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“quem sabe em vez de outras, muitas e várias palavras?”

(Seminário Caxias do Sul) Nós, participantes do Seminário Estadual “Outras Pala- vras... Diferentes Olhares sobre o cuidado de pessoas que usam drogas”, mobilizados por uma série de discussões que vem sendo feitas em todo o estado desde maio de 2007 e que culminou num seminário estadual em 2008 e em sete seminários regionais em 2009 (regiões de Caxias do Sul, Igrejinha, Ijuí, Lajeado, Passo Fundo, Pelotas e Santa Maria), com a participação de aproxima- damente 2.000 pessoas, vem por meio deste convocar toda a so- ciedade (gestores, trabalhadores de todas as áreas, usuários do SUS, familiares e comunidade em geral) à discussão da temática “drogas” e exigir que cada segmento social cumpra seu papel na efetivação das políticas públicas sobre álcool e outras drogas, pautada na defesa da vida e na garantia de direitos humanos.

Considerando que a atual política já prevê uma série de ações e dispositivos que, se efetivados, proporcionariam uma atenção integral às pessoas que usam drogas, há que se avançar na efetivação destas ações e também no aprofundamento do debate junto à população.

A Política Nacional sobre Álcool e outras Drogas tem como base a Legislação do SUS, que é fruto de uma construção da sociedade pela democratização do Brasil e, conseqüentemen- te, o direito universal de acesso à saúde.

Destacamos a importância da política de Redução de Da- nos como uma diretriz no cuidado às pessoas que usam drogas, pautado no protagonismo do sujeito, autonomia, respeito às di- ferenças e direito de acesso aos serviços.

Uma política para esta área exige o compartilhamento de responsabilidades entre os diferentes segmentos (gestor, traba- lhador, familiares, usuários e sociedade) numa ação conjunta baseada no apoio mútuo, conhecimento e criatividade, forman- do uma rede de cuidados, intersetorial e interinstitucional.

• Afirmamos que a questão do uso de drogas não está relacio- nada somente com a saúde e defendemos o envolvimento dos outros setores das políticas públicas (Educação, Justiça e Segurança, Assis- tência Social, dentre outros) no desenvolvimento de ações conjuntas. • Afirmamos a extrema importância da criação e am- pliação dos espaços de lazer, esporte e cultura como estratégia fundamental de promoção de saúde e qualidade de vida e que a ausência de tais espaços tem implicações diretas no aumento do consumo de drogas entre crianças e jovens.

• Repudiamos a constante privatização dos espaços de vida e convivência comunitária nas cidades, reforçando a exclu- são e marginalização.

• Ressaltamos a escassez de políticas de geração de traba- lho e renda, que é um dispositivo fundamental no enfrentamen- to da questão das drogas e suas implicações.

• Defendemos a regionalização, que é uma diretriz do SUS, mas exigimos que os municípios assumam efetivamente o compro- misso com a implementação das políticas preconizadas pelo MS e OMS no que se refere ao cuidado de pessoas que usam drogas.

• Defendemos o investimento em ações de Educação Per- manente visando a constante capacitação e qualificação dos di- ferentes agentes implicados no processo de cuidado e que estas ações estejam articuladas às instituições formadoras e estrutu- ras de apoio à pesquisa.

• Defendemos o fomento à criação de Comissões ou Fóruns Permanentes para funcionamento e discussão sobre o tema.

• Exigimos dos gestores públicos o respeito às delibera- ções do Controle Social, repudiando toda e qualquer atitude contrária a isso.

• Exigimos a garantia de direito dos movimentos sociais de livre expressão e manifestação.

• Defendemos a criação de equipamentos substitutivos públicos pautadas em orientações técnicas preconizadas pelo MS e OMS, que atendam aqueles usuários que não conseguem beneficiar-se com os CAPSad. Como exemplo, citamos a expe- riência de Recife (Casa do Meio do Caminho).

• Defendemos as diretrizes da Política Nacional de Huma- nização (PNH) como o acolhimento, o trabalho de rede, a clínica ampliada e o matriciamento, como dispositivos para as equipes da atenção básica no cuidado de pessoas que fazem uso prejudi- cial de álcool e outras drogas.

• Alertamos para a escassez e fragilidade da rede de aten- ção a crianças e adolescentes, que, por falta de integração e qua- lificação do cuidado, deixam os usuários expostos a diferentes vulnerabilidades.

• Alertamos para as dificuldades enfrentadas pelos usuá- rios de substâncias psicoativas com comorbidade associadas e que ficam sendo jogados de um serviço para o outro com o pre- texto de que este usuário não pertence a determinado serviço (CAPSII/CAPSad). O mesmo acontece com crianças e adoles- centes (CAPSi/CAPSad).

• Afirmamos a necessidade de ampliar a rede de cuidados, implementar os equipamentos preconizados em lei e fiscalizar o uso das verbas públicas em projetos criados pelas equipes que atuam diretamente no cuidado.

• Reafirmamos a Redução de Danos como diretriz no cuida- do de pessoas que usam drogas e exigimos que as ações voltadas a esse cuidado contemplem a contratação de redutores de danos.

• Afirmamos a importância de a população ocupar os es- paços de controle social e lutar pela garantia de direitos, levando a todos os municípios gaúchos esta temática para ser discutida.

O coletivo deste seminário vem manifestar sua preocupação com o crescimento de instituições para tratamento involuntário e

de internações compulsórias determinadas judicialmente para pes- soas que usam drogas. Estes espaços são descritos como lugar de tortura (isolamento em sala escura, espancamento, tortura, etc), muitas vezes financiadas pelo SUS, sem fiscalização. Conclamamos o Ministério Publico e Promotoria Pública para fiscalizar tais locais.

Por último, ressaltamos que o discurso da mídia interfere no entendimento da sociedade com relação ao tema das drogas e o cuidado possível às pessoas que usam drogas. O discurso comu- mente utilizado vem de encontro à política do SUS e da reforma psiquiátrica antimanicomial e acabam propondo medidas opostas. Assim, é de responsabilidade dos gestores, de todos os ní- veis de governo, propor campanhas na mídia que possam reafir- mar ações de cuidado à vida, esclarecendo a população sobre as políticas vigentes e informando sobre os dispositivos e possibi- lidades de intervenção.

Pensamos que incidir nos espaços midiáticos é uma estraté- gia imprescindível para desconstrução do senso comum que difi- culta a implementação da política estabelecida como, por exemplo, a campanha gaúcha do “Crack nem pensar” de cunho terrorista.

Entendemos que o Sistema Conselhos de Psicologia tem um papel importantíssimo de intervenção nos meios de comu- nicação, uma vez que os mesmos incidem na subjetivação das pessoas, muitas vezes sem responsabilizar-se com o que se está produzindo. Consideramos necessária uma postura mais ati- va do Sistema Conselhos frente aos discursos veiculados, bem como a articulação com os demais conselhos profissionais. Tais considerações são colocadas por entendermos que, embora o conselho tenha atuado de forma importante com relação às políticas públicas, as discussões ainda ficam muito restritas à categoria e poderiam ter maior impacto se pensadas de forma a abranger os demais atores.