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O cargo de conselheiro, seja ele titular ou suplente, não é remunerado, embora seja considerado como um serviço público relevante. Dessa forma, cabe aos conselheiros atentarem para suas competências para que medidas como substituição por falta não lhes sejam atribuídas. O comparecimento às reuniões é imprescindível aos conselheiros, no caso de impossibilidade do titular, o suplente deve comparecer em seu lugar, do contrário, em caso de três faltas consecutivas ou quatro alternadas, tanto o conselheiro de órgão governamental quanto o de entidade não-governamental estão sujeitos a substituição.

Cabe ressaltar que, nos últimos anos, a atuação da sociedade civil formou a sua identidade através da atuação de alguns conselheiros que possuem história na área da criança e adolescente. Ao analisar a composição dos conselheiros da sociedade civil ao longo dos anos, verificou-se que, acumulando mandatos, alguns conselheiros chegam a participar por quatro mandatos consecutivos, ou seja, mais de oito anos exercendo o cargo7. Nota-se que essa característica vem mudando ao longo dos anos e de forma diferenciada nessa ultima gestão8. Essa participação é concebida por Sales (2004, p.228) de forma positiva e diferenciada “pelo nível de engajamento, compromisso com a implementação e defesa do ECA, presença nas assembléias, capacidade crítica e de formulação de propostas, e liderança nas suas respectivas entidade e áreas de atuação”, que segundo ela, dão nova forma e conteúdo na qualidade da representação.

A mesma autora afirma que a atuação do governo no Conanda se dá, inicialmente, de forma cética e pragmática devido às heranças de centralidade no protagonismo do Estado de modo a não legitimar a participação da sociedade civil.

Durante as entrevistas com os conselheiros governamentais do Conanda foi possível

7 FONTE: Anais das Conferencias Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

8 Há uma mudança em curso no Conanda, verificada principalmente na última gestão, com mudanças

verificar que essa relação vem se modificando também devido a características dessa nova gestão do conselho como destaca um conselheiro.

Hoje há uma mudança em curso no Conanda, a Carmem9 tem história na área, ela foi gestora do sistema FEBEM, então ela conhece muito as políticas as quais o Conanda se vincula e vem conseguindo produzir uma unidade de governo. Os representantes são novos, parecem mais dispostos, mais vinculados. Então hoje, o governo, diferentemente, de anos atrás, digo pelos dois que participei, começa a tomar uma identidade mais forte e isso cria um movimento na sociedade civil pra que ela também se unifique. Então, há diferenças, há compreensões distintas, mas em questões muito específicas o conselho se apresenta como um só, uno, indivisível. Mas certamente, ainda quem produz identidade ao conselho são os membros da sociedade civil (E05).

Entretanto, não se pode negar que a correlação de forças é um elemento predominante e necessário ao funcionamento do Conanda. Ela é evidente não só entre as entidades governamentais e não-governamentais, mas também devido a divergências político-ideologicas devido à especificidade de cada entidade o que faz com que o Conanda não se apresente de forma coesa. Para que essa característica se apresente de forma positiva é necessário que o Conanda seja uma instância de mediação desses conflitos e que os colegiados assumam-se como instrumentos de articulação. A sociedade civil deve fazer crescer seus níveis de organização/organicidade e de mobilização, qualificar suas demandas e assumir politicamente os interesses da população infanto-adolescente. Já o governo, na vigente conjuntura, tentando ser sensível a essa modificação na correlação de forças estabelecida, em favor dos interesses dos mais necessitados deverá fazer crescer seus níveis de eficiência, eficácia e efetividade político-administrativa, qualificar e atender as demandas da sociedade e incorporar politicamente os interesses da população infanto-adolescente, para fazê-los valer como direitos e como dever seu. E conforme explicita Neto:

Além disso, o conselho dos direitos da criança e do adolescente precisa fazer valer politicamente sua coercibilidade, isto é, a capacidade de fazer respeitadas suas deliberações vinculantes, pelo Estado. E isso não é apenas uma questão técnico-jurídica, é uma questão político-institucional, a ser construída dentro daquela correlação de forças e na conjuntura atual.(p.115)

9Carmen Silveira de Oliveira é a atual presidente do Conanda. Representa a Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente – SPDCA, uma entidade governamental.

No que se refere a sua participação em assembléias e reuniões, cabe ao conselheiro em exercício debater e votar as discussões em andamento. Quando incumbido, deve prestar esclarecimentos e informações à Comissão Permanente, à mesa, ao Plenário ou à Secretaria Executiva e, quando solicitado a apresentar relatórios e pareceres, fazê-lo dentro dos prazos.

É interessante observar que, nas entrevistas com os conselheiros representantes de entidades governamentais, todos salientam a importância da presença efetiva dos suplentes nas discussões, muitas vezes porque os conselheiros nem sempre dispõem de tempo suficiente para o conselho e demandam que os seus suplentes possam, de forma satisfatória, substituí-los. Em outros momentos eles são eficazes na instrumentalização do conselho, através do suporte no aperfeiçoamento técnico de algumas temáticas pertinentes ao segmento.

(...) é importante que as duas pessoas participem, não só o titular.

Embora o regimento diga que só uma tem voto, mas ela pode contribuir nas discussões. Agente aqui em Brasília tem um problema porque como agente tem cargo de confiança é muito demandado,...

por isso a importância de ter dois representantes, tanto o suplente quanto o titular devem estar afinados pra que no momento que um, eventualmente, precise sair o outro possa substituir(E 06).

O Conselheiro deve ter uma atuação ética, ao desenvolver qualquer atividade dentro do colegiado, cabendo-lhe o direito a voz e voto nas assembléias. Seu perfil deve ser de conselheiro propositivo capaz de atender as necessidades relacionadas ao conselho, apresentando temas e assuntos pertinentes a serem discutidos na pauta de reuniões.

Dentre as principais competências do Conanda destacam-se:

- elaborar as normas gerais da política nacional de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, fiscalizando as ações de execução, observadas as linhas de ação e as diretrizes estabelecidas nos arts. 87 e 88 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);

- zelar pela aplicação da política nacional de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;

- dar apoio aos Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, aos órgãos estaduais, municipais, e entidades não-governamentais para tornar efetivos os princípios, as diretrizes e os direitos estabelecidos no ECA;

- avaliar a política estadual e municipal e a atuação dos Conselhos Estaduais e Municipais da Criança e do Adolescente;

- acompanhar o reordenamento institucional propondo, sempre que necessário, modificações nas estruturas públicas e privadas destinadas ao atendimento da criança e do adolescente;

- apoiar a promoção de campanhas educativas sobre os direitos da criança e do adolescente, com a indicação das medidas a serem adotadas nos casos de atentados ou violação dos mesmos;

- acompanhar a elaboração e a execução da proposta orçamentária da União, indicando modificações necessárias à consecução da política formulada para a promoção dos direitos da criança e do adolescente.

Também cabe ao Conanda gerir o Fundo Nacional da Criança e do Adolescente (FNCA)

Fonte: Secretaria Especial dos Direitos Humanos

Os conselhos proporcionam um processo de interlocução permanente. Ao mesmo tempo em que objetiva a proposição de políticas públicas e a criação de espaços de debate públicos, também visa o estabelecimento de mecanismos de negociação e pactuação, permitindo a inserção da sociedade civil na lógica burocrática estatal para transformá-la, buscando exercer o controle socializado das ações e deliberações governamentais. Para essa finalidade é importante que os conselheiros busquem a capacitação em uma perspectiva crítica e propositiva, principalmente os representantes da sociedade civil, que precisam incorporar novas competências políticas, culturais, étnicas e técnicas, sem perder de vista a luta dos movimentos que representam. Desempenhando assim o seu papel com seriedade e compromisso social com a coisa pública.

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