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4.2 Análise das Práticas Setoriais de Logística Reversa com Integração de Cooperativas

4.2.1 Setor de Papelão

No setor de papelão, as cooperativas de catadores Coopamare, Vira Lata e Cooperação comercializam para a empresa Suzano. A cooperativa Cooperação também tem relações comerciais com outra empresa produtora no setor de papel e celulose. Vale ressaltar que a cadeia de suprimentos da empresa Suzano é classificada como ciclo aberto, segundo Leite (2009), pois a embalagem de papelão adquirida é utilizada na produção de um produto específico, o papel Reciclato®. Um produto, portanto, distinto do original, que visa atendimento de um segmento específico do mercado devido ao conceito do produto. Na Figura 15 estão apresentadas as relações estudadas no setor de papelão.

Figura 15 - Relações entre cooperativas de catadores e empresas estudadas no setor de papelão. Fonte: Elaborada pela autora

Ao se considerar as relações das cooperativas de catadores com a empresa Suzano, percebe-se que essa apresenta uma série de exigências quanto à seleção das cooperativas, como não utilização de mão de obra infantil, ausência de conflitos com comunidade no entorno e de atividades ilícitas (ex.: mercado clandestino do vidro), devido aos critérios de homologação de fornecedores exigidos para obtenção de certificação FSC. A motivação da empresa para integração das cooperativas de catadores deve-se principalmente ao seu programa de responsabilidade socioambiental. Como visto anteriormente, a produção de papel reciclado representa uma parcela pequena do seu negócio. Como prática está relacionada à produção de um produto - o papel reciclado, ela repercute pelo seu ciclo de vida envolvendo diversas áreas, como de Produto, Certificação, Compras, Institucional, Sustentabilidade e Infraestrutura. Tal prática está em consonância com a teoria, conforme Krikke (1998), Gonçalves-Dias (2003), e Barbieri e Cajazeira (2009) que relacionam logística reversa e ciclo de vida do produto.

Apesar das exigências quanto à qualidade do papelão reciclável, bem como questões de segurança no seu transporte, as operações necessárias para as cooperativas são relativamente simples, exigindo a separação do papelão dentre os materiais recicláveis e a confecção de fardos através de prensas. Sendo assim, todas as cooperativas analisadas que atuam como fornecedoras de primeira camada mantêm relações comerciais com a Suzano. A cooperativa Coopermyre, que foi entrevistada visando explanação rival teórica, não vende

diretamente para as empresas do setor de papel e celulose devido aos conflitos entre prazo de pagamento e remuneração dos cooperados, não alegando, portanto, dificuldades relativas às operações. Ressalta-se que, mesmo a cooperativa Coopamare que apresenta baixo volume de materiais recicláveis em comparação às demais, comercializa para a empresa. A principal fonte de materiais recicláveis da Coopamare é proveniente de “carrinheiros” e, conforme observações em campo, é perceptível visualmente a representatividade do papelão dentre o volume de materiais recicláveis coletados por eles. Na Figura 16 pode-se observar a diferença de qualidade no papelão comercializado pela Coopamare e pela Vira Lata, conforme Figura 16b, onde se percebe uma quantidade de impurezas nos fardos. As cooperativas Cooperação e Cooper Vira têm informações quanto ao grau de impurezas admitido pelas empresas compradoras, o que aumenta o valor dos fardos. Já a Coopamare procura obter fardos com mínimo de impurezas, mas não recebem remuneração adicional por isso, pois consideram como uma contribuição pelo valor acima de mercado que a empresa compradora oferece.

a) Coopamare: Acúmulo de Fardos de Papelão b)Vira Lata: Acúmulo de Fardos de Papelão (frente) e Bags de Papel e Plástico (fundo) Figura 16 - Qualidade dos fardos de papelão confeccionados pelas cooperativas Coopamare e Vira Lata. Fonte: Elaborada pela autora

Como a embalagem de papelão é amplamente utilizada em operações logísticas no transporte de produtos, podendo ser considerada uma medida do “motor da economia”, são gerados volumes consideráveis de papelão reciclável. Com base em relatório da cooperativa Cooperação, por exemplo, o papelão representa mais de 60% do volume, em quilograma, e aproximadamente 40%, em receita, em relação aos materiais recicláveis comercializados. Segundo o representante do MNCR, o papelão é “o carro chefe das cooperativas”. Como a

cooperativas acumulam um volume considerável de papelão, além da existência de diversos intermediários (aparistas) que vendem para as empresas com base nos preços de mercado, justifica-se as recusas das cooperativas de catadores quanto às iniciativas de formalização de contratos pela empresa Suzano e outras do setor.

A cadeia reversa envolvendo a Coopermyre e aparistas (Figura 17, parte inferior) é considerada de ciclo fechado, conforme conceito de Leite (2009), pois visa a fabricação de embalagens similares, caracterizando-se pela alta eficiência no fluxo reverso. Com base em dados estatísticos, divulgados pela Associação Brasileira do Papel Ondulado (ABPO), a taxa de recuperação do setor é de 79,6%, apresentando, portanto, elevada taxa de retorno.

Constatou-se a existência de cotas em volume de comercialização pela empresa Suzano, sendo necessária a comercialização para outras empresas. Tal fato pode ser contrastado com a relação quantidade de aparas pós-consumo do total utilizadas na produção do papel reciclado, de 25%, bem como quanto à baixa representatividade em receita e volume do papel reciclado dentre os produtos do portfólio da empresa.

A empresa repassa os preços dos papéis recicláveis mensalmente às cooperativas, conforme destacado pela Cooperação. Duas cooperativas que vendem papéis recicláveis para as empresas ressaltaram a ocorrência de variações de preço, redução de volume de venda devido à existência de cotas de compra e, consequentemente, diversificação de comprador no período entre os meses de Dezembro e Janeiro, conforme parte da entrevista a seguir relatada:

Quando a [empresa] está abarrotada nos seus galpões, ela baixa o preço e a outra que não tem nada mantém um preço legal; então você tem a opção, você fala para a [empresa] „você está cheia, então eu vou mandar para cá‟... „ok‟... então você ajuda a empresa e ao mesmo tempo se ajuda. Então nós temos hoje dois compradores sem contrato, mas que supre as nossas necessidades.

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