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Pagamento dos serviços dos ecossistemas (PES) – conceito e alguns exemplos

No documento Ângela Maria Ribeiro da Silva Morais Abreu (páginas 31-35)

Capitulo 2. Sustentabilidade

2.1 Serviços gerados pelos ecossistemas o seu valor e importância

2.1.2 Pagamento dos serviços dos ecossistemas (PES) – conceito e alguns exemplos

O conceito de Payments for Environmental Services, surgiu com Wunder em 2005, que o definiu como sendo uma operação voluntária, em que o comprador paga por um serviço gerado pelo ecossistema a um provedor do mesmo, isto se e só se, este se comprometer a assegurar a disponibilidade desse serviço, o qual deverá estar bem definido. Esta definição foi adoptada pela “The International Union for Conservation of Nature- UICN”, para definir Payments for Ecosystem Services (PES) (Huberman & Gallagher, 2008). O PES consiste deste modo num acordo, em que os beneficiários dos serviços dos ecossistemas pagam para a sua conservação e uso sustentável (WWF, 2007). O PES pode criar, devido à procura, uma força de mercado necessária para a correcção de desequilíbrios que prejudicam a biodiversidade e impedem o desenvolvimento sustentável (Communautés Européennes, 2008). Esta política é uma forma de compensar os indivíduos ou as comunidades que se disponibilizem a realizar acções que permitam o aumento da prestação de serviços ambientais, podendo ser considerada como um instrumento de incentivo à mudança de comportamento. Contudo, este instrumento só é considerado rentável se conseguir proporcionar benefícios ambientais a menores custos relativamente a outras políticas (Kelsey et al., 2008).

Wunder (2005) destacou quatro serviços prestados pelo ambiente e apresentou um mecanismo económico que poderia permitir a valorização destes serviços. Os quatros serviços consistem no sequestro de carbono, protecção da biodiversidade, protecção das bacias hidrográficas e por último a beleza da paisagem. Mais tarde o mesmo autor propôs que as entidades com interesse por estes serviços pagassem aos indivíduos ou empresas que beneficiam da exploração do bem ou serviço produzido. Este conceito tem sido aplicado em vários países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, no entanto a sua abordagem tem apresentado características e resultados diferentes, o que se deve ao facto de se tratar de um conceito híbrido (Wunder et al., 2008). Também as empresas têm aplicado este instrumento, pois mudanças nos ecossistemas podem alterar a qualidade e a quantidade dos seus serviços prestados, traduzindo-se em perdas económicas. Por exemplo: a empresa Vitteel estava em risco de perder o rótulo de água mineral natural, pois nas zonas envolventes às nascentes, a prática agrícola tinha sido intensificada o que levou ao aumento de poluentes como nitratos e nitritos. Para evitar consequências económicas negativas para a empresa, esta pagou aos agricultores da área da bacia-hidrográfica para adoptarem métodos de agricultura mais sustentável (WBCSD, 2008).

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Em Portugal, pode dizer-se que o conceito de PES foi aplicado implicitamente, devido ao protocolo de Quioto e como forma de mercadologia para reforçar a imagem da responsabilidade social. A empresa Terra Prima assinou com a EDP um acordo que consiste no sequestro de 49 000 t de carbono pelo valor de meio milhão de euros durante o período de sete anos (Martins, 2009). Este contrato é pioneiro ao nível Europeu, sendo o carbono armazenado através de pastagens permanentes de leguminosas, terrenos agrícolas, de sementeira directa, e áreas florestais, onde devido ao aumento de matéria orgânica é possível aumentar a concentração de carbono no solo (Rodrigues, 2007). Por exemplo, o aumento de matéria orgânica no solo a uma taxa de 0,2% ano, nos campos de pastagens, significa retirar cinco toneladas de CO2 da atmosfera anualmente, no período de dez anos (Coelho, 2007; Rodrigues, 2007). Já a sementeira directa pode variar entre 3 a 7 toneladas ano de CO2. Os olivicultores também poderão vir a ganhar, com o sequestro de carbono, se a união europeia aceitar o olival como um sumidouro natural de carbono (Pereira, 2012). Contudo só se podem candidatar projectos que não estejam, por exemplo, dentro do Plano Nacional de Alterações Climáticas (PNAC) e que constituam um novo projecto (Rodrigues, 2007).

Também no Kenya está a ser implementado um projecto agrícola, com base na adopção de práticas sustentáveis, como a cobertura e o enriquecimento do solo, através da adição de composto, fertilizantes orgânicos e plantação de plantas que permitam enriquecer o solo. O projecto está dirigido a pequenos agricultores e tem como fim obter uma maior produtividade e uma renda adicional proveniente PES. Para tal é assinado Contrato de Compra de Redução de Emissões (ERPA), sendo que a receita deste serviço traduz-se numa receita adicional para os agricultores (The World Bank, 2010).

Contudo num estudo realizado por Wunder et al. (2008) onde se comparou diferentes aplicações do PES, com o objectivo de observar o seu sucesso. Chegou-se à conclusão que o seu modo de aplicação é diferente consoante os casos e que a interpretação ou aplicação de conceitos básicos de ecologia e socioeconómica, bem como as características institucionais, tem um grande impacto nestas diferenças. Uma das limitações deste conceito reside no financiamento ambiental e na disponibilidade de pagar pelo justo valor. Apesar dos autores considerarem que se trata de uma inovação, concluem que este instrumento ainda não constitui um processo de igual ganho para ambas as partes, havendo desigualdade entre os benefícios. A visão do PES promete ser mais eficiente na conservação, se os serviços e produtos dos ecossistemas forem avaliados de forma justa e a conservação dos mesmos seja cumprida ao longo do período temporal como estabelecido.

A avaliação dos serviços gerados pelos ecossistemas para toda a biosfera foi realizada por Costanza et a l., 1997, tendo obtido o valor de 33 mil milhões de dólares. Para tal os autores assumiram um modelo de equilíbrio parcial,

avaliando cada serviço de forma independente, o que lhes permitiu

realizar a adição dos mesmos, assim foram ignoradas as interdependências entre serviços.

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concluíram que deveriam ser incluídos no PIB. Actualmente existem outros projectos que pretendem quantificar o capital natural, The Natural Capital Project, que tem como objectivo determinar este valor de forma clara, prática e credível. Este projecto está a ser desenvolvido pelas seguintes instituições, Stanford University's Woods Institute for the Environment, University of Minnesota's Institute on the Environment, The Nature Conservancy, e World Wildlife Fund. O instrumento em construção é designado por InVest – (Integrated Valuation of Ecosystem Services and Tradeoffs) e contém um software que permite a gestão integrada da avaliação de serviços dos ecossistemas, através da avaliação e mapeamento do capital natural. Permite também análise entre vantagens e desvantagens associadas a diferentes alternativas, demonstrando quais as melhores áreas de investimento em capital natural de acordo com o seu melhor desenvolvimento. O InVest é um instrumento para a compreensão científica e económica dos recursos naturais de modo a possibilitar melhores decisões de investimento (Natural Capital Project, 2011).

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No documento Ângela Maria Ribeiro da Silva Morais Abreu (páginas 31-35)