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Um novo padrão de urbe: a aglutinação étnica por metro quadrado do mundo colonial mundo colonial

Capítulo 2. A Conquista como fundação do México: uma relação de protagonismo e inspiração entre Hernán Cortés e Carlos V

3.5. Um novo padrão de urbe: a aglutinação étnica por metro quadrado do mundo colonial mundo colonial

Após a Conquista de México-Tenochtitlan se inicia um processo de colonização das novas posses castelhanas, este processo tem como uma das suas principais marcas as encomendas, processo em que se confiava a um encomendero comunidades nativas inteiras sob seus cuidados, em troca da exploração dessa mão de obra em atividades agrícolas, mineradoras e na pecuária o encomendero deveria zelar pela educação e conversão desses indígenas.

A ideia da coroa resumidamente era, garantir a alma dessa nova gente ao mesmo tempo que desenvolveria uma nova colônia em cima de sua exploração como mão de obra, no entanto a experiencia anterior das ilhas do Caribe havia deixado algumas lições para os colonizadores, retomemos brevemente esta experiencia.

A ilha de Hispaniola (atual Ilha de São Domingos), viu o estabelecimento do trabalho forçado indígena, trouxe como consequência um declínio populacional elevado devido as mortes desses nativos, deportados de suas terras e colocados a trabalhar sob um regime totalmente diferente do que o habitual das ilhas de onde viviam. Soma-se a isso as decisões autocráticas de colonos e conquistadores a fim de manter uma oferta ativa de mão de obra atacando e destituindo populações inteiras de seus domínios e levando-os a Hispaniola, sob a possibilidade do rápido enriquecimento e ascensão social, passando até por um choque biológico expondo estas populações a uma série de novas enfermidades.

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“Numa tentativa desesperada de manter a oferta de mão-de-obra, os colonos realizaram ataques maciços às Bahamas e deportaram sua população lucayo para Hispaniola. Todavia, à medida que chegavam da Espanha novas levas de imigrantes em busca de uma fortuna rápida, a importação de mão-de-obra forçada das ilhas vizinhas não passava de um mero paliativo. A estabilidade buscada por Ovando se mostrava absolutamente elusiva, e a tentativa de impô-la por meios autocráticos provocava acerbos ressentimentos contra o governador.” (ELLIOT, 1997, p. 153)

O elevado número de vítimas indígenas dessas expropriações levou em 1518 por parte da coroa já sob o regime de Carlos V, ao estabelecimento do tráfico de escravizados negros.

“Mas em 1518, após a sua morte e com a benção dos hieronimitas, o tráfico recomeçou sob a égide da coroa, pois Carlos V concedeu a um membro de sua família borgonhesa uma licença para que enviasse quatro mil escravos para as Índias no curso de oito anos.

Este vendeu imediatamente a sua licença aos genoveses. Um novo e lucrativo comércio transatlântico se constituía, quando o Velho Mundo da África era chamado a restabelecer o equilíbrio demográfico do Novo.” (ELLIOT, 1997, p. 155)

O declínio da escravização dos indígenas de Hispaniola e do restante do Caribe, teve seu expoente em uma dura e forte crítica que levou a um longo debate acerca das definições teológicas, filosóficas e jurídicas dos indígenas, sobre a sua condição como seres humanos, tomado a cabo pelo frade dominicano Bartolomé de Las Casas.

“O declínio progressivo tanto da população nativa de Hispaniola quanto da não-branca trazida de fora produziu duas reações diversas, cada uma delas com importantes consequências para o futuro da América espanhola. Provocou, em primeiro lugar, um intenso movimento de indignação moral, na própria ilha e na metrópole espanhola[...]. O maior prosélito que conseguiu para a sua causa foi Bartolomé de Las Casas, que em 1514 renunciou a

144 sua encomenda e a seus interesses comerciais na ilha e dedicou os 52 anos restantes de uma vida turbulenta à defesa apaixonada dos súditos indígenas da coroa espanhola.” (ELLIOT, 1997, p.154) Um grande e desordenado movimento populacional forçado, de invasões muitas vezes arbitrárias e até escolhas ruins de fundação de vilas e povoações, acabaram por contribuir para a difícil missão colonial nas ilhas do Caribe, tanto para os castelhanos mas principalmente para as populações locais destas ilhas que testemunharam viram serem saqueadas a sua gente, as suas povoações e a sua ordem de compreensão e relação com o mundo.

No entanto ao chegarem no continente os invasores castelhanos dão de cara com um contingente populacional muito maior do que o imaginado conforme caminhavam em direção a México-Tenochtitlan. Neste momento as experiencias urbanísticas e militares da reconquista ibérica das mãos dos mouros teve grande serventia para a organização do Novo Mundo a partir de 1519. A primeira das heranças que destacamos da reconquista se trata da fundação de povoações, estás vistas como uma das primeiras etapas do processo de civilização.

“La fundación de ciudades, villas y poblaciones con concejo, que, como vimos, tuvo papel relevante en el proceso de reconquista llevado a cabo por los reinos cristianos en la península ibérica, se convirtió en una verdadera obsesión al tratarse de la ocupación, primero de las Antillas y después de las tierras novohispanas.

Kagan encuentra que la idea de ciudad que portaban los españoles implicados en el proceso de asimilación de las tierras americanas hacía especial énfasis en el ‘concepto aristotélico de la ciudad como locus de la civilización’.” (RUÍZ, CHRISTLIEB, 2006, p. 131) O isentivo para tal empreendimento pode ser percebido nas ordenanzas de Cortés a respeito da organização das povoações e vilas coloniais, passando também pela organização militar dos colonos e das encomendas. Tal como trás Aláman nos apêndices de suas Disertaciones:

“Ordeno y mando que cada una de las dichas villas haya dos alcaldes ordinarios y cuatro regidores, é un procurador, con escribano del consejo de ella los cuales rijan, é juzguen las causas

145 así civiles como criminales que en las dichas villas y sus términos se ofrecieren, cada uno de estas dichas personas en los que toca y ateñen al oficio de cada uno, sin se entremeter los dos alcaldes en los oficios de los regidores, ni los regidores en los oficios de los alcaldes, los cuales dichos oficiales mando y ordeno que se nombren en cada un año por el día de la Encarnación del Hijo de Dios, que es el primer día del mes de enero...” (ALAMÁN, 1844, p.120)

Neste documento datado do ano de 1525, “Sacadas como los documentos anteriores del archivo del Exmo. Sr. Duque de Terranova Y Monteleone”, Cortés escreve a respeito da fundação de duas vilas, apelando sob a pretensão de continuar a servir a sua majestade (mais uma vez), passa instruções distribuídas ao longo de 27 itens, acerca do processo de organização destas vilas, com a presença de dois alcades (prefeitos), além de todo um corpo administrativo civil, que visava beneficiar todo um tráfego comercial entre as vilas, facilitando o escoamento de produtos, o que demonstra a implementação das instituições castelhanas em áreas afastadas dos centros de maior densidade do México Central.

A realocação das populações indígenas era parte fundamental do processo civilizador, sendo levada e organizada pela coroa e repassada diretamente a Cortés, e amparada legalmente pelos efeitos das leis de Burgos de 1512, tal como Ruiz e Christlieb dissertam:

“Las leyes de Burgos permanecieron vigentes hasta la instrucción de 1523. A partir de las recomendaciones vertidas por sus teólogos y considerando la experiencia desastrosa del Caribe, la Corona instruyó a Hernán Cortés también sobre la forma en que habría de organizarse a los indios en pueblos. La instrucción volvió a responsabilizar a los colonos europeos de apartar a los indios de su antiguo modo de vida.” (RUÍZ, CHRISTLIEB, 2006, p. 133) As leis de Burgos portanto podem ser consideradas um exemplo que podemos apontar de um silenciamento das relações e dinâmicas internas presentes na região do México Central e principalmente em áreas mais afastadas. O caráter

146 de suas almas e a sua falta de civilidade continuaram a ser os dois principais argumentos utilizados para a sua dominação, negando aos indígenas uma voz histórica.

“La idea consistía en que a pesar de que los indios tenían una naturaliza monstruosa y cerril era posible civilizarlos, al organizarlos políticamente en repúblicas y trasladarlos a vivir a una puebla trazada y urbanizada sobre tierra preferiblemente llana.”

(RUÍZ, CHRISTLIEB, 2006, p. 140)

Assim como no Caribe, os castelhanos implementam a concentração destes povos em vilas, congregações, encomendas, novas cidades, e etc., como forma de civilizar através da conversão a verdadeira fé, inanimados nas documentações estas populações e atribuidos de significações muito simples e reducionistas ao compararmos com toda a experiencia social e política dos altepetl. Mesmo que os impactos da colonização por intermédio das ordenanzas e das encomendas tenham sido distintos nas áreas periféricas e centrais dos altepetl, variando bastante para cada região, desestruturando ou não o altepetl e a sua organização antiga.

“Al sacarlos de sus lugares, los colonos trataron de impedir a los pueblos mesoamericanos sus asociaciones rituales con los paisajes sagrados, para luego reorientar su religiosidad, hacia la iglesia o convento construido en el nuevo núcleo urbano.” (RUÍZ, CHRISTLIEB, 2006, p. 144)

A respeito desta simplificação e até crueldade cultural, podemos dizer, tomemos o exemplo das congregações, como grandes unidades de conversão, das quais Ruiz e Christlieb comentam o seguinte, sobre a obra de Ernesto de la Torre Villar66:

“El mismo autor concluye que la congregación “alteró las bases económicas de la sociedad indiana, destruyó muchas de las formas de relación social y política existentes en la época prehispánica,

66 Las congregaciones de los pueblos de indios. Fase terminal: aprobaciones y rectificaciones, 1995.

147 diluyó nexos de parentesco, de relaciones étnicas, de afinidades culturales, idiomáticas, religiosas, para constituir un amplio conglomerado controlado, vigilado y dirigido por el grupo dominador.” (RUÍZ, CHRISTLIEB, 2006, p. 144)

3.6. As novas instituições, o impacto colonial nas zonas periféricas dos