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CAPÍTULO V PANORAMA GERAL DA INVESTIGAÇÃO E SUA PROBLEMÁTICA

5.1. Panorama geral das tendências que assolam a família no mundo ocidental nos

A informação apresentada nos capítulos anteriores permite perceber a existência das enormes transformações que o mundo ocidental tem sofrido em vários setores (Saraceno, 1978, p. 82), fundamentalmente para a estrutura que compõe a família. No decorrer da história, a família tem passado por um processo de transformação, não só no quadro do relacionamento entre os membros que a constituem, mas também no plano do exercício das funções ou papeis atribuídos a cada um dos membros neste sistema (Moore, 1967, p. 2).

Antes da Revolução Industrial, em quase todo ocidente a família era caraterizada por um número elevado de filhos; ter muitos filhos era sinónimo de grande prestígio, mas também a elevada taxa de natalidade era contrariada pela mortalidade infantil, nasciam-se muitos filhos, mais também morriam muitos (Freita, 2014, p 26). Neste período o agregado familiar era constituído por duas ou três gerações distintas que estavam sob controlo do homem mais velho da família, o ancião (Idem). De lembrar que nesta família dominava o modelo do tipo patriarcado, assim sendo, eram os pais e os familiares que ditavam os casamentos dos filhos, sem qualquer liberdade de escolha por parte dos filhos/as, a constituição da nova família era da inteira responsabilidade dos pais e dos outros familiares (Burgshassi, 1974; Beltrão, 1989, p. 91).

Depois da Revolução Industrial, surgiu novo sistema de relacionamento na família ocidental, com um modelo completamente diferente do anterior. Com a saída das zonas rurais para as cidades (êxodo rural), a forma de exercer os papéis e as funções dos próprios membros familiares alteraram-se completamente. Desta vez verifica-se um número reduzido de filhos e de agregados familiares, o casamento passou agora a obedecer aos critérios de escolha livre e pessoal com base na afeição e no amor

ganhando terreno, valorizando-se a liberdade, a racionalidade e a igualdade de oportunidades (Leandro, 2000, p. 221); desta forma, novas transformações foram surgindo na família, passando a predominar um modelo de família nuclear (Beltrão & Good, 1973, p. 436).

Nos anos 60 do século XX e sobretudo com a taxa elevada da escolarização feminina, surgiram novas viragens no quadro do exercício das tarefas e funções de casa, em que as mulheres passaram a reivindicar a existência do reconhecimento dos deveres e direitos iguais aos dos homens, uma vez que ambos exercem agora profissões fora da residência, fazendo cair por terra o modelo parsoniano ou tradicional. Desde lá, novos paradigmas e novos tipos de famílias têm vinda a surgir (Alarcão & Relvas, 2002, p. 146). Cada vez mais na sociedade ocidental tem-se verificado de forma significativa o surgimento e a existência de novos modelos familiares, como é o caso das famílias recompostas, aquelas constituídas por um pai, uma mãe com ou sem filhos. Estas famílias são na sua maioria fruto de divórcio ou separação (Costa, et al., 1994, p. 19). Em Portugal este tipo de família tem aumentado cada vez mais, desde 2001 até 2011, o seu número duplicou, passando assim de 46 786 para 105 763 (Eurostat, 2012).

O tipo de famílias monoparentais e unipessoais tem vindo também a crescer no mundo ocidental (INE, 2013). Entende-se por famílias monoparentais aquele núcleo familiar constituído por um pai e uma mãe que não vivem e casal mas que têm filhos sob tutela dos seus cuidados. E entende-se por famílias unipessoais, aquelas famílias de indivíduos que vivem sozinhos. Nos últimos anos tem-se registado um número significativo deste tipo de famílias em Portugal, sobretudo para aquela população idosa. Se em 1991 as pessoas que viviam sozinhas em Portugal representavam 12,4% do total de famílias, este valor aumentou para 15,5 % em 2002 e em 2011 passou para 20,4% (INE, 2012).

Para além destes tipos de famílias acima referidos, tem surgido também no mundo ocidental alguns novos modelos de família, por exemplo a família homossexual, entendida como a coexistência de uma união conjugal entre duas pessoas do mesmo sexo (Relvas, 2004; Alarcão, 2006i, p. 97). Este tipo de família tem aumentado de forma significativa, em 2013 por exemplo, foram celebrados 308 casamentos de pessoas do mesmo sexo, três anos depois, ou seja, o número aumentou passando assim para 422, valor superior ao do ano anterior (350, em 2015), (INE, 2016).

Existem ainda outras tendências que também têm vindo assolar as famílias ocidentais nos últimos anos (Dias, 2000, Leandro, 2001, p. 142; Aboim, 2006, p. 63). Verifica-se uma redução significativa nos nascimentos de bebés ou seja, a taxa de natalidade baixou consideravelmente, que em contra partida é superada pela taxa bruta de envelhecimento. Cada vez mais nasce-se menos e vive-se muito mais tempo, ou seja, morre-se mais tarde, sobretudo para a população do sexo feminino (INE, 2016). No conjunto dos 28 Países Estados Membros, no período decorrido entre 2003 a 2013, Portugal apresentava o quinto valor mais elevado índice de envelhecimento; o terceiro valor mais baixo do índice de renovação da população em idade ativa e o terceiro maior aumento da idade média. Em 2013 por exemplo, a Itália apresentava a maior proporção de pessoas idosas (21,4%), ao contrário da Irlanda (12,6 %) e Portugal apresentava uma proporção superior a da UE 28, neste período era o quarto país com maior proporção de idosos, apenas ultrapassado pela Grécia, Alemanha e Itália, (INE, 2013; 2015).

Verifica-se também um aumento significativo de idade médio ao primeiro casamento, bem como ao nascimento do primeiro filho. “O número médio de filhos por mulher diminuiu, deixando de estar assegurada a subsistência de gerações que corresponde a um índice sintético mínimo de 2,1; as mulheres passaram a ser mães com idades tardias, a natalidade deixou de ser o principal fator de aumento da população” (Rosa & Chita, 2013, pp. 26-27; Almeida & André, 1995; Bandeira, 1996, p. 372). Nas últimas décadas, a fecundidade em Portugal decresceu muito rapidamente, do valor médio de 3,1 Filhos por mulher em idade fértil que se registava em 1960 passou-se para 1,5 em 1999. Mas apesar disso, nos últimos anos verificou-se um ligeiro crescimento, por exemplo no período entre 2006 a 2011 registou-se algumas oscilações entre 1,35 e 1,40, tendo posteriormente descido até 1,21 filhos por mulher em idade fértil em 2013. Em 2016 atingiu o valor de 1,36 filhos por mulher em idade fértil, o que traduz uma recuperação face aos valores observados nos anos de 2012 e 2015, (INE, 2017).

As nupcialidades constituem também uma outra tendência que assola a família nos últimos anos, tem-se verificado uma queda significava nesta vertente. Em 2014 por exemplo em Portugal realizaram-se cerca de 31 478 casamentos, menos 520 (1,6%) do que no ano anterior, ou seja, em 2013 (31 998). Mas apesar disso, em 2015, registou-se um ligeiro aumento, sendo que neste ano realizaram-se no país cerca de 32 393, mais 915 (2,9%) do que no ano anterior (31 478), (INE, 2015).

O adiamento da idade ao primeiro casamento é uma das tendências que também tem dominado bastante. Em 2015 a idade média ao primeiro casamento foi de 36,3 anos para os homens e 33,8 para as mulheres. No ano seguinte (2016) passou para 36,8 para os homens e 34,3 para as mulheres (INE, 2015 & 2016). Esta realidade tem uma relação colateral com a idade média ao nascimento do primeiro filho, cada vez mais tem-se optado por se ter o filho mais tarde. Por exemplo no período entre 2009 a 2014 esta tendência passou de 28,6 para 30,0 (INE, 2015).

Uma outra tendência a ter em conta relaciona-se com o aumentou significativo dos divórcios, tem-se tornado cada vez mais fácil e frequente divorciar-se, os laços matrimoniais tornaram-se tão frágeis talvez fruto daquilo que Baumann chama de amor líquido, já que hoje a própria indissolubilidade é questionável, o casamento dura enquanto durar o amor (Giddens, 2007, p. 43). Em 2013 Portugal decretou cerca de 22 784 divórcios, menos 2 938 do ano anterior (2012), 22 525. Neste mesmo ano (2013), Portugal ocupava a 9ª posição no ranking dos 28 Países Membros. As taxas mais elevadas registaram-se na Letónia e na Lituânia e Dinamarca e em contra posição as taxas mais baixas registaram-se na Irlanda, Malta e Itália (INE, 2014, 2015 & 2016).