empresa: na identificação e desenvolvimento de um novo mercado, por exemplo, de um total de 28 conexões, 15 ocorre- ram com atores da hierarquia, ou seja, recorreram a competências e informações na empresa, buscando-se pouca ajuda fora da orga- nização. Na pesquisa, constatou-se ainda que aproximadamente um terço das empresas concentrou seus esforços de inovação na hierar- quia: de um total de 277 conexões envolvidas nos três nós, 94 recor- reram à hierarquia para resolver problemas na seleção/implementa- ção de inovações tecnológicas ou organizacionais.

O nó amigos do ofício é de grande importância nos esforços de inovação: aparece em todas as ações, representando aproximada- mente 12% das trocas de informações realizadas no setor pesquisa- do (33 de um total de 277). Esse nó se destacou sobretudo nas ações de CE (11 de um total de 81), AE (9 de um total de 73) e MP (6 de um total de 52). É necessário ainda sublinhar o aspecto seletivo, calcula- do, da escolha dos amigos integrados a esses tipos de ação. Não são amigos casuais. De fato, são amigos formais, uma vez que os atores se dirigem a eles porque fazem parte do mesmo meio profissional, confiam neles em razão da frequência e intensidade de seus conta- tos (confiança boa vontade) e também por causa da competência que demonstram (confiança competência) no ramo.

O nó família é fundamental no processo de criação da empresa: representou 16 de um total de 81 conexões. Com base nesses dados, verifica-se que a criação de empresas no setor pesquisado é um ne- gócio “doméstico”, que traz vantagens (apoio moral diário) e incon- venientes (improvisação técnica e de gestão). Nas relações envolven- do esse nó, não há trocas monetárias. Assim, esses atores compõem uma espécie de teia de segurança. Em uma estrutura de relações for- tes como essa, a moeda corrente é a reciprocidade.

O nó associações (sindicatos, associações profissionais, etc.) teve uma implicação muito baixa para os esforços de inovação – consideran- do a importância das relações com os amigos do ofício, a insignificância das associações pode parecer paradoxal –, porém isso pode ser apenas resultado de desarticulação ou insuficiência das organizações locais.

Os dados referentes ao nó concorrente demonstram a importância dada às decisões tomadas anteriormente pela concorrência. Essa ati- tude revela um comportamento de mimetismo por parte dos atores locais, por razões como a falta de competências tecnológicas, princi- palmente no que diz respeito ao setor de serviços e formação de mão de obra. As empresas tendem a optar pela adoção de uma tecnolo- gia já testada pela concorrência em vez de adotar uma desconhecida ou pouco difundida na região. Isso explica também a fidelidade aos fornecedores habituais de equipamentos e de insumos. As informa- ções obtidas com a concorrência se referem, sobretudo, às ações de MP (9 de um total de 52) e AE (9 de um total de 73). “Feiras” e “re- vistas” são nós também importantes no processo de difusão de ino- vações: respectivamente, 20 e 17 conexões de um total de 277. Es- ses nós são particularmente acionados pelas empresas para a aqui- sição de equipamentos: respectivamente, 15 e 10 de um total de 45. A pesquisa constatou ainda que 81,8% das empresas que utilizavam revistas tinham o hábito de ir às feiras.

Quanto às trocas comerciais (relações com o mercado), nota-se a força dos nós fornecedores de equipamentos e insumos industria- lizados e também dos bancos. Os primeiros são os interlocutores ex- ternos mais importantes para AE (14 de um total de 73) e para NP (5 de um total de 43).

Os resultados mostram ainda que a implementação da inovação demanda consistência e presença de suas fontes (onde buscar a ino- vação, com quem contar para inovar...), além disso, apela para ações locais e envolve, preferencialmente, atores estabelecidos ou conhe- cidos localmente. Esses resultados corroboram a opinião de Callon no que diz respeito ao seu conceito de “similitude primordial” e ou- tros aspectos por ele levantados sobre o processo de difusão de tec- nologia/inovação, vistos no início deste capítulo.

Os atores devem ser mobilizáveis. É por isso que os nós amigos do ofício, concorrência, feiras e fornecedores são os mais popula- res e “ecléticos” da rede de difusão de informações e de inovações

tecnológicas e organizacionais da região. Em contrapartida, há nós lo- cais, teoricamente envolvidos nos esforços de inovação (por sua mis- são institucional), que, aparentemente, não se associam ou não são associados às ações de inovação dos atores industriais – por exem- plo a universidade local. Em outras palavras, esse nó tem competên- cias que não são devidamente mobilizáveis (ou mobilizadas) pelo e no sistema local de inovação.

A pesquisa indica também que o nó televisão não desempenha nenhum papel nas trocas sócio-tecno-econômicas. De acordo com os entrevistados, esse meio de comunicação não é importante nos pro- cessos de difusão de informações tecnológicas e/ou organizacionais e de implantação de inovações. Esse nó foi listado como potencial- mente importante em razão de sua influência nos comportamentos da sociedade brasileira. Os resultados, porém, mostraram que esse meio de comunicação não incita os atores industriais (pelo menos os consultados na pesquisa) à inovação. O fraco prestígio do nó mala di- reta é um segundo exemplo da ineficácia de meios impessoais e de fontes desconhecidas de informação nos processos locais de imple- mentação de inovação. Por outro lado, a pesquisa mostrou que algu- mas inovações implementadas, notadamente aquelas ligadas à me- lhoria da qualidade, buscavam respeitar as normas sanitárias e am- bientais de produção e comercialização de alimentos. Exemplo disso é a observação das normas federais, aplicáveis aos produtos expor- tados para outros estados, na produção queijeira do Tocantins, que exige, quase em sua totalidade, a utilização de métodos de fabrica- ção similares ou iguais aos utilizados pelas empresas de regiões mais desenvolvidas. Por esse exemplo, percebe-se que as normas (regras impostas por instituições confiáveis e com poder de fiscalização) de- sempenham um papel significativo no processo de informação tec- nológica e estímulo ao desenvolvimento tecnológico das indústrias de regiões menos desenvolvidas.