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1. para não esquecer

“As experiências de investigação do espaço urbano pelos errantes aponta, para a possibilidade de um “urbanismo poético”, que se insinua através da possibilidade de uma outra forma de apreensão urbana, o que levaria a uma

reinvenção poética, sensorial das cidades.”

Paola Berenstein Jacques, Errâncias urbanas,

a arte de andar pelas cidades. Revista ArQTexto, 2005.

2. chegar, partir e recomeçar....

Desenvolver os projetos no âmbito de uma pesquisa de mestrado em Arte e design para o espa- ço público, trouxe mais que novas e significativas reflexões sobre o trabalho, mas a oportunida- de (o tempo investido) em poder dedicar-me a organização, sistematização do trabalho. Diante de mim, um arquivo repleto de publicações com três projetos que individualmente possuem seus desdobramentos e em conjunto indicam um resultado daquilo que se realizou em um tempo/espaço específicos. São indicações e tentativas de novas partidas. Um objeto que traduz um trabalho que procurou não apenas mostrar e estimular o processo criativo, como também implementou e desenvolveu novas práticas artísticas. O desafio da pesquisa teve dois momentos: o primeiro em que tive que dedicar o tempo a uma nova prática: a escrita. E o segundo momento, de organizar, sistematizar, encontrar como mostrar tanto o que se compreende como processo criativo, bem como as práticas. Trabalho árduo, onde diante de três projetos, uma variedade ampla de desdobramentos pareciam ser intermináveis. Saber parar, saber organizar, saber estru- turar um trabalho artístico que tem suas diferentes abordagens: ora individual ora coletivo. Um desafio de aprendizagem constante e o sentimento de que há muito ainda para ser feito...

3. escrever

“O ato de investigar implica em escrever”. O encontro com a escrita tornou-se uma nova prática. A possibilidade de escrever sobre o trabalho, os processos e as práticas, e o contexto teórico que isso pode se “enquadrar”, foi algo extremamente prazeroso e doloroso. Marcou uma sucessão de novos interesses, que durante a pesquisa surgiram: poesias, contos, reflexões sobre o próprio processo de investigação. Foi um exercício intensivo do começo ao fim. Não houve descanso, as horas vagas e de repouso, existia uma escrita suspensa. Escrevi no sonho, no banho, no mar, nas refeições, nas caminhadas, no computador, nos inúmeros cadernos, blocos de anotação. Escrevi em todos os lugares, inclusive em meu próprio corpo.

4 . pensar na artista

Olhar para os projetos e poder perceber as dimensões tanto de projeto artístico, gráfico, indi- vidual e/ou coletivo, foi importante para poder refletir sobre minha prática artística. Olhar os objetos guardados em caixas e a forma encontrada como a parede de ideias, tornaram novos pontos de partida. Esses dispositivos e espaços de organização, servem de referência para ini- ciar um novo trabalho...Os dois anos de dedicação aos trabalhos em um contexto artístico, foram fundamentais para aproximar-me mais dessa prática, e olhar o trabalho e a artista em cada um. Se a artista gráfica, a artista educadora, a artista plástica. Para todas elas, a artista pesquisadora foi um presente, e um convite para que novas possibilidades de escrita, de reflexão sobre o trabalho possam vir a serem feitos.

99 C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S

5. sobre as oficinas

Realizar as oficinas na cidado do Porto com novos grupos, animaram, reativaram o processo e sobretudo, despertou e incentivou a vontade de ir mais além. Provocar-me como cidadã, mulher, artista, que ao se sentir criativamente contagiada com o que de mais sutíl, aparece no simples ato de caminhar por ruas da cidade, quer promover uma vivência coletiva e incitar novas atua- ções nesse espaço de convívio, de interação, de encontro com os Outros.

6. lembranças

Esta pesquisa fez relembrar viagens, percursos, andanças, aventuras feitas. Relembrar a pas- sagem por cidades, revive a lembrança de vivências afetivas. Memórias de lugares, pessoas e momentos que se vive. Estamos sempre ocupando um lugar, seja nosso lugar de dentro, nossas memórias, sejam os lugares de fora, o que o corpo experiência individual e coletivamente. A cidade ocupa um lugar de pertencimento. Ela nos indica, sinaliza, exibe nossas fraquezas, cer- tezas, dúvidas, inquietações. Nossa criatividade que urge lugar no nosso cotidiano. Seja expres- sando nossas necessidades (de fala, de escuta, de encontro, de convivência, de partilha), seja por nossas práticas diárias, modos de agir e produzir um bem comum a todos.

7. porto e recife ( a rua do bonfim no meio disso)

Encontrar uma relação de intimidade com uma rua a qual eu nunca tive nenhuma relação anterior, por não ser desse país, foi extremante enriquecedor em meu processo pessoal e que se reflete em meu processo artístico. Acredito que estas experiências com outras culturas ampliam nossa percepção, criam novos estímulos, aproximam distâncias. Realizar esse trabalho na cidade do Porto (Portugal), me fez (re)encontrar uma cidade próxima a minha, Recife, Pernambuco, Brasil. Poder encontrar ruas do Bonfim, lá e cá, soma, sem dúvidas minha experiência, meu conhecimento (de mim, dos Outros).

8. conhecimento

Compreendi durante o processo da pesquisa que há um trabalho de edição, recorte, escolhas, decisões, que devem ser feitas constantemente. O conhecimento nos convida a ir mais, a ir cada vez mais por novos caminhos, desvios involuntários que se sente com o despertar do prazer em conhecer, em reconhecer, em saber de novo. Por vezes, fui sem saber, noutras me detive a um único objeto de estudo. Me perdi na maioria das vezes e acabei me encontrando com novas ideias e novas tentativas de começar de novo. Basta abrir os cadernos e um mundo sairá de lá.

9. uma poesia

andar a pé1

10. pensar em uma nova pesquisa?

Ao invés de tentar finalizar a pesquisa que estou fazendo, começei a pensar em um nova. Peguei alguns apontamentos deixados pra trás e sai coletando vestígios. Fiz um novo mapa. Minha pesquisa deve ser uma cartografia afetiva sem fim. Tenho necessidade de juntar coisas, porque me anima organizá-las. Por isso coleciono letras. A minha nova pesquisa seria um elo- gio. Explico: para essa pesquisa, encontrei livros com os títulos: Elogio aos errantes, Elogio ao

caminhar, Elogio da mão. Pensei tanto nessa palavra elogio. Um bonito nome para um começo.

Elogio ao processo criativo... Elogio a coleta, Elogio aos cadernos, Elogio ao jogo, Elogio aos objetos...Elogio as coisas deixadas pra trás, Elogio as ruas gráficas... Elogio ao gesto inacabado.

referências

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