passou a se chama Rua Conselheiro Mafra (NONNENMCHER, 2002, p.11 e 12) (grifo
Contudo, a mão-de-obra escrava no litoral catarinense foi mais utilizada na atividade da pesca da baleia, por apresentar uma mercadoria com bastante valor agregado. Essa atividade contribuiu também para o assalariamento, em período de safra, a alguns açorianos, principalmente em locais onde se instalaram essa armação. O restante das freguesias sem essas armações era favorecido através da venda de produtos ligados a pequena produção mercantil, que muitas vezes poderia negociar até mesmo escravos como valor de troca.
Outra diferença do restante da formação brasileira é que na Ilha a maioria dos escravos não trabalhava na agricultura e sim em trabalhos domésticos. E os que compravam os escravos se concentravam na vila, pois eram os que tinham posses “como autoridades, comerciantes e outros [...] as atividades escravas resumiam-se quase exclusivamente a trabalhos domésticos. Eram raros os senhores de extensas terras cultivadas no interior da ilha que possuíam grande quantidade de escravos” (CORRÊA, 2005, p. 224).
Destes números se depreende que a maior concentração de cativos era verificada na Vila- e isto quer dizer, também, que os escravos, em sua maioria, não eram empregados na lavoura, cuja a atividade se processava justamente fora do seus limites, nas outras freguesias da Ilha- S.Antônio, Lagoa Ribeirão (CABRAL, 1972, p. 85).
A vila era onde se concentrava tanto o comércio de escravos como um grande número deles, mas a pobreza existente em toda a Ilha deve ser apontada, pois ela irá justificar não só a fuga de escravos como a relação da desigualdade social que se segue mesmo no século XX, como abordado no decorrer deste trabalho.
A pobreza por parte desses imigrantes açorianos é constantemente relatada por navegadores, situação que mudou em 1801, com o fim da obrigatoriedade de abastecer o governo, e, sobretudo, com a ascensão da pequena produção mercantil no final do século XIX. Apesar disso, nas freguesias no interior da Ilha de Santa Catarina havia alguns Senhores de escravos.
A freguesia de Santo Antônio não fugiu à regra, pois algumas famílias importantes na região tinham a posse de escravos, registrada pela igreja através dos livros de batismo de 1861 a 1872 da freguesia (Tabela 7) apresentada na tese de Ferreira (2006), tendo um total de 504 escravos, dos quais são definidos os senhores de escravos em três tipos, segundo a
classificação de Paulino de Jesus Francisco Cardoso (2004): uma de “grandes plantéis” com mais de vinte escravos; os “médios plantéis” que constituem entre dez a vinte escravos, e o último como “pequenos
plantéis” que constitui menos de dez escravos. Ou seja, podemos
concluir que tivemos 6 grandes plantéis, quinze médios e em sua maioria 21 pequenos plantéis, esses geralmente herdados por seus descendentes como, por exemplo, o casal:
Alferes João José Pereira e Dona Floriana Rosa de Serpa Pereira tiveram 27 escravos. O filho o Major José Pereira Serpa se casou com Dona Maria Laureana de Andrade e tiveram 8 escravos. O filho Venâncio José Pereira que se casou com Maria Angélica Pereira, teve apenas um escravo [...] Francisca de Assis Pereira se casou com Cândido José Goulart e tiveram cinco escravos. Mariano José Pereira se casou com Maria Basília da Cunha e tiveram seis escravos. Júlia Custódia Pereira se casou com o capitão Laureano Antônio Andrade e tiveram quatro escravos (FERREIRA, 2006, p.154).
A Tabela 7, com o número de senhores de escravos, demonstra o que já foi relatado, ou seja, região gerou uma camada social capaz de adquirir essa mão-de-obra. Contudo, Ferreira (2006) ressalta que “o número de escravos de cada senhor pode ter sido bem maior do que aqueles que coletei” (FERREIRA, 2006, p.151).
Muitas das famílias apresentadas na Tabela 7 têm o seu sobrenome em ruas (em negrito), o que indica um vínculo com esses ancestrais, como a Rua Cônego Serpa, a principal de Santo Antônio; a Rua Gilson da Costa Xavier, estrada geral de Sambaqui, e a Rua Isid
Dutra, a principal da Barra do Sambaqui. Ainda em Sambaqui, as ruas
Oswaldo da Rocha Pires e Durval Pires da Cunha concentram ainda hoje muito dos descendentes com esse sobrenome no local, famílias que tinham muitas terras e engenho. Nota-se que a família “Cunha” era forte por apresentar o seu sobrenome nos três plantéis de escravos, o que representava na época uma ascensão social.
TABELA 7: Senhores de escravos na Freguesia de Santo Antônio
(1861 a 1872)
Grandes Plantéis de
Escravos
Senhores Escravos Ingênuos
Joaquim José Dias de Siqueira 42 03
Caetana Maria da Conceição e seu marido Francisco de Souza Pereira
21 06
João José Pereira e a sua mulher Floriana Rosa de Serpa Pereira
27 Angélica Custódia dos Passos, viúva de Antônio
Laureano de Andrade
22
João José da Cunha 21 1
Manoel Machado de Aguiar 14 07
Médios Plantéis de
Escravos
José Manoel de Lemos e sua mulher Custódia Bernardina dos Passos
18 01
José Pereira de Souza 16
Justino José Alves 12 04
José Antônio Rodrigues da Luz e sua mulher Josefa Joaquina da Luz
13 02
José Manoel de Lima e sua mulher Maria Isidra de Lima
11 03
Luísa Maria Soares 13 01
Claudino Pedro Goulart e sua mulher Senhorinha Maria da Cunha Goulart
08 04
João José Ferreira 09 03
Manoel Francisco da Silva 12
Anselmo Custódio de Andrade 11
Manoel da Rocha Pires 08 03
Antônio Joaquina da Encarnação 10
Antônio Pereira Machado 10
Rosa Maria de Assis Cunha 06 04
Pequenos Plantéis de
Escravos
Ana Joaquim Alves 08 01
Antônio Goulart 08 01
Antônio Pereira Machado Júnior 08 01
Custódio Antônio de Lima 05 04
Francisco José Pereira 08 01
João Custódio de Andrade 09
Laurindo José da Cunha 09
Luiz Laureano Caetaneo 07 02
Antônio Pereira Pinto 08
Cipriana Custódio dos Passos 08
Francisca Basília da Cunha 08
João Custódio de Lemos 01 07
Justina Maria da Conceição, viúva de Silvino Machado de Souza
06 02
Eufrasina Custódia da Cunha e sua irmã Maria José da Cunha
06 01
João Antônio Ferreira 07
Antônio Joaquim de Siqueira 04 02
Feliciana Luísa da Costa 06
Laurindo José Pinheiro 05 01
Lucas Francisco Pinheiro 06
Mariano José Pereira 05 01
FONTE: FERREIRA, 2006, p.152 e 153 apud Livro de batismo de escravos 1e 2, livros de óbitos 1 e 7. AHESC, livro de notas e escriptura de escravos de 1861 a 1872, CRCSAL. Tabela alterada por Giselli Ventura de Jesus.
Essas são possíveis ligações, mas há também outras famílias importantes que não foram nome de rua, porém tiveram participação na política e merecem ser lembradas. Segundo Soares, são descritas 7 famílias que tiveram papel importante na política: os Andrade46, os Mafra47, os Pereira Serpa48, os Pinto da Luz49, os Lisboa50, os Rocha
46
Padre Lourenço Rodrigues de Andrade “foi o primeiro da Freguesia de Santo Antônio de Lisboa a alcançar projeção política fora da Província” (SOARES, 1991, p. 134) sendo escolhido em 1821, como representante de Santa Catarina na Corte de Lisboa. A família “Andrade” é uma ainda uma das famílias tradicionais da região, inclusive uma das incentivadoras da cultura açoriana.
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Outro político que se destacou em Santo Antônio foi José da Silva Mafra, nascido em 1788, “em 1798 participa da campanha militar no Rio Grande do SUL [...] em 1820, já como sargento-mor, comanda a fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim. Dez anos depois se reforma no posto de tenente-coronel [...] em 1824, assume a Secretaria da Presidência da Província” (SOARES, 1991, p. 135). Além da função militar se engajou na política como deputado da Assembléia Legislativa Provincial de 1835 a 1843. “Foi vice-presidente da Assembléia em 1840 e em 1843[...] 1º vice-presidente da Província cargo que ocupou até 1844. Com o falecimento do Padre Lourenço Rodrigues de Andrade” (SOARES, 1991, p. 135) ocupa sua vaga no senado. José da Silva Mafra alcançou diversos outros cargos na carreira militar, e na política como vereador da Câmara Municipal de Desterro 1829 chegando a presidente em 1833. Um de seus cinco filhos, Manoel da Silva Mafra, nascido em Cacupé em 1831, também fez carreira, primeiro como “juiz de direito, exerceu esse cargo em Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro. Foi Deputado na Assembléia Legislativa Provincial nas legislaturas 1860-1861, 1868-1869, 1972-1873, 1878-1879 e 1880-1881. Foi deputado geral do Império [...] Ministro da Justiça” (SOARES, 1991, p. 136).
48
O padre José Fabriciano Pereira Serpa (1844- 1922) filho de José Pereira Serpa, que por curiosidade era major e como consta na Tabela 10 era um dos proprietários de escravos da região, o que indica que vinha de uma família com posses. Ele também foi padre durante 53 anos na paróquia de Nossa Senhora das Necessidades, além disso, “ingressa na política e
Pires51, e o Francisco Silva52, todas tem em comum serem descendentes de açorianos.Outra morador da localidade que participou ativamente da