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3 REVISÃO DE LITERATURA

4.4 OUTRAS VARIÁVEIS DE CONTROLE

Em complemento ao uso das variáveis de regulação e supervisão bancárias, para medir a importância dessas políticas na volatilidade dos ciclos econômicos, e do indicador de governança institucional, são utilizadas outras variáveis que ajudam a explicar as flutuações nos níveis de atividade econômica.

Nessa dissertação é utilizada uma variável para capturar o nível de desenvolvimento financeiro dos países: PRIVY, que é um indicador do grau de profundidade do sistema financeiro. A variável reflete o quanto de crédito é alocado para o setor privado medindo o crédito privado nacional para o setor real feito por bancos como proporção do PIB. O crédito privado exclui o crédito emitido para governos, agências governamentais e empresas públicas. Também exclui os crédito emitidos por BCs (ČIHÁK et al., 2013).

King e Levine (1993), sustentam que os sistemas financeiros que fornecem crédito, principalmente para empresas de propriedade do governo, não são susceptíveis de avaliar o crédito de forma tão eficiente quanto os sistemas que alocam crédito ao setor privado, já que governos podem fornecer maiores garantias de pagamento, sendo um bom negócio o empréstimo para empresas públicas.

Nesse sentido, o desenvolvimento do sistema financeiro - expresso na proporção do crédito alocado ao setor privado em relação ao PIB – deve implicar na redução dos problemas informacionais, com instituições financeiras sendo mais capazes de identificar projetos com maior risco de falência (TIRYAKI, 2002), atenuando o acelerador financeiro (BERNANKE et al., 1996; BERNANKE et al., 1998). Assim, espera-se que a variável PRIVY apresente uma relação negativa com a volatilidade da economia ao indicar que os intermediários financeiros selecionam e monitoram melhor seus mutuários, reduzindo as flutuações no nível de atividade econômica

Em adição, outras variáveis podem ser determinantes das flutuações na atividade econômica. Choques tecnológicos, o grau de abertura da economia ao mercado internacional, as políticas definidas para a taxa de câmbio, a taxa de inflação média e a trajetória de crescimento de longo prazo da economia, todas elas com efeitos sobre a volatilidade da economia.

A teoria dos ciclos reais de negócios sugere que choques tecnológicos são importantes determinantes da volatilidade dos ciclos econômicos. O choque tecnológico, ou choque de produtividade, captura uma mudança na produção que não é explicada pelo capital ou trabalho. Incluem o desenvolvimento de novos produtos ou métodos de produção, a introdução de novas técnicas de administração, mudanças qualitativas no capital e/ou trabalho, dentre outros fatores que afetam a produtividade. Dessa forma, choques de produtividade positivos geram booms econômicos, ao passo que recessões são causadas por choques adversos de produtividade (ABEL et al., 2008)

A fim de capturar seu impacto, é utilizado a variável “resíduo de Solow” ( ) como proxy para o choque tecnológico. Como ela mede a parte da produção que não é explicada diretamente por capital e trabalho, é chamada de “resíduo”. O resíduo de Solow é comumente usado em estudos empíricos e é definido como uma mudança no log do PIB real (1 − ) menos tempo de mudança no log do emprego, onde α é a parte do capital na produção. Os autores sugerem que ‘α’ equivale a 0,36 (BACKUS et al., 1992; KARRAS; SONG, 1996 apud TIRYAKI, 2002). A variável deve mostrar as mudanças no produto que não são explicadas por mudanças no capital ou na mão-de-obra. Contudo, como essa abordagem tem dois problemas (TIRYAKI, 2002, p. 239, tradução do autor):

Primeiro, ela assume que todos os países têm uma função de produção Cobb- Douglas com retornos constantes de escala e com mesma participação do

trabalho, o que é pouco provável. Um segundo problema, ainda que menor, é que ela não leva em conta mudanças no estoque de capital. Contudo, a falta de dados torna inviável para o momento o uso de abordagens alternativas.

Nesse sentido, o crescimento da produtividade deve ser pró-cíclico, uma vez que choques de produtividade devem impulsionar os ciclos de negócios. Então, uma relação positiva entre

e as flutuações na atividade econômica é esperada.

Em prosseguimento, para capturar os efeitos das políticas macroeconômicas, são utilizadas outras quatro variáveis de controle. A variável “política fiscal” (GOV) vai permitir avaliar se os gastos dos governos apresentam algum efeito estabilizante na economia ou se acentua a volatilidade dos ciclos econômicos. Ela é calculada como o gasto de consumo do governo em relação ao PIB.

O governo influencia a economia mediante o impacto de suas receitas e despesas sobre a quantidade e a qualidade (produtividade) dos fatores de produção. Contudo, não há consenso sobre seu impacto nas flutuações dos ciclos econômicos.

Níveis maiores de gastos do governo podem estimular a demanda, qualificar trabalhadores com melhor educação, pode criar infraestrutura e outras formas de bens públicos e estimular investimentos. Em contrapartida, maior gasto público pode retirar recursos das atividades produtivas e gerar distorção na alocação de recursos. Além disso, os governos tendem a alocar recursos de maneira menos eficiente, assim como aumenta a possibilidade de abuso do poder político (BRASOVEANU, 2012).

Ademais, maior poupança sendo usada pelo governo significa redução da poupança em mãos de agentes privados, que podem dar uso mais prático aos recursos. Impostos elevados são também consequência de níveis maiores de gastos do governo, reduzindo incentivos à produção (BRASOVEANU, 2012). Importante destacar que aumentos desmedidos dos níveis de gastos do governo podem gerar incerteza e instabilidade associadas ao risco de default. Nesse sentido, espera-se uma relação ambígua desta variável com as variáveis dependentes.

Com o objetivo de capturar o grau de abertura da economia é utilizado a variável OPENESS. Ela é calculada pela soma das taxas de importação e exportação como parcela do PIB. Haddad e outros (2012) encontrou evidências que na maior parte dos países com uma pauta

exportadora mais diversificada, uma maior abertura comercial tem sido apontada como redutora da volatilidade da economia. Contudo, uma maior abertura pode apresentar relação ambígua com as flutuações na economia: se por um lado economias com menores barreiras à entrada podem estar mais expostas a choques internacionais, que podem reduzir a demanda por seus produtos gerando volatilidade na economia, elas também podem suavizar choques domésticos utilizando as exportações (TIRYAKI, 2002).

Por sua vez, a variável EXCFLEX captura a flexibilidade da taxa de câmbio e é calculada como o valor absoluto da variação da taxa de câmbio. As políticas tradicionais de câmbio implicam implica em torná-lo fixo ou flutuante. Nesse contexto, a política de câmbio flexível é apontada como mais adequada para acomodar choques externos, reduzindo volatilidade dos ciclos econômicos (EDWARDS; YEYATI, 2003). Contudo, as políticas mais recentes são em sua maioria alguma variação do proposta do câmbio flexível.

Nesse sentido, Duarte e outros (2007) encontraram evidência de que a volatilidade das taxas de câmbio relaciona-se sistematicamente com o resultado dos agregados macroeconômicos, sendo ainda mais intensa em países emergentes. Isto porque o câmbio mais volátil implica em incerteza mais forte, desestimulando investimentos. Assim, é esperada uma relação positiva entre flutuações nos agregados macroeconômicos e volatilidade na taxa de câmbio.

A análise dos resultados de dados em painel, focalizada nas regressões, inclui a inflação média (INFMED) como indicador da política monetária. Como uma inflação mais alta implica em menor capacidade de planejamento por parte dos agentes, aumento da incerteza e redução dos investimentos, espera-se uma relação direta nesta variável, indicando um comportamento mais volátil da economia quanto maior a taxa de inflação média de um país.

Também é utilizada uma medida de crescimento de longo prazo HPTRENDPIB. Ela é estimada com ln (log natural) do PIB mais a aplicação do filtro de tendência HP. O uso dessa variável é controverso, uma vez que a literatura avalia que a direção de impacto pode ocorrer nos dois sentidos: crescimento de longo prazo influenciando volatilidade da economia e vice- versa.

Embora seja mais comum se adotar a volatilidade impactando crescimento de longo prazo (RAMEY; RAMEY, 1995; MALLICK, 2014), é possível também estabelecer uma relação

inversa. Ao se considerar que crescimento mais elevado desencadeia uma inflação mais elevada no curto prazo – como sustenta a Curva de Philips -, e dado que existe um trade-off entre a incerteza da inflação e a incerteza do produto (efeito Taylor), então a volatilidade da economia deve cair em resposta a choques positivos de crescimento (ANTONAKAKIS ; BADINGER, 2012). Em complemento, pode-se pensar que uma trajetória de crescimento de longo prazo pode reduzir incertezas na economias, reduzindo flutuações na atividade econômica. Assim, é esperada uma relação negativa entre a volatilidade dos ciclos econômicos e o crescimento do PIB a longo prazo. A seguir, são apresentadas as estatísticas descritiva dos dados.