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Pós-guerra: ingleses entre ilhas e muros

CAPÍTULO II ANIMALS

1. Pós-guerra: ingleses entre ilhas e muros

Os anos de combate na Segunda Guerra Mundial, impuseram perdas significativas aos britânicos: a morte de 270 mil soldados e 60 mil civis, provocadas pelos combates contra o exército nazista, deixaram marcas profundas nos ingleses. Além disso, com o fim do combate, iniciaram-se novos desafios para a Grã-Bretanha, pois, antes mesmo que houvesse o conflito, seu império já estava perdendo forças no mundo desde a Primeira Guerra e, na medida que enfrentavam os nazistas, suas fraquezas eram expostas, o que devido a isso, mesmo após a vitória já decretada em favor dos Aliados, não significou um alívio para o império britânico.

Em A era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991), ao discutir os problemas que os países europeus enfrentavam no pós-guerra, Hobsbawn aponta que

Recuperar-se da guerra era a prioridade esmagadora dos países europeus e do Japão, e nos primeiros anos depois de 1945 eles mediram seu sucesso tornando como base o quanto haviam se aproximado de um objetivo estabelecido em referência ao passado, não ao futuro (HOBSBAWN, 1995; 254)

A preocupação com o estado das coisas e a recuperação econômica e social desses países, tornaram-se a nova problemática das relações internacionais no cenário mundial. Com relação aos britânicos, embora estivessem felizes com a vitória sobre a Alemanha Nazista, celebrada com o discurso de Winston Churchill20, pouco tempo depois, as circunstâncias não se mostrariam tão favoráveis à sua recuperação; tornando-se dificultosa e provocando danos irreversíveis à manutenção de seu império, principalmente na questão de influência e dominação. Além do mais, a vida econômica, social e emocional de muitos ingleses havia se reduzido a nada e, dessa forma – para tais pessoas – a única opção era começar de novo.

O momento seguinte se tornou conturbado também por outros motivos. Primeiramente, a falta de apoio do povo britânico em relação às colônias inglesas na Índia e África, ocasionaria na perda do domínio, até então exercido pelo império inglês que, o passo de dois anos após o fim da segunda guerra, concederia a independência da Índia e pouco depois (num período de dez anos) seria a vez de se retirarem da África21. Em segundo lugar: seu papel como principal potência estava sendo ofuscado

20 (1874-1965) foi um político britânico conservador que atuou como primeiro ministro do Reino unido

por duas vezes; a primeira durante a Segunda Guerra Mundial e a segunda no período de 1951 a 1955.

21 ZIWICA, Kristine. Para os britânicos, foi o fim do império e o início do Estado Social. DW Brasil.

40 pela ascensão dos Estados Unidos da América, liderando o “bloco capitalista” contrapondo-se à União Soviética, a qual liderava o “bloco socialista”.

Segundo Hobsbawn, esse estado de calamidade das principais potências europeias revelava que uma nova forma de enxergar o mundo poderia estar surgindo. Ao comentar sobre a massiva utilização das palavras “após” ou “pós” o autor acrescenta:

Quando enfrentam o que seu passado não as preparou para enfrentar, as pessoas tateiam em busca de palavras para dar nome ao desconhecido, mesmo quando não podem defini-lo nem entendê-lo. (HOBSBAWN, 1995, p. 282)

O autor explica que ao final do conflito “o mundo, ou seus aspectos relevantes tornou-se pós-industrial, pós-imperial, pós-moderno [...]” (p.282). De acordo com a observação feita, podemos analisar que esse uso constante do termo “pós”, ao qual o autor se refere, está relacionado com o surgimento de um novo tempo, principalmente na forma de pensar sobre aquele momento. Uma nova era se iniciava; principalmente para os europeus que, ao tomarem conhecimento das crueldades praticadas nos campos de concentração nazista, – com receio também de que um novo combate pudesse significar o fim de suas vidas – foram criando expectativas com relação à proposta de um mundo sem conflitos, o que proporcionou espaço para a discussão sobre os direitos básicos do ser humano, que naquele momento, foram entrando em pauta devido as conferências de paz realizadas no final da Segunda Guerra Mundial. Para os britânicos, essa discussão estava bastante entranhada em sua experiência vivida durante os anos de conflito, pois “os duros racionamentos e o sofrimento coletivo durante a guerra, haviam despertado uma forte sensação de igualitarismo” o que por outro lado, foi considerado um dos motivos pelo o qual o império não encontraria mais o apoio do povo, visto que, “renovado o compromisso com a igualdade social: cada um tinha direito à sua cota justa”.22

Em Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945, Tony Judt escreve que “os europeus se sentiam, de fato, desesperançados, e estavam exaustos” (p.19). Com relação à situação econômica da Grã-Bretanha, o autor ressalta que “para lutar e vencer a guerra, os britânicos exploraram e pilharam seus próprios recursos” e devido a isso, “no final do conflito, a Grã-Bretanha gastava mais da metade do seu Produto Interno Bruto no esforço de guerra” (p. 20), certamente que essa tomada de decisão

41 refletiu nas eleições seguintes para primeiro-ministro que, neste caso, não foram favoráveis para a reeleição de Winston Churchill, sendo derrotado por Clement Attlee23 do Partido Trabalhista.

Com a vitória do Partido Trabalhista mudanças significativas foram realizadas e simbolizavam um novo tempo para os britânicos. Sob a tarefa de concretizar algumas das promessas do Partido Trabalhista, suas decisões impactaram significativamente a recuperação da Grã-Bretanha, principalmente com a descolonização da Índia, a criação do National Health Service24 e a nacionalização de importantes indústrias, sendo: a mineração de carvão, o fornecimento de eletricidade e ferrovias (todas colocadas sob o controle do Estado). Sobre esse período de nacionalização de setores da economia britânica, Judt escreve que “de fato, na Grã- Bretanha, foi a guerra, acima de tudo, que posicionou o governo no centro da vida econômica” (p.68).

O período de 1945 a 1951 – momento em que Clement Attlee exerceu o cargo de primeiro ministro – exigia bastante cuidado e estratégia, visto que, a Grã-Bretanha se encontrava falida, e devido a isso, percebe-se o quanto foi necessária a nacionalização de serviços médicos e outras áreas importantes, a fim de controlar a crise no país.

Com o fim do combate na Segunda Guerra, a ameaça de um novo conflito se tornou uma preocupação ainda maior para os países europeus, com o início da chamada Guerra Fria, este medo parecia se tornar mais real. As principais potências dominantes neste conflito, foram: os Estados Unidos da América e a União Soviética, ambos divergiam ideológica e economicamente. Tal conflito durou de 1945 a 1989 e, um dos principais eventos que marcam esse período é a divisão da Alemanha – palco da Segunda Guerra Mundial – em Ocidental (aliada ao bloco capitalista liderado por EUA) e Oriental (aliada ao bloco socialista liderado por URSS). Ocorre que, a partir do final da guerra à Alemanha foi dividida entre os Aliados com a definição de áreas de influência entre a França, Inglaterra, EUA e URSS.

Um dos acontecimentos centrais para à Guerra Fria foi, a criação da ONU (Organização das Nações Unidas) em 24 de outubro de 1945, como uma entidade global para agir na promoção de políticas de caráter humanitário. Dentre seus

23 (1883-1965) foi líder do Partido Trabalhista de 1935 a 1955 e serviu como primeiro ministro da Grã-

Bretanha de 1945 a 1951.

42 objetivos, o de maior importância para a época – tendo em vista a preocupação com a possibilidade de outro conflito bélico a nível mundial – está: a formação de uma consciência na preservação da vida humana, uma espécie de compromisso com as gerações futuras, uma forma de “garantir a paz”.

Essa paz desejada continuaria a ser retardada, pois a disputa por zonas de influência entre as principais potências mundiais, provocaria uma onda de protestos gerando inconformidade em parte da sociedade, principalmente nos jovens universitários. Dentre os fatos importantes que formaram o cenário da Guerra Fria estão: a criação do Estado de Israel em 1948 que provocou guerras com os países vizinhos como o Egito e o Líbano; os conflitos pela descolonização da África e da Ásia; os golpes de estado na América Latina, incluindo o Brasil em 1964.

Em 1961 ocorreu a construção do muro de Berlim, na Alemanha, este se torna um símbolo dessa bipolarização proporcionada pelo conflito da Guerra Fria, que encontrava lógica na consolidação de áreas de influência, seja no bloco capitalista ou no socialista.

Com isso em mente, para a discussão do tópico seguinte, pergunta-se: qual a influência desses acontecimentos na Cultura Jovem? Seria possível analisar a produção artística da década de 1970, sem considerar o impacto dos acontecimentos ocorridos em seu contexto social e político?

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