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Capítulo II Comparação sobre os aspetos de política

1.3. Outras transformações importantes depois da Revolução

Além do novo sistema político, para concretizar a rutura com o regime deposto, o Governo Provisório e os seus sucessores lançaram uma série de transformações estatais com alguns decretos radicais após a Revolução, entre as quais não podem ser mais óbvias as alterações dos símbolos nacionais da bandeira, o hino e a moeda, que têm permanecido até atualmente (exceto o escudo que foi substituído pelo euro).

Na questão da nova bandeira nacional, que não se limitou ao nível académico ou literário, tinha um sério sentido político. A escolha das cores e da composição da bandeira não foi pacífica e houve vários problemas polémicos nas explicações das propostas sob a influência do liberalismo burguês, o sedimento tradicional do período monárquico e o republicanismo revolucionário. Quanto às cores, não existiu uma

conciliação possível entre o verde-rubro da rutura, significando o espírito combativo117

(de facto, eram as cores do Partido Republicano presentes na Revolta de 31 de Janeiro

de 1891 e na Revolução de 1910118), e o azul-e-branco da tradição, que foram as cores

da bandeira no período monárquico119. Finalmente, tendo em conta os elementos

patrióticos à luz da heráldica, foi escolhida a bandeira verde e vermelha, ostentando a esfera armilar em que assenta um escudo branco com cinco quinas e rodeado com uma faixa carmesim com sete castelos. A Bandeira da República simboliza o patriotismo, os grandes espíritos do povo, o orgulho marítimo histórico, entre as outras virtudes da nação. O hino nacional é A Portuguesa, elaborado por alturas do Ultimato inglês, que também simboliza a emoção de lutar pela pátria. A antiga moeda da Monarquia, o real, foi substituída pelo escudo, para marcar a diferença também.

117 Cf. http://www.portugal.gov.pt/pt/a-democracia-portuguesa/simbolos-nacionais/bandeira-nacional.aspx, consultado em 26 de

maio de 2013. “O vermelho «nela deve figurar como uma das cores fundamentais por ser a cor combativa, quente, viril, por excelência. É a cor da conquista e do riso. Uma cor cantante, ardente, alegre (...). Lembra o sangue e incita à vitória». Para o verde - que não tinha tradição histórica em Portugal -, foi dada como explicação que na preparação da Revolta de 31 de janeiro de 1891, o verde terá surgido no «momento decisivo em que, sob a inflamada reverberação da bandeira revolucionária, o povo português fez chispar o relâmpago redentor da alvorada».”

118 Cf. http://amt.no.sapo.pt/novaversao/historia/hist001.htm, consultado em 26 de maio de 2013. 119 Cf. Medina, João, ob. cit., p. 173

Ilustração 2 – A última bandeira portuguesa do Reino e a da República120

Além da adoção de nova bandeira, hino e moeda, para afastar a influência do regime monárquico, os republicanos tomaram mais medidas tais como a dissolução das instituições monárquicas, a demissão dos funcionários ao serviço das casas reais, a abolição dos títulos nobiliárquicos, das distinções honoríficas e dos direitos da nobreza,

e a proscrição da família de Bragança121. Verificaram-se outras mudanças na toponímia,

na ortografia, nas instituições do ensino, nos feriados, nos formulários oficiais, nas estampilhas postais, etc. Ainda se verificou que na Constituição de 1911, as pessoas das famílias que reinaram em Portugal ficaram inelegíveis para o cargo de Presidente da

República122.

Para estabelecer uma nova ordem estatal, o Governo Provisório fez a revogação de algumas leis do período de João Franco, como a amnistia aos crimes políticos e a supressão de Juízo de Investigação Criminal, assim como substituiu as Guardas Municipais de Lisboa e Porto pela Guarda Nacional Republicana e a Polícia Civil de

Lisboa pela Polícia Cívica123. Vale a pena notar que os direitos fundamentais

individuais foram valorizados na Constituição de 1911, diferente da Carta Constitucional, o que vinca a sua prioridade aos conceitos da soberania e da divisão dos

poderes124.

120 Fontes: http://zh.wikipedia.org/wiki/File:Flag_Portugal_(1830).svg, http://zh.wikipedia.org/wiki/File:Flag_of_Portugal.svg,

consultados em 16 de julho de 2013.

121 Cf. Rosas, Fernando e Rollo, Maria Fernanda Fernandes Garcia (Coord.), ob. cit., p. 94. 122 Cf. Parágrafo b) do artigo 40, da Constituição de 1911.

123 Cf. Rosas, Fernando e Rollo, Maria Fernanda Fernandes Garcia (Coord.), ob. cit., p. 95. 124 Cf. Catroga, Fernando, ob. cit., p. 264.

Na área das Forças Armadas, tendo em conta o comportamento do exército abstencionista na Revolução, os republicanos tinham o princípio de exércitos milicianos em vez de profissionais, concretizado através do serviço militar obrigatório. No entanto, o esquema da criação de um corpo miliciano (realmente não era fácil pôr em execução) provocou contradições entre os oficiais nas instituições militares, o que

resultou num processo complexo da organização militar125.

Na legislação social, o Governo Provisório publicou uma série de leis destinadas à proteção aos desfavorecidos, como a Lei do Inquilinato e a Lei da Assistência Social. Na área das relações com o proletariado, também se aprovaram algumas leis que visavam melhorar a situação dos trabalhadores, instituindo o direito à greve, o descanso semanal obrigatório e a responsabilidade da entidade patronal pelos acidentes de

trabalho126. Contudo, devido à difícil situação económica e social durante a Primeira

República, as condições das classes trabalhadoras ainda ficavam muito longe das promessas dos republicanos. Também houve graves conflitos entre o novo regime

burguês e o movimento dos operários desde o início da República127.

125 Cf. Rosas, Fernando e Rollo, Maria Fernanda Fernandes Garcia (Coord.), ob. cit., p. 95. 126 Cf. Proença, Maria Cândida, ob. cit., p. 15.

127 Por exemplo, em 19 de março de 1911, dois grevistas morreram em Setúbal, às mão da Guarda Nacional Republicana. Cf.