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3. A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE VIA OSs: retrocessos no SUS

3.2 Os reflexos das OSs na gestão do SUS: contradições e prejuízos

3.2.2 Panorama das OSs no Brasil

Sob o argumento de modernização da gestão, e de maior eficiência na prestação dos serviços públicos (atividades não exclusivas do Estado, como a saúde), maior autonomia gerencial e um melhor atendimento ao cidadão com menor custo, as Organizações Sociais na saúde passam a ser disseminadas pelo país, em estados e municípios. Destaca-se o Estado de São Paulo, que passou a implementá-las ainda em 1998, pela Lei Complementar nº 846, adotando-as como modelo na propagação para os demais estados e municípios do país.

Para que estados, municípios e o Distrito Federal firmem contrato com Organizações Sociais e qualifiquem entidades como as OSs, é necessário que criem suas próprias leis, com base na Lei 9.637/98.

Ainda no que se refere ao mapeamento de OSs no Brasil, em 2007, de 70 (setenta) OSs criadas no país, a saúde era o maior setor contemplado, com 25 organizações, sendo 16 em São Paulo81, uma no Espírito Santo, três na Bahia, três no Pará e uma em Goiás82 (SANO E ABRÚCIO, 2008).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de 2013, passou a incorporar em sua Pesquisa de Informações Básicas Estaduais – Perfil dos Estados Brasileiros (Estadic) a contratação de Organizações Sociais na saúde. O questionário respondido pelos gestores estaduais revelou que 17 estados da federação recorrem à contratação das Organizações Sociais (OSs). Como se pode visualizar no mapa da pesquisa do IBGE.

81O número de OSs qualificadas no estado de São Paulo segundo o portal da transparência do

estado é de 32. Conforme Rubens Navez Santos Jr., atualmente cerca de 60% dos atendimentos públicos na cidade de São Paulo são prestados por OSs. Disponível em: http://www.rubensnaves.com.br/pt-BR/news/debate-e-lancamento-de-livro-sobre-organizaces-

sociais?gclid=CLf4-9K9pMACFZJr7AodewsA-Q#/). Acesso em: 20.8.14.

82Em Goiás, conforme o levantamento realizado no site da Secretaria Estadual de Saúde em 2014,

Figura 2

Mapa 1 − Contratação de serviço de saúde através de Organização Social − 2013

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Estaduais 2013 e Diretoria de Geociências, Coordenação de Geografia.

Outra fonte de dados sobre o número de unidades de saúde (federal, estadual, municipal) que são gerenciadas por Organizações Sociais no país é o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), vinculado à base de dados do Ministério da Saúde. Conforme o mapeamento dessa fonte de dados, foi possível constatar que as Organizações Sociais estão presentes na maior parte das unidades administrativas da federação, gerenciando unidades de saúde83 em estados e municípios do país. Dos 26 estados da federação mais o Distrito Federal,

83Em anexo segue o quadro das unidades de saúde que são geridas por OSs no Brasil, segundo site

do CNES-MS/2014. Salienta-se, entretanto, que os dados do anexo são de outubro de 2014, no qual se observam 231 unidades de saúde geridas por OSs. Já os dados que constituíram o mapa 2 são de agosto de 2014, quando o número de unidades de saúde geridas por OSs era 228. Desse modo, conclui-se que houve um aumento de três unidades de saúde geridas por OSs no Brasil.

elas estão presentes em 24, totalizando 97%, gerenciando 22884 unidades de saúde no país, sejam de nível estadual ou municipal. Como pode ser visto na figura 2.

Figura 2

Mapa − Mapeamento do número de unidades geridas por OSs no Brasil − 2014

Fonte: Pesquisa documental realizada em de 2014. Dados coletados no site do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES do Ministério da Saúde85.

84Entre estas 228, unidades de saúde, a pesquisa revelou que as OSs gerenciam seis secretarias

municipais de saúde de cinco estados: Bahia, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba e Piauí.

85Cabe ressaltar que apesar de o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES/MS) ser

uma fonte oficial, as informações não estão atualizadas, visto que há dados que não condizem com a pesquisa ESTADIC 2013 do IBGE, além de outras fontes de dados. Como o caso do estado do Rio de

Comparando os mapas 1 e 2, pode-se afirmar que o único estado que não tem OSs, em nível estadual ou municipal, é o Acre. Nos estados do Amapá, Tocantins, Rondônia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas e Sergipe, ainda que não haja contrato com OSs em nível estadual (como demonstra o mapa 1), existem contratos em nível municipal, como consta no CNES. Nos estados do Amazonas e do Maranhão, constata-se uma contradição entre os dados do primeiro mapa, da ESTADIC/IBGE, em que consta haver contrato com OSs em nível estadual, e o segundo mapa, o qual explicita a ausência de qualquer contrato em nível municipal ou estadual. Esses dois estados precisam ser mais bem investigados.

Vale salientar que o levantamento que realizado através do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES/MS) diz respeito ao número de unidades geridas por OSs. Assim, uma OSs pode gerenciar uma ou mais unidades de saúde, tanto num mesmo município como em outros estados. Um exemplo é o caso do Instituto Pernambucano de Assistência a Saúde – IPAS, que gerencia unidades de saúde em Alagoas, Pernambuco, Mato Grosso e no Rio Grande do Norte; nesse último estado, esta OS foi descredenciada devido a irregularidades investigadas pelo Ministério Público Estadual.

Os dados do Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES/2014) não estão em conformidade com a pesquisa do IBGE/ESTADIC 2013. Como pode ser visualizado, os estados do Amazonas e do Maranhão não constam na base de dados do CNES; já na pesquisa realizada pelo IBGE, consta que Amazonas e Maranhão têm suas unidades de saúde estaduais ou municipais gerenciadas por OSs. Cabe ainda salientar que o cadastro abrange unidades de saúde das três esferas administrativas (municípios, estados e União).

Constata-se que as incoerências dos dados acima apresentados refletem as falhas na alimentação das fontes de dados oficiais do governo, bem como a falta de transparência por parte das secretarias de saúde. Isso vai de encontro à Lei de Janeiro; neste, segundo o CNES, constam apenas 11 unidades de saúde geridas por OSs. Entretanto, como consta do texto de uma auditoria que está sendo realizada pelo Ministério Público: “das 30 UPAs na capital fluminense, apenas três ainda pertencem ao poder público. Todas as 14 UPAs da prefeitura são hoje administradas por Organizações Sociais. No município do Rio de Janeiro, a atuação delas na rede de Saúde é permitida desde maio de 2009, quando a Câmara de Vereadores aprovou a Lei nº 5.026”. MP do Rio investiga Iabas e outras 11 OSs da saúde. O Globo. 31.1.14. Disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/emergencia/posts/2014/01/31/mp-do-rio- investiga-iabas-outras-11-oss-da-saude-522594.asp. Acesso em: setembro de 2014.

Acesso à Informação (12.527, de 2011) e à Portaria 3.462, de 2010, do Ministério da Saúde, as quais estabelecem o dever dos gestores de manterem seus dados atualizados junto às bases de dados do referido Ministério. Não se tem observado o cumprimento do que está previsto em lei.

Cabe salientar, ainda, que a Lei de Acesso à Informação estabelece no seu capítulo II, art. 7º, “como direito de cidadão, obter informação primária, íntegra, autêntica e atualizada”. Já a Portaria nº 3.462/2010, em seu art. 2º, determina a obrigatoriedade dos gestores “de alimentação mensal e sistemática dos Bancos de Dados Nacionais dos Sistemas: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde − SCNES, Sistema de Informação Ambulatorial − SIA/SUS, Sistema de Internação Hospitalar − SIH/SUS [...]” (BRASIL, 2010).

No que se refere ao levantamento de recursos destinados às unidades gerenciadas no país, em nível nacional, estadual e municipal, por OSs, o sistema do TABnet do DATASUS até a presente data não havia disponibilizando tais informações, impossibilitando o levantamento. Apesar de a Comissão Nacional de Classificação – CONCLA86, que foi criada em 1994 com a finalidade de monitorar e definir as normas de utilização e padronização das classificações estatísticas nacionais, ter incorporado as Organizações Sociais como nova classificação de natureza jurídica87 a partir de 2014.