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PALHA DE BUSSÚ

No documento Leno José Barata Souza (páginas 155-200)

Para cobertura de casa não há como palha de Bussú. Dura de 15 a 20 annos. Vende-se na Granja São Luiz, na Colônia Campo Salles.

Preço por cento, posto em qualquer ponto da cidade: De 5 até 10 palmos--- 15$000 De 10 a 12 palmos--- 18$000 De 12 palmos em deante--- 20$000. Pagamento: 50 % no acto do pedido e 50 % no acto da entrega.

Aviso: Os pedidos podem ser dirigidos á praça 15 de Novembro n. 151 – Telephone 1763.202 Vivaldo Correa, entre outras coisas, lembrou das casas na “Baixa da Égua” de sua infância, eram “... tudo de madeira, coberto de palha...”. Francisco da Silva, nos tempos em

201 Nas Posturas de 1920, pretendido como reflexo da cidade progressista e requintada da borracha, nem mesmo

o zinco, que décadas depois seria índice de status social, era permitido. Nestas Leis, se lê no artigo 94: “Fica

prohibida na zona urbana e suburbana a edificação de casas cobertas de zinco ou de palha, não se permitindo nem a renovação nem o concerto das actuaes”. Código de Posturas do Município. Manaus, 22 de Outubro de 1920, p. 22. Nas leis de 1938, mesmo com algumas tolerâncias ocasionadas pela pressão populacional em ascensão na cidade, as Posturas da época ainda ditavam: “A construção de casas de madeira ou taipa só será

permitida nas zonas suburbana e rural”. Código de Posturas do Município. Manaus, art. 284, p. 39.

que ficou ancorado na mesma “Baixa da Égua”, recordou, “... não tinha casa de alvenaria, só

era de madeira e palha (...) não tinha nem zinco (...) o telhado, tudo era palha branca”. Quanto ao tipo da palha em seu flutuante, Francisco não conseguiu lembrar, recorrendo a sua mãe Francisca que se calou por um instante; eu sugeri as conhecidas palhas de Buçu, o que foi logo rechaçado por ele: “... não, é uma palha branca (...) não tinha

alumínio, era só aquela palha branca que eu não sei como é o nome...”; Francisca, neste momento, como que despertando de um tempo longínquo, fala: “... era Ubiti...”, “... né não

mamãe...” contestou seu filho, ela, no entanto, manteve sua posição, “... de branco sim! Que

não havia outra palha pra cobri a casa...”.

Francisco, como era comum em nossas conversas a três, seguiu não aceitando muito bem as histórias da mãe, “... não, mas era no interior, aqui [Manaus] não tinha, só tinha

aquelas palha de...”, que ele continuava não conseguindo lembrar. Dona Francisca, pelo contrário, interferindo novamente, lembrou de outra palha, “Quiubim mermo...” ao que Francisco respondeu, terminando a cobertura do flutuante, “... mais ou menos isso aqui de

lanho, aí era palha branca, tinha lá [Manaus] aí tudinho (...) fazia o painel aí ia cobrir, tudo

era di...”, apesar dos esforços, ele franzia bem a testa e apertava os olhos, mas não conseguiu lembrar o nome ou tipo da palha.203

João Cesário, além de lembrar o “... pouco movimento [e] pouca casa...” em seu bairro Educandos, enfatizou que a maioria das residências ali “... eram de madeira...”; casa de alvenaria? João mesmo respondeu: apenas uma, hoje desabitada, em completa ruína que ele me apontou no outro lado de sua rua.

Em meados da década de cinqüenta, os significativos dividendos de uma atividade comercial em franca expansão nas movimentadas águas da frente da cidade, permitiu o surgimento de uma classe de comerciantes em flutuantes, muitos dos quais, puderam diferenciar sua residência/comércio não apenas pelo maior tamanho, mas pelas caras coberturas com as folhas de zinco/alumínio, inaugurando uma concorrência as coberturas de palha, diversificando, sobretudo, as formas da “cidade flutuante”.

O zinco e o alumínio por sua vez, poderiam ser mais duradouros, mas, por conta de seu maior peso, exigiam algumas alterações na estrutura da casa flutuante. Mário dos Santos

203 Tentando encontrar as palhas sugeridas por Francisca da Silva, recorri outra vez ao inventário de Djalma

Batista em suas classificações dos tipos de fibras da região, porém, encontrei apenas o tradicional Buçu, já enfatizado por Moacir Andrade. Ainda assim, temos que considerar os muitos nomes e apelidos que os materiais extrativistas recebem na região, o próprio Buçu, segundo Batista, é também conhecido na região pelo nome de

disse que a cobertura com este material exigia o “... levantamento um pouco mais do pé

direito do flutuante...”, caso contrário, a estabilidade do flutuante ficaria comprometida. O flutuante de Mário era coberto com zinco, ele reclamou que a palha “... dava muita

goteira...” e isto, numa região que de dezembro a maio chove bastante, era sem dúvida um grande problema. A ressalva do seu irmão João Cesário a palha era pelos maiores riscos de incêndio que rapidamente poderiam consumir as casas e as vidas dos moradores, agravando- se ainda mais, segundo João, “... porque bombeiro não tinha condições de ir lá...”, quase no meio do rio, onde a “cidade flutuante” estava chegando.

Nestas situações, os moradores deveriam se virar como podiam, “... pegava o motor-

bomba...” de algum morador, puxava a água do rio, enfim, “... tinha que se vira e dá o jeito

de apagar...” antes que se alastrasse – e neste ponto as palhas eram propícias – para outros pontos da “cidade flutuante”.

Ainda era muito vivo na mente dos moradores, o trágico incêndio da Rua São Domingos no bairro Presidente Vargas (Matinha) ocorrido nos anos quarenta. O bairro a época, era formado por uma série de barracas, tapiris e flutuantes dispostos ao longo de uma margem interna do igarapé de São Raimundo, lado do Centro.

O incêndio, segundo a imprensa da época, teria começado quando um dos moradores se esqueceu do peixe fritando no fogo que do fogão de lenha alcançou o teto da casa e “... já

que as habitações eram baixas e com cobertura de palha, foi fácil a propagação do fogo...”

que destruiu 46 casas no bairro, felizmente sem nenhuma vítima fatal.204

João Cesário também destacou os grandes incêndios ocorridos na Capital, o da Rua Leopoldo Peres em seu bairro, “... parece que foi em 52, houve um incêndio queimou as casas

de madeira quase todas...”; o da Biblioteca Pública do Estado em 1949 e da Usina de borracha “Hever” na Rua Dos Andradas, perto do Porto de Catraias, “... passou quase vinte

dias queimando, borracha derretida não há o que apague. Muito incêndio grande aqui...”. Com a expansão da “cidade flutuante”, alguns inflamáveis começaram também a ser comercializados em flutuantes. Tratava-se de uma conseqüência das tentativas de exploração comercial de petróleo na região descoberto em 1953, mas, dois anos depois finalizada, os poços, segundo a Petrobrás, não tinham valor comercial.

No inicio dos anos sessenta a Petrobras voltou à carga na região norte mobilizando um efetivo de quase mil trabalhadores. Em Manaus inaugura-se uma refinaria de petróleo que iria movimentar o comércio dos combustíveis na cidade, como o querosene, fonte dos candeeiros e lamparinas para a iluminação da maioria dos flutuantes e casas da cidade, o diesel e a gasolina, fonte dos combustíveis dos poucos carros de Manaus, mas, sobretudo, para as muitas embarcações a motor e, por isso, postos flutuantes se mostraram como locais estratégicos para a comercialização de outra mercadoria na “cidade flutuante”, tal como relembrou Francisco da Silva, “... posto de gasolina, de óleo diesel, tudo era na água...”.

João Cesário, no entanto, disse que a maioria dos postos de combustíveis era em terra, mas não precisava de muitos inflamáveis nos flutuantes para começar um incêndio de grandes proporções. Para diminuir o perigo, a maioria dos combustíveis, especialmente a gasolina, era comercializado apenas nos chamados “pontões”, que João me disse serem postos flutuantes localizados mais no meio do rio, distantes das margens de Manaus e dos limites da “cidade flutuante”, “... eles tinham medo de botar gasolina nos flutuantes, com medo do incêndio...”, fala de João, cujo postal a seguir, de 1961, é também uma significativa narrativa:

IMAGEM: VII

Ainda assim, Mário destacou a grande desvantagem do zinco em relação à palha, “...

esquentava pra caramba né!”, ainda mais em se tratando de casa flutuante que de menor altura, o zinco ou alumínio esquentava ainda mais seu interior, situação complicada sobremaneira nos mais de seis meses do forte verão amazônico.

Por isso, resolvi perguntar para um morador de flutuante coberto de palha em relação às goteiras e aos perigos de incêndio, ressalvas de Mário e João. Vivaldo Correa foi categórico: “... não, não, tem problema não...”; o que parecia contar para ele, era a boa construção dos flutuantes. Madeiras adequadas e palhas ciosamente fechadas, além de evitar as goteiras, propiciavam uma casa bem mais arejada e equilibrada sobre as águas.

Para Vivaldo Correa, a “cidade flutuante” que morou desde o inicio dos 50, era quase toda de palha, só uns poucos que “... tinha condição financeira boa...”, cobria com alumínio, material que, para Sebastião Garcia, contemporâneo a Vivaldo, foi definindo o que ele pareceu considerar como a “verdadeira” casa flutuante: “... nessa época os flutuante mermo,

tudo era coberto de alumínio...”, algo que, pela fala de Edneia Cortezão, se consolidaria no inicio dos anos 60, “... a maioria era de alumínio e tinham pouco de palha...”.

Em outras narrativas orais, no entanto, preponderou o equilíbrio entre palha e zinco. Partindo do mesmo tempo de Edneia, Francisco da Silva me contou que na “cidade flutuante”, gradativamente foram chegando os “caros alumínios” diferenciando algumas casas, como a de Cristóvão, dono de cinco estâncias flutuantes, todas divididas em minúsculos quartos cobertos de palha que alugava. A casa flutuante de Cristóvão, porém, como enfatizou Francisco, “era diferente”, toda em alumínio, espaçosa, “... tinha assim dois anda...”.

Os negócios, desde 1962, pareciam ir muito bem para Cristóvão, ele vivia apenas dos aluguéis, pois inquilinos e quartos não faltavam. Creuza, por exemplo, me disse que seu marido não teve nenhuma dificuldade para encontrar casa na “Amazonense”, “... tinha muito

ali pra alugar, tinha demais, demais...”, acertou os “15 Cruzeiros” com o Cristóvão, fechou o aluguel e providenciou a mudança para a “cidade flutuante”.

Francisco da Silva lembrou inclusive de uma “sociedade” de comerciantes que mandavam construir flutuantes especialmente para explorarem o sempre crescente mercado de aluguéis na “cidade flutuante”; “... era porque, era assim, porque o pessoal alugavo, fazia,

alugava pra morar e assim ia entendeu...”; tal como acontecia em terra, me explicou Creuza de Andrade, que não sabia quem era o locador de sua casa, mas deu a entender que “o

pessoal” da sua fala poderia se tratar de alguma organização, uma espécie de empresa, cuja atividade comum era o mercado dos aluguéis.

Quando quis saber de João Cesário: “Quem construía os flutuantes?”, ele lembrou primeiro do que era mais comum, “As pessoas mesmo faziam...”, a exemplo de Vivaldo Correa; em seguida, no entanto, João também lembrou dos muitos comerciantes enriquecidos que mandavam fazer flutuantes nos interiores e depois iam rebocá-los para o litoral de Manaus, aonde poderiam alugá-los ou abrir um novo comércio.

João sublinhou um antigo cliente seu, negociante de juta e borracha, comprador de um flutuante em Anori (mapa III) que, segundo João, “... pegava 300 toneladas de peso...”. Quando Creuza de Andrade se referiu ao seu quarto flutuante, o chamando de

“vagabundinho”, acredito que o fez a partir da comparação com as casas dos seus vizinhos da frente, foram os flutuantes que, de imediato, ela lembrou quando lhe perguntei se “O flutuante

dessas pessoas que tinham mais dinheiro era melhor do que as outras casas”.

A diferença para Creuza era gritante, do seu “vagabundinho” flutuante ela, ainda maravilhada, recordava das “mansões” que flutuavam próximas de sua casa, que podiam ser de madeiras também, mas,

Era melhor, Deus me livre! Eu não tô dizendo, melhor mesmo do que as outras casas; olha, pelo menos os maiores que [inaudível] moravam na frente, você gostava de vê, era de madeira, mas era, posso dizer, comparado a uma mansão sabe, comparada uma mansão, era muito bom, muito bom mesmo.205

Se as bóias de Açacu e as madeiras representam um traço comum na construção dos flutuantes, elas estão longe de significar um padrão nas formas das casas que poderiam ir do

“flutuantezinho” de Anísio Pedro no igarapé da Glória, extremo oeste da cidade, ao

“flutuantão” de Sebastião Garcia no outro lado do litoral, no igarapé da Cachoeirinha.

Poderiam ser um quarto, “tipo um embriãozinho”, como o flutuante de Creuza de Andrade e Francisca da Silva; um quarto, sala e cozinha como de Vivaldo Correa e Francisca Malta; ou de três quartos, sala e cozinha como era o amplo flutuante residência/comércio da família Cortezão.

205 Infelizmente Creuza não lembrou quem eram e de que viviam estes seus vizinhos abastados, certeza é que

nenhum deles era o proprietário do seu flutuante que, segundo ela, diferente do locador de Francisca da Silva, o seu “... não morava por perto não...”; de qualquer forma, apenas o seu marido o conhecia, “... não me lembro,

Poderiam ser coberto de palhas, zinco ou barro; serem alugados, junto à suposta

“sociedade” sugerida por Francisco da Silva, que alugou mesmo os quartos do conhecido Cristóvão, ou próprios, construídos pelos moradores como fizeram Vivaldo e João, ou ainda comprados já prontos na “cidade flutuante”, como preferiu Elias Malta, marido da entrevistada Francisca Malta.

Outra narrativa que dá a conhecer esta variedade de formas das casas flutuantes encontrei numa reportagem de 1963 da revista O Cruzeiro, cujas fotografias, sobre um mesmo ângulo, enfocaram diferentes flutuantes na cidade sobre as águas que, a época, não paravam de expandir.

Para uma maior compreensão das variadas formas da “cidade flutuante” que as narrativas dos meus depoentes vêem projetando, contrapondo os discursos comuns206 nos quais prevalece a uniformidade das construções pequenas, frágeis e ordinárias; da reportagem de O Cruzeiro, selecionei duas fotografias abaixo, que uni em uma mesma imagem, na qual enfatizo, na primeira fotografia, as formas mais tradicionais de uma casa flutuante: coberta totalmente de palha, sem varanda, os limites da casa são dados pelas próprias bóias.

Na segunda fotografia, dois flutuantes lado a lado, sugerem outros desenhos das casas mais comuns a época da expansão da “cidade flutuante” nos anos sessenta, momento do registro fotográfico, quando um desenvolvimento comercial propiciou também diferenciações nas formas das casas de alguns moradores: as coberturas com zinco/alumínio, nos dois flutuantes lado a lado, alguns ornamentos como pintura, uma longa varanda, da qual as crianças, como me contou Francisca Malta, pelos mais variados medos dos pais eram afastadas, protegidas pelo portão como o da entrada do flutuante pintado de azul, de onde algumas crianças observam, provavelmente, o autor da foto:

206 SERRA e CRUZ. Op. Cit., p. 37-38 computou as 2.145 moradias da “cidade flutuante” apenas como

“barracas de madeira” e LENZ, Matias Martinho et al. Op. Cit., p. 04, qualificou as casas flutuantes como “...

IMAGEM VIII

“... tinha rua (...) tipo uma ponte (...) mas tudo em flutuante...”

Estas diferentes reconstruções da “cidade flutuante” que as narrativas orais sustentam mostraram sua força ainda quando pedi aos depoentes para “sairmos” de suas casas e andarmos pela “cidade flutuante”. Mas, como os freqüentadores e moradores faziam para se locomoverem no interior da “cidade flutuante” e desta para a Manaus em terra e vice-versa? Uma curiosidade que só aumentava à medida que as entrevistas avançavam.

Canoas parece ser a resposta óbvia, justa e, sobretudo, única. Mário dos Santos me contou que naquela época “... todo mundo tinha o seu barquinho...”, ele mesmo e a mãe tinham uma canoa usada na venda de cafés; Sebastião Garcia e seu cunhado estacionavam as canoas debaixo do flutuante; Francisco da Silva lembrou que “... deixava sua canoa

amarrada com corda...” em sua casa nas águas da Amazonense.

Na imagem apresentada a seguir, nota-se uma profusão de canoas ancoradas as casas flutuantes e em constante circulação pelo interior da “cidade flutuante”:

IMAGEM IX

O adensamento das casas acima, de um lado e outro, forma, entre elas, uma espécie de grande avenida da “cidade flutuante”, na qual navegam diferentes embarcações, interligando os mais diferentes territórios que redesenham o rio Negro na frente de Manaus.

Todavia, além das tradicionais canoas como meio de locomoção, todo um aparato de pontes/ruas foi sendo também construídas à medida que a “cidade flutuante” se expandia sobre as águas, dando formas a um complexo de vias e acessos, os quais, nas primeiras entrevistas, emaranhavam as referências dos lugares e as indicações de endereços que meus entrevistados apontavam, dificultando a construção de uma espécie de “mapa mental” da “cidade flutuante” que eu procurava ir montando ao longo das conversas.

Para os moradores, compreensivelmente, os caminhos eram claros e naturais, quanto a mim, no começo sempre me perdia em meio as suas explicações e gesticulações, começando a me encontrar apenas depois que encontrávamos alguma referência comum de lugar da cidade, tal como se percebe nos primeiros diálogos com Creuza de Andrade, precisamente no momento em que eu procurava saber o que deveria fazer para chegar ao seu flutuante na frente de Manaus, quando produzimos o seguinte diálogo:

LS -... o flutuante de vocês era mais ou menos onde?

CA - olha, deixa eu ti dizer, a outra ponte, na segunda, segunda ponte, era assim, tudo era em

ponte sabe; aí na segunda ponte né que a gente morava;

LS - segunda ponte? Aquela da Avenida 7 de Setembro?

CA - Não! Ponte é que os flutuantes tinham ponte entendeu? Tudo era ponte; LS - ah...??? [continuava não entendendo];

CA - entendeu?

LS - mas era no centro o seu flutuante?

CA - não, não, é logo no começo, na beira que nós morava, nós morávamos até alugado nessa,

nesse flutuante;

LS - quando a senhora fala “logo no começo”, era em direção a que bairro? CA- Digamos que seja o começo da, dali da [igreja] N. S. dos Remédios, num tem? LS- isso!

CA- num tem a beira né; LS - tem a beira;

CA- pois, começando as beira, tinha as ponte até no final dos flutuante;

LS - ah! O seu flutuante ficava ali, de frente pra Igreja [N. S. dos Remédios – Centro]; CA – isso! Isso! Era bem aí;

Em primeiro lugar, troquei a ponte da casa de Creuza na “cidade flutuante” pela famosa Ponte Metálica de Manaus da Avenida Sete de Setembro no Centro; em seguida, confundi o Centro que pensava ser o da capital, com o centro da “cidade flutuante”. O flutuante de Creuza (como compreendi no final do diálogo) ficava no centro de Manaus, mas não no centro da “cidade flutuante” que, ali, tinha como referência o meio, o centro do rio

Negro ou os “pontões” que João Cesário já havia me falado, o flutuante de Creuza, pelo contrário, ficava na beira, “logo no começo” da “cidade flutuante”.

Somente quando Creuza de Andrade e eu, em meio ao nosso diálogo, nos “encontramos” na Igreja Nossa Senhora dos Remédios, pude ir até sua casa flutuante; descemos a Rua Leovegildo Coelho, margeamos a Praça dos Remédios em direção ao rio Negro, cruzamos a Barão de São Domingos e chegamos ao rio.

Em seguida, pegamos a ponte da casa de Creuza e apenas por ela poderíamos chegar ao seu flutuante alugado na beira da “cidade flutuante”, Centro de Manaus, onde morava com o marido que, devido aos seus trabalhos de marítimo passava semanas viajando, provavelmente não se encontraria em casa, mas com certeza as pequenas filhas de Creuza, Ângela e Marcilene estariam.

Na imagem a seguir, fixando-se no meio da figura, observa-se a praça com sua igreja N. S. dos Remédios e, à direita, a Rua Leovegildo Coelho. Partindo para o rio, pode-se ter uma noção do “mapa mental” que me levou ao flutuante de Creuza de Andrade e ainda das dimensões e formas da “cidade flutuante” onde ela morou e trabalhou entre 1962 e 1966:

IMAGEM X

No documento Leno José Barata Souza (páginas 155-200)

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