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3. O TRATADO SYNCATEGOREUMATA

3.2 Análise de algumas expressões sincategoremáticas na obra Syncategoreumata

3.2.3 Palavras exclusivas

“Somente” (tantum) e “só”, “único” (solus) são palavras exclusivas e o tratado que delas se ocupa está claramente resumido em sua introdução. Neste, Pedro Hispano quer responder:

Primeiramente, „por que uma palavra é chamada exclusiva e o que uma palavra exclusiva significa‟ν em segundo lugar, „quais e quantas são as causas da exclusão exigidas para ser uma exclusão‟ν terceiro, quantas são as partes ou tipos de exclusão; quarto, descendendo para uma certa causa da exclusão, nomeadamente, para aquela que é excluída, que coisas são essas que devem ser excluídas; quinto e último, qual a diferença entre „tantum‟ e „solus‟ quanto a suas formas de exclusão116.

Para a primeira questão há duas respostasμ “uns dizem que uma palavra é chamada exclusiva porque significa exclusão. A resposta contrária considera a teoria da suppositio. Ora, a significação da palavra é diferente da suposição, desse modo se o ato de uma palavra exclusiva é a exclusão, então ela não é chamada exclusiva

116“Circa quas primo queritur propter quia dicatur dictio exclusiva et quida significet dictio exclusiva; secundo quod et que sint cause exclusionis que exiguntur ad esse exclusionis; tertio quot sunt partes sive species exclusionis; quarto queritur, descendendo ad quandam causam exclusionis, scilicet ad illud quod excluditur, que sint ea que debent excludi; quintum et ultimum erit de differentia harum dictionum „tantum‟ et „solus‟ in suis exclusionisbus” (Sync. III, 1).

porque significa exclusão. Pedro Hispano segue essa segunda via, pela qual uma palavra é dita exclusiva porque realiza exclusão e não porque significa exclusão. Então qual é o significado de palavras exclusivas? “[...] uma privação da conexão do todo com uma parte”.

A segunda pergunta é “quantas e quais são as causas da exclusão”. A isto se responde de forma direta: são quatro, a saber 1) aquilo que é excluído; 2) aquilo de que é excluído; 3) aquilo a respeito de que é excluído; 4) o ato de excluir117. Por exemploμ “Apenas Sócrates corre”. Nesta sentença os demais homens são excluídos em relação a Sócrates quanto ao ato de correr.

Em terceiro lugar reflete-se sobre “quantos são os tipos de exclusão”. São dois, exclusão geral e específica, de acordo com a significação do termo a que o sincategorema está unido. Como exemplo, Pedro Hispano apresenta a oração “Apenas Sócrates está correndo”. Caso o sentido dessa frase seja “Sócrates está correndo e nenhum outro ser” há uma exclusão geral. Sendo o sentido da proposição “Sócrates está correndo e nenhum outro homem” ou “Sócrates está correndo e nenhum outro animal” temos exclusão específica118, pois tanto homem quanto animal não são gêneros generalíssimos.

A quarta questão, “que coisas devem ser excluídas”, é subdividida em sete aspectos:

a) Se uma palavra exclusiva adicionada a „ser‟ pode excluir alguma coisa. Ex. „Só o ser é, portanto nada mais é. E o mesmo problema vem se esta expressão é adicionada a outras palavras convertíveis com „ser‟, como „alguma coisa‟, „um‟ e „coisa‟. O problema numa sentença como a mencionada acima é que não haveria qualquer sentido em usar uma palavra exclusiva juntamente a „ser‟, pois não há

117 Cf. Sync. III, 8. 118 Cf. Sync. III, 19.

como excluir qualquer coisa do ser. Contudo, Pedro Hispano vê uma saída e defende que a exclusão neste caso não é de uma essência, pois tudo que é essencial concerne ao ser, e sim a respeito da suposição natural, pois alguns termos também supõem por „não seres‟, isso no sentido de que alguns termos não têm

appellatio.

b) Se uma palavra exclusiva que se junta a um gênero superior exclui outro gênero. Ex. „Apenas a substânciaν portanto não a qualidade, ou o contrário. Para esta questão Pedro Hispano considera que há duas respostas. Caso o gênero generalíssimo da substância seja tomado como abstração, o uso de uma palavra exclusiva com ele de fato exclui os demais gêneros, já se esta categoria é considerada concretamente, não há exclusão, pois a substância primeira não ocorre sem acidentes. E isto faz nascer outro problema, quando se toma qualquer uma das outras nove categorias, seja abstrata ou concretamente, sempre se supõe a categoria da substância em que elas inerem, assim, o uso de palavras exclusivas provocaria a contradição de dizer que há e não há substância ao mesmo tempo.

c) Se uma palavra exclusiva está unida a uma espécie de uma categoria, pode excluir uma espécie de outra categoria. Ex. „somente o homem; portanto não cor ou brancura‟. Isso ocorre porque cor e brancura não são tomadas como acidentes de homem, mas como substantivos abstratos.

d) Se uma palavra exclusiva está unida a uma espécie de uma categoria, pode excluir outra espécie da mesma categoria. Ex. „somente o homemν portanto não o cavalo‟, „somente a cor, portanto não a ciência‟. Essa questão se mostra mais evidente para Pedro Hispano porque a união de uma palavra exclusiva com uma espécie de uma categoria exclui as outras espécies do mesmo gênero.

e) Se uma palavra exclusiva está unida a um termo acidental, exclui outro termo acidental. Ex. „Somente coloridoν portanto não sonoro‟. Isso ocorre, mas com a restrição de que não são excluídos os acidentes de que dependem o que está unido à palavra exclusiva.

f) Se uma palavra exclusiva está unida a um contrário, exclui o outro em qualquer tipo de oposição. Ex. „Apenas brancoν portanto não preto‟, „apenas vê‟ν portanto não é cego‟.

g) Se uma palavra exclusiva está unida a uma parte, exclui o todo, ou vice- versa. Ex. „Apenas a paredeν portanto não a casa‟, „apenas a casaν portanto não a parede‟. Essa assertiva dependerá do tipo de acidente envolvido na sentença, pois caso o acidente pertença somente ao todo, o uso de uma palavra exclusiva restringindo-o excluirá suas partes. Mas os acidentes podem também pertencer só às partes e não ao todo, ou a ambos, de modo que se a palavra exclusiva estiver relacionada com o todo não exclui suas partes necessariamente119.

Finalmente, a quinta questão visa explicar as diferenças entre „tantum‟ e „solus‟. Esta é, grosso modo, o adjetivo „só‟, „sozinho‟, e, conforme Pedro Hispano, sempre exclui a partir de algo expresso no caso gramatical. Já o advérbio „tantum‟, além de excluir a partir de algo expresso no termo a que se relaciona, também exclui o que é expresso pela ação do verbo.

Depois de termos investigado o uso das „palavras exclusivas‟, cabe-nos, dentro do que propusemos no início dessa seção, analisarmos „as palavras que indicam exceção‟. Isso será realizado na próxima subseção.

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