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Pagamento efetuado pelos lavradores, não proprietários, aos donos da terra Na década de J 950 era comum a cobrança desse arrendo mesmo na ausência de contratos formais Os arrendatários, se comprometiam,

Organização e resistência dos trabalhadores na luta pela terra

16 Pagamento efetuado pelos lavradores, não proprietários, aos donos da terra Na década de J 950 era comum a cobrança desse arrendo mesmo na ausência de contratos formais Os arrendatários, se comprometiam,

verbalmente, em pagar uma porcentagem anual do produto final de seu trabalho ao proprietário da terra trabalhada. Nos casos de grilagem o suposto dono da terra obrigava os lavradores a lhes pagar o "arrendo" de todo o perfodo em que haviam permanecido na terra. A cobrança era feita por capangas e a violência tisica, quase sempre, era o método de convencimento.

17 A divisão geodésica de imóvel rural, ou simplesmente divisao

de imóvel rural, constitui projeto no qual se tem

por missão propor a subdivisão de um imóvel pertencente a mais de um proprietário, em partes proporcionais aos direitos destes.

( ... ) A grilagem é sempre feita na cidade e com aprovação do governo,posseiro nunca tem direito e nem lei que nos socorre. Mesmo assim, nós queria acreditar, que ainda, tinha gente em Goiânia que havia de ver, que nós tínhamos razão. Então nós resolvemos, procurara a lei e o governo e o Porfirio tomou logo a dianteira. Foi assim, que tudo começou e nós acabamos entendendo, tudo muito bem, quem é o governo e a lei. (Depoimento do camponês D, apud CARNEIRO, 1988, p.11 O).

Porfirio tenta falar com o Governador Pedro Ludovico. Não conseguindo audiência e descrente com as promessas do Departamento de Terras regressa a Trombas e expõe aos companheiros seu desejo de ir ao Rio de Janeiro. Os posseiros recolhem entre si dinheiro suficiente para as passagens e sua estadia no Rio de Janeiro. Zé Profiro, como era chamado por seus pares, se dirige à capital Federal em 1952, sendo recebido por Getúlio Vargas. Do Rio volta com a promessa do Presidente de que a terra pertence a quem nela trabalha.

Na fase inicial da luta de Formoso, sua atuação foi caracterizada por procurar o equacionamento por via legal, com várias tentativas de diálogo com os fazendeiros e autoridades do Estado, chegando inclusive a ir ao Rio de Janeiro falar diretamente com Getúlio Vargas.( CUNHA, 1994, f. 206).

[ ... ] Uma coleta de fundos foi então realizada entre os camponeses e algumas semanas mais tarde, [ ... ] Porfirio desembarcou na estação Pedro Il, ( ... ] e tanto fez que conseguiu ser recebido pelo Presidente. Getúlio Vargas ouviu pacientemente as queixas daquele camponês vindo de tão longe e mandou protocolar a carta que Porfirio lhe entregou. Muitos anos depois, em meio a uma reunião de posseiros, Porfüio tirava cuidadosamente de uma surrada carteira de couro a papeleta com as armas da República e o timbre do Catete, onde constava o seu nome e o. número de seu processo, e dizia: "O Presidente me disse que as terras devolutas pertencem aos posseiros. Por isto nós devemos lutar para defender o que é nosso." (ABREU, 1985, p. 122). Porém, os grileiros não cessam a pressão sobre os posseiros. As notícias circulam e, em Goiânia, vai se espalhando entre estudantes, advogados, jornais, vereadores, deputados e entidades diversas ligadas ou não ao ideário de esquerda. Muitos simpatizam e apóiam a causa dos posseiros. Jornais publicam artigos em favor de sua causa. Debates acirrados acontecem na câmara dos deputados. Alguns estudantes abandonam seus cursos e se juntam aos posseiros e outros fundam associações de apoio com o recolhimento de recursos para a batalha (remédios, armas, alimentos), estabelecendo uma rede de solidariedade entre Goiânia e Uruaçu - a capital do Estado e a região conflagrada.

Um eficiente aparelho de agitação foi montado. Walter Valadares, combativo líder secundarista que deixou os estudos e um bom emprego na Assembléia Legislativa para lutar como voluntário ao lado dos posseiros,

chegou de Goiânia com um mimeógrafo doado por uma organização estudantil. ( ... ).(ABREU, 1985, p. 71).

[ ... ] Eu era secretário do Partido em Goiânia e me perguntaram se eu não queria ir para a região. Aceitei a tarefa e fomos até Anápolis (55 km de Goiânia), onde um companheiro tinha um caminhão que nós enchemos de armas e munições. Logo após minha chegada, começamos a falar para os camponeses da necessidade de nos prepararmos para enfrentar os jagunços. No início, tínhamos uma visão romântica, pensávamos apenas em tennos de jagunços, então estava tudo bem, tudo era bom [ ... ). (WALADARES apud NUNES , 2006 ).

Foram feitas campanhas para receber recursos, tendo como finalidade a compra de armas e os pontos de apoio do PCB foram sendo mobilizados de toda forma para a luta dos posseiros. Apoios que, com o desenvolvimento da luta e a intensificação da repressão, extrapolaram a esfera estritamente partidária, sendo cooptados até parlamentares na classe política de oposição ao governo de Goiás e, com os acontecimentos na região, a imprensa regional e nacional também foi sendo despertada e provocada a debater o assunto. (CUNHA, 1994, f. 152).

O processo de grilagem não se efetivou, p01s o procurador geral do Estado Dr.

Everardo de Souza contestou junto ao Tribunal de Justiça o Registro Torrens18 e apelou da sentença dada pelo Juiz de Uruaçu que homologara a divisão dos imóveis.

O registro Torrens não é veículo de expropriação de bens alheios. Não se presta a acobertar "grilos" ou aquisições fraudulentas em prejuízo de legítimo titular de direito.

Pelos objetivos a que coluna e pelas conseqüências que dele resultam, o sistema Torrens dever ser entendido e rigorosamente aplicado para que não se converta em fonte de enriquecimento ilícito[ ... ]. (ABREU, 1985, p. 42).

O Poder Judiciário do Estado de Goiás não defendia, diretamente, os direitos dos posseiros, mas ao fazer a defesa pela manutenção das terras como pertencentes ao Estado , acaba por defender de forma indireta seus interesses.

Ora os requerentes assentam a procedência do seu título em simples cessões de direitos que obtiveram de supostos herdeiros de Caetano Cardozo de Morais, que teria falecido nos idos de 1801, há, pois, 153 anos atrás, e cujo inventário fizeram instaurar em Uruaçu, sem qualquer prova legal das