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5 PROCESSO DE PROJETO DOS PAINÉIS VERTICAIS MODULARES, APRESENTAÇÃO E COMPARAÇÃO

5.1.1 Público alvo

O cumprimento do escopo deste trabalho – de contribuir para a divulgação do sistema plataforma em madeira neste país e, desse modo, promover a ampliação de seu uso enquanto sistema construtivo – requer que se assuma, antes de tudo, o compromisso de atuar a favor da dissolução do conceito negativo que a madeira como material construtivo carrega na cultura brasileira. A geração atual, que vivencia uma espécie de culto às estruturas de concreto armado e de aço, frequentemente enxerga na madeira um material frágil e provisório para se usar em construções, associando-a ora às escoras e aos tapumes muito vistos nos canteiros de obras, ora às favelas e palafitas, moradias improvisadas de baixo custo.

Sem deixar de reconhecer a relevância das pesquisas que propõem a utilização de madeira de floresta plantada em habitações de interesse social, visando reduzir o déficit de moradias brasileiro, este trabalho tem o intuito de incentivar o uso da madeira como material construtivo também nas parcelas da sociedade cuja situação econômica seja mais favorecida. Isso significa que, uma vez dissipado o preconceito que paira sobre o “construir com madeira”, os indivíduos possam deliberadamente optar por esse material em seus projetos, não porque seja mais barato ou apenas porque seja ecologicamente mais correto e, sim, porque proporciona edificações duráveis, seguras e de qualidade.

Diante do exposto, a proposta de painéis verticais modulares, semi-industrializados, que se apresenta aqui, visa atender ao público das

classes C2 a A, isto é, de renda familiar média que varia de R$ 1147 a R$9263, de acordo com a última atualização no Critério de Classificação Econômica Brasil – CCEB (ABEP, 2013).

Os painéis de parede propostos têm como premissa o acabamento de qualidade e o bom desempenho estrutural e térmico, refletidos na especificação dos componentes empregados, que são: chapas OSB de 11,1 mm aplicadas a ambas as faces do painel, opção por lã de rocha em seu interior para isolamento térmico e acabamento interno com gesso acartonado, por exemplo. Isso para que a construção no sistema plataforma em madeira possa competir diretamente com os demais sistemas construtivos, com foco na produção de residências, e consolidar-se como uma alternativa viável no mercado da construção nacional.

Além disso, a existência de um catálogo de painéis modulares favorece a agilidade na produção e montagem, tornando esta proposta uma solução também para construções emergenciais, em períodos pós- catástrofes em que se faz necessária a reposição de um grande número de edifícios com rapidez e praticidade.

5.1.2 Material

A concepção estrutural do sistema plataforma permite o emprego de madeira de baixa densidade e resistência mecânica média, como é o caso das espécies plantadas de Pinus e Eucalyptus. Essas espécies, de alta densidade em seus países de origem, quando introduzidas no Brasil, apresentam taxas de crescimento bastante elevadas e resultam em madeiras pouco densas. A introdução dessas espécies no sistema construtivo em questão contribui para o progresso do setor florestal, pois estimula a produção de madeira industrial e de madeira sólida, na forma de chapas de madeira reconstituída e de componentes construtivos, respectivamente, e do setor da construção civil, uma vez que impulsiona o desenvolvimento de novas tecnologias construtivas mais racionais. Além disso, diminui a pressão sobre a extração de madeiras nativas.

De acordo com Nahuz (2007), a maior parte da produção de pinus concentra-se atualmente nos estados da região sul do país, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e o eucalipto é obtido principalmente em plantios nos estados de São Paulo e Minas Gerais,

segundo a mesma fonte. Haja vista a concentração de empresas com foco no sistema plataforma em madeira para a produção de edificações nos estados citados do sul e a disponibilidade de madeira de pinus na região em destaque, optou-se por priorizar a especificação dessa espécie para as peças de madeira serrada empregadas nos painéis de parede propostos por este trabalho.

Para que os componentes construtivos de pinus, especificados nesta pesquisa, possam contribuir com a segurança estrutural dos painéis propostos e do conjunto da edificação9, as peças de madeira

empregadas devem ser classificadas como de primeira categoria, conforme propõe a NBR 7190 – Projeto de estruturas de madeira (ABNT, 1997). De acordo com essa norma, as peças de madeira somente poderão ser consideradas de primeira categoria se passarem por uma classificação visual, que as atestem isentas de defeitos, e também forem submetidas a uma classificação mecânica para enquadramento nas classes de resistência especificadas na Tabela 12. A definição de classes de resistência tem como objetivo padronizar as propriedades das espécies de madeira empregadas em um projeto. Diante disso, recomenda-se que sejam utilizadas na composição dos painéis propostos peças de pinus com classificação C20 ou superior, com valores de resistência à compressão paralela às fibras de, no mínimo, 20 MPa. Tabela 12 – Classes de resistência das coníferas.

Coníferas

(Valores na condição-padrão de referência U=12%) Classes fc0k MPa fvk MPa Ec0,m MPa ρbas,m kg/m³ ρaparente kg/m³ C20 20 4 3500 400 500 C25 25 5 8500 450 550 C30 30 6 14500 500 600

Fonte: adaptado de Tabela 8, ABNT, 1997.

Por ser um material orgânico, porém, a madeira pode ter seu processo de biodeterioração desencadeado por agentes climáticos, como o intemperismo, e por organismos xilófagos, como cupins e

9 Vale ressaltar, mais uma vez, que a proposta de painéis verticais modulares apresentada nesta

pesquisa não passou por uma verificação de sua segurança estrutural, embora atenda aos critérios construtivos prescritos nos códigos e normas relativos ao sistema plataforma.

brocas. Em relação aos primeiros, detalhes construtivos como beirais e pingadeiras e componentes como membranas hidrófugas e barreiras de vapor na vedação são indicados para manter a água longe da madeira. Tratamentos químicos preservativos também são recomendados, sobretudo em regiões de clima tropical e subtropical. Os produtos preservativos mais utilizados são o Borato de Cobre Cromatado (CCB), eficaz, porém, lixiviável, e o Arseniato de Cobre Cromatado (CCA), que apresenta elevada resistência à lixiviação. O processo de impregnação do produto na madeira é feito em autoclave por vácuo-pressão. Apesar de sua reconhecida eficácia, é importante ressaltar que os tratamentos assinalados acima podem apresentar toxicidade para o ser humano, sobretudo o CCA.

Ainda, em função de suas propriedades higroscópicas, a madeira tende a trocar umidade com o ambiente, de modo a buscar uma condição de equilíbrio. Essas oscilações no teor de umidade da madeira podem acarretar variações dimensionais nos componentes estruturais, sendo mais evidentes na direção tangencial aos anéis de crescimento. Assim sendo, a especificação da madeira de pinus para as peças que compõem os painéis verticais, nesta pesquisa, deve considerar a taxa de contração tangencial apresentada pela espécie, que, segundo dados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (2013), corresponde a 6,3%. Tal ação tem o intuito de prever uma possível variação dimensional nos painéis e assim estimar a folga necessária entre peças capaz de absorver tal movimentação sem prejuízo à integridade dos elementos estruturais propostos.

Com relação às chapas estruturais – que devem aliar as funções de fechamento e de contraventamento dos painéis no sistema plataforma, foram especificadas chapas de madeira aglomerada do tipo OSB (ou de partículas orientadas).