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3. O APL DE EQUIPAMENTOS MÉDICO-HOSPITALAR E

3.1.2. O panorama mundial do setor

Em todo o mundo, o setor de equipamentos médico-hospitalares e odontológicos, ou de equipamentos para a saúde, é reconhecido como um importante propulsor de desenvolvimento tecnológico, sobretudo indutor de inovação, demandando o intenso cruzamento de diversas áreas do conhecimento (desde as ciências biológicas até campos das ciências exatas e engenharias). Trata-se de um setor que tem apresentado grande dinamismo em todo o mundo como bem assinala a ABDI (2009, p.8) que atribui isso a crescente demanda por serviços e produtos ligados à saúde por parte da população que se encontra em constante crescimento, “resultante das mudanças demográficas e das próprias características dos bens e dos serviços de saúde, que despertam elevado interesse social”.

Se considerarmos o mercado mundial do setor no ano de 2008 foram movimentados cerca de US$ 210 bilhões. Apesar de variada a produção mundial do setor é concentrada em segmentos de alto conteúdo tecnológico, como os materiais ortopédicos e os equipamentos de diagnóstico por imagem que em 2008 somaram 40% dos produtos, segundo dados do “The World Medical Markets Fact Book” (MORELI, FIGLIOLI, OLIVEIRA, PORTO, 2010). Os países desenvolvidos lideram o mercado do setor, principalmente os Estados Unidos, que são os responsáveis por 40% da produção mundial, seguido dos países da Europa Ocidental com 28%. Nesse cenário, o Brasil participa apenas com 1,4%, ficando em 11º lugar nessa distribuição.

A concentração do mercado do setor não se dá apenas na dimensão produtiva, mas também no comércio internacional. Os cinco maiores exportadores do setor no ano de 2006, por exemplo, foram os EUA, Alemanha, Holanda, França e Grã-Bretanha, correspondendo a 55% do total exportado em todo o mundo. Em relação a importação, temos um cenário semelhante, onde os cinco maiores importadores foram EUA, Alemanha, Holanda, França e Japão. O peso dos EUA nas importações e exportações se deve ao fato de empresas norte-americanas exercerem as suas atividades produtivas em outros países, sendo estes utilizados como plataformas de exportação.

Dentre os principais países produtores, Estados Unidos e Alemanha se destacam por serem os países de origem de grandes empresas do setor, como a Johnson & Johnson, General Eletric (EUA) e Siemens (Alemanha). Além disso, das 30 maiores empresas do setor no mundo em 2008, 19 são norte-americanas, 3 alemãs, 3 japonesas, uma irlandesa, uma holandesa, uma suíça, uma britânica e uma belga. As receitas das 10

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maiores empresas somam US$ 130 bilhões, oque equivalem a 64% de todas as vendas no setor no ano de 2008. Esse percentual confirma a concentração do setor em grandes empresas multinacionais e com origem em países específicos.

A produção norte-americana tem como principais produtos os instrumentos cirúrgicos e médicos, os equipamentos eletro-médicos, as substâncias para diagnósticos in-vitro, os aparelhos de irradiação, os produtos odontológicos e oftalmológicos. Trata- se, portanto, de uma indústria diversificada com empresas atuando em praticamente todos os segmentos do setor de EMHO.

Ainda em relação à produção norte-americana, alguns fatores institucionais e empresariais devem ser elencados para entendermos o sucesso do setor. O primeiro fator é o tipo do sistema de saúde americano que é majoritariamente privado – mesmo após a reforma realizada pelo governo desse país buscando ampliar o mecanismo de subsídios para a população pagar os planos privados –, com capacidade para absorver novas tecnologias e tratamentos de ponta. O segundo fator é o alto poder aquisitivo da população norte-americana. Os incentivos a abertura de novos mercados é visto como um terceiro fator. O último fator se refere à existência de indústrias com domínio tecnológico alto e que investem em pesquisa e desenvolvimento (PIERONI, REIS, SOUZA, 2010, p.190).

Situação diferente é a encontrada na Alemanha que possui uma produção mais especializada, atuando dessa maneira em segmentos específicos como a produção de equipamentos de alta qualidade, principalmente de diagnóstico por imagem, produtos odontológicos e óticos. O Japão por sua vez, se destaca na produção de aparelhos de ultrassonografia, eletrodiagnósticos e instrumentos oftálmicos. Somam-se ainda a Holanda e a Suíça, com as suas multinacionais Philips e Roche, respectivamente.

Apresentando uma economia com um dinamismo econômico inferior aos das potencias europeias, a Irlanda tem chamado atenção em relação ao setor, pois sendo um país de economia mais tardia se comparado as grandes economias regionais (Alemanha, Reino Unido e, França, por exemplo) apresenta o maior cluster de indústria de tecnologia médica da Europa. Em 2010 havia no país 140 empresas do setor empregando 25 mil pessoas, oque equivale a 11% da força de trabalho nacional.

A China também tem conseguido se destacar no setor de EMHO, sobretudo, na produção de equipamentos médicos com grande conteúdo tecnológico e equipamentos para laboratórios clínicos e reagentes. O setor tem no país um importante mercado consumidor, sendo que de 83 milhões de chineses que são incapacitadas, 80% precisam

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de equipamentos de monitoração contínua e não podem viver sem tais equipamentos, além de 149 milhões de pessoas idosas (11,4% da população) com estimativa de que o número irá atingir 400 milhões de idosos até 2050. Cabe mencionar também que parte dos equipamentos médicos em utilização no país foi fabricada em 1970, necessitando a sua substituição por novos em curto e médio prazo. Com isso, o governo chinês tem feito investimentos seja para a construção de infraestrutura básica de saúde, ou a implantação de políticas de diminuição das barreiras de importação de EMHO.

Um processo que tem sido registrado no setor de EMHO e que nos ajuda entender esse ambiente concentrado entre poucas empresas é o movimento de fusões e aquisições, principalmente, em relação ao interesse das empresas farmacêuticas pela indústria de EMHO.

Essa tendência decorre da necessidade de economias de escala na produção, economias de escopo em P&D de novos produtos e da existência de diversas pequenas empresas que contam com tecnologia, mas não têm porte sufi ciente para introduzir produtos no mercado, atraindo a atenção de grandes empresas (PIERONI, REIS E SOUZA, 2010, p. 193).

Com o exposto, notamos que o setor de EMHO encontra-se muito concentrado, formando um verdadeiro oligopólio mundial liderado por grandes empresas norte- americanas e europeias.

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