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3. CAPÍTULO II QUALIDADE E QUANTIDADE DE ÁGUA EM DUAS

4.4.3. Pagamentos por Serviços Ecossistêmicos Aplicados a Água

Uma estratégia de convencimento para a implementação de medidas conservacionistas é estabelecer o custo ambiental da degradação ou valorar os serviços ecossistêmicos. Partindo-se da hipótese de que a cobertura florestal é o principal responsável por manter a quantidade e qualidade da água e do solo na bacia e que existem áreas com diferentes tipos de uso e cobertura vegetal, pode-se estabelecer uma relação de causa-efeito entre uso e qualidade da água e do solo, e desta forma, valorar o serviço ambiental das áreas de florestas e/ou custo de oportunidade. Nas situações onde é fácil identificar os beneficiários diretos desses serviços, surge o potencial de se estabelecer um sistema de Pagamentos por Serviços Ecossistêmicos (PSE): os beneficiários (demandantes) pagam para os fornecedores (ofertantes) o custo de oportunidade dos serviços, sendo estes agentes que atuam na conservação ambiental (Geluda & Young, 2005).

Segundo Bishop & Mills (2005) cada vez mais se associam as florestas uma diversidade de serviços ambientais oferecidos nas bacias hidrográficas, os quais incluem:

a) A regulação do ciclo hídrico da água, quer dizer, a manutenção da vazão durante a temporada da seca e o controle para evitar enchentes;

b) A conservação da qualidade da água, isto é, a redução ao mínimo, das quantidades de sedimentos carreados, nutrientes (por exemplo, de fósforo e nitrogênio), substancias químicas e, da mesma forma, a diminuição da salinidade;

c) O controle da erosão do solo e do assoreamento dos rios;

e) Manutenção dos habitats aquáticos (por meio da redução da temperatura da água através da sombra sobre rios ou córregos e o fornecimento de alimentos para muitas espécies aquáticas).

O primeiro passo para a criação de um PSE aplicado a recursos hídricos é a identificação de que pelo menos o serviço ambiental está beneficiando algum agente interessado. Este agente deve ter uma disposição a pagar voluntária (valoração contingente) pela manutenção do fornecimento do serviço ou precisa existir algum instrumento legal impondo contrapartida. Porém, a implantação de sistemas de PSE não é simples, existindo diversos pré-requisitos e etapas a serem superados (King et al., 2005). É necessário evidenciar a relação de causa e efeito entre o fornecimento ou a melhoria de um serviço e um determinado tipo de uso do solo para se confirmar quem está fornecendo o serviço – muitas vezes essa relação é imprecisa (Landell- Mills & Porras, 2002).

Tais serviços são suficientemente importantes para os consumidores de água e para os habitantes das partes baixas da bacia. Com isto, tenta-se justificar a conservação ou a plantação de florestas, principalmente, em terras ribeirinhas (Myers, 1997).

Lamentavelmente, tais afirmações não se fundamentam em cálculos ou medições detalhadas dos impactos de alterações florestais fora do local. Os raros estudos detalhados existentes revelam que os impactos das florestas na quantidade e qualidade da água, na erosão, no assoreamento e nos níveis do lençol freático, bem como na produtividade aquática, dependem de muitas características especificas da área, incluindo: o terreno, a composição do solo, as espécies arbóreas, a associação entre vegetação, o clima e os regimes do manejo (Calder, 1999).

A legislação ambiental brasileira referente à Lei 9433/1997 dos recursos hídricos,como visto, é baseada nos princípios usuário-pagador e poluidor-pagador, que aceitam a alternativa de pagamento em caso de dano. Todavia, tem se delineado no cenário de discussões sobre o gerenciamento de recursos hídricos, o surgimento de um novo conceito, o principio-protetor recebedor ou, ainda, provedor – recebedor, que seria complementar aos outros dois princípios (Faganello, 2007).

O principio poluidor-pagador, na medida em que induz os agentes poluidores a diminuírem os seus despejos ao corpo receptor para evitar a cobrança (e, assim, internalizando os custos de controle da poluição), constitui no principal princípio de gestão de recursos hídricos no Brasil. O estabelecimento de um preço para a utilização do meio receptor em sua capacidade assimilativa de resíduos força os agentes poluidores a uma moderação no uso, racionando o recurso ambiental entre as diversas utilizações, ao mesmo tempo em que possibilita assegurar o seu uso sustentável a longo prazo (Zorzi et al., 2004).

O princípio protetor-recebedor prega o pagamento por serviços ecossistêmicos (PSE) relacionados com clima, biodiversidade e recursos hídricos. De acordo com esse princípio do protetor-recebedor, o agente público ou privado que protege um bem natural em beneficio da comunidade, devido à praticas que conservam a natureza, deve receber como incentivo pelo serviço de proteção ambiental prestado. São exemplos de tais benefícios: a compensação – a transferência de recursos financeiros dos beneficiados de serviços ambientais para os que, devido a praticas que conservam a natureza, fornecem esses serviços; o favorecimento na obtenção de crédito; a garantia de acesso a mercados e programas especiais; a isenção de taxas e impostos e a disponibilização de tecnologia e capacitação, o pagamento pelo custo de oportunidade, reflorestamentos, entre outros (Faganello, 2007).

A Lei Federal no 9.985/2000, no seu artigo 47, traz em seu bojo a figura do protetor- recebedor, prevendo o pagamento por serviços ecossistêmicos prestados por unidades de conservação.

Art. 47. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário da proteção proporcionada por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica.

Os custos de oportunidade são mensurados levando-se em conta o consumo de bens e serviços que foi abdicado. Por exemplo, restrições ao uso da terra em unidades de conservação impõem perdas de geração de receita, visto que atividades econômicas são restritas in-situ. A renda líquida abdicada pela restrição destas atividades é uma boa medida do custo de oportunidade associado com a criação desta unidade de conservação ou restrição do uso do solo na atividade agropecuária. O uso de renda líquida decorre do fato de que a renda bruta destas atividades sacrificadas tem que ser deduzida dos seus custos de produção, que também restringem recursos para a economia. De fato, a renda líquida significa a receita líquida provida pelas atividades sacrificadas e representaria, assim, o custo de oportunidade da conservação (Motta, 1998).