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Nas páginas precedentes, sustentamos que, apesar de tudo, o Cristianismo, que enfocamos no Catolicismo, cumpriu e cumpre a sua

No documento A DESCIDA DOS IDEAIS (páginas 174-183)

PSICANÁLISE DAS RELIGIÕES E ASPECTOS DO CRISTIANISMO

3) Nas páginas precedentes, sustentamos que, apesar de tudo, o Cristianismo, que enfocamos no Catolicismo, cumpriu e cumpre a sua

função civilizadora quando obriga os mais astutos, que gostariam de aproveitar-se da idéia de Cristo, acabam ficando ligados a ela, o que não pode deixar de educa-los à força, prendendo-os numa férrea disciplina moral.

É assim que as leis da vida, que querem a evolução, se cumprem, que a paixão de Cristo não foi inútil, que o fenômeno da descida dos ideais não deixa de se realizar. A falsificação alcança somente quem a realiza, e não quem obedece a vontade de Deus, impulsionadora do progresso. Os erros humanos podem retardar o caminho de quem os realiza, mas não podem deter a marcha da evolução. Assim nem Cristo nem a vida se enganaram. No fundo a corrupção do ideal, pelo fato de que a descida deste ao nível humano é uma necessidade, é um mal inevitável porque sem ele não haveria possibilidade de progresso para os menos evoluídos, ao mesmo tempo que é um mal útil, porque permite este progresso. É assim que tudo está no lugar que lhe corresponde e se move em direção ao seu fim. A descida dos ideais, apesar de tudo, funciona para a salvação do mundo.

Procuremos agora enfocar o problema do Cristianismo, observando sob vários de seus aspectos, sejam positivos ou negativos, particularmente numa espécie de psicanálise. Isto nos permitirá compreender como surgiram, como funcionam e em relação a que finalidades biológicas existem várias das suas formas, sejam elas produto consciente ou subconsciente da necessidade de alcançar o objetivo mais urgente, que é a conservação do grupo. Veremos que, se elas, perante a lógica do ideal pregado oficialmente, são contradição absurda, não o são perante a lógica das leis da vida que impõem a luta pela sobrevivência a qualquer custo. Veremos assim melhor ainda como a sua simbiose com o mundo maculou o ideal, submetendo-o às suas exigências materiais. Veremos como funcionam as leis da vida e da descida dos ideais no caso do Cristianismo. Procedemos sempre estando orientados por um sistema científico-filosófico

completo, que nos dê a razão de tantos fenômenos biológicos e psicológicos inerentes ao funcionamento da vida.

Dissemos que a função das religiões é a de fazer descer os ideais à Terra, introduzindo assim e antecipando, num plano evolutivo inferior, as leis de um superior, para fazer ascender a humanidade até ele. Daí deriva a importância biológica das religiões, devida a esta sua alta função evolutiva. Então o trabalho que as espera é o de levar a animalidade humana ao nível do ideal, como também é o de adaptar o ideal à animalidade humana. Estas adaptações são o preço que o Sistema deve pagar ao Anti-Sistema, se quer que este lhe permita entrar e permanecer no seu terreno que é o mundo. Isto pode representar, com respeito ao alto, um processo de degradação por retrocesso involutivo, mas significa avanço com respeito ao plano baixo. Assim a superação da animalidade não se pode obter senão por meio deste contato entre os dois termos. Mas eles são antagônicos, portanto em luta, cada um para destruir e eliminar o outro. É assim que o primeiro ato do Anti-Sistema, quando entra em contato com o Sistema, é tratar de emborcá-lo para submetê-lo aos seus fins terrenos. O ideal desce do Sistema para levantar na sua direção o Anti-Sistema. Este responde, tratando de rebaixar o Sistema ao seu nível.

Assim nós explicamos o comportamento das religiões. Cristo não aceitou adaptações, não pactuou com o mundo. Este então o matou, O expulsou e Cristo foi viver em outro lugar. Mas os seus Ministros e seguidores devem continuar a viver na Terra, e portanto desceram a pactuar com o Anti- Sistema; desde que deixem de qualquer modo sobreviver o ideal no mundo, se adaptaram a conviver com o inimigo, pagando, com estas adaptações, o direito de habitar em casa alheia. Assim coabitam: o ideal tratando de santificar o mundo e este tratando de corromper o ideal. A posição das religiões perante as leis da vida terrena é, pois, clara. Explica-se assim o fenômeno de não cumprimento dos princípios de Cristo por parte dos seus representantes e seguidores

Tampouco o Cristianismo podia colocar-se fora das leis biológicas vigentes. Se os anjos querem viver no inferno, devem adaptar-se ao tipo de vida dos demônios. De outra maneira têm que ir-se embora. Eis o Evangelho reduzido a doses homeopáticas. Que encontramos na vida do princípio do desinteresse, da não resistência, do ama a teu próximo etc.? Eis um Evangelho diluído nos opostos métodos do mundo. Sob aparências contrárias, domina o instinto gregário, o espírito de grupo, a organização de interesses de casta. Esta é realidade subentendida, que se presume, com a qual tacitamente se concorda. Se surge quem quer atuar a sério, então tem lugar o choque, porque se descobre o mal- entendido, dado que os fatos não correspondem às teorias pregadas. Na realidade o ideal de Cristo está longínquo e se encontra, pelo contrário, a classe social que O representa: um exército em luta em primeiro lugar pela sobrevivência própria. Estamos na Terra e aqui este é o problema fundamental.

Se não quisermos perder-nos no irreal, a posição na Terra não pode ser colocada diversamente. Somos constrangidos a isto pelas próprias leis da vida que eliminam a quem não obedece a elas. Disto nasce uma série de conseqüências; em primeiro lugar, a necessidade de possuir, ainda que o Evangelho proponha o contrário. Esta contradição poderia autorizar alguém a criticar as religiões de não cumprimento e das ditas adaptações. Aqui fazemos imparcialmente só uma observação. Esta acusação valeria se fosse feita por amor à virtude por parte de quem a apresenta. Mas que vale quando é feita por quem só a prega e se serve dela para apanhar em falta os outros, ainda que seja com razão, voltando contra eles a sua própria pregação? Estas acusações são feitas com finalidade positiva, ou apenas com o objetivo de demolir um rival? Eis que se recai

no terreno da luta e ninguém está ausente. Então o Evangelho é transformado por ambas as partes numa arma para destruir-se no duelo, ao exigir do outro, em nome de princípios, aquilo a que a cada um dos dois mais importa, isto é, uma renúncia que, empobrecendo o seu antagonista, o elimine da vida. E então, se a acusação de mentira se baseia na mentira, que vale esta acusação? Isto pode mostrar-nos para que serve o ideal na Terra.

Não nos iludamos. Mesmo para o triunfo de uma idéia na Terra é necessário vencer no plano humano, porque em nosso mundo só o vencedor tem o direito de estabelecer a verdade. O vencido é considerado culpável. Então o ideal deve submeter-se às leis da Terra. Depois da necessidade de possuir, indispensável meio de domínio, a necessidade de conservar esta posse. A eternidade dos princípios tende a concretizar-se numa eternidade de meios materiais necessários para sustentá-los na Terra. Disto nasceu em várias religiões, o instituto da castidade do clero; em vista de tais fins positivos fez-se dele uma virtude. A sua verdadeira função é, pelo contrário, a de eliminar as conseqüências econômicas da procriação. Evita-se assim o possuir em favor do grupo familiar em vez do grupo eclesiástico, evita-se a perda da obrigação de deixar por herança aos familiares, herdeiros legais, ao invés da coletividade religiosa. Sem filhos tudo fica dentro da organização eclesiástica. Assim se fecham as portas de saída, enquanto ficam abertas as da entrada.

Na Terra os grupos de qualquer gênero estão em rivais posições de guerra. Daí a necessidade de viverem compactados como soldados, sem ter entre os pés o travão de pesos mortos para arrastar, como são mulheres e filhos. Então o sexo torna-se pecado porque tem como resultado a procriação de rivais pretendentes à posse. Principalmente no passado quando, sendo desconhecidos os métodos de controle da natalidade, não havia outro meio senão a castidade para evitar a procriação.

Formou-se assim u’a moral em função das leis da Terra onde o possuir representa a base da vida. No passado a conquista dos bens, mais do que o trabalho, se fazia com a violência, que aos eclesiásticos era proibido usar. Portanto para lutar não restava outro meio senão estas medidas. De tudo isto, ou seja, de razões econômicas na luta para a conservação do grupo nasceu a exaltação da castidade. É por isto que ela se tornou uma virtude, mesmo que biologicamente não o seja. Poderia sê-lo, se tal renúncia fosse útil a vida na medida em que se realizasse em função de uma correspondente conquista espiritual. Mas na realidade nem sempre acontece que esta negação num nível baixo seja compensada por uma afirmação noutro mais alto. Sucede então que para a maioria composta de imaturos, tudo se reduz a uma limitação, em vez de uma criação e expansão. Assim a castidade imposta à força por outras razões, em vez de levar à sublimação, leva ao contrário, à hipocrisia ou, o que é pior, as substituições e desvios patológicos. Tal virtude baseia-se em necessidades práticas e a idéia da catarse evolutiva, como fato excepcional, não basta para justificá-la.

De tudo isto nasceu um espírito de sexofobia dominante do Catolicismo. E compreende-se como, um Evangelho nada sexófobo, se insistiu tanto na castidade, enquanto se passa por cima do assunto riqueza, para o qual o Evangelho reserva as mais acerbas condenações. A razão disto reside no fato de que o verdadeiro objetivo escondido é a conservação do grupo e para esta finalidade a renúncia ao sexo representa uma ajuda, enquanto a renúncia à posse é um obstáculo. É por isto que tanto se insistiu em fazer da castidade uma virtude, apresentando-a como uma sublimação.

Os dois impulsos: fome e sexo, são tão fundamentais que derivaram deles dois biótipos, cada um especializado em uma destas duas funções.

O primeiro dos dois é produtor de bens, e na luta pela sobrevivência está encarregado de defender a vida. Por isso é egoísta, apegado à posse, interessado, calculador, mas é também trabalhador e criador, se bem que sobretudo para si, com egoísmo e avareza. Adora ao deus dinheiro, em compensação é casto porque é frio. Em se tratando de sexo, é virtuoso e puro.

O segundo tipo é consumidor de bens e, na luta pela sobrevivência, está encarregado de continuar a vida. Por isso é altruísta, desprendido da posse, desinteressado, generoso, mas também anda em busca do apoio material que o sustente enquanto ele deve cumprir o seu diferente trabalho. De fato não sabe produzir, mas sabe amar e proteger. No sexo, ele é um pecador, mas a respeito da riqueza ele não tem apego e é virtuoso.

Temos assim uma divisão de trabalho, de aspectos, de juízos. No fundo o primeiro é tipo masculino, dominador, o segundo é tipo feminino, obediente; ambos, em duas formas diferentes, empenhados no mesmo trabalho da luta pela sobrevivência. Vemos prevalecer o primeiro nos países frios, onde essa luta é mais dura. Assim, ao Norte da Europa, o Cristianismo se tornou rígido Protestantismo, que preferiu ao Evangelho a Bíblia, código de um povo guerreiro. O Segundo tipo prevalece nos países cálidos, onde aquela luta é menos dura. Assim, nas zonas meridionais, o Cristianismo transformou-se no Catolicismo mais acomodativo, que à Bíblia preferiu o Evangelho, baseado no amor.

Tudo isto nos diz a psicanálise das religiões, mostrando- nos uma diversa realidade escondida sob as aparências. Quem olha em profundidade não se deixa enganar pela vestimenta exterior. O que conta perante a vida é a realidade interior, aquilo que realmente se sente e se faz, aquilo em que de fato se crê e não aquilo que se diz que se crê. O mundo gosta de cobrir-se de ficções, que no entanto nada deslocam nem salvam. Somente se soubermos ver aquilo que se oculta atrás delas, a verdadeira vida, poderemos compreender o que está sucedendo no mundo.

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Um outro importante aspecto do Cristianismo é representado pelo fenômeno do materialismo religioso. Isto deve-se ao fato de que o homem, quanto mais primitivo é, tanto mais concebe as coisas em forma materialista, em função do ambiente terrestre segundo o qual construiu a sua forma mental. Este modo tão comum de entender as coisas do espírito é devido ao grau de involução em que se encontra a humanidade, isto é, mais do lado do AS do que do lado do S, pele que é o primeiro que prevalece ainda sobre o segundo. Então o ideal, para poder existir no mundo, é abaixado ao nível deste, ou seja; submetido a retrocesso involutivo. É a forma que vence a substância, a qual fica sufocada dentro dela. O homem por comodidade, adapta tudo a si próprio, trazendo-o ao seu nível. É assim que encontramos os atributos do S torcidos na forma de AS, isto é, vemos nas religiões, em vez de um processo de espiritualização da matéria, um de materialização do espírito, em vez de uma elevação do homem ao nível do ideal, um rebaixamento do ideal ao nível do homem.

O Cristianismo, também ele, seguiu em alguns casos esta tendência bem humana pela qual as coisas do espírito são concebidas em forma materialista. Foi assim que a vitória de Cristo sobre a morte e a continuação da sua vida foi entendida principalmente no plano físico, como ressurreição do corpo. Mas Cristo não era o corpo, era o espírito que não estava morto e que, tendo ficado vivo, para permanecer como tal, não tinha necessidade de ressuscitar. Como se vê, o

problema da ressurreição de Cristo foi apresentado em forma totalmente materialista, identificando Cristo com o seu corpo, e como se fosse necessária a sobrevivência deste para que ele pudesse ficar vivo, enquanto a vida do espírito, na qual consiste verdadeiramente a pessoa, é independente da morte do corpo. Assim foi entendido o fenômeno da sobrevivência de Cristo esquecendo-se que o seu verdadeiro ser é espiritual e não físico.

O que aqui queremos fazer ressaltar não é a negação da ressurreição de Cristo; afirmamos isto sim, que não havia nenhuma necessidade da sua ressurreição corpórea para que Ele pudesse permanecer vivo, como era necessário para ser triunfador. Mas esta era uma necessidade psicológica na mente dos seus seguidores, para que eles pudessem ter a segurança, para eles indispensável, de que Cristo não estava morto mas sim ainda vivo, não tinha desaparecido, mas estava presente para sustentá-los. Para quem vive no espírito esta ressurreição física passa a segundo plano, porque é só a de um acessório transitório da verdadeira personalidade que é eterna. Mas a lógica de u'a mente materialista é diferente. O homem quer primeiramente satisfazer as suas necessidades psicológicas. Nós mesmos não choramos um defunto como morto? Assim para os discípulos de Cristo era antes de mais nada o homem que tinham visto morrer. Para que ficasse vivo era necessário portanto fazê-lo ressuscitar como corpo. Os próprios hebreus, matando o corpo de Cristo haviam desejado e crido matar a Cristo, mas não fizeram outra coisa senão libertá-lo de uma pesadíssima vestidura. Mas destruída a veste, que se acreditava ser o próprio Cristo, era necessário que Ele ressuscitasse vestido com ela, para que essa gente pudesse acreditar que Ele estava ainda vivo, indo para o Céu com o seu próprio corpo.

Com a mesma forma mental materialista foi concebida a Eucaristia, interpretando em sentido concreto as palavras de Cristo e com isto querendo dar-lhe um corpo, como se Ele, sem esta forma material, não pudesse existir entre nós. Eis a matéria trazida de novo a primeiro plano. É evidente que Cristo dela não necessita para estar presente entre nós. Quem tem necessidade dela é o homem, que não sabe conceber a existência sem uma forma material. Claro que toda a forma mental quer estar atendida nas suas exigências, mas corresponderia mais à verdade libertar-se desta idéia materialista que, para que Cristo possa estar presente, seja indispensável uma forma material; que Ele possa estar presente só na hóstia e lhe seja proibido estar fora dela. Com isto não queremos dizer que não esteja na hóstia, tanto mais que isto é necessário para satisfazer a necessidade da mente humana de localizar o espírito reduzindo-o na dimensão espaço. Mas dizemos que o espírito está livre destas materializações e que Cristo está presente também onde quer que haja uma alma que o compreenda e o ame.

Cristo tendo entendido tal necessidade psicológica do homem, ofereceu pão e vinho como formas materiais necessárias à concentração do pensamento e assim facilitar a sintonização espiritual.

Interpretar este fato como uma transformação do pão e do vinho em carne e sangue, pode gerar mal-entendidos. Dizemos isto devido à forma mental materialista, que chegou a procurar em laboratório a prova desta transformação. Tratando-se de fenômeno espiritual, foi um verdadeiro absurdo, encontrando portanto, um resultado negativo .

É necessário no entanto reconhecer que tem de servir à maioria e não se lhe pode exigir mais do que até certo limite. A espiritualização é progressiva, como é a evolução da qual ela faz parte. Se a religião quer cumprir a sua missão, deve adaptar-se às necessidades da maioria. Ora, não se pode negar que para os milênios passados algum progresso foi realizado. As relações entre e

homem e Deus eram, antigamente, concebidas só antropomorficamente, como entre servo e amo, o primeiro procurando conquistar favores do segundo com ofertas e sacrifícios. No princípio, estas eram vítimas humanas, provavelmente com a intenção de saciar a fome de um deus antropófago. Depois sacrificaram-se animais que eram consumidos pelos ministros de Deus. Com o Cristianismo, o sacrifício é simbólico, sem derramamento de sangue, mas ainda ligado matéria. Com a evolução, este processo de purificação continuará, espiritualizando-se ainda mais.

Mas eis que o valor da eucaristia não cessa por isso. Basta permanecer no seu terreno que é espiritual, e não pretender fixá-lo em formas materiais. Então a existência de uma vestimenta exterior na dimensão espaço, perceptível aos sentidos como instrumentos do espírito, continua sendo uma coisa necessária, mas somente como meio para cumprir uma função espiritual.

Não estamos dizendo heresias. Nesta nossa época de atualização já há teólogos que admitem que quando se diz que o pão e o vinho da missa, misteriosamente, se tomam o corpo e o sangue de Cristo (Mysterium fidei), a transformação essencial reside no significado mais do que na substância dos elementos. Então a função da hóstia não consiste em se ter tornado carne mas em constituir um ponto de convergência psicológica em direção ao qual dirige e concentra a fé do crente, fé com imenso poder criador. A forma mental humana, instintivamente materialista, tem necessidade destes apoios no sensível e concreto, e isto é o que dessa maneira se lhe concede. Mas é necessário dar-lhe o seu verdadeiro valor, isto é, de meio para fins espirituais e não transformá-los naquilo que não são nem podem ser. Estamos no terreno somente espiritual. A substância é mental. Neste plano existem as coisas em que cremos. É uma existência feita de pensamento, que acaba depois por tornar-se material, porque a semente da realidade exterior está no interior.

Tudo isto não exige que alguma coisa se desloque na forma exterior. Ela pode ficar como é, com o valor de forma e não assumindo exclusivamente o de substância. A função criadora do ato material da comunhão baseia-se então, mais do que na transubstanciação, na formação interior da imagem de Cristo que, localizando-se na hóstia, pode assim tomar forma mental e chegar a existir no plano do espírito. Apoiando-se neste centro de focalização psicológica, se canaliza e com repetição se estabiliza uma corrente de pensamento orientada em direção a Cristo, cuja figura se constrói assim como uma realidade interior da alma do fiel. Tudo isto faz parte da técnica construtiva da personalidade por meio da aquisição de novas qualidades, conforme o método dos automatismos. Assim o fenômeno é visível em toda a sua estrutura e funcionamento e, em forma racional aceitável para todos, mostramos como alcança os seus fins.

É deste modo que o fenômeno espiritual da união com Cristo pode assumir o significado positivo da identificação com o modelo de vida

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