• Nenhum resultado encontrado

8 – P OLÍTICA N ACIONAL DO M EIO A MBIENTE

A Lei Federal n.º 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências, é a principal norma ambiental depois da Constituição Federal, pois ela traz conceitos, objetivos, princípios, instrumentos, e criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, o Conselho Nacional

do Meio Ambiente – CONAMA, enfim, traçou toda a sistemática das políticas públicas brasileiras para o meio ambiente.

A Política Nacional do Meio Ambiente é o conjunto de diretrizes gerais estabelecidas por lei que têm o objetivo de compatibilizar e integrar as políticas públicas de meio ambiente dos diversos entes federados, tornando efetivo o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, contido no caput do art. 225 da Constituição Federal. E por meio ambiente ecologicamente equilibrado é possível compreender a qualidade ambiental propícia à vida das presentes e das futuras gerações.

Dentre os principais conceitos contidos na PNMA, desca-se a o conceito holístico de meio ambiente, o qual contempla, além das variáveis de ordem química, física e biológica, as intervenções humanas que influenciam as condicionantes sociais e econômicas. Segundo Yoshida (2001), tais condicionantes, não estão expressas na lei brasileira, “mas podem e devem

ser consideradas nela implícitas, mediante interpretação sistemática, conjugando-a com a definição de poluição (art. 3º., III)”.

Pode-se dizer que a PNMA tem objetivos gerais, como os estatuidos no artigo 2º e objetivos específicos expressos em seu artigo 4º. Os objetivos gerais traduzem-se na “preservação, melhoria e recuperação da qualidade

ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana ...”.

O referido artigo complementa dizendo que para atender os objetivos deverá cumprir com os seguintes princípios:

I. ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II. racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III. planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV. proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V. controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente

poluidoras;

VI. incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;

VII. acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII. recuperação de áreas degradadas;

IX. proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X. educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Por outro lado, o artigo 4º da PNMA traz os objetivos específicos ao expressar que:

Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I. à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II. à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à

qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

III. ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV. ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V. à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI. à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII. à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

A PNMA “deve ser compreendida como o conjunto dos instrumentos

legais, técnicos, científicos, políticos e econômicos destinados à promoção do desenvolvimento sustentado da sociedade e economias brasileiras”,

O objeto de estudo da PNMA estatuído no artigo 2º é a qualidade

ambiental propícia a vida das presentes e futuras gerações. Entende-se que para se alcançar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, como expresso no artigo 225 da CF/88 se faz necessário buscar mecanismos de controle para se garantir a qualidade ambiental, o que se faz com a observância dos objetivos elencados no art. 4º da lei nº 6.938/81, já que os mesmos têm por escopo a preservação, a melhoria e a recuperação da natureza e dos ecossistemas, Sirvinskas (2005).

A qualidade ambiental vai alinhar a sua política nos diversos entes da Federação, entendendo que preservar é impedir a intervenção antrópica no meio para garantir o estado natural dos recursos ambientais, melhorar é possibilitar a intervenção antrópica sempre que se fizer necessário, visando a melhoria da qualidade dos recursos ambientais, fazendo com que o manejo das espécies animais e vegetais seja realizado de forma adequada, e

recuperar, é permitir a intervenção humana buscando a reconstituição da área degradada e fazer com que ela volte a ter as mesmas características ou próximas das anteriormente existentes, Sirvinskas (2005).

A PNMA traz diretrizes para a organização da gestão estatal no que tange ao controle dos recursos ambientais e à determinação de instrumentos econômicos capazes de incentivar a adoção de práticas produtivas ambientalmente corretas, Carneiro (2003).

A PNMA objetiva ainda compatibilizar a proteção ambiental com o desenvolvimento sócio-econômico, de forma a assegurar condições para o progresso industrial, os interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. O alcance desses objetivos só será possível com base na aplicação dos princípios legais, estatuidos no artigo 2º da Política.

Outro ponto de destaque é a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, expresso no caput do art. 6º da Política, de onde pode-se compreender como sendo o conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis direta ou indiretamente pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.

De acordo com Antunes (2000), o SISNAMA constitui-se por órgãos e instituições de carater ambiental nas esferas federal, estadual, distrital e municipal, conforme definido em lei, objetivando articularem entre sí, com o objetivo de implementar e manter as políticas públicas ambientais de uma maneira conjunta.

O sistema é de fato e de direito uma estrutura político-administrativa governamental e que também é aberta à participação de instituições não- governamentais, ou seja, um sistema estruturado para facilitar a gestão ambiental no Brasil. Silva (2003) destaca que o SISNAMA é o conjunto de órgãos, entidades, normas e práticas da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de fundações instituídas pelo Poder Público, cujo orgão central é o Ministério do Meio Ambiente - MMA.

De acordo com o artigo 6º da PNMA o Sitema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, está estruturado da seguinte forma:

I. órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais; II. órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio

ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;

III. órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

IV. órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

V. Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental;

VI. Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições.

Por fim, destaca-se os instrumentos da PNMA, que estão elencados nos incisos I a XIII do seu artigo 9º. Sabe-se que são mecanismos utilizados pela Administração Pública ambiental com a finalidade de alcançar os objetivos da Política.

I. o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II. o zoneamento ambiental;

III. a avaliação de impactos ambientais;

IV. o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

V. os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI. a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII. o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII. o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;

IX. as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. X. a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser

divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA;

XI. a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;

XII. o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais;

XIII. instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros.

De acordo com Antunes (2000), os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente vão de encontro com o artigo 225 da Constituição Federal, notadamento no § 1º e seus incisos.

Para Silva (2003), os instrumentos da PNMA estão divididos em três grupos:

Primeiro Grupo: estão os instrumentos de intervenção ambiental, que são os mecanismos normativos condicionadores das condutas e atividades do homem no meio ambiente e estão expressos nos incisos I, II, III, IV,V e VI do artigo 9º.

Segundo Grupo: estão os instrumentos de controle ambiental, que são as medidas e atos adotados pelo Poder Público ou pelo particular com o objetivo de avaliar o atendimento das normas e planos de padrão de qualidade ambiental. Para o autor, essa avaliação pode ocorrer em três momentos, o primeiro deles ocorre antes da ação, que é o controle prévio por meio da avaliação de impactos ambientais e do licenciamento ambiental (inciso III e IV do artigo 9º), o segundo ocorre durante a ação, por meio de inspeções, fiscalizações e relatório (inciso VII, VIII, X e XI do artigo 9º) e o terceiro ocorre depois da ação que é o controle por meio de vistorias, monitoramento e exames, que podem ser apresentados em forma de relatório de auditoria ambiental.

Terceiro Grupo: estão os instrumentos de controle repressivos constituídos pelas medidas sancionatárias (civil, penal e administrativa) aplicáveis a pessoa física ou jurídica (inciso IX do artigo 9º).

Pode-se observar que de acordo com a estrutura pela qual a PNMA foi concebida, esta traz uma visão inovadora, onde seu objetivo é garantir a preservação do meio ambiente, o desenvolvimento sócio-econômico e a proteção da dignidade da vida humana, formando assim o tripé necessário para o desenvolvimento sustentável.

Figura 1 – Tripé do Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Adaptado pelo autor