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5. ANÁLISE DOS RESULTADO OBTIDOS

5.1 Outras questões levantadas nas entrevistas

As entrevistas foram semi estruturadas, e a entrevistada tinha liberdade para falar mais profundamente de questões propostas e fazer comentários que achasse importantes. A seguir alguns trechos das entrevistas que levantaram pontos interessantes da metodologia do Aprendizado Sequencial.

Fazer aquela aproximação, aquele jeito de aproximar, se valer da observação, do lúdico até as experiências mais profundas de comunhão, de uma participação maior, de uma identificação maior. Agora o efeito que este movimento de aproximação com a natureza resulte num comportamento de maior compromisso com este ambiente natural, é um problema. Problema complexo, porque não é que a gente se apaixona, que a gente se envolve, que a gente aprende, que a gente se mobiliza para se comprometer com uma causa ambiental, com uma questão ambiental, até mesmo gerar alguns comportamentos como reciclagem etc. Não tem uma ligação direta, acho que as pessoas vão, se encantam, gostam mas não necessariamente elas mudam hábitos consumistas, predatórios. Por isso que acho que a questão de ser uma abordagem de educação é uma coisa interessante, porque envolve que você tenha uma continuidade, uma ação contínua. Para você pretender gerar mudança de comportamento, de uma perspectiva ambiental ou de preservação, de defesa do ambiente natural, você precisa repetir, precisa de mais do que uma vivência encantadora [...] Acho que ele é todo inicial, ele gera um dinamismo, de abertura, de mudança, para algumas pessoas pode ser um aprofundamento. Para mim a grande questão deste trabalho é: como continua isso que começa tão bem? E depois? Qual é o próximo passo? É tão maravilhoso, mas como se sustenta isso? [...] Eu acho um pouco delicado, mas acho que a crítica que eu tenho é que é um trabalho muito encantador, um trabalho que inspira as pessoas, mas que depois deixam as pessoas na mão, porque depois como continua? A minha crítica é essa, ele mobiliza muito e depois sustenta pouco

a continuidade daquilo que foi mobilizado. Eu gostaria de ser cuidadosa com isso, porque o trabalho em si ele tem muito valor, está bom, ele não precisa continuar, não é porque não continua que ele não tem que acontecer. Mas já que acontece e desperta tanta coisa, seria tão bom se pudesse continuar, mas se não continuar não tem problema, continua fazendo assim mesmo (Entrevistada 3).

Tem algo um pouco delimitado: educação, perfis que tem a ver com esta questão de educação, o pedagogo, terapias alternativas que são sensíveis para esta questão, psicólogos (Entrevistada 1). Acho que o que a gente sente muito é a questão da proximidade com os alunos que a gente gostaria de estender, é algo que mais incomoda a gente. Imagina uma turma que vem visitar a gente no começo do ano, e nunca mais tem contato nenhum. A gente gostaria de estar mais presente na vida deles, na escola. Não deixando muito eles esquecerem o que vivenciaram, e estar dando outras oportunidades para que eles pudessem vivenciar. É uma coisa que eles não esquecem [...] E vem muita coisa através deste método, mas é um amadurecimento. Talvez o olhar para o outro, me fez aprender a olhar para mim, acho que é um caminho longo. Uma única vivência, principalmente a criança, falar que vai mudar a vida dela, não vai. O que estamos tentando fazer já faz um tempo, que eu peço muito, batalho muito, é para ampliar o projeto para as escolas, levar isso para o dia a dia das escolas. Independente do espaço que elas tem, desenvolver um trabalho diferente, para que as crianças pudessem se apropriar, interferir no espaço, que pudessem decidir pelo espaço delas e transformar este espaço. Tudo isso vindo da vivência, baseado neste momento que eles tem com a natureza, que é muito legal, mas voltando para a escola, tem o pátio todo cimentado, sem árvore, com outro com grama e só [...] Vejo por mim, que não é uma coisa que se faz de uma hora para outra, foi lá na trilha e agora sou outra pessoa. Até porque o meio em que vivemos tem uma influência muito grande em tudo, desde como me visto, o que eu como, falo. De outro lado, questões de valores que temos que você vai se adequando, porque tem que se comportar de um jeito. Tem uma pressão muito grande do meio, e quando percebe que você pode, tem, precisa romper com isso, você começa a abrir outros canais. Então desde que comecei a fazer este trabalho, pensei: nossa, esse método é muito legal, faz a gente perceber o ambiente de forma diferente (Entrevistada 4). Estes depoimentos apontam algumas limitações da metodologia e levanta questões sobre sua eficácia na transformação de hábitos e atitudes. Importante destacar a fala sobre estar inserido dentro da área educacional, o que se pressupõe processo, e processo não se constitui apenas de uma atividade, de uma intervenção; pressupõe que as pessoas vão passando por atividades, experiências, vivências e o conjunto delas tem o potencial de modificar vontades internas e genuínas de mudança. As atividades de vivência com a natureza podem ser vistas como um primeiro estímulo, que

ajuda a criar bases sólidas para uma transformação efetiva de hábitos e atitudes.

Outros trechos interessantes das entrevistas mostram relatos um pouco mais profundos da experiência durante a oficina de formação.

No sentido de você sentir que existe um mundo além do que você está acostumado, além do celular, do computador, do apartamento, do carro. Acho que a relação com você mesmo, com o corpo. É meio o sentido da vida. Quando você tem uma relação plena com a Natureza é algo em relação ao sentido da vida, existe alguma coisa que é muito maior que a gente, do que tudo isso. É algo espiritual mesmo. Para você se abrir para uma coisa destas, precisa estar muito afim, estar em busca disso, precisa estar realmente surtado com esta universo que a gente vive todo dia, que a gente não vê o tempo passar, que perde a relação com tudo, vive no automático e deixa de sentir que tem muito além disso, não temos tempo para estas coisas. Mesma coisa um doença, quando você fica doente tem que parar e repensar, é a mesma coisa. Viver uma experiência profunda com a natureza você, repensa muita coisa. Acho que algo espiritual mesmo. Espero que estes encontros aconteçam muito mais, que mais gente queira experimentar isso, que é muito importante. E acho que é uma forma bacana de entrar na natureza, para mim foi muito bacana. Muito bacana entrar com uma metodologia, com uma experiência coletiva, acho que é mais fácil do que fazer sozinho (Entrevistada 2).

Isso já estava incorporado para mim, só que a diferença foi que vocês inverteram a polaridade das coisas, enquanto no workshop a gente usava os ambientes naturais para gerar caminhos subjetivos, no trabalho de vocês o objetivo é o ambiente em si, a subjetividade apenas, quer dizer, toda a forma artística, poética de fazer esta intermediação entre as pessoas e a natureza são uma estratégia para que as pessoas tenham um maior contato, um maior conhecimento, uma relação mais consciente, talvez mais ativa com o ambiente natural. É mais ou menos isso, porque eu acho vocês querem instruir as pessoas politicamente.

Então eu fiquei muito encantada porque estavam lá os dispositivos, muito mais organizados do que aquilo que eu já tinha conseguido pensar sozinha, muito mais bem estruturados, e algumas coisas muito parecidas com o que eu já tinha pensado. Parecido mas muito melhor, mais bem estruturado (Entrevistada 3).

Vale destacar que os trechos citados relatam experiências de espiritualidade e de concretude ao mesmo tempo, e esta é uma característica interessante do método, pois ele é bem estruturado, organizado, tem um fluxo que proporciona experiência subjetivas, e até mesmo espirituais para alguns. Isso reforça toda a argumentação de que as polaridades na verdade são complementares, que uma reforça e complementa a outra, como a razão e emoção, experiência e informação, objetividade e subjetividade.

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