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predisposição estética e psicológica, compromissados com o desenho de estruturas únicas e permanentes, e seus esforços são direcionados meramente

Capítulo 3 Paisagens Americanas

Como vimos na conclusão do capítulo 2, a investigação de uma arquitetura apropriada para o domínio da linguagem tecnológica de Reyner Banham o levou a uma “outra arquitetura”, Une Architecture Autre. Com potencial de fornecer uma saída para o impasse da arquitetura moderna e a tecnologia na segunda metade do século XX, essa modalidade de expressão arquitetônica encontrou um topos ideal para a sua reprodução nos Estados Unidos da América, onde a apropriação da tecnologia se daria de maneira supostamente mais democrática, popularizada, desatrelada dos meios intelectuais e das altas rodas sociais; onde a expressão vernacular de design e arquitetura tomou uma importância não só de vanguarda nos processos de criação de novos espaços e formas, mas também no grande impacto desses elementos na construção de um novo estilo de vida urbano. Se Reyner Banham elegeu a América como este lugar, não foi por razões puramente acadêmicas, como vimos no capítulo 1. Este capítulo tratará de abordar a relação indefectível entre arquitetura popular e tecnologia, através das narrativas de Reyner Banham sobre as paisagens construídas, ou conquistadas pelo homem, em território americano1.

Foram eleitas quatro paisagens arquetípicas do contexto americano: as ruínas do parque industrial americano; as paisagens do deserto do meio-oeste americano; as megaestruturas de transporte, das quais as autopistas são as protagonistas; as múltiplas facetas do subúrbio residencial americano; Através do estudo das paisagens culturais americanas e dessas “tipologias” especíicas, pretende-se rastrear a igura do povo que construiu essas estruturas, objeto da última seção deste capítulo.

O mesmo arquétipo do cidadão americano, pioneiro, embebido no radical Futurista, desbravador, e por vezes cruel conquistador do território previamente ocupado, atraiu a atenção de Banham desde Theory and Design in the First Machine Age2.

Ainda preso ao vocabulário da historiograia moderna, porém com a predisposição a dela se desvencilhar, Banham elege (como vimos) Buckminster Fuller e a postura

1 Muito do amadurecimento dessas questões se deve à interlocução com os professores americanos Paul Groth, Gwendolyn Wright e Gabrielle Esperdy, durante a viagem de pesquisas em 2012. As transcrições da entrevista com a professora Gabrielle Esperdy encontra-se como anexo dessa dissertação.

2 Banham escreve, em 1980: “Twenty years ago, when this book was irst written, most of the beliefs on which the Modern Movement had been based were still standing and in good order, and what appeared to be a second machine age as glorious as the irst beckoned us into the ‘Fabulous Sixties’ – minituarization, transistorization, jet and rocket travel, wonder-drugs and new domestic chemistries, television and the computer seemed to offer more of the same, only better. What had been promised by the First Machine Age, but never properly delivered, now seemed to be at hand.”

Tradução: Vinte anos atrás, quando este livro foi primeiramente escrito, muitas das crenças nas quais o Movimento Moderno foi baseado ainda se mantinham e em boa ordem, e o que pareceu ser a segunda era da máquina, tão gloriosa como a primeira, acenou a nós nos “Fabulosos 60’s” – minituarização, transistorização, viagens de jatos e foguetes, drogas-maravilha e novas químicas cosméticas, televisão e o computador pareceram oferecer mais do mesmo, somente melhor. O que tem sido prometido pela Primeira Era da Máquina, porém nunca cumprido, agora parece estar à nossa mão.

Todos os fenômenos listados acima são obra de atitudes culturais americanas. O excesso, a apropriação da tecnologia para o prazer e a domesticação da tecnologia são os principais motes do discurso, identiicando a diferença de postura para com a Sachlichkeit alemã da primeira parte do século XX.

Futurista de Marinetti e Sant’Elia como os pioneiros da formação da Architecture autre3.

Mais tarde, em The Architecture of the Well Tempered Environment, Banham aborda os fenômenos da cultura construtiva americana que permitiram uma maneira alternativa de ocupação do espaço e controle do ambiente humano. O sistema de controle

climático por consumo de energia e o condicionamento de ar se reproduziram na cultura americana, através os arranha-céus, casas, e automóveis. É a primeira linha de abordagem de Banham da igura do construtor das paisagens modernas, como uma população dotada de uma cultura construtiva suicientemente coerente para ser objeto de pesquisa. Encarada por Banham como responsável pelo projeto coletivo da paisagem, a população americana – e não somente seus arquitetos – foi objeto de pesquisa, bem como seus hábitos, cultura urbana e posicionamento a respeito da arquitetura moderna, apropriação de tecnologia e consumo de massa.

A propagação desse meio de ocupação do espaço, baseado no consumo expressivo de recursos naturais e no consumo de massa se difundiria pelo território americano, e permitiria a ocupação de territórios anteriormente inabitáveis pelo homem4. A ocupação americana atravessou o deserto do meio-oeste americano e

colonizou as últimas fronteiras junto à costa do Oceano Pacíico. Em Los Angeles, essa cultura construtiva encontrou, em diversos aspectos, suas apoteoses em uma época de exuberância da economia nacional e costumes eminentemente americanos.

“Los Angeles é o meio-oeste elevado à última potência…”5

Los Angeles: the Architecture of Four Ecologies tornou-se na comunidade

acadêmica de arquitetura um exemplo e anti-exemplo de leitura da cidade moderna: em sua criatividade na manipulação dos termos originalmente apresentados por Anton Wagner6, Banham teceu não só uma crítica ao pensamento urbanístico moderno

e reconstruiu o conceito de ecologia humana, bem como contribuiu para a formação de uma escola de estudos da paisagem cultural, centrada nas faculdades de Berkeley e UCLA7, na qual desde os anos 1950 John Brinckerhoff Jackson trabalhou para sua

formação8. Em Scenes of America Deserta, o estudo da paisagem cultural se mescla

3 O termo em si surge posteriormente ao livro, publicado em 1960. Apenas em 1964, na publicação New Brutalism: ethic or aesthetic?

4 Ver em especial o capítulo “Towards Full Control”, em The Architecture of the Well Tempered Environment, pp. 171-194

5 Reyner Banham apud. Michael Sorkin, “Explaining Los Angeles”, in Exquisite Corpse: writing on buildings. London: Verso, 1994. Texto original: “Los Angeles is the Middle West raised to the lash-point... 6 A obra do Geógrafo alemão, conhecido nos círculos da UCLA como “aquele que percorreu Los Angeles a pé” inluenciou a estrutura de narrativa de Reyner Banham. Die Zweimillionenstadt von Sudkalifornien estabeleceu o conceito de “ecologia humana” que amparou a estruturação da narrativa de Banham. Ver também o estudo historiográico de Anthony Vidler, Histories of the Immediate Present (2008), no qual são apresentadas outras fontes literárias de Banham para sua obra sobre Los Angeles.

7 Ver o Capítulo 1 desta dissertação para maiores detalhes da trajetória acadêmica de Banham. 8 Em entrevista com o prof. Paul Groth, da Universidade de Berkeley e pesquisador do legado de J.

ao confronto com as fronteiras da paisagem humana e os limites claros impostos pela natureza, e culmina no estudo antropológico do homem que insistentemente mantém sua agenda de colonização do deserto. Banham descreve as diversas facetas da ocupação moderna do deserto, citando os arquitetos Frank Lloyd Wright, seu discípulo Paolo Soleri, bem como iguras insólitas de nômades, desert freaks e eremitas reclusos em cavernas, e culturas indígenas ocupantes das escarpadas e cânions de Mesa Verde, as mesmas estudadas por Aby Warburg na virada do século XIX ao XX9. Em uma de suas últimas produções literárias, A Concrete Atlantis, Banham

retorna ao tema da arquitetura moderna, desta vez para observa-la de um ponto de vista diametralmente oposto: quebrando o mito da estética vernacular industrial, Banham desvela o processo de apropriação da imagem da máquina original do parque industrial americano por parte dos pioneiros modernos. Le Corbusier, Erich Mendelsohn e Walter Gropius, contudo, são abordados apenas em sua obra intelectual, pois os protagonistas agora são os arquitetos e engenheiros americanos responsáveis pela difusão de tipologias industriais que formaram o ideário moderno sobre a estética produtiva: o silo de grãos e a fábrica de concreto, tijolo e vidro, as

Daylight Factories10.

Uma das grandes contribuições de Banham para a historiograia é apontar para a necessidade e os meios de se estudar as paisagens construídas pelo homem. Sempre mantendo uma postura clara de historiador da arquitetura, Banham analisa os objetos, ruas, casas, celeiros, carros, fábricas, pontes, píeres e viadutos, não com a postura tradicional do antropólogo ou do geógrafo: conforme airma Gabrielle Esperdy, para Banham não se trata de investigar os espaços como receptáculos das atividades humanas, mas de observar os objetos em si, como foram produzidos, e como são apropriados, com os critérios próprios da ciência da arquitetura11. A cada

publicação, ica cada vez mais claramente delineado o peril do homem americano, responsável pela construção dessas paisagens. Buscaremos encontrar o peril desse indivíduo, desse cidadão americano de múltiplas origens e modos de construir seu próprio espaço, produto e reprodutor do mercado de consumo de massa que permeou o modo de vida americano por todo o século XX, de modo a entender quais foram as ferramentas criadas por Banham para ampliar o vocabulário da arquitetura moderna, em sua experiência de mais de 20 anos se debruçando sobre o conjunto construído nos

B. Jackson, ica patente a relação entre os dois pesquisadores – Jackson e Banham – nas discussões da academia de Environmental Design da Califórnia sobre arquitetura, paisagem e cultura. Ver o capítulo 1 desta dissertação para maiores detalhes.

9 Ver Scenes of America Deserta, pp.111-131. Argumento desenvolvido na monograia inal da disciplina FLS-5365 – Artes da Memória: Espaço Arte e Narrativa, ministrada pela profa. Dra. Fernanda Arêas Peixoto, na Faculdade de Filosoia, Letras, e Ciências Humanas – FFLCH – no Segundo semestre de 2011, “A Memória da Máquina: Fotograia e os Monumentos Industriais da Arquitetura Moderna”.

10 Ver os capítulos 1 e 2 do livro, nos quais as tipologias construtivas são abordadas – A Concrete Atlantis, pp. 23-180.

Estados Unidos.

Jovens ruínas industriais

Ao se falar de arquitetura moderna americana, é importante ter o discernimento sobre as profundas diferenças entre arquitetura moderna nos Estados Unidos e

Europa, e como cada expressão observou sua contraparte do outro lado do Oceano Atlântico. Arquétipos, mitologias e manipulações da história da arquitetura, imagens da paisagem construída pelo homem marcaram o período de surgimento das cidades modernas da Cultura Ocidental, desde os últimos anos de século XIX até a Segunda- Guerra Mundial12. Essa sessão se dedicará a discutir como a ampliação das viagens

transoceânicas realizadas por arquitetos, bem como a difusão da utilização da

fotograia como ferramenta de pesquisa de arquitetura, contribuíram para a criação e destruição de mitos sobre a modernidade.

Elevador de Grãos e porto de carga, s/data – provavelmente século XIX, pela ausência de braços

mecânicos e . Nota-se o tipo de embarcação ao lado do elevador de grãos, este feito ainda em estrutura de tijolo e concreto, sem o formato de cilindros (tecnicamente mais econômico do que ambientes reticulados). Todas as imagens de construções industriais americanas foram reproduzidas na época de produção do

12 Menções curtas serão feitas a fatores sociais das diferenças, bem como sobre as relações entre instituições de ensino americanas e europeias. Para descrições mais generosas, ver o Capítulo 1 desta dissertação.

livro A Concrete Atlantis, entre 1983-1986. São em sua maior parte de autoria de Patricia Layman Bazelon, e eventuais fotos do autor. Fonte: Arquivo Getty.

Nos Estados Unidos, a modernidade se deu pela difusão do espírito

empreendedor e inventor oriundos do século XIX, no período de reconstrução pós Guerra Civil Americana13. Durante essa época, em cidades como Nova Iorque, Chicago,

Boston, Los Angeles, San Francisco e Philadelphia, povos de múltiplas nacionalidades construíam paisagens de maneira diametralmente distintas. Desde sua fundação, até o inal do século XIX, a América recebeu um grande contingente de imigrantes. Irlandeses, alemães, italianos, entre outros povos, tiveram participação fundamental na formação das culturas urbanas das cidades americanas. A escravidão terminava junto com a resistência dos confederados do sul, mas as marcas da separação racial são claras14. Com a expansão da malha de infraestrutura americana, e a difusão de algumas

invenções na segunda metade do século XIX os Estados Unidos puderam modernizar seu parque industrial, bem como ainar as técnicas manuais, mecanizando as mesmas, como registrado por Siegfried Giedion em Mechanization Takes Command, de 194815. A

mecanização do trabalho rural, bem como o aprimoramento da rede de transportes hidrográicos e a proissionalização da especulação imobiliária urbana tornou a prática de condensar unidades de logística em uma única área um negócio rentável. Cidades como Minneapolis, Chicago e Buffalo tornariam-se centros de logística e produção industrial. Os silos de grãos, representativos do patamar tecnológico alcançado pela iniciativa de empreendedores como Joseph Dart, inventor do sistema de transbordo em correia, foram também uma demonstração da capacidade dos construtores do país em alcançar a monumentalidade. Fábricas como tecelagens, onde o trabalho manual foi gradativamente cedendo espaço à mecanização, se desvencilharam dos moinhos movidos pela força da água, e se ampararam gradativamente na energia a vapor e na eletricidade, deixando locais inóspitos e ermos, para se adensarem em pontos de logística facilitada. Nascem as Daylight Factories, ou as “fábricas da luz do dia”: plantas industriais dependentes da luz do natural para manter sua produção, em construções onde a massa é distribuída principalmente nas fachadas, em espessas paredes de construção, travadas por sistemas de assoalhos de madeira, ou grelhas de ferro fundido ou aço, cujo interios é iluminado por grandes superfícies de vidro nas laterais, ou pela cobertura. O sistema brick-and-pier foundation é uma evolução desse sistema: reforços estruturais são dados às paredes entre janelas, estas cada vez mais amplas, captando

13 Gwendolyn Wright, “Modern Consolidation, 1865-1893” em USA: Modern Architectures in History. London: Reaktion Books, 2007.

14 Idem. Ademais, como registrado por autores da literatura, a cultura americana foi tão marcada pela Guerra Civil, tanto pela explosão da tecnologia tanto quanto pela explosão demográica da população negra e sua entrada na sociedade americana pós abolição.

15 Ver o primeiro trecho do Capítulo 1 desta dissertação para maiores discussões a cerca da obra de Giedion e suas relações com a produção americana.

mais luz para o ambiente externo e permitindo o máximo de economia de luz16.

Já na Europa a força motriz permanecia no interesse por rever os conceitos e valores intelectuais e produtivos estabelecidos pelo século passado. A Primeira Era da Máquina imprimiu na memória coletiva europeia a imagem agressiva das paisagens industriais. Os movimentos de renovação do trabalho industrial propunham o retorno a valores do trabalho ligados ao trabalho dos artesões e a manutenção da qualidade do produto industrial, frente à demanda ampliada da sociedade moderna europeia. A Deutscher Werkbund, liga de industriais e intelectuais ligados à produção industrial alemã, da qual Walter Gropius e Peter Behrens eram ailiados, defendiam a recuperação da qualidade do produto industrial alemão a partir da primeira década do século XX17.

O conhecimento prévio sobre quais foram seus respectivos pioneiros,

construtores, pensadores, críticos, propagandistas, e difusores por si já nos oferece uma diferença inequívoca de vocações e genealogias. Como introduzido pelos primeiros movimentos do segundo capítulo, a cultura americana tem em seu radical elementos fundamentais da modernidade. O conceito de moderno encerra em si, contudo, uma polifonia suicientemente ampla para encontrarmos elementos diametralmente opostos nas pontas do espectro. Para a historiograia moderna, segundo Banham, tal polifonia não permitia a coerência necessária para um discurso necessário à agenda de auto- divulgação do movimento moderno18. Enquanto Gropius trabalhava em paralelo seus

dois aportes em sua carreira, um como arquiteto de prancheta, outro como promotor do ensino e pesquisa de arquitetura conforme os conceitos da Neue Sachlichkeit dentro da Bauhaus, Ernst Ransome, menos conhecido engenheiro de patentes de concreto e construtor de fábricas, foi um dos pioneiros no desenvolvimento de estruturas de concreto para conjuntos fabris, uma contribuição deinitiva para a difusão das

Daylight Factories pelo país19. As duas trajetórias, embora tangentes, são extremamente

diferentes. Não obstante, é importante compreender porque a narrativa moderna privilegiou uma trajetória em detrimento da outra.

Modernismo e Americanismo, como descrito por Jean Louis Cohen, são movimentos que afetaram fortemente não só a cultura americana, bem como as demais culturas ocidentais na primeira metade do século XX20. Poucas pesquisas,

porém, trataram de relacionar os radicais da modernidade americana com a sua lógica industrial tão profundamente focada na simbologia das construções como Reyner Banham o fez para o conjunto construído industrial dos norte-americano.

16 Ver Banham, A Concrete Atlantis, pp.23-50.

17 Ver “Walter Gropius and the German Development” em Siegfried Giedion, Space, Time and

Architecture: the growth of a new tradition, originalmente publicado em 1941, e revisado e expandido em sua quinta edição, datada de 1969.

18 Para entendimento da crítica de Banham a respeito do método seletivo e classiicatório da historiograia moderna, ver Whiteley, Reyner Banham: historian of the Immediate Future, pp.33-37. 19 Para uma trajetória mais detalhada de Ransome, ver capítulo 2.

20 Ver Jean-Louis Cohen, Scenes of the World to Come: European Modern Architecture and American Challenge, pp.14-18.

Silos e Elevadores de gãos, Buffalo s/data. Foto: Patricia Layman Bazelon. Fonte: Arquivo Getty. Em alguns casos, o que Banham encontrou foram plantas industriais ainda em funcionamento, como o caso desta unidade. Percebem-se os trilhos localizados entre os silos, e mais ao fundo, percebe-se o lago Eerie e suas instalações de transbordo.

Interior de um elevador de grãos, s/data. Foto: Patricia Layman Bazelon. Fonte: Arquivo Getty.

Reyner Banham pode não ter sido o primeiro a identiicar o radical pragmático da cultura construtiva Americana21, mas certamente seus estudos do conjunto

construído industrial americano trouxeram uma nova luz à questão da modernidade pela construção industrial. Mais do que isso, também se conigura como um estudo 21 O mesmo atribuía muito do pioneirismo na pesquisa da arquitetura moderna Americana a Henry- Russel Hitchcock, a quem dedicaria sua palestra de aceite da cadeira homônima no Institute of Fine Arts da Universidade de Nova Iorque, em 1988, meses depois de seu falecimento. O conteúdo do discurso pode ser acessado nos manuscritos de Banham, arquivados na Biblioteca do Getty Institute, de Los Angeles.

contundente da materialização de uma era da construção civil americana, dentro da Primeira Era da Máquina, descrita em seu primeiro livro (1960). Malgrado de vida curta em seu próprio território, e talvez exatamente por isso, o parque industrial americano, e principalmente sua imagem registrada em fotos, teve um efeito marcante na cultura construtiva americana. Um dos principais elementos desse legado

industrial é que o seu ciclo se acabou rapidamente, dando espaço a uma nova tipologia construtiva, por força da especulação imobiliária ao redor das áreas portuárias, e ao desenvolvimento da técnica moderna em construção de galpões de aço. Ao contrário das experiências de Maillart, Freyssinet, das unidades fabris da AEG de Peter Behrens22,

essa geração de construções logo se tornou ruínas, elementos construídos parrudos e estanques, resistentes à ação do tempo e das intempéries pois assim foram projetados. Abandonados, fortaleceram a ideia de uma civilização perdida, uma Atlantis de concreto.

Como descreve Georg Simmel, em seu artigo “A Ruína” , a ruína da obra arquitetônica representa a vitória das formas da natureza sobre o espírito humano. Por vezes, os próprios homens, os mesmos que agem de acordo com as vontades do espírito, atraídos pela sedução estética da ruína, proporcionada pela força da natureza podem agir de alinhados com essas mesmas forças23. No caso da imagem arruinada das

fábricas de tijolo e concreto da virada do século, temos de um lado a força da tectônica exposta sem véus das espessas paredes de tijolo, das placas de ferro fundido dos silos e dos maquinários, dos graismos industriais característicos de cidades como Chicago

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