• Nenhum resultado encontrado

Outras importantes expressões dos pesquisados: dificuldades e

4 O PLANEJAMENTO E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO NO

4.2 AS DECISÕES COLETIVAS E OS PROCESSOS DE

4.2.1 Outras importantes expressões dos pesquisados: dificuldades e

“O importante seria saber quais os serviços que conseguiram produzir resultados melhores” (conselheiro n. 19). O retorno/devolutiva das informações analisadas às equipes e à sociedade sobre a realidade se faz necessário para que amplie seus esclarecimentos e o controle social da política se já exercido.

Os trabalhadores (técnicos) sinalizam que preenchem os instrumentos e não tem retorno das análises. Consequentemente não há retorno à população, sociedade civil, e aos conselhos. No Plano Municipal Plurianual de Assistência Social (2014-2017) de um dos municípios da amostra é apresentado uma ação e uma estratégia da Vigilância Socioassistencial: “Divulgar os dados produzidos, institucionalmente, frente aos distintos demandantes”.

A justificativa recorrente entre todos os trabalhadores é a falta de tempo e de recursos humanos e apontam a necessidade de sistema informatizado para o cruzamento de dados e sua socialização. “Busca ativa e encaminhamento, e para isso a gente não consegue ter pessoas, pelo pouco número de rh, que a gente tem (Gestão da VS n. 8).”

E o assistente social, que é chamado a implementar e viabilizar direitos sociais e os meios de exercê-los, vê-se tolhido em suas ações, que dependem de recursos, condições e meios de trabalho cada vez mais escassos para operar as políticas sociais (IAMAMOTO, 2007, p. 149).

A intervenção do assistente social traz a exigência em colocar o projeto profissional em movimento, num espaço onde não se tem a direção do processo e onde a autonomia é relativa (MIOTO; NOGUEIRA, 2013). As gestões municipais atuais são muito criticadas pela falta de entendimento acerca da política de Assistência Social e “problema sério de planejamento” (técnicos sujeitos da pesquisa).

São priorizadas ações em defesa do mercado e da economia burguesa, sem considerar os dados da realidade social produzidos e não fortalecendo a ampliação e continuidade do processo de Vigilância Socioassistencial. Tal reatualização do conservadorismo é favorável pela “precarização das condições de trabalho e da formação profissional [...] pela fragilização de uma consciência crítica e política e que pode motivar a busca de respostas pragmáticas e irracionalistas, a incorporação de técnicas aparentemente úteis em um contexto fragmentário e imediatista” (BARROCO, 2018, p. 212).

Isto reduz os direitos da classe trabalhadora e as possibilidades de acesso a bens e serviços socialmente produzidos, se mostrando como uma injusta sustentação do sistema capitalista.

Não é o desenvolvimento capitalista como tal, mas: 1º a forma da ação política e 2º a destruição de instituições sociais consagradas pela tradição. A forma da ação política repudiada por Burke é a da revolução burguesa que mobiliza massas. A instauração de novas instituições segundo uma racionalidade antitradicionalista é rechaçada por Burke (ESCORSIM NETTO, 2011, p. 45).

A obra de Burke é considerada fundante do conservadorismo.

O privilégio da família, as corporações, o protagonismo público-temporal da Igreja, a hierarquia social cristalizada não podem ser rompidos. Escorsim Netto (2011) ressalta que é possível conjecturar o rechaço de Burke a mobilização de massas por admirar Revoluções como a de 1888 onde as lutas de classe não foram conduzidas ao extremo da radicalidade, antes se resolvendo com o aburguesamento de setores da nobreza e com o enobrecimento de segmentos burgueses.

A cultura da Modernidade é constituída e constituinte da hegemonia da unidade entre o econômico e o social, onde a burguesia se põe como classe hegemônica. Este é ponto de vista econômico-social pelo qual a burguesia revolucionária se pôs como classe hegemônica no processo de Revolução Industrial. Agora como classe dominante passa a defender seus interesses particulares. “O protagonismo revolucionário da burguesia cede lugar a um desempenho defensivo, voltado para a manutenção das instituições sociais que criou” (ESCORSIM NETTO, 2011, p. 46).

Nos primeiros conservadores, a recusa da revolução expressa um repúdio à revolução burguesa [...] nos conservadores que trabalham nas condições pós-48, com a evidência da inviabilidade da restauração, o conservadorismo passa a expressar o repúdio a qualquer revolução [..] É assim que ele tem substantivamente mudada a sua função social: de instrumento ideal de luta

antiburguesa, converte-se em subsidiário da defesa burguesa contra o novo protagonismo revolucionário, o proletariado (Ibidem, p. 49).

O pensamento conservador converte-se agora na defesa da ordem burguesa contra qualquer ameaça socialista.

Um dos caminhos da evolução do conservadorismo, passado o seu período clássico, é associar-se ao reacionarismo moderno; o otimismo perdido é substituído pelo desespero – a angustia (inteiramente desconhecida pelos conservadores clássicos) favorece a sua vinculação às filosofias da vida tão funcionais (como o prova a trajetória de Heidegger) ao fascismo (Ibidem, p. 57).

Como resistência à ordem burguesa consolidada, surgem os movimentos operários chocando-se com valores ideo-político-culturais burgueses, de outrora revolucionária.

Depois de 1848, o conservadorismo, confrontado com a “questão social44” e

o movimento socialista revolucionário de base operária, rendeu-se à irreversibilidade do desenvolvimento capitalista e assumiu uma perspectiva especialmente contrarrevolucionária, oferecendo alternativas reformistas para preservar a ordem estabelecida e, incorporando, em sua tendência predominante, a racionalidade instrumental-positivista, mobilizou-se para elaborar a representação teórico-metodológica da sociedade burguesa (Ibidem, p. 69).

E porque mesmo na metrópole onde há estudos desde a década de 199045, não há dados problematizados?

Considerando que

[...] tu tens uma população que usa o albergue de noite, que sai de manhã para o Centro Pop, que vai buscar atendimento lá no CREAS, ela vai circulando nos nossos serviços e eu não tenho nenhum mecanismo para saber se cinco dessas pessoas foram as mesmas que circularam (técnica da VS n. 9).

É evidente a preocupação da trabalhadora da VS ao responder ao questionamento em relação aos indicadores. Quanto à construção coletiva, a gestão aponta a necessidade de “poder fazer uma análise para realmente dar o retorno para as equipes, com as sugestões, indicadores, para que eles possam montar e pensar num novo planejamento” (gestor VS n. 9). Há a necessidade de devolutivas, como uma das finalidades, no entendimento dos trabalhadores da VS, em consonância com afirmações de todos os sujeitos e documentos desta pesquisa.

44“Por questão social, no sentido universal do termo, queremos significar o conjunto de problemas

políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista. Assim, a ‘questão social’ está fundamentalmente vinculada ao conflito entre o capital e trabalho” (CERQUEIRA FILHO, 1982, p. 21 apud ESCORSIM NETTO, 2011, NR. 80).

45

Em 1994 a primeira pesquisa censitária FASC e FSS/PUCRS revelou 222 sujeitos em situação de rua em Porto Alegre, conforme já destacado no subcapítulo 3.1 deste estudo.

As devolutivas devem “apontar os vazios de atendimento, que contribuem para a permanência das situações de desproteção social” (LAZZARI, 2018, p. 112).

Flavia Pires, em estudo sobre a institucionalização da função Vigilância Socioassistencial no SUAS (2016, p. 55), apresenta o caderno Orientações Técnicas que foi desenvolvido com o objetivo de subsidiar gestores estaduais e municipais no processo de implantação da Vigilância Socioassistencial.

O caderno está estruturado com elementos conceituais e normativos da Vigilância Socioassistencial, passa a ideia “de receita” para implantação da função, uma vez que também dispõe de informações e orientações “práticas” para a implantação dessa área técnica na gestão estadual e/ou municipal. Todavia, desconsidera particularidades como, por exemplo, se o modelo de gestão é básico ou pleno e ainda se o porte do estado/município é pequeno, médio ou grande.

A Vigilância Socioassistencial é uma função capaz de trazer à luz elementos, produtos, que traduzem aspectos gerais de determinada realidade social, como também aspectos particulares. Desta forma, pode subsidiar o planejamento de políticas sociais públicas, “dependendo da direção social que lhe é dada”(LAZZARI,

2018, p. 61).

Este é um dos principais desafios dos municípios: construção de indicadores que reflitam a realidade socioterritorial, ainda que com perspectiva de totalidade, “entre objeto e suas questões, entre a ação do homem como sujeito histórico e as determinações que a condicionam” (MINAYO, 2010, p. 22). Na verdade as devolutivas constituem-se como desafios na medida em que os dados devolvidos apresentam a manifestação do real e servem de matéria-prima para o trabalho. “Toda matéria-prima é objeto de trabalho, mas nem todo objeto de trabalho é matéria-prima. O objeto de trabalho só é matéria-prima depois de ter experimentado modificação efetuada pelo trabalho” (MARX, 2013, p. 256).