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Capítulo 2. Relevância das IC nos países desenvolvidos: uma análise descritiva

2.2. Panorama geral da importância das IC ao nível mundial

Várias fontes (artigos, relatórios e livros) fornecem já uma contabilização da dimensão das IC (definições nem sempre totalmente equivalentes) em alguns países desenvolvidos. Por exemplo, em 2001 as indústrias core copyright nos Estados Unidos tinham um valor estimado de $US791,2bn, representando 7.8% do produto interno bruto e empregando 8 milhões de pessoas (Siwek, 2002). De acordo com a mesma fonte (Siwek, 2002), o seu peso nas vendas externas/exportações era de $US88,97bn – ultrapassando a indústria química, veículos automóveis, aviação, agricultura, componentes electrónicos e computadores. No Reino-Unido, referente ao mesmo ano (mas com definições diferentes), as estimativas das ICs era de terem gerado vendas de £112,5bn, empregando 1,3 milhões

de pessoas, com £10,3bn de exportações e mais de 5% do produto interno bruto (DCMS, 2001). Na Austrália, as IC tinham em valor de $A25bn, estando as áreas mais dinâmicas como os conteúdos digitais a crescer a um ritmo duas vezes superior ao da restante economia (NOIE, 2003). Os inputs criativos para outras indústrias de serviços como a área financeira, da saúde, governo e turismo estavam também a crescer a ritmos elevados. No livro Creative Economy (Howkins, 2001), constatamos que os Estados Unidos são os produtores dominantes na área das IC, com mais de 45% do total global, com percentagens ainda superiores na área de software, publicidade e I&D (cf. Tabela 5). No entanto, é esperado que o crescimento futuro das IC seja mais acentuado na Ásia Oriental, alavancado pela procura gerada pelo crescimento rápido das classes médias urbanas (Yusuf e Nabeshima, 2005). Uma combinação de incentivos de mercado e políticas governamentais pró-activas está por trás do crescimento da importância das IC em Singapura, Hong Kong e Taiwan, onde o seu contributo para o produto interno bruto atingiu 3.0%, 3.8% e 5.9% respectivamente no ano 2000, comparado com 7.8% ao ano nos Estados Unidos (Yusuf e Nabeshima, 2005).

Tabela 5: The Creative Economy - Market Size (1999, in $ billions)

Sector Global US UK Publicidade 45 20 8 Arquitectura 40 17 2 Artes 9 4 3 Artesanato 20 2 1 Design 140 50 27 Moda 12 5 1 Filmes 57 17 3 Música 70 25 6 Artes Performativas 40 7 2 Publicação 506 137 16 I&D 545 243 21 Software 489 325 56 Brinquedos e Jogos 55 21 2 TV e Rádio 195 82 8 Jogos de Vídeo 17 5 1 Total 2240 960 157 Fonte: Hawkins (2001).

Os crescimentos médios anuais estiveram entre 10% (Taiwan) e 22% (Hong Kong) durante a última década, com as áreas de design, software, produção de filmes, jogos electrónicos e publicação actuando como principais motores de crescimento (Centre for Cultural Policy Research, 2003). Mais recentemente um estudo focado na economia da cultura na Europa (ECE, 2006) fornece-nos valores com um nível de detalhe muito interessante que confirmam a importância deste sector para a economia europeia (Tabela 6).

Tabela 6: Resumo da contribuição das IC para a economia Europeia

Volume de Negócios: »» O sector criativo e cultural gerou um volume de negócios superior a €654 biliões em 2003

Valor acrescentado ao PIB Europeu: »» O sector criativo e cultural contribuiu em 2,6% para o PIB Europeu em 2003

Crescimento: »»

O crescimento do sector cultural e criativo na Europa entre 1999 e 2003 foi 12,3% superior ao crescimento da economia em geral.

Fonte: ECE (2006).

Em 2003, o volume de negócios das IC na Europa ascendeu a €654 biliões. Em termos de valor acrescentado para a economia Europeia este sector representou 2.6% do PIB europeu (ECE 2006).

Tabela 7: Contributo das IC para a economia Europeia em termos de Volume de Negócios e PIB

Volume de Negócios 2003 (todos os sectores incluídos)

(€ milhões)

Valor acrescentado ao PIB nacional (todos os sectores incluídos)

Áustria 14.603 1,8% Bélgica 22.174 2,6% Chipre 318 0,8% Dinamarca 10.111 3,1% Eslováquia 2.498 2,0% Eslovénia 1.771 2,2% Espanha 61.333 2,3% Estónia 612 2,4% Finlândia 10.677 3,1% França 79.424 3,4% Alemanha 126.060 2,5% Grécia 6.875 1,0% Holanda 33.372 2,7% Hungria 4.066 1,2% Irlanda 6.922 1,7% Itália 84.359 2,3% Letónia 508 1,8% Lituânia 759 1,7% Luxemburgo 673 0,6% Malta 23 0,2% Polónia 6.235 1,2% Portugal 6.358 1,4% República Checa 5.577 2,3% Suécia 18.155 2,4% Reino Unido 132.682 3,0%

(...)

Volume de Negócios 2003 (todos os sectores incluídos) (€ milhões)

Valor acrescentado ao PIB nacional (todos os sectores incluídos) Bulgária 884 1,2% Roménia 2.205 1,4% Noruega 14.841 3,2% Islândia 212 0,7% Total EU 25 636.145 Total 30 países* 654.287

* Os países incluídos na análise estatística são os 25 estados membros mais os dois países que se juntaram em Janeiro de 2007 (Bulgária e Roménia), mais os três países da EEA (European Economic Area) – Islândia, Noruega e Liechtenstein. Por falta de disponibilidade de dados nem sempre o Liechtenstein é incluído nas estatísticas

Fonte: ECE (2006) – Eurostat e Amadeus – Dados preparados por Media Group

A Tabela 7 e as Figuras 1 e 2 permitem as seguintes observações. Predominância dos países de maior dimensão (em particular RU e Alemanha) que concentram um valor elevado do volume de negócio. Os cinco maiores membros da comunidade europeia (RU, Alemanha, França, Itália e Espanha) representam quase três quartos do volume de negócio das IC na Europa. Estes valores estão alinhados com a dimensão total das maiores economias Europeias em que a soma dos PIBs nacionais destes cinco países representa aproximadamente 74% do PIB da EU25. Ao nível dos países o contributo das IC em termos percentuais relativamente ao PIB tem os valores mais elevados em França, RU, Noruega, Finlândia e Dinamarca

Figura 2: Valor acrescentado PIB (todos os sectores incluídos)

Em todos estes países a contribuição para as economias nacionais é superior a 3%. Na Bélgica, Republica Checa, Alemanha, Estónia, Espanha, Itália, Holanda, Eslovénia e Suécia este valor situa-se entre os 2% e 3%. Segundo este estudo, Portugal tem um volume de negócios associado às IC de 6.358 milhões de Euros com um contributo de 1,4% para o PIB. Estamos longe dos valores dos países mais desenvolvidos e temos muito próximo de nós um conjunto de países que aderiram mais recentemente à comunidade europeia. O estudo fornece também uma comparação do contributo das IC relativamente a outras indústrias de grande dimensão na economia Europeia (Tabela 8). As IC geraram €654 biliões em 2003, enquanto a indústria automóvel teve um volume de negócio de €271 biliões em 2001 e o volume de negócio dos fabricantes de TIC foi de €541 biliões em 2003 (valores para EU15).

Em termos comparativos, verifica-se que há poucos sectores que contribuam com mais de 3% para o PIB do respectivo país. Isso acontece apenas para os sectores da alimentação e bebidas na Irlanda, Lituânia e Polónia; produtos químicos na Bélgica, Irlanda e Eslovénia; manufactura de equipamento eléctrico e óptico na Irlanda, Hungria e Finlândia e actividades imobiliárias na Dinamarca e Suécia. Na França, Itália, Holanda, Noruega e UK, o sector das IC tem o maior contributo para o PIB entre as indústrias consideradas. No caso de Portugal, o sector criativo foi o terceiro principal contribuinte para o PIB português (dados de 2003), logo a seguir aos produtos alimentares e aos têxteis (1,9% cada) e à frente de importantes sectores como a indústria química (0,8%), o imobiliário (0,6%) ou os sistemas de informação (0,5%).

Tabela 8: Contributo das IC e de outras indústrias para a economia Europeia (% do PIB) Fabrico de produtos alimentares, bebidas e tabaco (%) Fabrico de têxteis e produtos têxteis (%) Fabrico de químicos, produtos químicos e fibras (%) Fabrico de borracha e produtos plásticos (%) Fabrico de equipamento e maquinaria não classificada (%) Actividade Imobiliária (%) Computadores e actividades relacionadas (%) Sector Criativo e Cultural (%) Alemanha 1,6 0,3 1,9 0,9 2,8 2,6 1,4 2,5 Áustria 1,7 0,5 1,1 0,7 2,2 2,2 1,1 1,8 Bélgica 2,1 0,8 3,5 0,7 0,9 1,0 1,2 2,6 Chipre 2,7 0,4 0,5 0,3 0,2 N/A 0,6 0,8 Dinamarca 2,6 0,3 1,7 0,7 1,9 5,1 1,5 3,1 Eslováquia 1,5 0,7 0,6 0,9 1,5 0,5 0,6 2,0 Eslovénia 2,0 1,3 3,4 1,4 2,2 0,4 0,8 2,2 Espanha 2,2 0,7 1,3 0,7 1,0 3,0 1,0 2,3 Estónia 2,2 1,9 0,6 0,6 0,6 2,8 0,7 2,4 Finlândia 1,5 0,3 1,1 0,7 2,1 1,8 1,5 3,1 França 1,9 0,4 1,6 0,7 1,0 1,8 1,3 3,4 Grécia N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A 1,0 Holanda 2,2 0,2 1,7 0,4 1,0 2,3 1,4 2,7 Hungria 2,9 N/A 1,9 0,9 1,2 1,8 0,8 1,2 Irlanda 5,3 0,2 11,5 0,3 0,5 1,2 1,7 1,7 Itália 1,5 1,3 1,2 0,7 2,1 1,0 1,2 2,3 Letónia 3,2 1,2 0,5 0,3 0,5 2,1 0,7 1,8 Lituânia 2,5 1,6 0,4 0,5 0,4 1,1 0,3 1,7 Luxemburgo 1,0 0,9 0,4 2,0 0,6 N/A 1,2 0,6 Malta N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A 0,2 Polónia 4,7 0,8 1,4 0,9 1,2 1,3 0,6 1,2 Portugal 1,9 1,9 0,8 0,5 0,7 0,6 0,5 1,4 Reino Unido 1,9 0,4 1,4 0,7 1,0 2,1 2,7 3,0 República

Checa 2,8 1,0 1,3 1,5 2,3 1,4 1,2 2,3 Suécia N/A N/A N/A N/A N/A 4,0 2,2 2,4 Bulgária 2,2 2,0 1,1 0,4 1,3 0,4 0,3 1,2 Roménia 1,9 2,1 0,8 0,5 1,0 0,5 0,5 1,4 Noruega 1,7 0,1 0,8 0,2 0,8 2,7 1,3 3,2 Islândia N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A 0,7

Fonte: ECE (2006) [Eurostat e AMADEUS].

Isto torna evidente que as IC têm um papel muito importante no crescimento das economias europeias. Esta importância é reforçada pela dinâmica de crescimento demonstrada pelo sector. Durante o período analisado no relatório (1999-2003), as IC demonstraram um desempenho impressionante. Enquanto que o crescimento nominal da economia europeia nesse período foi de 17.5%, o crescimento do sector das IC no mesmo período foi de 19.7%. Além disso as IC mostraram uma tendência positiva ao longo desses anos tendo o seu contributo para o crescimento da economia europeia aumentado de

importância. Entre 1999 e 2003, o contributo do sector para o PIB português cresceu 6,3% (apesar de tudo, muito longe do que se passa no Leste Europeu: a Lituânia cresceu 67,8%, a República Checa 56%, a Letónia 17%, a Eslováquia 15,5%). Em Portugal, o volume de negócios do sector aumentou a uma taxa média anual de 10,6% entre 1999 e 2003, o dobro da média global da União Europeia (5,4%). Mais uma vez, os mais dinâmicos são os países do Leste.

Figura 3: Contributo das IC para o crescimento da economia Europeia (Crescimento Médio Volume de Negócios 1999 – 2003)

Figura 4: Contributo das IC para o crescimento da economia Europeia (Crescimento Valor Acrescentado ao PIB Europeu 1999 - 2003)

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