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uRbANIDADE E CONTINuIDADE

OUTRAS GALERIAS DE ARTE

A - Galeria Artesanal

B - Galeria Casa e Jardim

C - Galeria Rio Branco

D - Galeria Ipiranga E - Galeria Martin F - Galeria Portinari 1 2 3 4 7 11 8 9 13 6 10 12 A D B C E 5

181 diversas mostras interessantes em suas instalações – entre elas

a de Alexander Calder (1948), a de escultura, pinturas e projetos de arquitetura de Max Bill em 1950 e as “Fotoformas” de Geraldo de Barros, em 1950 – além de realizar cursos de história da arte, gravura, cerâmica, entre outros no Instituto de Arte Contemporânea (IAC), sob a direção de Lina Bo Bardi.

No mesmo edifício, foi aberto em 1949 o Museu de Arte Moderna com a exposição “Do igurativismo ao abstracionismo”, organizado por Leon Degand, primeiro diretor da instituição. Participaram, representando o Brasil, Waldemar Cordeiro, Cícero Dias e Samson Flexor (NASCIMENTO, 2003). O projeto para adaptação do edifício foi de Vilanova Artigas. Importante ressaltar que em 18 de setembro de 1950 foi inaugurada a TV Tupi, com sede neste mesmo edifício.

O MAM abrigou ainda, a partir de 1949, o Clube de Ci- nema, cerne da futura Cinemateca Brasileira. Ali também acon- teceu a I Bienal de Artes, em 1951, enquanto que a II Bienal ocorreria nas instalações do Parque Ibirapuera, por ocasião das Comemorações do IV Centenário. Segundo Arruda, “principal- mente a partir das Bienais, pôde-se romper com o isolamento a que estava relegada grande parte dos artistas brasileiros” (AR- RUDA, 2001, p. 114).

Lina Bo Bardi, em parceria com Giancarlo Palanti, inau- gurou, em 1948, o Studio d´Arte Palma, espaço voltado ao co- mércio de obras de arte, objetos de decoração e mobiliário. Suas instalações localizavam-se na rua Bráulio Gomes, 66, no edifício homas Edison. Esta região funcionava durante o dia como es- paço do trabalho e comércio, enquanto a noite era um centro de diversão e boemia. A área era também ocupada por edifícios de habitação cujo programa integrava-se a essa mistura de usos e de tempos, além de promover uma integração de tipos e de grupos.

A cidade era imensa, mas o centro, onde a vida munda- na se desenrolava, era um quadrilátero reduzido, onde todos os lugares poderiam ser alcançados a pé. Do Tea- tro Municipal à Avenida São João, passando pela Praça Júlio Mesquita, alcançando as ruas do Arouche, Bento Freitas e Rego Freitas, atravessando pela 7 de Abril ou Barão de Itapetininga, para desaguar na 7 de Abril, rumo à Praça Dom José Gaspar, de volta à Biblioteca Munici- pal, daí até a rua Maria Antonia (ARRUDA, 2001, p.64). Este capítulo já ressaltou a importância dos cafés como espaços de sociabilidade da primeira metade do século. No en-

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tanto, mostra-se necessário ressaltar a relação entre os bares e a produção intelectual e cultural da cidade a partir dos anos 1940. Os bares dos anos 50, em São Paulo, tiveram um pou- co este papel sociabilizador. Bares eram espaços de vivência ampla, de estímulo aos sentidos e do cultivo ao intelecto. (...) O público era heterogêneo. Não so- mente estudantes e professores, escritores e intelec- tuais, artistas, dramaturgos mas, principalmente, a jeunesse dorée paulistana. Distintos por seus trajes ou pela bebida consumida, conviviam francamente, sem tensões, numa globalidade antes comunitária que societária. Um estilo de sociabilidade em que ameni- dades, arte e literatura, ilosoia e política, comunga- vam permanentemente, recriando a magia dos bares parisienses, no estilo sedutor de seus cafés (ARRUDA, 2001, pp.61-62).

Bento Prado Jr. descreve que os bares localizados nas pro- ximidades da Biblioteca Municipal funcionavam como uma ex- tensão das discussões que se iniciavam em seu interior. “Passar de um lado para o outro não implicava em salto ou descontinui- dade, que compensava a perda da exclusividade ou da hegemo- nia” (PRADO JR, 1992, p. 17). Ele cita como bares próximos à praça Dom José Gaspar, com o “estilo sedutor dos cafés parisien- ses”, como o famoso Paribar. Segundo o autor, “era como se a sociedade global pudesse se espelhar inteira no espaço estreito do bar, numa forma antes comunitária que societária” (PRADO JR, 1992, p. 18).

Aquele perímetro sugerido por Arruda relaciona-se diretamente ao cruzamento de informações sobre a localização das galerias, cinemas e pontos de eventos artísticos entre os anos 1930 e 1960. Isto demonstra a forte vitalidade da área e atesta a importância das galerias no deslocamento dos frequentadores da região.

Ali os novos hábitos da vida moderna eram expostos. As pessoas se deslocavam pelas calçadas para fazer compras nas lojas de departamentos ou nos espaços comerciais especializados localizados nas galerias. A ida aos cinemas para assistir aos ilmes recém-chegados de Hollywood era um evento onde as pessoas poderiam se encontrar, verem e serem vistas, além de se atualizar sobre as novidades americanas. O local de espera para entrada dos cinemas podiam ser as arcadas dos edifícios localizados nas ruas ou um espaço das galerias, uma vez que algumas das mais famosas salas de projeção localizavam-se nestes espaços7, sendo

183 a primeira delas o Cine Olido (1957), localizado no pavimento

térreo do edifício Olido. A presença dessas salas de cinema nas galerias comprova a importância que esta tipologia assumiu na organização urbana daquele período.

Olido (1957), Cine Barão (1962) localizado na Galeria Califórnia, Cine Metrópoles (1964) e o Cine Copan (1969). Além destes, implantavam-se em edifícios galeria da região da avenida Paulista o Cine Bristol (1971), Liberty (1972), Top Cine, Gemini (1975), Cinearte (1982), Astor e Center 3.

145/146. da direita para a esquerda: proposta original do acesso ao cinema no califórnia. fonte: HaBitat, 1951, p.11.

184 PROGRAMAS E ATIVIDADES NO CENTRO NOVO Espaços culturais Cinemas Galerias de arte CINEMAS BARES LIVRARIAS GALERIAS CULTURAIS Desenho: autora (2010) Base: Gegran (1970)

185 Nos pavimentos térreos dos edifícios modernos, a frontei-

ra entre o público e o privado mostra-se bastante nebulosa, uma vez que os acessos eram facilitados, os corredores funcionaram como eixo de circulação e os pontos comerciais geraram pontos de permanência. A permeabilidade no pavimento térreo possibi- litava o aparecimento de novos caminhos por dentro das quadras e contribuía na ligação entre espaços urbanos, funcionando, elas mesmas, como novos lugares públicos. Nos dizeres de Argan, “o edifício não interrompe o movimento da cidade, a arquitetura não fecha nem segrega, e sim iltra e intensiica a vida” (ARGAN, 1992, p.197).

Estações de trem, mercados, bibliotecas e outros edifícios já traziam este caráter de serem espaços de encontro e convivên- cia com uma dimensão urbana, mas eram efetivamente edifícios construídos pelo poder público. Enquanto estes edifícios moder- nos do Centro foram construídos com capital privado e com uma intenção claramente especulativa.Enquanto neste momento a cidade passava a se conigurar para a escala do automóvel – com suas grandes avenidas, viadutos e arranha-céus –, muitos dos edifícios modernos ajustavam-se à escala do pedestre nas gale- rias. Esta característica será analisada de maneira mais aprofun- dada no capítulo 04.

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