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1 O COLAPSO DO PROJETO DA MODERNIDADE

2.1 A pós-modernidade em Filosofia

Para Vattimo (1992), o termo pós-moderno está ligado ao fato da sociedade em que vivemos ser uma sociedade dos mass media.

O discurso sobre a pós-modernidade se legitima conforme o autor com base no fato de que, se considerarmos a experiência que vivemos nas atuais sociedades ocidentais, uma noção adequada para descrevê-la parece ser de post-histoire.

Conforme Outeiral (2003) afirma, a modernidade historicizou o homem e sua cultura, tudo isso na busca e no anseio do estabelecimento de sua identidade. Já a pós- modernidade “decretou” o fim da história.

O autor diz que, enquanto a modernidade a credita que os sonhos que são sonhados juntos se tornam realidade, a pós-modernidade com o fim-da-história e seus heróis pós- modernos, expulsa a utopia. Não há o que desejar, senão consumir o que está produzido, simulações da realidade, simulacros.

O progresso se torna uma grande rotina, pois na medida em que o homem dispõe da natureza para se desenvolver tecnicamente e alcança novos resultados, a habilidade de disposição e planejamento os tornará cada vez menos “novos”.

Com a sociedade de consumo, mesmo o que se diz ser novidade, nada traz de “revolucionário”. As roupas, objetos, arquiteturas, parecem girar sempre no mesmo círculo. Tudo continua do mesmo jeito, apenas se alternam.

Há, de acordo com Vattimo (1996), uma espécie de “imobilidade” de fundo do mundo técnico, que os escritores de ficção científica representam com freqüência como a redução de toda experiência da realidade a uma experiência de imagens (ninguém encontra de verdade ninguém; vê tudo em monitores de tevê, que comanda sentado em sua sala) e que já se percebe, para sermos mais realistas, no silêncio abafado e climatizado em que os computadores trabalham.

Para o autor, quando falamos em pós-moderno, é porque consideramos que em alguns dos seus aspectos essenciais, a modernidade acabou. O sentido em que se pode dizer

que a modernidade acabou está ligado àquilo que se entende por modernidade. Entre as muitas definições, é possível que haja uma sobre a qual se pode concordar: a modernidade é a época em que se torna valor determinante o fato de ser moderno”.

De acordo com Vattimo (1996, p. 171):

Se a modernidade se define como a época da superação, da novidade que envelhece e é logo substituída por uma novidade mais nova, num movimento irrefreável que desencoraja qualquer criatividade, ao mesmo tempo em que a requer e a impõe como única forma de vida – se assim é, então não se poderá sair da modernidade pensando-se superá-la. O recurso às forças eternizantes indica essa exigência de encontrar um caminho diferente.

É precisamente a diferença entre Verwindung que é a palavra que Heidgger (apud Vattimo, 1996) usa para indicar algo análogo a Uberwindung, ou seja, a superação que se distingue desta por não se relacionar com o passado. É a diferença entre esses dois termos que pode conforme Vattimo (1996) nos ajudar a entender e definir o “pós” do pós-moderno em termos filosóficos. O ultrapassamento segundo Nietzsche (apud Vattimo 1996, p. 171) “é uma categoria tipicamente moderna e, portanto, não é capaz de determinar uma saída da modernidade”.

Falar de história em um sentido unitário se torna cada dia mais difícil. A filosofia entre os séculos XIX e XX criticou a idéia de história unitária, e revelou o caráter ideológico destas representações.

Walter Benjamin (apud Vattimo, 1992, p. 8/9) afirma que

A história como curso unitário é uma representação do passado construída pelos grupos e pelas classes dominantes [...] assim, aquilo de que fala a história são as vicissitudes da gente que conta dos nobres, dos soberanos, ou da burguesia quando se torna classe de poder: mas os pobres, ou os

A pós-modernidade filosófica nasce na obra do Nietzsche, este filósofo coloca o problema do excesso de consciência histórica, que tira o tranqüilidade do homem do século XIX, não o deixando produzir algo novo, pelo contrário, o impede de criar um estilo próprio.

Para Nietzsche (apud Vattimo, 1996), tudo isso se chama doença histórica, pois faz estilo “a partir de outro que acaba escolhendo de maneira arbitrária como máscaras de teatro.

Ao falarmos em fim da historicidade, diz Vattimo (1996), podemos suscitar um equívoco que é o da distinção entre uma história como processo objetivo dentro do qual estamos, de um modo ou de outro, inseridos, e a historicidade como um modo determinado de termos consciência dessa inserção.

Segundo o autor, o que caracteriza o fim da história na experiência pós-moderna é que enquanto na teoria a noção de historicidade se torna cada vez mais problemática, na prática historiográfica a idéia de uma história como processo unitário se dissolve. Dissolução significa, antes de tudo, ruptura da unidade, e não fim puro e simples da história. Começou a perceber-se que a história dos eventos – políticos, movimentos de idéias, revoluções – é apenas uma história dos modos de vida, que se aproxima muito mais de uma “história natural” da humanidade.

Essa dissolução da história, provavelmente é a característica que mais diferencia a história contemporânea da história “moderna”.

Segundo Vattimo (1996), para de fato ser pós-moderno deve-se caracterizar não apenas como novidade com relação ao moderno, mas também como dissolução da

categoria do novo, como apresentação de uma etapa diferente, mais evoluída ou mais retrógrada, não importa, da própria história.

Se a idéia de história se encontra abalada, a idéia de progresso também, pois não dá para sustentar que os acontecimentos humanos avançam para um fim. O fim que a modernidade acredita dirigir o curso dos acontecimentos era também ele representado do ponto de vista de um certo ideal de homem e esse ideal na modernidade foi sempre o do homem moderno europeu – é como dizer: nós europeus somos a melhor forma de humanidade.

O ideal europeu de humanidade revelou-se como um ideal entre outros, não necessariamente pior, mas que não pode sem violência valer como verdadeiramente essência do homem.

Além do fim do imperialismo e colonialismo, um grande fator que contribui para a dissolução da idéia de história e de modernidade é a sociedade de comunicação.

No nascimento da sociedade pós-moderna, os meios de comunicação desempenham um papel imprescindível. Esses meios de comunicação não caracterizam uma sociedade mais consciente de si, mas sim caracterizam uma sociedade mais complexa, até caótica. Entretanto, talvez seja neste relativo “caos” que poderemos encontrar nossas esperanças de liberdade.

Os jornais, rádio, televisão, enfim os meios de comunicação foram determinantes no processo de dissolução das grandes narrativas, de acordo com o filósofo Lyotard (apud Vattimo, 1992).

O efeito mais evidente dos mass media é que um número cada vez mais expressivo de subculturas se manifesta expondo o que pensam. Vivemos momentos de pluralização

que parecem impossíveis de serem revertidos, desta forma, impossível também se torna conceber o mundo e a história segundo pontos de vista unitários.

Está ocorrendo exatamente o contrário daquilo que Adorno (apud Vattimo, 1992) acreditava que iria ocorrer, pelo menos aparentemente. Este filósofo previa que os meios de comunicação seriam utilizados para tentar alcançar uma homogeneização com visões do mundo estereotipadas. Sendo assim, haveria a formação de governos totalitários que estariam no controle. Entretanto, o que nos é visível mencionamos anteriormente, minorias de todo o gênero se expressam através dos meios de comunicação.

Quando é derrubada a idéia de uma realidade central da história, o mundo da comunicação generalizada explode, segundo Vattimo (1992), como uma multiplicidade de racionalidades “locais”- minorias étnicas, sexuais, religiosas, culturais ou estéticas – que tomam a palavra e já não podem ser reprimidas. No entanto, a libertação das diversidades não pode ser e não é o abandono de todas as regras: é preciso saber que existem outros dialetos. Se professo o meu sistema de valores – políticos, religiosos, étnicos, etc., neste mundo de tanta pluralidade, deverei também ter consciência da limitação de cada sistema de valor, começando por aquele que eu escolhi.

De acordo com Vattimo (1992, p. 16): “Cada um de nós, amadurecendo, restringe os seus próprios horizontes de vida, especializa-se, fecha-se dentro de uma esfera determinada de afetos, interesses, conhecimentos”. Nós temos uma liberdade problemática, porque nós não sabemos os verdadeiros efeitos dos mass media, pois vivemos nas oscilações de um mundo pós-moderno e isso é irresistivelmente real.

O mundo pós-moderno assinala uma extensão lógica do poder do mercado a toda a gama da produção cultural. O que presenciamos nos últimos anos é a virtual tomada da arte pelos grandes interesses corporativos. Porque, seja qual for o papel desempenhado pelo

capital na arte do modernismo, o atual fenômeno é novo precisamente por causa do seu alcance. As corporações se tornaram, em todos os aspectos, os principais patrocinadores da arte.