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3 A IMPORTÂNCIA DA MODA E DO VESTUÁRIO

3.2 O PAPEL DA MODA

Mas afinal, porque participar da moda e experimentar o vestuário é tão importante?

Porque a moda, através da sua face mais visível, o vestuário, é um importante canal de comunicação que permite que os indivíduos sejam avaliados e aceites ou não por outros indivíduos. Para

Bovone

(28), “a aparência e o vestuário dos outros influencia nossa percepção a respeito destes antes de qualquer coisa que eles digam. Ao formar-se a decisão em iniciar qualquer tipo de contacto, nós avaliamos a aparência externa da pessoa”. Ainda, a moda tem a capacidade de elevar a auto estima de uma pessoa, e fazer com que esta sinta-se bem ou não consigo mesma. Segundo

Crane

e

Bovone

(29), “o vestuário tanto afecta quanto expressa nossas percepções sobre nós mesmos”. Com isso percebemos que para os indivíduos que apresentam necessidades especiais, a moda enquanto canal de comunicação e fenómeno sociológico é um importante factor que pode ajudá-los na interacção com a sociedade, ou, dependendo de como estes indivíduos relacionam-se com a moda e como se vestem, o efeito pode ser o oposto e estes podem sentir-se cada vez mais excluídos e sem condições de estabelecer contacto com outros de sua comunidade.

É verdade que os estudos a respeito da moda enquanto fenómeno cultural e sociológico são bastante recentes. Há não muito tempo atrás, a moda não era vista como um fenómeno social, mas como uma questão de futilidade, sendo ainda hoje vista desta forma por muitas pessoas.

Kawamura

(20) diz que “especialmente naquele tempo (no séc. XIX), roupas não eram consideradas um objecto merecedor de estudo, e pertenciam à esfera do frívolo e feminino, não valendo considerações sérias, somente discutido em círculos esclarecidos para ser condenada sobre sua extravagância e falta de moral”.

Actualmente, a moda continua ainda a ser marginalizada por muitos académicos e pesquisadores, e ainda mais pelo público em geral, considerando-

a um simples acto de consumo, de manipulação do público ou mesmo de demonstração da futilidade feminina. Sobre isso,

Crane

e

Bovone

(29) dizem que “apesar do facto de teoristas clássicos terem desenvolvido importantes teorias sobre a moda, estudos sociológicos da moda e vestuário continuam subdesenvolvidos actualmente, ignorados pela sociologia da cultura e pela sociologia das artes”. Pode-se facilmente encontrar livros e inclusive enciclopédias acerca da história da moda, mas na sua grande maioria estes referem-se apenas à evolução das peças, à forma como eram usadas e as diferenças que se pode perceber entre as décadas. Contudo, ainda é escasso o material que se pode encontrar reflectindo sobre a importância e a influência da moda nos indivíduos e suas relações, apesar de já poder-se perceber a movimentação de alguns pesquisadores sobre este tema.

Mora

(23), diz que “muitas pesquisas realizadas nos últimos 15 anos têm argumentado que a função básica da moda é expressar a identidade pessoal e social de um sujeito”. Com isso, podemos perceber que a moda e o vestuário começam a ser concebidos como importantes factores dentro da nossa sociedade, e fica cada vez mais claro a sua função de canal comunicativo entre os indivíduos. Para

Crane

e

Bovone

(29), “a moda pode ser considerada um fenómeno mais amplo, de criação e atribuição de valores simbólicos à cultura material”.

Enquanto fenómeno que interfere e muitas vezes é determinante para o envolvimento social dos usuários, a moda é antes de tudo um facto que deve ser considerado dentro dos estudos acerca da sociedade. “O movimento da moda é uma importante forma de comportamento colectivo com resultados muito significantes para a ordem social” (30).

Além disso, a moda é um reconhecido “veículo” de emoções e expressão de ideias, através do qual os usuários demonstram ou escondem seu estado de espírito, apoiam ou criticam ideologias, etc. Ainda, a sua faceta mais reconhecida, o vestuário, traz na sua criação um longo processo de pesquisa e desenvolvimento, que deve levar em consideração muitos aspectos, desde as

A Importância da Moda e do Vestuário

preferências do público consumidor, passando pela disponibilidade dos materiais, concorrência e principalmente inovação, o que exige do designer grande competência e criatividade, e nos permite perceber seu aspecto também artístico.

Com o aumento do interesse e da realização de reflexões acerca do tema, cresce a consciência colectiva sobre a importância deste fenómeno, e sua capacidade de interagir na inclusão ou exclusão de pessoas de seus respectivos grupos. A partir do momento em que uma pessoa fica privada de usar as roupas que gostaria, perde a capacidade de expressar a sua personalidade através do vestuário. Ainda, sua habilidade em interagir socialmente também é diminuída, já que o vestuário é uma forma de demonstrar a concordância de um indivíduo com os outros de seu grupo.

É importante para este trabalho que seja feita a distinção entre vestuário e moda, por se tratar de duas entidades diferentes.

Enquanto a moda é um fenómeno amplo, que abrange questões psicológicas e sociais, interfere na personalidade dos indivíduos e na sua relação interpessoal, o vestuário é uma das facetas deste fenómeno, e reconhecidamente o aspecto através do qual a moda toma mais frequentemente forma.

Kawamura

(20) explica que, “podemos ver que a unidade de análise em quase todos os estudos da moda é o vestuário, e nenhum estudioso claramente distingue a moda do vestuário”. Através deste comentário podemos perceber que o vestuário é uma das faces da moda, através da qual a maioria das pessoas pode percebê-la, e portanto, entendemos que a moda e o vestuário distinguem-se um do outro.

Portanto, deseja-se através do estudo da moda e de sua habilidade em influenciar os indivíduos, perceber que a experiência do vestuário é um canal através do qual os mesmos podem ter contacto com a moda, e que esta experiência pode trazer muitos benefícios àqueles que a experimentam.

Sobre os efeitos positivos que participar na experiência do vestuário pode ter sobre uma pessoa,

Peclat

(17) diz que:

“Cada esforço para encontrar soluções para os problemas de vestuário encarados pelas pessoas com deficiência pode dar-lhes a oportunidade de aproveitar o processo de escolha de suas próprias roupas. Isso pode também dar-lhes confiança, restaurar sua dignidade e fazer com que sintam-se realmente parte da comunidade”.

Assim, através da adaptação do vestuário às especificidades dos portadores de necessidades especiais, nomeadamente os usuários de cadeiras de roda, promove-se a inclusão destes indivíduos, aumentando a sua qualidade de vida e incrementando a sua capacidade de estabelecer relações inter- pessoais.

Desta forma, o vestuário torna-se inclusivo, pois atinge a capacidade de melhorar a comunicação entre os portadores e os não portadores de necessidades especiais.

O Vestuário Inclusivo