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Espaço Público, Arte e Educação Social: O Eixo Monumental de Brasília trabalhadores puderam experimentar o pertencimento e a identificação com local bem

como o protagonismo na história de Brasília.

Poucos anos depois de sua inauguração, Brasília foi tomada pelos militares. Durante o regime militar no Brasil, entre 1964 e 1985, o Eixo Monumental tornou-se uma paisagem apreciada apenas de longe, uma vez que a sua ocupação pela população era reprimida pela polícia. Entre os poucos que se aventuraram em usufruir de perto seus espaços estavam os artistas que buscavam justamente chamar a atenção para a falta de liberdade para a vivência dos espaços públicos em Brasília.

Angélica Madeira em seu livro Itinerância dos Artistas: A construção do

campo das artes visuais em Brasília 1958 – 2008 (MADEIRA, 2013) lembra que alguns

artistas mantinham-se intencionalmente afastados dos ambientes institucionais de difusão artística e buscavam os espaços públicos, onde o povo estava.

“Por mais que a gente quisesse desenvolver uma linguagem lírica, ou puramente plástica, não dava. A repressão da época aguçava muito a sensibilidade da gente. Nosso trabalho funcionava como um desabafo. Tinha também a função de conscientizar as pessoas, por isso, queríamos ocupar todos os espaços disponíveis38.” (MADEIRA, 2013: 93)

Nesse contexto, Madeira cita como exemplo o projeto Caixas de Brasília. Tratava-se de uma “arte física”, como era chamado na época, realizada por Cildo Meireles em 1969. Como parte dos procedimentos, o artista acendeu uma fogueira na orla do Lago Sul e foi imediatamente reprimido pela polícia. Segundo Madeira, essa ocasião revelou “uma cidade panóptica, extremamente controlada” (MADEIRA, 2013: 93).

“(...) a torre de televisão de Brasília virou torre de controle, qualquer fogo, qualquer aglomeração era logo percebida e reprimida. Ou seja, Brasília caiu como uma luva na mão da ditadura. Aquela ideia de confraternização foi por água abaixo.” (MEIRELES apud MADEIRA, 2013: 93)

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Figura 14 – Caixas de Brasília/Clareira. Cildo Meireles, Brasília, 1969. Fonte: Pat Kilgore.

Hoje a Região Administrativa de Brasília – RA I, composta em sua parte urbana pelos bairros residenciais Asa Norte, Asa Sul e Vila Planalto conta com uma população de 209 855 habitantes39. Contudo, sua região metropolitana40 conta com 3. 717. 728 habitantes, dos quais mais da metade41 circula diariamente em Brasília, provavelmente transitando no Eixo Monumental, em função da Rodoviária do Plano Piloto.

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Conforme o Censo Demográfico de 2010. Ultima informação disponibilizada na Sinopse do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Visitado em agosto de 2015. Fonte:

http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=530010&search=distrito-federal|brasilia

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“Conhecida como RIDE, a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno compreende o Distrito Federal mais os municípios goianos de Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso de Goiás e Vila Boa, e os municípios mineiros de Buritis e Unaí.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%ADlia)

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Segundo Brasilmar Ferreira Nunes, professor Doutor da Universidade de Brasília, em seu artigo intitulado Eixo Monumental de Brasília: a obsessão da integração, publicado em novembro de 2009 na Revista Brasileira Estudos Urbanos e Regionais. V.11, N.2. (NUNES, 2009)

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“Então eu senti esse movimento, essa vida intensa dos verdadeiros brasilienses, essa massa que vive nos arredores e converge para a Rodoviária. Ali é a casa deles, o lugar onde se sentem à vontade. Eles protelam, até, a volta e ficam ali bebericando. (...) Isso tudo é muito diferente do que eu tinha imaginado para esse centro urbano, como uma coisa requintada, meio cosmopolita. Mas não é. Quem tomou conta deles foram esses brasileiros verdadeiros que construíram a cidade e estão ali legitimamente. É o Brasil ... E eu fiquei orgulhoso disso (...) Eles estão com a razão, eu é que estava errado. Eles tomaram conta daquilo que não foi concebido para eles. (...) Na verdade, o sonho foi menor do que a realidade.” (COSTA, 1995: 311)

De fato, os brasileiros vindos de todas as partes do país “tomaram conta” – como disse Lucio Costa – da Rodoviária, como não poderia deixar de ser, considerando a grande população que vem das regiões administrativas trabalhar ou buscar serviços no Plano Piloto diariamente.

Contudo, essa presença marcante da população se resumiu às proximidades da Rodoviária, reverberando um pouco de seu volume até o Conjunto Nacional e o Conic 42, sendo muito menor, em alguns casos quase insignificante, o movimento que se vê em outros pontos do Eixo Monumental.

Percebe-se que aos 55 anos, a utopia que Lucio Costa idealizou para 500 mil habitantes, vive uma realidade bem diferente da planejada, confirmando a ideia de que a cidade não é completamente planejável/projetável, pois ela é viva e sempre surpreende extrapolando as linhas do projeto.

Apesar da presença da arte para tornar a paisagem do Eixo Monumental mais atrativa e envolvente, a vontade de vivência de Brasília esbarra em dificuldades

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O Conjunto Nacional é um Shopping situado no Setor de Diversões Norte do Eixo Monumental de Brasília. O Conic é um tradicional centro comercial situado no Setor de Diversões Sul, também no Eixo. Ambos estabelecem importante conexão com a Rodoviária do Plano Piloto em função da proximidade, compartilhando o mesmo público.

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