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4. A NÁLISE E D ISCUSSÃO DOS R ESULTADOS

5.1. P RINCIPAIS C ONCLUSÕES

Através da revisão de literatura efectuada é verificado que a envolvente das organizações está em constante mudança em resultado da globalização dos negócios, do aumento da concorrência, das mudanças dos gostos dos clientes, da rápida evolução das tecnologias e das exigências para uma melhoria contínua. Esta mudança torna a envolvente organizacional mais dinâmica, heterogénea e hostil, ou seja, mais incerta. Para os gestores tomarem melhores decisões, e assim atingir os objectivos definidos, necessitam de mais informação e informação mais oportuna. É por isso que a informação de extensão larga (que inclui informação financeira e não financeira, informação relacionada com o interior e exterior da organização, e informação histórica e orientada para o futuro) e a informação oportuna ganham utilidade para a tomada de decisão. Neste contexto, as organizações têm de desenvolver os seus sistemas de contabilidade de gestão (SCG) de modo a ser fornecida aos gestores a informação que necessitam para a tomada de decisão. São por isso implementadas práticas de contabilidade de gestão (PCG) contemporâneas baseadas nas actividades e outras práticas como as medidas de avaliação de desempenho relacionadas com os empregados e clientes, a análise da cadeia de valor, técnicas de

benchmarking

e o

balanced scorecard

. Apesar disso, diversos estudos mostram que as PCG

tradicionais ainda são as mais utilizadas e consideradas as mais importantes em diversas organizações.

Como de acordo com a teoria da contingência não existe um SCG ideal nem universalmente apropriado para ser utilizado por todas as organizações e em todas as circunstâncias, é necessário ajustar as PCG a utilizar às necessidades de informação contabilística para a tomada de decisão e ao nível de incerteza da envolvente organizacional. Neste contexto, sempre que existe um bom ajuste das PCG às necessidades de informação contabilística e ao nível de incerteza há uma maior satisfação com a informação produzida e o desempenho organizacional é melhor.

É no seguimento das conclusões retiradas da revisão de literatura que se desenvolve este estudo que tem como principal objectivo caracterizar a envolvente organizacional e analisar a influência da incerteza da envolvente organizacional nas necessidades de informação contabilística e nas PCG. Para atingir este objectivo foram colocadas quatro questões de investigação. Assim, e de modo a sistematizar as principais conclusões deste estudo, de seguida apresentam-se as questões de investigação formuladas e as respectivas respostas obtidas.

Em relação à primeira questão «

Q

1

- Como se caracteriza a envolvente das grandes empresas da

indústria transformadora a operar em Portugal (em termos de dinamismo, heterogeneidade e

hostilidade) e quais as características das empresas que influenciam a incerteza da envolvente

organizacional?

» é analisada a incerteza da envolvente organizacional das grandes empresas da

indústria transformadora a operar em Portugal. É constatado que a envolvente destas empresas regista alguma estabilidade (não é dinâmica), é um pouco heterogénea e apresenta alguma hostilidade. Assim, embora fraca, a envolvente organizacional das grandes empresas da indústria transformadora a operar em Portugal regista alguma incerteza. Esta incerteza da envolvente organizacional resulta de diversos factores, nomeadamente da intensa competitividade em termos de preços, das elevadas exigências ao nível da responsabilidade social e ambiental, das restrições de ordem legal, política e económica, e da intensa competitividade ao nível da qualidade e da diferenciação dos produtos. É ainda constatado que a incerteza da envolvente organizacional é mais elevada nas empresas que produzem mais produtos do que nas empresas que produzem menos produtos, o que se pode dever ao facto destas empresas enfrentarem uma intensa competitividade quanto aos preços, qualidade e diferenciação de um maior número de produtos. Por outro lado, é verificado que o número de países de exportação não apresenta qualquer relação com a incerteza da envolvente organizacional. Ao contrário do que sugeria a literatura quando referia que as empresas que exportam para mais países têm de analisar mais variáveis e por isso enfrentam maior incerteza. Quanto à segunda questão «

Q

2

– Quais as necessidades de informação contabilística dos

decisores das grandes empresas da indústria transformadora a operar em Portugal?

», é

analisada a utilidade que os decisores das grandes empresas da indústria transformadora a operar em Portugal atribuem à informação de extensão larga (que para além da informação tradicional inclui a informação não financeira, externa e orientada para o futuro) e à informação oportuna para a tomada de decisão. É também analisada a relevância atribuída à informação financeira e à informação não financeira.

Verifica-se que os gestores das empresas analisadas atribuem bastante utilidade à informação de extensão larga para a tomada de decisão, nomeadamente à informação orientada para o futuro (informação sobre possíveis eventos futuros) e à informação não financeira relacionada com o mercado e com a produção. Também à informação oportuna é atribuída muita utilidade para a tomada de decisão, sendo importante para os decisores a não existência de demora entre a ocorrência dos acontecimentos e o fornecimento da informação, e a obtenção de relatórios de forma sistemática e regular. Deste modo, a informação de extensão larga e oportuna é cada vez mais útil para a tomada de decisão, e a informação tradicional apresenta-se como insuficiente. Pois, os decisores só poderão tomar as melhores decisões, e no tempo certo, se tiverem acesso a mais informação e de forma mais rápida.

Na revisão de literatura é constatado que a incerteza da envolvente organizacional tem impacto na utilidade da informação de extensão larga e na utilidade da informação oportuna. No caso das grandes empresas da indústria transformadora a operar em Portugal não se constata que com o aumento da incerteza da envolvente organizacional aumente a utilidade da informação de extensão larga. Por outro lado, confirma-se a existência de uma associação entre a incerteza e a utilidade da informação oportuna. Porque, sempre que aumenta a incerteza da envolvente organizacional também aumenta a utilidade atribuída pelos gestores à informação oportuna. Quanto à relevância atribuída à informação financeira e à informação não financeira, para a tomada de decisão, verifica-se que os gestores continuam a atribuir mais relevância à informação financeira do que à informação não financeira. No entanto, é atribuída bastante relevância tanto à informação financeira como à informação não financeira. Existe mesmo uma relação de complementaridade entre a informação financeira e a informação não financeira, na medida em que sempre que aumenta a relevância da informação financeira também aumenta a relevância da informação não financeira, e vice-versa.

Os indicadores financeiros considerados mais relevantes para a tomada de decisão são os resultados globais da organização, os custos de produção, os custos das vendas, a rentabilidade das vendas e os resultados por produtos. Por sua vez, os indicadores não financeiros considerados mais relevantes pelos decisores das grandes empresas da indústria transformadora a operar em Portugal são a satisfação, fidelização e reclamações dos clientes, os níveis dos

stocks

e o nível de produtividade.

Para responder à terceira questão «

Q

3

– Que PCG (tradicionais e contemporâneas) são utilizadas

pelas grandes empresas da indústria transformadora a operar em Portugal? Com que objectivos

são utilizadas? A que práticas é atribuída maior importância e reconhecida a obtenção de mais

benefícios?

», são analisados os objectivos e benefícios de utilização das PCG, as práticas

utilizadas pelas empresas, e ainda a satisfação dos decisores com a informação produzida pelo SCG. É constatado que as grandes empresas da indústria transformadora a operar em Portugal utilizam a contabilidade de gestão principalmente para controlar os custos, para a tomada de decisão estratégica, para o planeamento, para a determinação e repartição dos custos e para o fornecimento de informação para o relato anual.

As PCG mais utilizadas por estas empresas são as práticas tradicionais, com maior destaque para o método dos centros de custos, a análise dos custos fixos e variáveis, o orçamento para o controlo dos custos, a análise de variância (desvios) e a análise dos resultados por produto. Quanto às práticas contemporâneas, as que registam uma utilização superior são a análise dos resultados por cliente, as medidas de desempenho não financeiras relacionadas com os trabalhadores e com os clientes, a análise dos custos de qualidade e a análise da posição competitiva. Apesar de se verificar uma maior utilização das PCG tradicionais, as grandes empresas da indústria transformadora a operar em Portugal utilizam as práticas tradicionais e as práticas contemporâneas de forma complementar. Isto porque, sempre que se verifica o aumento da utilização de umas práticas também de verifica o aumento da utilização das outras. Quanto à relação entre as necessidades de informação de extensão larga para a tomada de decisão e a utilização das PCG contemporâneas é constatado que quanto maior é a utilidade da informação de extensão larga maior é a utilização das práticas contemporâneas. O mesmo se verifica na relação entre a utilidade da informação oportuna para a tomada de decisão e a utilização das PCG contemporâneas. Assim, sempre que aumenta a utilidade da informação oportuna aumenta a utilização das PCG contemporâneas, e vice-versa.

Em relação à importância atribuída às PCG verifica-se que as práticas tradicionais são consideradas mais importantes que as práticas contemporâneas. As práticas tradicionais mais utilizadas são as que registam também maior importância. Por sua vez, as práticas contemporâneas consideradas mais importantes são a análise de resultados por cliente, as medidas de desempenho não financeiras relacionadas com os clientes, as técnicas de

relacionadas com os trabalhadores. Também é constatado que com o aumento da importância de umas práticas (tradicionais ou contemporâneas) aumenta a importância das restantes PCG. Relativamente aos benefícios obtidos da utilização das PCG verifica-se que as grandes empresas da indústria transformadora a operar em Portugal destacam o facto de as PCG fornecerem informação relevante e oportuna para a tomada de decisão, contribuírem para a redução dos custos e para a utilização mais eficiente dos recursos. Verifica-se, também, que os benefícios obtidos aumentam com o aumento da utilização das PCG tradicionais e contemporâneas. No entanto, apenas a utilização das práticas tradicionais contribui para a determinação dos benefícios obtidos da utilização da PCG.

Na análise do SCG implementado nas empresas estudadas foi ainda questionada a satisfação com a informação produzida e com o sistema utilizado pela empresa. É constatado que a informação produzida é apresentada num formato útil, é actual e clara, e o sistema utilizado é preciso (rigoroso) na recolha, tratamento e fornecimento da informação.

Por fim, e para responder à quarta questão «

Q

4

– Como é que as características da envolvente

organizacional, as necessidades de informação contabilística e as PCG adoptadas se ajustam de

forma a garantir a satisfação dos decisores com a informação contabilística produzida e a

permitir obter um melhor desempenho organizacional?

» é analisado o ajuste congruente do SCG

tendo em consideração a satisfação com a informação produzida e o ajuste contingente tendo em consideração o desempenho organizacional.

Em relação ao ajuste congruente é constatado que as empresas que registam uma incerteza da envolvente organizacional superior e atribuem bastante utilidade à informação de extensão larga e à informação oportuna para a tomada de decisão, caso tenham associada uma elevada ênfase nas PCG tradicionais e contemporâneas apresentam uma boa satisfação com a informação produzida e com o sistema implementado. Também as empresas que registam menor incerteza da envolvente organizacional e atribuem menor utilidade à informação de extensão larga e à informação, mesmo tendo associada uma menor ênfase das PCG tradicionais e contemporâneas registam uma boa satisfação com a informação produzida e com o sistema implementado. Pois, a informação produzida por estas PCG é suficiente para dar resposta ao nível de incerteza. Porém, as empresas que registam alguma incerteza da envolvente organizacional e atribuem bastante utilidade à informação de extensão larga e à informação oportuna para a tomada de

decisão, caso tenham associada pouca ênfase nas PCG tradicionais e contemporâneas registam menor satisfação com a informação produzida e com o sistema implementado.

Quanto ao ajuste contingente é constatado que as empresas que registam maior incerteza da envolvente organizacional e atribuem bastante utilidade à informação de extensão larga e à informação oportuna para a tomada de decisão, se têm associada uma elevada ênfase nas PCG tradicionais e contemporâneas apresentam um bom desempenho organizacional. No caso das empresas que têm associada uma ênfase nas PCG tradicionais e contemporâneas menos elevada registam um desempenho organizacional menor. Verifica-se também, à semelhança do constatado na revisão de literatura, que as empresas que registam uma baixa incerteza da envolvente organizacional se têm associada uma elevada ênfase nas PCG tradicionais e contemporâneas não registam um bom desempenho organizacional.

Neste contexto, é importante que as empresas ajustem os seus SCG às características da envolvente organizacional de modo a que a informação produzida seja apropriada para a tomada de decisão no tempo certo e seja possível atingir os objectivos organizacionais.