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3. Enquadramento

3.3. Panorama da Gestão de RSU na Cidade Metropolitana de Maputo

organizar melhor as diversas formas de se relacionar com o meio ambiente.

A Enciclopédia Britânica refere que “gestão ambiental” é o controlo apropriado do meio ambiente físico, para propiciar o seu uso com o mínimo de abuso, de modo a manter as comunidades biológicas, para o benefício continuado do ser humano” Ou, ainda, a Gestão Ambiental consiste na administração do uso dos recursos ambientais, por meio de ações ou medidas eonómicas, com a finalidade de manter ou recuperar a qualidade de recursos e o desenvolvimento social (Campos, 2002).

Numa cidade, o planeamento da gestão de resíduos sólidos é fundamental e, nesse contexto, a utilização de dados históricos pode contribuir para a compreensão do seu processo de geração. Para isso, é importante que haja uma base histórica confiável e mecanismos para recolha de dados acerca da geração e composição dos resíduos sólidos gerados pela população mas, no entanto, é recorrente a ausência deste tipo de dados em países em desenvolvimento o que dificulta o planeamento (Souza, 2011).

Moçambique tem enfrentado, nos últimos anos, um crescimento populacional nas cidades, nos últimos 10 anos, a população cresceu em 30% devido, principalmente, ao êxodo rural e essa urbanização acaba acontecendo na periferia das grandes cidades, de forma descontrolada, bem como em assentamentos irregulares, o que acaba criando diversos problemas relacionados com os RSU, a falta de infra-estruturas adequadas para a recolha, a falta de conhecimento e de uma atenção específica para a educação ambiental no que diz respeito a separação de RSU na fonte, tratamento e a reciclagem, identificam-se como aspectos que tem contribuído bastante para o cenário actual da cidade de Maputo.

Em Moçambique, segundo a Estratégia Ambiental para os defensores do Desenvolvimento Sustentável, para se alcançar um nível satisfatório de saúde para as populações rurais e urbanas, deve-se evitar potenciais fontes de poluição para a redução de doenças endêmicas, o que contribui para uma melhor separação, tratamento e eliminação de resíduos sólidos em todos os centros urbanos (MICOA, 2011).

A forma como têm sido produzidos e geridos os RSU em Moçambique, sem qualquer controlo e sem qualquer preocupação de triagem na origem, tem propagado amplas dificuldades na obtenção de soluções úteis à valorização/eliminação dos RSU

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como um todo, bem como à valorização específica dos derivados da sua triagem. A questão dos resíduos reflete-se, ainda como um problema preocuante e requer programas municipais permanentes e uma aposta mais forte na consciencialização e sensibilização do púlico em geral.

O crescimento demográfico associado à concentração populacional nas principais áreas urbanas, com particular destaque para a área metropolitana de Maputo / Matola, traduziu-se num consequente aumento da produção de resíduos, designadamente de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), tornando cada vez mais urgente a adopção de soluções respeitantes à sua gestão. As práticas tradicionais e usuais de queima de lixos, de catadores de lixos e de depósitos não controlados de resíduos, quer enterrados como a céu-aberto, tornaram-se críticos, constituindo um sério risco tanto do ponto de vista ambiental como de saúde pública.

A sustentabilidade política dos municípios tem sido acompanhada também pelo aumento da sustentabilidade financeira: por um lado, a maioria dos municípios tem incrementado as suas receitas, aproximando as receitas próprias das despesas correntes; por outro, tem utilizado as transferências do Estado para fazerem face às despesas de investimento (Noronha; Brito, 2010).

Um dos grandes problemas do Município de Maputo, à semelhança do resto do país, é a ocupação desordenada do espaço urbano, tida como consequência da migração do campo para a cidade, motivada principalmente pela procura de segurança, durante a guerra civil (1976-1992). A rápida urbanização, o crecimento dos bairros sem nenhum serviço básico, a falta de planeamento, entre outros serviços básicos, têm desafiado a administração pública a enfrentar novas realidades (Buque, 2013).

Recorrendo à limitada evidência estatística, hipoteticamente, Maputo produz diariamente um total de 1.000 toneladas de resíduos sólidos, dos quais cerca de metade são presumivelmente recolhidos pelo município. Os dados confirmam: a “Cidade de Cimento” produz uma maior quantidade de resíduos potencialmente recicláveis que os seis (6) Distritos Municipais, representando 27,4% do peso médio, contra 18% das zonas suburbanas. Esses dados são do Plano Director de Gestão de Resíduos Sólidos para a cidade metropolitana de Maputo (ver tabela 2)

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Tabela 2 - Quantidade de Resíduos Urbanos (RSU) produzidos na cidade metropolitana de Maputo e a sua respetiva densidade de produção por área da cidade.

Fonte: DGRSS-CMM Plano Director (2008).

De acordo com Lange et al, 2015, os resíduos sólidos vulgarmente designados como lixo, são claramente visíveis por toda a parte na cidade metropolitana de Maputo, estes são vistos nas áreas formais, prósperas e de baixa densidade, como o distrito de KaMpfumo, onde as ruas estão relativamente limpas mas os depósitos (contentores) de lixo estão espalhados por toda a parte, frequentemente com pilhas amontoadas de lixo no chão e, junto deles, existem pessoas a vasculhar à procura de coisas para comer ou vender.

Nas áreas com densidade populacional acentuada, economicamente mistas e comerciais (principalmente Chamankulu), o lixo é visível, não apenas nos contentores, mas também à volta deles, como também à volta dos muitos mercados informais bem como nas ruas e passeios.

Nos aglomerados informais em KaMaxaquene, KaMavota e KaMubukwana a situação é mais variada. Nos quintais das pessoas e nos pequenos becos entre as suas habitações, as coisas parecem impecavelmente limpas e muito dificilmente se vê algum lixo. Inversamente, o lixo amontoa-se nos espaços públicos, incluindo mercados, ruas principais e à volta dos poucos contentores disponibilizados. Desafiados pelas demanas municipais, a administração municipal de Maputo tem buscado formas de resolver este e outros problemas, sendo este, em grande parte, a combinação de um problema ambiental e social (Buque, 2013).

Considerando apenas os Resíduos Sólidos Domésticos (RSD) produzidos na “Cidade Cimento” (Distrito Municipal KaMpfumo).na zona formal da cidade, o lixo

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recolhido contém, em termos de peso 68% de matéria orgânica, 12% de papel e cartão e 10% de plásticos, 3% de vidro, 2% de metais, 2% de tecidos e borracha e os restantes 2% de outros. Nas zonas informais da cidade, mais de metade do lixo consiste em terra e poeira. Se esta for excluída, 69% é lixo orgânico, 5% papel e cartão, 8% plástico e 9% “outros”, incluindo o entulho (Allan; Jossias, 2012). A composição dos resíduos sólidos na zona urbana de Maputo pode ser verificada na figura 4

Figura 4 - Gráfico da composição dos resíduos sólidos na zona urbana de Maputo. Fonte: CMM, 2008

Segundo a DTAS (Directiva Técnica para a Implantação e Operação de Aterros Sanitários em Moçambique), afirma-se que “os critérios estabelecidos para a selecção de um local para um aterro incluem a consideração de aspectos técnicos, financeiros, ambientais e de aceitação pública”.

Para além de haver uma fraca recolha, tratamento e deposição dos RSU, a cidade metropolitana de Maputo é ainda devastada por alguns problemas ambientais que assolam diretamente a maior parte dos municípios, a saúde pública e o meio ambiente, dentre eles encontram-se:

➢ Crescimento populacional e urbanização descontrolada; ➢ Deposições em lixões a céu aberto;

➢ Queimas de lixo de forma descontrolada;

➢ Deposições irregulares em terrenos baldios e bairros; ➢ Saneamento precário.

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Moçambique ainda não apresenta um sistema de recolha selectiva dos RSU, ainda adota o sistema de recolha mista, onde o método de deposição de RSU é através de contentores, vulgarmente conhecidos como contentores de lixo, onde os resíduos excedem diariamente a capacidade máxima dos referidos contentores e acabam por chegar a ficar amontoados no chão ou nos arredores devido à insuficiência de pontos de depósito, ou em pontos de deposição em posições irregulares, e os resíduos, na maior parte das vezes, amontoados em áreas habitacionais, e a população chega a usar parte dos resíduos para a contenção da erosão, acabando por gerar problemas maiores para o ambiente e para a saúde húmana.

O que se tornou uma prática comum na maior parte dos municípios de Moçambique, em áreas públicas é queimar diversa quantidade de resíduo de forma desordenada e sem nenhuma monitorização. A maior parte da recolha é realizada por catadores informais e por parte da população que pratica o comércio informal, também existe uma pequena parte de recolha de material que é reciclado pelas empresas, que o município ainda tem dificuldades em identificar.

A deposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos que, muita das vezes, são associadas aos surtos responsáveis por milhares de mortes nos centros urbanos, leva muitos municípios a envidar esforços para o desenvolvimento de métodos sanitários adequados na deposição final dos resíduos produzidos pelos munícipes. “Em Moçambique, a deposição de resíduos sólidos é feita em lixeiras a céu aberto, sem qualquer instalação técnica para reduzir impactes negativos e sem qualquer controlo, com todos os inconvenientes de ordem estética e ambiental, pondo em causa a saúde pública e o ambiente” (DTAS, 2010).

Segundo Souza, 2011, muitos são os problemas que surgem em decorrência da má deposição dos resíduos urbanos, dentre os quais pode-se destacar: a poluição visual; os problemas de saneamento; a contaminação dos recursos hídricos; a degradação ambiental; a maior procura de áreas para deposição final dos resíduos; o aumento dos deslocamentos no transporte; a discriminação social para com as pessoas que trabalham diretamente com os resíduos sólidos e os problemas políticos no que se refere às diferentes providências a serem tomadas.

Para Castells,1983, os problemas ambientais urbanos, como o destino dos resíduos, geram a necessidade da sua gestão ser asseguradapelo Estado. Os conflitos e

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os impactes económicos, oriundos da falta de tratamento adequado de RSU, são perfeitamente visíveis, quando se consideram os gastos inúteis com tratamentos de saúde para a população carente que voltará a contaminar-se caso não tenha melhorias efetivas no seu estado nutricional e de infraestrutura, caso o “lixão” que alberga as suas áreas residenciais não seja erradicado. Há, também, que considerar os custos requeridos para implementar o encerramento dos “lixões” e demais áreas de despejos clandestinos de RSU, desde a licitação até a execução do projeto.

Os impactes gerados pela falta de uma gestão correta dos RSU são bastante variados e envolvem conflitos sanitários, ambientais, econômicos, sociais além dos jurídico/legais. Os conflitos sanitários são mais contundentes junto às populações gerando as chamadas doenças de saúde pública (Pereira, 2002)

Outro problema bastante comum é a desvalorização das terras próximas das áreas onde se localizam os “lixões”, assim como a consequente redução de investimentos imobiliários nessas mesmas áreas (Pereira, 2002).

Segundo Brollo, 2001, a correta localização de áreas para deposição de resíduos sólidos deve ser norteada pelos aspectos relacionados com a preservação ambiental e saúde pública, sem esquecer, evidentemente, os aspectos sociais, estéticos, económicos e administrativos envolvidos na gestão dos resíduos.

A poluição do meio ambiente é assunto de interesse público em todas as partes do mundo, porquanto, não apenas os países desenvolvidos têm sido afetados pelos problemas ambientais, como também os países em desenvolvimento, decorrente do rápido crescimento económico associado à exploração dos recursos naturais (Souza, 2011). Apesar de ter locais para acolhimento de RSU, ou seja, locais que são considerados como aterros sanitários, Moçambique ainda não se encontra numa situação ambientalmente correta pois ainda não possui locais adequados para a deposição de RSU.

Moçambique ainda apresenta um Sistema para Gestão Integrada dos Resíduos Solidos Urbanos deficitário e, em alguns aspectos gerais para se atingir o desenvolvimento sustentável, ainda é bastante difícil, apresentando-se como precário e com enormes carências a nível da recolha, transporte e destino final dos RSU.

É importante recordar que a área Metropolitana de Maputo, mesmo tendo locais para o destino final dos RSU, nenhum destes dispõe das melhores práticas de

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tratamento, ou seja, ainda não existe nenhum aterro sanitário oficial que vá de encontro com as boas práticas ambientais.

Apesar de ter sido constatada uma evolução no entendimento da gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), no cenário actual, todos os resíduos sólidos urbanos colectados na cidade de Maputo, ainda são dispostos de forma inadequada e sem nenhum tratamento o que não garante a correta protecção ambiental na única Lixeira Municipal a céu aberto - Lixeira do Hulene, a mais velha e maior lixeira a céu aberto da capital do país, implementada na epóca colonial, situada a 10 km do centro da cidade de Maputo e localizada próximo do Aeroporto Internacional de Maputo.

Hoje a lixeira encontra-se no meio de um bairro superpovoado denominado Hulene, com cerca de 60.000 pessoas. O local ocupa uma área de cerca de 17 hectares e uma altura de resíduos sólidos entre 6 a 15m. A lixeira está aberta 24 horas por dia e é frequentada por cerca de 700 catadores (LVIA, 2009 pág.15).

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