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CAPÍTULO 6 – ESTRUTURA DO CAPIM MOMBAÇA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

6.3.2 Padrão de desfolhação dos animais

A probabilidade de desfolhação de folhas individuais, definida como a relação entre o número de lâminas foliares consumidas e o número total de lâminas disponíveis, apresentou redução linear com o incremento em altura do dossel (Figura 6.2). Essa variável apresentou relação negativa com a massa de forragem, como relatado por Pontes (2001), que observou maior probabilidade de desfolhação nas menores alturas de dossel avaliadas. Esta relação direta entre lotação/oferta e a desfolhação de unidades vegetativas individuais está muito

bem descrita em Wade (1991), onde é demonstrado o papel preponderante da densidade de animais, mesmo em relação a diferentes métodos de pastejo, na determinação dos padrões temporais da desfolhação.

FIGURA 6.2 - Probabilidade de desfolhação de lâminas foliares expandidas. Pinhais, 2002.

O comportamento observado para os índices de seletividade passiva e ativa (Figura 6.3) demonstra que os padrões de desfolhação das lâminas foliares expandidas e em expansão alteraram-se, em resposta às diferentes alturas do dossel. Nota-se a forte preferência pelas folhas em expansão, preferência essa que diminui à medida que a altura do dossel aumenta. Como demonstrado pelo índice de seletividade passiva quando a altura do dossel atinge 85 cm, a relação entre as lâminas foliares desfolhadas em expansão e expandidas reduz-se abaixo do valor de referência 1, valor este que, por definição, significa a inexistência de seletividade. A partir de então, as lâminas foliares expandidas passaram a serem proporcionalmente mais consumidas que as em expansão, demonstrando a preferência passiva manifestada pelos animais, pois, na medida que há um incremento na altura do dossel, as lâminas em expansão tornam-se cada vez menos acessíveis em relação àquelas expandidas

Analisando a relação entre a seletividade ativa e a altura do dossel, verifica-se que, mesmo estando cada vez menos acessíveis, as lâminas foliares em expansão ainda se mantiveram preferidas, uma vez que a curva-resposta posicionou-se sempre acima do valor

A ltura s d o d osse l (cm ) 40 60 80 100 120 140 P ro b ab ili da d e d e d e s fo lh a ç ão (% ) 0,1 2 0,1 4 0,1 6 0,1 8 0,2 0 0,2 2 0,2 4 0,2 6 0,2 8 0,3 0 0,3 2 y = 0,369606 - 0,001555 x R2 = 0,5560 P = 0,008

de referência 1. A partir da altura do dossel de 112 cm, há uma tendência de estabilização dos valores de seletividade ativa, ponto a partir do qual o tipo de lâmina foliar escolhida parece ter sido selecionada de maneira muito próxima da casual, mediada pela pronta acessibilidade das mesmas. Esse comportamento dos animais traduziu-se por um pastejo periférico nas touceiras, uma vez as lâminas foliares externas estariam mais acessíveis aos animais. Em linguagem coloquial, para fácil assimilação, denominou-se este fenômeno de “pastejo tipo mingau”, em alusão ao “pastejo tipo espaguete” descrito por Carvalho et al. (2001).

FIGURA 6.3 – Índices de seletividade ativa e passiva das lâminas foliares, referentes às alturas de 60, 80, 100, 120 e 140 cm do dossel em capim Mombaça. Pinhais, 2002.

Trabalhando com pastagem de azevém anual (L. multiflorum), Pontes (2001) observou que as lâminas foliares mais jovens foram mais consumidas que as mais velhas, uma vez que as primeiras apresentaram crescimento mais vertical e, portanto, estavam mais acessíveis à apreensão pelos animais.

Houve redução na intensidade de desfolhação de lâminas foliares, com o aumento em altura do dossel, a qual variou de 54% a 35 % (Figura 6.4). As prováveis razões para esse fenômeno advêm do maior consumo de lâminas foliares expandidas, de maior idade e, portanto, mais fibrosas (Palhano e Haddad, 1992) e mais rígidas, condição que, segundo Flores et al. (1993), pode se constituir em um efeito negativo à apreensão da forragem e

Alturas do dossel (cm ) 40 60 80 100 120 140 Ín d ic e s d e S e le ti v idad e P a ss iv a e A ti v a 0 1 2 3 4 5

Índice de Seletividade Ativa y = 11,535 - 0,1793 x + 0,0008 x2

R2 = 0,8155 P = 0,0142 Índice de Seletividade Passiva y = 10,76 - 0,1819 x + 0,0008 x2 R2 = 0,8250 P = 0,0103

também à proporção de tecido foliar removido em cada bocado (Illius et al., 1995). Além disso, a própria relação entre a massa de lâminas e a taxa de lotação instantânea define, de forma fundamental, a intensidade de remoção das lâminas foliares.

FIGURA 6.4 – Intensidade de desfolhação de lâminas foliares expandidas em capim Mombaça. Pinhais, 2002

6.4 CONCLUSÕES

A estrutura de dossel do capim Mombaça influencia o padrão de desfolhação dos animais em pastejo, uma vez que o comprimento das lâminas foliares e sua acessibilidade são marcadamente afetadas pela altura do dossel.

A expressão de seletividade pelos animais é modificada pela altura do dossel, à medida que, a partir da altura de 85 cm, o reduzido acesso às lâminas foliares em expansão induz à opção por lâminas foliares expandidas. Porém, a preferência pelas lâminas em expansão, de melhor valor nutritivo, mantém-se positiva ao longo das alturas do dossel avaliadas.

A partir da altura do dossel de 112 cm, a escolha pelas lâminas foliares em expansão se aproxima da casual, sendo função de sua acessibilidade e ocorrência.

Alturas do dossel (cm) 40 60 80 100 120 140 I n te n s id a de d e d e s fo lh a ç ão d e lâ m in a s fo li a re s e x p a nd ida s (% ) 20 30 40 50 60 70 y = 80,866791 - 0,370979 x R2 = 0,6076 P = 0,004

O aumento do comprimento das lâminas foliares em geral, associado ao maior consumo proporcional de lâminas foliares expandidas, de mais difícil apreensão, tem como conseqüência a redução na intensidade de desfolhação das mesmas.

Com o incremento na altura do dossel, a utilização das touceiras passa a ser periférica, passando os animais a obter da pastagem dieta de qualidade, provavelmente, inferior, reflexo da maior ingestão de lâminas foliares expandidas, de menor valor nutritivo.

6.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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